7 - Encontro Explosivo


- Sim Anne, sou eu. – Eu queria perguntar como ele tinha conseguido o meu número de celular, mas naquele momento, aquilo era o que menos importava.
- Você entrou na internet nos últimos minutos? – Nada de “tudo bem?”. Eu estava nervosa demais para isso. Enquanto eu falava, Isabella e Julie ficavam estateladas, às vezes olhando para mim porque eu estava falando com Josh, às vezes encarando a tela, porque eu estava na mesa de um restaurante com o Josh. Provavelmente eu teria muito a explicar quando desligasse o telefone.
- Entrei, e foi por isso que eu resolvi te ligar.
- Como você conseguiu meu número? – Curiosidade jornalística imperando.
- Contatos. – Ele se limitou a dizer isso. – Eu queria conversar com você sobre a publicação do site. Você está livre hoje à noite? Não dá para falar essas coisas por telefone.
- Hoje? Josh, meu dia hoje já foi complicado o suficiente. Eu não tenho forças para fazer mais nada. – Eu estava recusando um convite do Josh Hutcherson. Tem alguma coisa errada comigo, só pode. – Pode ser amanhã?
- Claro. A gente pode almoçar em algum lugar...
- Por favor, não naquele restaurante. – Eu fiz uma piada e me surpreendi com o fato de que ainda sabia fazer isso.
- Com certeza não. – Ele riu. – Pode ser o restaurante do hotel em que foi o brunch hoje cedo. – Ele não tem paredes de vidro, e dentro do hotel, nada de fotógrafos.
- Ok então. Uma hora, pode ser?
- Marcado. Então... Até amanhã, Anne.
- Até amanhã, Josh. – Desliguei o telefone e bem que tentei ir para o quarto me vestir, como se nada tivesse acontecido, mas não fui vitoriosa na minha missão.
- Anne Christine Borges. – Nada de sotaque americano dessa vez. – Onde a senhorita pensa que vai? – Julie disse, em seu tom sério que faz qualquer um ficar com medo.
- Me vestir, ou você quer que eu fique de toalha para sempre?
- Antes a senhorita vai sentar aqui e explicar essa história toda de foto na internet, almoço com o Josh e a sua súbita calma assim que começou a falar ao telefone com ele.
- Eu tenho escolha?
- Não. – Julie e Isabella disseram em uníssono.
- Ok, eu explico. – Então eu me sentei na poltrona na frente delas e expliquei tudo, desde o momento em que ele me reconheceu no hotel até o pedido de desculpas do restaurante, passando pelas intromissões inconvenientes da Vanessa.
- Mas essa Vanessa é uma bitch mesmo, hein? – Disse Isabella.
- Então quer dizer que o Josh foi todo preocupadinho te pedir desculpas no restaurante e nesse momento vocês foram fotografados juntos?
- Não, ele não veio todo preocupadinho. – Imitei o tom de voz irônico de Julie - E sim, foi nesse momento que tiraram essa foto que foi para o site, ele não esteve perto de mim em momento algum além desse.
- Peraí Anne – Interveio Bella, com uma expressão pensativa. – Onde estava o Ben nesse momento?
- No carro, tinha ido buscar o celular.
- E o Josh aproveitou a brecha pra ir falar com você? Que romântico!
- Romântico? Não delira, Isabella! Ele foi me pedir desculpas, e só.
- Desculpas completamente desnecessárias, já que quem errou foi a Vanessa, e não ele.  – Sim. Mas mesmo assim, foram só desculpas. – O pedaço do “Você ficou realmente linda com a nova cor de cabelos” foi propositalmente ocultado.
-- Sim, porque é muito normal um cara estar almoçando com os amigos e sair de perto deles para falar com uma mulher no outro lado do restaurante porque viu que o acompanhante dela se ausentou. Conta outra, Anne! – Foi a vez de Julie começar a viajar. O que estava acontecendo com as minhas amigas, hein?
- Vocês duas estão loucas. A gente nem conhece o Josh, vai que ele é mesmo super educado e vocês estão vendo coisa onde não tem?
- A gente não conhece o Josh, mas conhece você. E aquele brilhinho nos olhos quando você percebeu que era ele no telefone agora não foi o habitual. – Isabella me deixou sem palavras. Realmente, eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Eu fugi dele no hotel hoje como se fosse uma adolescente de 16 anos. Mas, peraí, eu não estou apaixonada. É só o meu interesse de anos a fio como fã sendo colocado em prática agora. Só isso.
- Ta bom, já pararam de surtar? Já posso ir me vestir?
- Pode. Mas não esquece de uma coisa: Nós somos as madrinhas do casamento. – Julie disse e no mesmo instante, ela e Isabella começaram a rir. Só eu não achei graça. Levantei e fui para o meu quarto me trocar.

