16 - Garoando

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COM

- E aqui estamos. Nossa última cidade antes de voltar para LA. – Eu disse quando nós chegamos em São Paulo.  Para variar, estava garoando.
- Minha cidade. Eu senti falta desse ar! – Julie disse serelepe enquanto nós entrávamos no saguão do aeroporto.
- E o ar daqui é diferente? – Ian perguntou.
- É uma teoria da Isabella que passou para a Julie. Eu não vejo diferença nenhuma nos ares, mas, enfim... Vamos pegar as malas! – Eu disse. Pela primeira vez, nós não encontramos fãs fazendo alvoroço na saída do nosso vôo. Estávamos pegando as malas quando três meninas se aproximaram devagarinho...
- Anne? – É incrível. Agora os fãs deles nos chamam pelo nome.
- É meu nome. – Respondi em português. Eu estava meio afastada dos meninos, mas eles estavam atrás de mim, e eu tenho quase certeza que elas tiveram que se controlar para não gritar quando perceberam que eles estavam tão perto.
- Julie e Isabella? – Uma das outras meninas perguntou.
- Sim, somos nós. – Julie respondeu.
- Ai meu Deus do céu, eu não acredito que a gente encontrou vocês! – A terceira menina perguntou enquanto a primeira começava a chorar baixinho.
- Eu tenho certeza que não éramos nós três exatamente que vocês queriam ver... – Isabella disse.
- Vocês também. – A segunda menina falou enquanto a primeira continuava chorando.
- Como são os nomes de vocês? – Perguntei.
- Eu sou Flávia. – A segunda menina disse. – Essa é a Débora e aquela ali chorando, é a Letícia.
- Oi meninas. Letícia, por que você está chorando assim? Fica calma. – Isabella disse quase abraçando a menina.
- Hoje é aniversário dela. – Débora falou. – Nós somos ultra fãs dos meninos e quando soubemos que eles iam chegar aqui em São Paulo hoje, quase piramos.
- Só que falaram que vocês iam chegar por outro portão e lá está muito lotado. Nós viemos para esse aqui só por vir e acabou que vocês saíram por aqui.
- Ah, então é por isso que quase não tem ninguém aqui... – Julie entendeu.
- Vocês querem falar com eles, né? – Perguntei. É claro que elas queriam. Mas acho que depois da minha pergunta a ficha delas caiu e a Letícia que estava chorando chorou ainda mais e as outras duas só conseguiram assentir...
- Meninos, venham aqui! – Isabella chamou e quando eles se aproximaram, elas só faltaram enfartar.
- Respirem fundo e falem alguma coisa. Vocês vão querer se matar mais tarde se não falarem nada agora. – Falei.
- Oi! – Elas três falaram juntas. E não saíram do lugar. Resolvi ajudar.
- Meninos, hoje é aniversário dela. – Apontei para Letícia.
- Parabéééns, Letícia! – Keegan disse todo animado enquanto dava um abraço nela. Josh e Ian fizeram o mesmo e eu pude ver que ela quase desfaleceu.
- Quantos anos você está fazendo?
- Dezoito.
- E seus pais deixaram você passar o seu aniversário aqui?
- Eles não tiveram muito a fazer. Conhecer eles três é um dos maiores sonhos da minha vida. E eu realizei agora. – Ela disse com os olhinhos brilhando e quando eu olhei para o lado, vi Isabella chorando junto com ela. Ah, TPM...
- Então vamos registrar esse momento! – Falei. – Cadê as câmeras de vocês? – Débora mostrou a câmera e nós tiramos muitas fotos. Muitas mesmo. Cada uma tirou uma individual com os meninos, com a gente, uma das três com eu e as meninas, uma das três com eles três e uma de nós nove que o funcionário do aeroporto teve a boa vontade de tirar. Elas saíram de perto da gente saltitantes e eu ouvi uma delas ligando para a mãe chorando “mãe, eles estão aqui, eles falaram com a gente”. Eu me vi nela.
- Elas fizeram o meu dia. – Ian disse.
- Acredite, vocês fizeram o ano delas.  – Isabella falou enxugando lágrimas.
- E por que você está chorando mesmo, Isa? – Josh perguntou.
- TPM, Josh. TPM. – Keegan fez cara de quem contava e assentiu. É, era TPM.
- Bem, vamos pegar um táxi? – Ian disse. – Ou três...

