9 - It's fearless


- Anne... Se eu entrasse no seu quarto sem saber que era seu juraria que era de uma adolescente! – Josh disse rindo, no momento em que entrou no meu quarto.
- Por quê? – Perguntei de brincadeira, sabendo exatamente o motivo do espanto dele.  Na mente de Josh, eu era uma jornalista super profissional. E meu quarto dizia exatamente o contrário sobre mim...

Os quartos desse apartamento eram relativamente grandes, com uma janela imensa. Dava para ver a praia lá no final. O meu tinha, na janela, uma espécie de sofá, comum nos quartos americanos e que eu sempre quis desde a época que morava no Brasil. As paredes e a mobília eram brancas e minha cama king size ficava no meio. Do lado direito dela, a janela. Do lado esquerdo e em frente à porta, meu guarda roupas. Entre o guarda roupas e a cama, um espelho imenso. Em frente à cama, televisão e dvd presos num suporte. Entre a cama e a janela, minha estante de livros, cds e dvds. As cortinas eram amarelas e almofadas multi coloridas ficavam espalhadas em cima da cama e no estofado da janela. Na mesinha de cabeceira, um abajur, os controles e um porta retrato vazio. Ainda não havia escolhido uma foto para colocar ali, mas diversas fotos formavam um coração gigante em uma das paredes. Ainda bem que ainda não havia colocado os pôsteres dele junto com elas...

- Toda essa claridade, as cores delicadas, as almofadas... Todos esses livros! Quantos anos você tem, 18? – Ele disse rindo, enquanto me ajudava a sentar na cama e esticar a perna.
- Não, estou mais para 16. – Eu continuei a brincar enquanto ele literalmente se jogava em cima das almofadas da minha cama ao meu lado. Josh Hutcherson estava deitado na minha cama. Epa.
- Mas, sério... Quantos anos você tem? – Ele perguntou.
- Nunca te disseram que perguntar isso a uma mulher é falta de educação, Joshua?
- Já, mas olha, eu estou em desvantagem!
- Como assim?
- Você, sendo minha fã, sabe mais sobre mim do que eu sei de você.
- Verdade. – Eu constatei. Podia me arrepender do que ia dizer em seguida, mas disse assim mesmo. - Ok, pode perguntar o que quiser.
- Quantos anos você tem? – Ele repetiu a pergunta, rindo.
- Fiz 24 em janeiro.
- Em que dia?
- 18.
- De que cidade do Brasil você é?
- Rio de Janeiro. É uma cidade linda. Você devia voltar lá...
- Ah, eu adorei a recepção do Brasil quando eu fui há alguns anos. Que ninguém de outro país nos ouça, mas foi definitivamente a melhor de todas. Várias pessoas ficaram na porta do hotel onde eu fiquei por dias.
- Pode ter certeza que eu sei disso. – Eu ri.
- Você estava lá? – Eu assenti. – Então quer dizer que se eu tivesse descido para falar com os fãs, provavelmente teria te conhecido antes?
- Sim, mas com certeza você não se lembraria de mim hoje.
- É provável que sim. Mas você não esqueceria. – Ele afirmou.
- Nunca.
- Se serve de consolo, agora eu tenho certeza que não vou te esquecer. Não é todo dia que eu saio no tapa com um ex-namorado sem noção no primeiro encontro.
- Se eu soubesse que era um encontro tinha ido mais arrumadinha. – Eu brinquei. Ele se ajeitou ao meu lado, colocando seu rosto na altura do meu.
- Acho que a gente vai ter que resolver isso e ter um encontro decente um dia desses...
- Sem ex-namorados esperando na porta de casa.
- Por favor... Deixa esse drama todo para os meus filmes. – Nós dois caímos na gargalhada. – E só para constar: Você podia estar vestindo um saco de batatas e eu ainda ia te achar linda. – E a Anne vira um pimentão.
- Obrigada. Falando em roupas... Eu adorei a sua camisa.
- Chelsea?
- Por causa de um amigo da faculdade.
- Além de tudo, você ainda tem bom gosto! – Risadas podiam ser ouvidas do lado de fora do quarto. – Hum... Anne?
- É meu nome.
- Posso dar uma olhada na sua estante? Dá para saber muito sobre uma pessoa através do que ela ouve, lê e assiste.
- Fique à vontade. – Ele saiu do meu lado e foi olhar a estante.
- Você trouxe tudo isso de uma vez? – Ele perguntou, depois de alguns instantes.
- Uma boa parte. O resto, comprei aqui.
- E os livros em português?
- Trouxe todos de lá. Às vezes eu dou uma lida, para não esquecer como falar o meu idioma natal.
- Meu Deus, quantos cds da Kelly Clarkson você tem?
- Todos os já lançados. – Ele me olhou com as sobrancelhas levantadas. – O que foi? Eu gosto das músicas delicadas dela. – Eu disse rindo. Ele ia rebater, mas encontrou algo mais interessante antes.
- Não acredito no que estou vendo. – Ele disse num tom de brincadeira.
- O que? – Droga de perna machucada que me impedia de sair correndo.
- Isso. – Ele disse enquanto puxava um cd super antigo com alguns singles dos Backstreet Boys da minha estante. – Backstreet?
- Você gostava de N’Sync, Josh. Não era muito diferente, tá? – Nós rimos. – Coloca no dvd! Tem muito tempo que eu não ouço isso... – Ele ligou a tv e o dvd, colocou o cd lá dentro e sentou ao meu lado de novo. – Os controles estão aí na mesinha de cabeceira. – Eu disse.
- Não tem foto para esse porta retrato? – Ele percebeu enquanto pegava os controles.
- Ainda não encontrei uma que desse vontade de olhar todo dia ao acordar.
- Boa explicação... – Ele deu um sorrisinho torto para ele mesmo e eu me perguntei no que ele estaria pensando. – Você lembra qual é a primeira música do cd?
- Não, mas a gente vai descobrir agora. – No mesmo instante, o grito de “Everybooooody, yeah. Rock your boody, yeah” ecoou pelo meu quarto e nós dois começamos a cantar junto. Eu não podia me mexer muito, então nós meio que dançamos sentados na cama, da cintura para cima. Eu não conhecia o lado palhaço de Josh pessoalmente. Ele interpretou a música inteira dividindo as vozes comigo e fez a mesma coisa com a seguinte. “You are my fire, the one desire, believe when I say, I want it that way”. Músicas românticas sempre geram momentos constrangedores em pessoas que não são... românticas uma com a outra. Depois dessa, cantamos Straight Through My Heart a plenos pulmões. Voltamos a conversar quando nossa atitude começou a ficar sem noção demais. Josh estava realmente interessado em saber detalhes sobre mim. Perguntou da faculdade, de como eu tinha escolhido a minha profissão, como era a minha vida no Brasil, como foi a minha adaptação ao chegar nos EUA, tudo.