Enquanto pegava a primeira roupa que vi no armário, pensava no que elas tinham acabado de me falar. Não, elas estão erradas. Eu não estou apaixonada. Já estive apaixonada outras vezes, e definitivamente, não me senti assim.

- É só a emoção de trabalhar com o Josh, Anne. Só isso. – Eu disse enquanto vestia a camiseta e o short que tinha pego e voltava para a sala, afinal já estava tarde e eu precisava comer. 

- O que nós vamos comer? – Eu perguntei para as meninas, que não responderam, apenas continuaram olhando a TV. Apurei os ouvidos para reconhecer o que elas estavam assistindo e sabia o que era mesmo antes de ver a tela. Catching Fire. O segundo filme da franquia Hunger Games. Bem na parte da praia. Justo na minha cena preferida. Eu tive que me juntar a elas e esquecer a fome.

- Ninguém precisa realmente de mim. – Josh/Peeta disse na tela.
- Eu. Eu preciso de você. – Inconscientemente, repeti a fala de Katniss junto com a cena, exatamente ao mesmo tempo em que Jennifer Lawrence. E eu sabia o que vinha depois dessa fala. O beijo. O primeiro beijo real entre Katniss e Peeta na arena do Massacre Quaternário. E, do nada, eu estava chorando. Não sei o porquê, já havia assistido a aquele filme milhares de vezes. E chorado milhares de vezes também. Mas, agora era diferente. Não sei o motivo. Eu estava ficando muito estranha. Várias coisas acontecendo e eu sem entender nada. Estou cansada de me perguntar o que está acontecendo comigo. Levantei do sofá, deixei Julie e Isabella vidradas, fui até a cozinha, comi a polpa de um maracujá propositalmente e fui para a cama.

Acordei no dia seguinte com a sensação de que não havia me mexido a noite toda. Dormi feito uma pedra e não sonhei. Quando olhei o relógio, dei um pulo da cama. Eram 11:45. Fui correndo para a sala e me deparei com o apartamento vazio. Julie e Isabella saíram com o carro, então eu estava mais atrasada ainda, teria que ir andando para o hotel, já que era impossível conseguir um táxi ali perto do apartamento.

Me joguei em baixo do chuveiro e tomei um banho rápido. Como não estava trabalhando, vesti a roupa mais confortável possível. Short jeans, sapatilha e uma maxi blusa larguinha com a bandeira da Inglaterra estampada. Não tinha tempo de secar os cabelos, fui com eles molhados mesmo. Com certeza, quando eu chegasse lá, eles estariam secos. Fiz o make mais básico o possível, não queria chegar lá suada e com cara de panda. Rímel, blush e gloss, o suficiente. Olhei o relógio. 12:20.

- Eu estou MUITO atrasada. E droga, ele é pontual. Você não podia ter esse defeito, Joshua? Por que você não se atrasa nunca? – Eu fui gritando pelo quarto enquanto pegava a bolsa e algumas pulseiras e aneis que coloquei no hall do elevador, enquanto esperava por ele.