A viagem de carro do aeroporto ao hotel demorou um pouquinho, mas foi bem fácil de relevar. Chegamos ao Hilton no fim da tarde e, sinceramente, tudo o que eu queria era me jogar na cama e ficar lá o resto do dia. Viajar cansa. Fizemos os check ins e nos despedimos. Isabella e Julie também não pareciam ter disposição para muita coisa além de descansar.

Assim que chegamos ao quarto, eu me joguei na cama com a roupa que eu estava. Josh fez o mesmo, mas antes que pudéssemos falar alguma coisa, o celular dele tocou.

- Connor? – Ele esperou a resposta. – Oi, mano, está tudo bem aí? Por aqui também, nós acabamos de chegar na cidade da Julie. Ok, vou colocar no viva voz. – Josh mexeu no celular e o colocou na cama entre nós dois.
- Oi cunhado!
- Oi Ann! Como você está?
- Cansada, mas bem. E você? E a Amy?
- Nós estamos bem. Para falar a verdade, eu liguei para fazer um convite a vocês.
- Estamos ouvindo. – Josh falou.
- O que você acham de passar o Ano Novo no Kentucky? Podem trazer as meninas, Ian e Keegan. – Josh olhou para mim. Eu sorri.
- Acho uma ótima ideia, Connor. Nós vamos sim. – Josh falou.
- Hum, Connor... Falta mais de um mês para o Ano Novo... Por que você perguntou isso agora e não esperou nós voltarmos para LA para não pagar ligação internacional? – Perguntei.
- Ok, Anne, eu já sei que não consigo esconder nada de você. Eu estou ligando para isso e para pedir a ajuda de vocês dois numa surpresa para a Amy.
- Adoro surpresas. – Josh disse.
- Fala, cunhado! – Connor contou pelo telefone o que ele tinha em mente e eu só faltei dar pulinhos pelo quarto. Isso ia ser lindo! – Definitivamente, eu estou contando os dias para o Ano Novo!
- A sua ajuda vai ser imprescindível, Ann. Muito, muito obrigado.
- Estou aqui para isso, cunhado.
- Se você não fosse meu irmão, eu ficaria com ciúmes. – Josh brincou.
- Você não precisa ter ciúmes de ninguém.
- E esse é o momento em que ele vai te beijar e eu vou desligar. Tchau Anne, tchau Josh.
- Tchau Connor. – Nós dois falamos juntos, sem olhar para o telefone. Ele desligou a chamada e como Connor disso, me deu um beijo. Eu já disse que não me cansava do beijo dele? Pois é.
- O que a gente vai fazer hoje? – Ele perguntou enquanto eu me aninhava nele.
- Não sei. E sinceramente, se a gente puder ficar por aqui o resto do dia, eu agradeço demais.
- Ah, que medo de ouvir você dizer que queria sair daqui. Eu estou muito cansado. E com saudade de casa.
- Pode ter certeza que eu te entendo. Mas logo a gente volta. – Dei um beijo nele. Nós ficamos calados por algum tempo e eu sorri enquanto achava que ele tinha dormido.
- Por que esse sorriso do nada?
- Ai, menino, eu achei que você tivesse dormido! – Nós rimos. – E eu estou pensando no Connor e na Amy. Eles são tão perfeitos um para o outro...
- Você realmente gosta do meu irmão, né?
- Muito. – Eu ri. – Eu gosto da sua família toda, Josh.
- Mas você nem conhece a minha família toda! Vai conhecer no Ano Novo. – Eu não tinha pensado nisso.
- Ai, céus, tem mais família para eu conhecer!  Achei que já tivesse passado desse nível.
- Não vai ter uma crise de nervos que nem ano passado em Nova York, por favor. A minha família já te ama, mesmo antes de te conhecer.
- Eu vou ficar calma. Eu juro.