- Eu admiro muito a sua coragem, Anne. – Não havia brincadeira em seu tom de voz.
- Coragem? – Eu realmente me achava uma das pessoas mais frouxas do mundo.
- Se mudar para um país estranho logo depois de formada com duas amigas e uma proposta de emprego em baixo do braço. Eu nunca faria isso. – Ele disse, olhando em meus olhos.
- Isso foi realmente loucura. Mas eu acho que você vai ser capaz de entender o meu motivo... Foi tudo por amor à minha profissão. – Enquanto conversávamos, eu sentia o espaço figurado que havia entre nós diminuir. Josh estava deixando de ser o Josh dos meus pôsteres para ser só o Josh, o que estava na minha frente.
- Disso eu entendo.
- Se você for parar para pensar, tudo o que você já renunciou desde pequeno por amor à profissão equivale à minha loucura em mudar de país.
- E como eu renunciei...
- Eu acho que nada acontece por acaso. Se nós não tivéssemos feito isso tudo, não estaríamos aqui. - Era a vez de o espaço físico começar a diminuir.
- Definitivamente não. E eu... Eu acho que às vezes, a vida nos dá algumas oportunidades que nós não podemos perder. – Menos espaço. Mais intensidade no olhar.
- Tipo quando? – Eu conseguia sentir a respiração dele no meu rosto e sabia que ele sentia o mesmo.
- Tipo agora. – Seus lábios tocaram os meus, num beijo suave que foi ganhando mais ritmo com o decorrer dos segundos. Nos afastamos o suficiente para um caber no olhar do outro e eu prestei atenção na música que estava tocando. Ele também parece ter percebido, por que repetiu os versos do refrão olhando para mim.
- “I don’t care who you are, where you’re from, what you did, as long as you love me” – Ele me puxou pela cintura para mais perto, tomando cuidado em ser delicado por causa da minha perna, e me beijou novamente, um beijo mais intenso, mais de verdade. E que beijo. Paramos para pegar fôlego quando a música acabou e ele voltou à minha estante e escolheu outro cd. Era um cd dos muitos que eu havia personalizado com várias músicas. Ele colocou no random. Acho que agora tínhamos algo mais interessante a fazer.
- Você não sabe há quanto tempo eu quero fazer isso. – Ele falou e me deu um beijo rápido ilustrando. Sem soltar meu rosto, continuou: – Assim que bati os olhos em você no dia da entrevista, me perguntei de onde você tinha saído, por que era diferente de todas as mulheres que eu tinha visto por aqui. Entendi quando descobri que, realmente, você não era daqui. Quando nós começamos a conversar, eu lembro de ter pensado que precisava dar um jeito de te ver de novo de alguma forma. Por isso pedi uma foto no meu celular. Já estava quase desistindo de te achar quando te encontrei no brunch ontem de manhã. O Universo conspirou para o nosso encontro. – Ele brincou.
- Já que é assim, eu acho que nós não devemos decepcionar o Universo... – Foi a minha vez de beijá-lo. Eu tinha que mostrar a ele que tudo o que ele me disse era recíproco e que desde o momento em que nós nos conhecemos, alguma coisa mudou em mim. Finalmente eu entendi o que havia de errado comigo nesses dois dias. Eu estava morrendo de ciúmes dele, era isso. O modo como ele me defendeu hoje cedo mexeu ainda mais comigo.
- Para com isso, menina. – Parar com o que, meu filho? Eu o olhei sem entender nada. – Desse jeito você corre o risco de eu não querer mais sair daqui.
- E que foi que disse que eu quero que você saia? – Depois disso, definitivamente a intensidade dos nossos beijos aumentou. E muito. Minha perna machucada – Ben ia se ver comigo qualquer dia desses – me impedia de fazer muitos movimentos, mas mesmo assim, eu conseguia sentir o corpo de Josh perto do meu. Além do mais, eu não precisava mexer a perna para beijá-lo. A música que tocava estava sendo solenemente ignorada, mas eu ouvi um relance de “it’s a first kiss, is flawless, really something, is fearless” num momento. Ficamos nisso por um bom tempo, tanto que, sinceramente, eu me surpreendi quando ouvi um grito vindo da sala.