Eu praticamente voei pelas ruas no caminho inteiro até o restaurante, jurando que nunca mais comeria maracujá puro na vida. Assim que coloquei os pés no lobby do hotel, peguei o celular para ver a hora: 13:15. Nem sinal de Josh por ali, ele devia estar no restaurante, onde chamaria menos atenção. Eu não resisti e fui até o banheiro para checar o estrago que a minha caminhada fez em mim. Sequei o suor da testa, dei graças a Deus por não ter me maquiado muito e fui para o restaurante. Na pressa, eu esqueci completamente o motivo pelo qual eu estava ali e toda a minha confusão interna em relação ao Josh. Mas eu já tinha chegado, não podia voltar agora. Engoli a vergonha e continuei andando.

Como eu previ, ele estava lá, reinando soberano numa mesa ao fundo, mexendo no celular. Acertei em ter vindo despojada, ele estava com a camisa do Chelsea, o time de futebol. Ri sozinha enquanto caminhava até ele quando percebi a coincidência em nossas camisas. Eu com a bandeira da Inglaterra, ele com um time da Inglaterra. Por sinal, torcíamos pelo mesmo time. E o mais engraçado. Eu sou brasileira e ele americano. Por que a Inglaterra? Antes de eu tentar responder, me aproximei da mesa e ele me viu.