Nós ficamos conversando por mais um tempo e no fim das contas, dormimos ali mesmo, sem trocar de roupa, sem comer nem nada. Acordamos no dia seguinte com uma sms no meu celular. “Vamos para a minha caaaasa! Acordem!”. Julie.

Chegamos na casa da Julie quase na hora do almoço. O que era bem legal, porque a comida da mãe dela era dos deuses. Assim que entramos na sala, Julie começou a chorar. Ela falou com a família e depois eles vieram falar conosco. Não é preciso dizer que o anel de noivado dela roubou a cena. E no fim das contas, o Ian nem sofreu tanto...

- Eu estou impressionada com o tamanho do irmão da Julie. Eu lembro de apertar as bochechas desse menino, de verdade. – Falei enquanto eu, Josh, Isabella e Keegan estávamos conversando e Julie tinha sumido pela casa com Ian e a família.
- Isso é porque ele está maior que você, Anne? – Keegan perguntou.
- Eu nunca tive dúvidas de que isso ia acontecer um dia, Keegs. – Eu ri. Como se soubesse que nós estávamos falando dele, Lucas sentou do nosso lado.
- Eu estava falando para a Julie que é para ela se mudar com uma casa com quarto para mim depois que casar porque eu vou fazer faculdade em Los Angeles.
- E você vai fazer faculdade de que, já sabe?  - Isabella perguntou.
- Arquitetura.
- Meu irmão é arquiteto, quando você se mudar ele pode te dar uma ajuda. – Josh disse.
- Sério? Eu quero muito ir para lá, de verdade.
- Lucas, eu só acho que a sua mãe vai pirar quando souber que mais um filho dela vai para Los Angeles. – Falei.
- Ela já superou isso. Além do mais, a Paula vai fazer faculdade aqui mesmo, começa no ano que vem. – Ele falou.
- Ai, que saudade da sensação de entrar na faculdade! – Falei. – É muito bom, de verdade. Você vai adorar.

Ficamos um bom tempo conversando com o Lucas, ele era simplesmente uma figura. Paula chegou do trabalho no fim da tarde e quase teve um troço quando viu a Julie. Acho que ela não sabia que nós iríamos lá hoje.
- Bem, aproveitando que você chegou, Paula... Eu tenho uma coisinha para falar.
- Pronto, vou ser titia. – Eu juro que vi os olhos do pai da Julie quase saltarem quando Paula disse isso.
- Não, não é isso! Pelo menos não que eu saiba. – Julie riu. – Eu conversei com o Ian... E eu quero que você e o Lucas sejam o meu terceiro casal de padrinhos. – Nem eu sabia dessa. Paula deu um grito e abraçou Julie e Ian ao mesmo tempo.
- É claro que eu aceito! Eu ia ficar muito chateada se não fosse sua madrinha. – Lucas teve uma reação mais contida, mas também ficou super feliz.

Voltamos para o hotel depois do jantar e só tivemos tempo de dormir. No dia seguinte, era vez de Julie nos mostrar a cidade dela. Começamos pelo Jardim Botânico de São Paulo, que era maravilhoso. Era bem diferente do Parque das Águas de Caxambu, mas tão bonito quanto.

- Keegan, você quer água? – Perguntei enquanto caminhávamos no parque com os meninos meio disfarçados, diga-se de passagem.
- Não, Anne, ele só bebe quando tem doze tipos diferentes e aí só tem dois. – Ian disse e todos nós rimos. Quer dizer, todos nós, menos o Keegan.
- Não teve graça. – Ele disse.
- Teve sim! – Falei.
- Só não teve mais graça do que te ver sem conseguir sair de dentro da casa do sítio da família da Isa. – Julie completou.
- Você pediu por isso, baby.