- AAAAAAANNE, VEEEM, A COMIDA TÁ PRONTA. – Eu e Josh demos um pulo na cama quando ouvimos a voz de Isabella.
- Bater na porta pra quê, né, Bella? – Eu disse, sem a intenção de fazê-la ouvir mesmo.
- Nós já estamos aqui há duas horas e meia? – Josh perguntou e eu procurei o celular para ver a hora.
- Não. Nós estamos aqui há três horas. – Mostrei o celular marcando 21:10 no visor.
- Eu não senti o tempo passar... – Ele disse, se aproximando novamente.
- Nem eu... – Outro beijo. Outra passagem de tempo. Outro grito, dessa vez da Julie.
- ANNE, SE VOCÊS NÃO VIEREM EU VOU AÍ PUXAR OS DOIS PELA ORELHA!
- Eu acho melhor a gente ir pra sala... – Eu disse enquanto tentava, sem sucesso, me afastar de Josh.
- Você tem certeza? – Ele disse também tentando se afastar de mim.
- Não... Mas ela realmente viria buscar a gente pela orelha. – Eu disse, séria.
- Sério? – Ele se afastou subitamente e olhou para mim com uma interrogação nos olhos.
- Sério.
- Então vamos. – Ele disse enquanto saía da cama e dava a volta para me ajudar a levantar. Ele me colocou em pé na frente dele e me segurou pelas costas, sustentando meu peso para eu não forçar a perna. – Mas antes... – Ele me apertou contra seu corpo e me deu outro beijo. Eu podia me acostumar com essa história de precisar de ajuda para me locomover...
- ANNE CHRISTINE BORGES E JOSHUA RYAN HUTCHERSON, EU ESTOU FALANDO SÉRIO!
- JÁ VAAAAAAAMOS! – Eu finalmente respondi.
- Elas falaram o nome todo, acho melhor nós irmos mesmo. – Abrimos a porta do quarto e sentimos o cheiro da comida instantaneamente.
- Lasanha! – Eu disse, completamente empolgada.
- O cheiro está bom, acho que eu sobrevivo a hoje... – Josh brincou com as meninas, que estavam paradas ao lado da mesa com cara de orgulhosas. Elas tinham colocado a mesa de quatro lugares no meio da sala, bem em baixo do lustre.
- É bom você sobreviver mesmo, porque além dessa lasanha – O timer do fogão a interrompeu – tem outra lá dentro. Julie, busca enquanto eu vago lugar para ela na mesa?
- Claro.
- Ah! – Eu me lembrei de uma coisa. – Josh, você pode voltar no meu quarto e pegar dois embrulhos que estão ao lado da minha cama, por favor? – Eu disse sem que Isabella percebesse. Ele me ajudou a sentar e foi buscar.
- Por que vocês demoraram tanto a sair do quarto? – Isabella perguntou, inocentemente, quando Julie voltou da cozinha com a outra lasanha. Eu corei e não respondi. Elas me olharam fixamente e entenderam tudo.
- Anne do céu! – Isabella falou mais baixo, para que Josh não ouvisse.
- Vocês... ? – Julie, a curiosa.
- A gente o que, Julie? – Ela continuou a me olhar e levantou uma sobrancelha. Aí eu entendi. – Nãããão! Foram só uns beijinhos...
- “Só uns beijinhos”? Menina, você tem noção de quem foi que te deu esse beijinhos?
- Depois a gente continua, ele está voltando. – Falei só para elas ouvirem. Por um instante pensei em tudo o que havia acontecido no dia de hoje. E em como tudo está terminando. Minhas amigas, um... hum... Josh e duas lasanhas na minha frente. Meu medo é que a calmaria sempre antecede a tempestade...

Música do nome do capítulo: Fearless, Taylor Swift http://www.youtube.com/watch?v=ptSjNWnzpjg 
Músicas do BSB:
- Everybody: http://www.youtube.com/watch?v=6M6samPEMpM
- I Want It That Way: http://www.youtube.com/watch?v=4fndeDfaWCg
- Straight Through My Heart: http://www.youtube.com/watch?v=WkRP4shFX0g
- As Long As You Love Me: http://www.youtube.com/watch?v=0Gl2QnHNpkA

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