- Anne! – Ele abriu um sorriso, se levantou e me deu dois beijos na bochecha. Definitivamente, nós não estávamos trabalhando.
- Oi Josh! – Foi a única coisa que eu consegui dizer depois dos beijos dele. Mas aí eu lembrei que eu tinha chegado atrasada. – Desculpa pelo atraso. Tive um imprevisto com o carro e as minhas colegas de quarto...
- Não foi nada. Eu cheguei aqui há pouco tempo mesmo...
- Com licença. – O garçom disse quando se aproximou. – O senhor vai fazer o pedido agora? – Ele se dirigiu a Josh. Não tinha como aquele menino estar ali há pouco tempo.
- E há quanto tempo ele está aqui, você pode me dizer?  - Eu perguntei ao garçom antes de Josh respondê-lo.
- Meia hora. – Eu olhei para Josh com a sobrancelha levantada.
- Pouco tempo? – Ele me ignorou e nós fizemos os pedidos. Depois que o garçom saiu, nós voltamos a falar.
- Você não está aqui há pouco tempo. Desculpa, de verdade.
- Eu não me importo em esperar por você, Anne. – Eu corei no mesmo instante.
- Mas eu me importo em te fazer esperar. Você é sempre pontual.
- Ok, Anne, eu te faço esperar no nosso próximo encontro, se isso te fizer sentir melhor... – Próximo?
- Estamos combinados.
- Hum, eu acho melhor a gente falar logo, antes que a comida chegue e a gente se distraia. – Ele esperava que eu falasse alguma coisa, mas eu não disse nada, então ele continuou. – Quero te pedir desculpas pela nota que saiu naquele site. – Olha esse menino pedindo desculpas desnecessariamente de novo.  – Não foi a minha intenção ser fotografado com você quando fui até a sua mesa conversar. Seu namorado não deve ter gostado nada de ver aquilo e assim que eu tiver oportunidade vou pedir desculpas a ele pessoalmente.
- Não, você não vai.
- Como?
- Você não vai porque ele não é mais meu namorado há quase um ano. – Ele sorriu espontaneamente, mas depois que percebeu o que tinha feito, ficou sério outra vez e continuou falando.
- Ele ainda parecia bem apaixonado...
- O que não quer dizer que ele ainda seja meu namorado. Enfim, você não precisa se desculpar. Não foi você que tirou aquela foto e postou no site. E você também não precisava ter se desculpado ontem. Não foi com a sua atitude que eu fiquei chateada. Foi com a dela. E agora que vocês voltaram, eu quero que...
- Peraí, Anne. Quem te disse que a gente voltou?
- Ninguém... Mas vocês pareciam tão... sei lá. Pareceu isso.
- Anne, a Vanessa é minha amiga. Uma amiga distante. E só. Da última vez que ela foi mais que isso eu não terminei muito bem. – Foi a minha vez de sorrir e não pensar no que falaria depois.
- Eu sei. – Droga! Agora ele vai pensar que eu vigio a vida dele.
- Como? – E agora, Anne, vai, explica.
- Ok. Não tem outra forma de dizer isso.
- Isso o quê, Anne? Eu estou ficando preocupado.
- Eu sou sua fã desde os 12 anos, pronto, falei. – Ele sorriu.
- Eu fico honrado.
- Sério? Você não está me achando uma louca agora?
- Nunca pensaria isso de uma fã, ainda mais de você. E, sinceramente, pra uma fã há tanto tempo, você até que se controlou quando a gente se conheceu. Já fizeram coisa muito pior do que só pedir uma foto.
- HAHA, eu estava trabalhando, né? E, por sinal, a minha foto ficou tremida.
- Depois a gente tira outra! – Eu não tive tempo de responder, porque nossos pratos chegaram e nós mudamos de assunto. Ficamos horas conversando sobre várias coisas, quando dei por mim, já eram quase quatro da tarde.
- Acho que se a gente ficar aqui mais algum tempo vamos ter que lanchar. – Eu disse.
- Ok, vou pedir a conta. – Quando o garçom chegou com a conta, entregou direto para ele. Eu estendi a mão, na intenção de ver quanto teria que pagar, mas ele não deixou que eu visse o valor.
- Você está ficando louca, Anne Borges? – Ai, o sotaque falando meu nome brasileiro... – Eu te convidei, eu pago.
- Josh, eu...
- Não, não, não. Não adianta discutir, eu vou pagar e ponto. – Ele disse num tom de voz que me fez ficar com medo de discordar. Ele pagou, nós saímos e quando nos despedimos na porta do hotel, ele perguntou onde eu tinha estacionado o carro.
- Lembra que eu disse que tive um imprevisto com o carro e as minhas colegas de quarto? Então, elas saíram com o nosso carro antes de eu acordar e eu vim a pé.
- Vamos, eu te levo em casa.
- Não precisa, Josh. Eu pego um táxi, aqui vai ser mais fácil.
- Meu Deus, como você é teimosa. Eu estou falando, te levo. A não ser que você tenha medo de motos... – Ele. Está. De. Moto. Ele disse a última frase com um pouco de sarcasmo e eu tive a impressão de que se dissesse que tenho medo, isso seria motivo de brincadeiras nos sets de filmagem pelos próximos meses.
- Não tenho. – Fomos caminhando até a moto dele e quando chegamos, eu expliquei o caminho antes dele me estender o capacete reserva.
- Você sempre anda com o capacete reserva?
- Só quando há a possibilidade dele ser usado. – Ele disse e subiu na moto. Eu agradeci por não ter vindo de vestido. Confesso que me arrepiei com o contato necessário por causa da moto. Ele acertou o caminho até o meu apartamento de primeira. Quando chegamos, ele desceu para guardar o meu capacete e para nos despedirmos.
- Obrigada pela carona. – Eu disse enquanto estendia o capacete e arrumava os cabelos.
- Não foi nada. – Ele falou. – Hum... Anne?
- Fale.
- Você tem certeza que aquele cara que estava com você no restaurante não é mais seu namorado, né?
- O Ben? Claro que tenho Josh. Por quê?
- Porque ele está bem ali, na porta do seu prédio com cara de poucos amigos para nós dois. – Me virei para ver o que ele estava falando. Achei que Josh estivesse confundindo Ben com outra pessoa, mas não, era ele. E quando ele viu que eu o vi, veio andando em nossa direção.
- Anne, o que você está fazendo com esse cara? 

Roupa da Anne: http://weheartit.com/entry/30580456
Sapato da Anne: http://www.fashiolista.com/item/6332528/

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