Depois do Jardim Botânico, fomos no Museu de Arte Moderna. Ok, eu não entendo muito de arte. Mas é sempre engraçado tentar entender. Tipo uma obra que chamava “Ovos Fritos” e era uma tela completamente pintada de preto. Acho que os ovos queimaram... Ou a frigideira era antiaderente.

À noite, nós fomos a um pub e aquilo me fez sentir muita falta do intercâmbio na Inglaterra, de verdade. Nos dias seguintes, repetimos as caminhadas pelos parques de São Paulo e à noite, a balada era certa. Menos no dia 10...

Ian disse que Julie acordou toda serelepe. Ela adorava o aniversário dela, fato. Eu não sei o que ele fez quando ela acordou, só que ela desceu para o café da manhã do hotel super sorridente. E sorriu ainda mais quando viu que nós tínhamos presentes para ela, logo de manhã. Eu dei um livro que eu sabia que ela estava namorando há um tempinho, mas não achava. Isabella deu um cd. Mas o presente aguardado mesmo era o de Josh e Keegan. Que eu e Isabella escolhemos, diga-se de passagem. Eles disseram que ela estava noiva, então merecia um presente de adulto, então deram uma pulseira de diamantes para ela. Sim, diamantes! Ela só pirou. Só isso.

Não demoramos em ir para a casa dela, tinha uma festa montada. A família dela toda estava lá, todos os tios, primos e, meu Deus, eu não sabia que tinha tanta criança naquela família. De verdade, alugaram até uma cama elástica para distrair os pequenos.

Depois do parabéns, todo mundo foi embora, mas nós ficamos para ajudar a mãe da Julia com a faxina. Resumindo a ópera: No fim da noite, nós éramos cacos humanos. Só isso, e mais nada.

- Eu adorei hoje, adorei tudo, muito, muito obrigada. – Julie disse, quase chorando enquanto nós conversávamos no quintal.
- Não precisa agradecer, baby. – Ian respondeu e deu um abraço nela.
- Hum, quando vão vir buscar essa cama elástica, hein? – Perguntei.
- Eu SABIA que ela ia falar da cama elástica. Sabia! – Isabella disse.
- Só amanhã de manhã, Anne. – A mãe da Julie respondeu. Meus olhos brilharam.
- E quanto peso ela aguenta?
- Duzentos quilos. – Sorri. Olhei para Josh. Ele me entendeu. Nós deixamos os sapatos e celulares na mesa e fomos.
- Isso, vão aproveitar o tamanho de vocês, coisas pequenas! – Keegan disse.
- Tem que ter uma vantagem em ser desse tamanho! – Falei.

Eu e Josh ficamos pulando feito crianças, mas devo admitir, eu não tinha mas cinco anos.

- Eu acho que estou velha demais para isso. – Falei.
- Eu também não tenho mais 10 anos, são quase trinta! – Ele brincou.
- Acho bom a gente parar um pouco e ficar sentado aqui dentro... Se o Keegan nos vê acabados desse jeito, ele vai falar pelo resto das nossas vidas. – Nós sentamos.
- Tem que ficar só sentado mesmo? – Ele perguntou enquanto se aproximava e me deu um beijo. Primeiro eu tive que lembrar de respirar. Depois eu tive que lembrar que nós não estávamos sozinhos.
- Josh, tem gente vendo! – Eu falei enquanto me afastava dele e pegava ar.
- Ok, eu acho que me empolguei. Desculpa.
- Não precisa pedir desculpas por isso, menino. – Falei.
- É? – Eu não gostava desse olhar... – E por isso? – Ele acabou de falar e começou a me fazer cócegas. Eu caí deitada na cama elástica me contorcendo, mas consegui criar forças para fazer cócegas nele também e um segundo depois, nós éramos duas crianças felizes outra vez.

- Hey, crianças, parem de se amar um pouco. – Isabella disse séria. Quando olhamos para o lado, ela estava encostada na cama elástica, estendendo o celular do Josh para ele. – Está tocando. – Ela disse. – E é de Nova York.


QUEM SERÁ AO TELEFONE?  HAHAHAHA

15 - Festa Surpresa

3
COM

- Luisa, para onde nós estamos indo? – Isabella perguntou enquanto Luisa dirigia para um lugar que nós não fazíamos ideia de onde ficava.
- Tem certeza que você não está reconhecendo o caminho, Isa? – Isabella olhou em volta, eu e Julie fizemos o mesmo, quase que instintivamente.
- Não acredito. – Isabella disse.
- Lembrou? – Luisa perguntou, olhando para trás por um milésimo de segundo. Isabella assentiu e olhou para nós duas.
- O sítio. – Ela disse.
- Não acredito. – Falei.
- Aquele sítio? – Julie perguntou tão pasma quanto nós duas.
- Alguém pode dizer que raio de sítio é esse? – Keegan perguntou. Josh e Ian estavam com a mesma cara de interrogação.
- Vocês lembram quando nós contamos do nosso primeiro porre para vocês? – Perguntei.
- Quando a Luisa descobriu e ameaçou vocês três por vários dias? – Ian perguntou.
- Isso! Foi nesse sítio.
- É um sítio da minha família. Nós sempre íamos para lá nas férias da escola... E a minha festa de 18 anos também foi lá. – Isabella disse sem esconder a empolgação na voz.
- Isso vai ser engraçado. – Julie disse.
- O que? – Perguntei.
- Voltar lá, depois de tanto tempo...
- Algo me diz que o porre de vocês não é a única história que vocês tem pra contar desse sítio... – Josh disse.
- Definitivamente não. – Eu respondi.

Todo o sono que nós estávamos sentindo foi embora quando nós descobrimos para onde estávamos indo. Fomos contando para os meninos algumas das coisas que aconteceram das vezes anteriores que estivemos naquele sítio. Luisa se empolgou tanto que trocou de lugar com Rodrigo e foi conversando com a gente enquanto ele dirigia. Quando chegamos lá, em me senti com 18 anos outra vez, foi até engraçado. Estava tarde, então nós não demoramos muito a ir para os quartos e dormir, o dia seguinte seria longo, com certeza.

Confirmando a minha teoria, às oito da manhã, Luisa estava batendo – literalmente – nas portas dos nossos quartos.

- Acordem, casais! O dia está muito bonito para vocês ficarem dentro desse quarto... Não importa o que vocês estejam fazendo. – Ouvi de olhos fechados, me recusando a acreditar que ela estava realmente fazendo todo aquele barulho às oito da manhã. Abri os olhos e Josh estava olhando para mim. – Bom dia, baby.
- Bom dia, Annie. – Ele passou a mão nos meus cabelos.
- Eu sei, estou descabelada.
- Para, você está linda. – Ele me puxou para perto dele.
- E você é um ator. Eu acabei de acordar, Josh... Você já me viu melhor que isso.
- Eu já te vi mais arrumada que isso. Mas tão linda quanto. De jeitos diferentes, mas tão linda quanto.
- Você não existe, sabia? – Ele me deu um beijo e nós teríamos ficado mais tempo na cama se Luisa não tivesse gritado no corredor outra vez.
- Anne e Josh, todos já acordaram, só faltam vocês dois!
- Nós já acordamos sim! – Eu gritei sem me atrever a sair do abraço de Josh.
- Vocês tem meia hora para descer.
- Se faz muita coisa em meia hora...

Nós tomamos banho, nos arrumamos e descemos. Isabella e Keegan já estavam tomando café com Luisa e Rodrigo. Julie e Ian, como sempre, ainda não tinham descido.

- Bom dia, pessoas! – Eu e Josh falamos ao mesmo tempo, animados.
- Bom dia, casal. De onde vem essa animação toda? – Isabella perguntou. Eu preferi não responder. Josh também não falou nada.
- Ok, pela demora de vocês dois em responder, eu imagino o que vocês fizeram nessa meia hora... – Luisa disse e nós rimos. Para o bem das minhas bochechas, que deviam estar num tom de vermelho desconhecido, Julie e Ian chegaram dando bom dia e se sentando conosco.
- Afinal de contas, o que nós viemos fazer aqui, Lu? – Isabella perguntou.
- Primeiro, aproveitar o sítio. Depois... Surpresa.
- Surpresa?
- É, surpresa. E nem adianta perguntar o que é, eu não vou dizer. – Luisa falou.

Passamos o resto do café da manhã tentando convencer a Luisa a dizer o que seria a surpresa e o máximo que nós conseguimos foi um “não vai ser hoje”. Quando percebemos que não ia adiantar insistir, fomos cada casal para um lado. Isabella e Keegan voltaram a dormir – ou melhor, voltaram para o quarto. Julie e Ian foram para a piscina e Luisa e Rodrigo saíram para comprar alguma coisa para a “surpresa”.

- Vem cá, tem um lugar que eu acho que você vai gostar. – Falei, puxando Josh para fora da casa.
- O que é?
- Você vai ver. Era meu lugar favorito nesse sítio quando nós vivíamos aqui. – Eu fui explicando enquanto nós atravessávamos o gramado lateral em direção a uma outra casa. De longe, nós vimos um mini lago e eu apontei para ele. – Foi lá que eu e as meninas tomamos o nosso primeiro porre com a turma do ensino médio. Foi na nossa formatura.
- A sua turma de ensino médio estava toda aqui? – Ele perguntou.
- Quase toda. Por razões óbvias, os nossos ex-namorados não vieram. Nós três tínhamos acabado de terminar com eles, e eu acho que isso só influenciou na bebedeira.
- Você bebeu por causa de um ex-namorado? – Ele perguntou meio espantado.
- Se você soubesse o quanto eu bebi quando nós dois terminamos, não falaria isso.
- Sério?
- Sério. Eu não te contei que as meninas me proibiram de beber depois que eu... – Campo minado, Anne. – Depois que eu exagerei um pouquinho. Eu não bebo mais vinho por isso.
- Eu não sabia...
- Não virei alcoólatra, mas foi bem perto. – Eu ri.
- Você ainda ri disso?
- Agora é engraçado, porque nós dois estamos juntos de novo. E passou, não tem mais motivo pra ficar remoendo. Chegamos. – Falei. Ele parou e ficou olhando para a construção na nossa frente sem entender muita coisa.
- O que é isso? – Não respondi e abri o portão. No primeiro barulho que ele fez, vários cachorros começaram a latir e Josh entendeu o que era aquilo. – Um canil. – O caseiro do sítio tinha acabado de limpar o canil, então estava super tranquilo ficar lá dentro.
- Da última vez que eu vim aqui tinham mais cachorros. Agora só tem uns dez... – Eu falei enquanto um beagle muito fofo pulava em cima de mim.
- Você conseguia ficar aqui dentro quando tinham mais cachorros?
- Ah, aqui é bem grande, dá pra ficar sim. E as meninas nunca me deixavam ficar muito tempo mesmo. – Um labrador gigante quase derrubou Josh enquanto eu falava. Mas quando um vira lata preto com umas machinhas brancas chegou perto dele, eu juro que ele quase chorou. – Saudades do Driver? – Ele assentiu.
- Ele deve estar aprontando na casa do Avan...
- Que nada, ele é tão bonzinho! – Falei.
- Ele já está velho, não tem mais pique pra muita coisa.
- Eu sempre quis ter um cachorro lá em LA, mas as meninas nunca deixaram. Realmente, é complicado ter um dentro de um apartamento. E lá no prédio nem pode.
- Então é por isso que eu quase te perco pro Driver toda vez que você vai lá em casa? – Eu ri.
- Exatamente. – Nós dois rimos juntos. Depois ficamos correndo de um lado para o outro no canil brincando com os cachorros. Só paramos quando o moço que tomava conta chegou para soltar os cães. Posso jurar que ele não entendeu nada quando viu dois adultos brincando lá dentro como se fossem duas crianças, mas é a vida.

O resto do dia passou voando como os dois seguintes. No quarto dia em que estávamos no sítio, acordei organizando as malas, porque logo teríamos que ir embora. Mas um barulho chamou a minha atenção do lado de fora e eu fui na janela. Tinha um micro ônibus e quatro carros chegando.

- O que é isso? – Josh perguntou.
- Gente... Muita gente.
- ANNEEEEEEEE, VEM  AQUI! – Isabella gritou na porta do meu quarto e quando eu abri, mal tive tempo de olhar para ela e ela e Julie me puxaram para fora. Eu percebi Josh, Ian e Keegan vindo atrás de nós três sem entender nada. Nós só paramos quando chegamos na varanda e vimos as pessoas descendo do ônibus e saindo dos carros. – NO WAY!!! – Isabella disse aos gritos. A família dela tinha chegado no dia anterior. Dos carros, saíram alguns amigos dela. Eu só reconheci a Larissa e a Nicole de longe. Mas do ônibus, eu reconheci todos os que saíram. E dava um grito maior a cada vez que reconhecia um rosto.
- Ai meu Deus do céu, É A NOSSA TURMA DO ENSINO MÉDIO!

A empolgação foi tanta que nós fomos felizes da vida falar com todo mundo que tinha chegado sem pensar em quem realmente podia ter chegado. Fomos falando com alguns amigos e apresentando eles aos meninos quando eu vi a expressão de Julie mudar.

- Hum... Meninas... Eu acho que vocês deviam ver quem acabou de sair do último carro... – Olhei para trás. Tinham três homens juntos e eu demorei a reconhecer, mas nunca esqueceria o jeito de andar de um deles. Acho que fiquei sem reação e Isabella ficou do mesmo jeito.
- O quão infantil vai ser se eu virar as costas e ignorar a presença deles? – Perguntei.
- Muito. E agora eles já viram que a gente viu... Não dá pra fazer muita coisa. –Isabella respondeu.
- Ah, dá sim. – Me aproximei de Josh enquanto eles caminhavam e as meninas fizeram o mesmo com Ian e Keegan.
- Quem são esses? – Josh perguntou.
- Renan, Henrique e Raphael. Nossos ex-namorados do ensino médio que não deviam estar aqui.
- O que foi, nós não merecemos uma recepção calorosa que nem o resto da turma, não? – Raphael disse quando viu que não fizemos nada quando eles se aproximaram.
- Você realmente quer resposta para isso? – Julie perguntou.
- Eita, calma, Julie. Nós viemos em paz. – Henrique completou.
- É bom mesmo. – Isabella disse. Renan estava olhando para mim, ignorando o fato de Josh estar ao meu lado.
- Oi, Anne.
- Oi. – Respondi e nós nove ficamos num silêncio constrangedor. – Esses são os nossos namorados, Josh e Keegan. E aquele é o noivo da Julie, Ian. – Raphael me interrompeu.
- Nós somos Raphael, Renan e Henrique, os ex-namorados. – Acho que todo mundo ali falava inglês, porque, né...
- Nós sabemos. – Ian falou com a voz séria enquanto eles apertavam as mãos uns dos outros. Acho que Luisa percebeu o clima ruim de longe e veio amenizar a situação.
- Surpresa!! – Ela gritou do nosso lado. – Eu organizei um encontro com os seus amigos de ensino médio. Algumas pessoas infelizmente não puderam vir, e outras não deviam ter vindo... Mas, é isso. Venham que vocês ainda não viram tudo.

Luisa nos levou para ver a decoração da festa que eu não sei como eles fizeram, mas estava linda. Tinha uma pista de dança, um DJ e karaokê, para a alegria da Isabella. Nós passamos bastante tempo conversando com os amigos antigos e foi realmente bom reencontrar uma boa parte deles. Nossos ex-namorados passaram a maior parte do tempo isolados num canto, o que foi bom, facilitou a nossa caminhada pela festa. Mas não foi por muito tempo.

- Você mudou bastante desde o ensino médio, Anne. – Renan falou, se materializando do meu lado enquanto eu tinha ido buscar um refrigerante.
- Eu cresci. Acontece.
- Sabe o que ia ser muito legal? Se a gente pudesse ir pra um canto desses conversar melhor... – Ele tentou se aproximar.
- Você só pode estar de sacanagem.
- Que isso, Anne... A gente tem uma história!
- Não, a gente tinha uma história. Uma história que você destruiu. E eu não sei se você percebeu, mas eu tenho namorado. – Eu disse e me virei.

- O que foi aquilo? – Josh perguntou quando eu voltei para perto dele. Ian e Keegan estavam junto com ele.
- Nada. Meu ex-namorado sendo o babaca que sempre foi. Normal.
- Você não sai mais do meu lado. – Ele passou o braço pela minha cintura e eu dei um beijo nele quando vi que Renan estava olhando. Isabella e Julie chegaram logo depois com cara de poucos amigos. Acho que os meninos não vieram em paz.

Henrique, Renan e Raphael não se aproximaram mais o dia todo. O que me preocupava era o fato de que eles três estavam com uma latinha de cerveja diferente a cada minuto que eu olhava e por menos que eles significassem, ainda iam voltar para Caxambu dirigindo. Nós estávamos com os meninos  conversando com umas colegas de turma, morrendo de rir das histórias antigas quando eu descobri a que a minha preocupação tinha fundamento.

- Vocês vem com a gente. – Renan falou arrastado – e em inglês – enquanto me puxava pelo braço. Henrique e Raphael faziam o mesmo com Isabella e Julie.
- Não, elas não vão. – Josh me puxou dele e ficou na minha frente.
- Me larga, Raphael! – Julie gritou. Ian também estava a segurando pelo outro braço.
- Larga a Isabella, cara. – Keegan fez aquela cara que sempre me deixava com medo.
- Estão machinhos, os americanos que precisam se maquiar pra trabalhar, né? – Henrique falou.
- E você que não é ator, nem trabalhando está e está usando base? – Isabella falou. 
- Anne, vem comigo, agora! – Renan conseguiu segurar meu outro braço, mas antes que ele conseguisse me puxar, Josh segurou a mão dele.
- Larga ela.
- Tira a mão de mim. – Ele disse para Josh.
- Só quando você largar o braço dela.
- Eu não vou largar ela! Não sei se você sabe, mas eu já usei e abusei do braço e de muito mais dessa aí. – E foi aí que tudo aconteceu.

Josh deu um soco bem dado em Renan e quando Henrique tentou ajudar o amigo, acabou acertando Isabella, o que fez Keegan dar um empurrão nele. Ele caiu no chão e Raphael tentou segurar Keegan pelas costas quando ele ia com tudo para cima de Henrique, mas Ian foi mais rápido em segurar Raphael. Antes que eu pudesse perceber, eles seis estavam meio que atracados pelo chão e eu podia dizer que Ian, Keegan e Josh estavam levando a melhor. Alguns primos da Isabella apareceram para separar e nós pudemos avaliar os estragos.

Josh estava com a camisa rasgada, Keegan estava descabelado e com os botões da camisa arrebentados e Ian estava bem sujo. Henrique estava com um olho roxo e com um machucado na mão. Raphael estava sangrando pelo nariz e também mal conseguia abrir o olho esquerdo. E Renan... Eu não sei como Josh fez aquilo tudo em tão pouco tempo, mas ele estava com o rosto bem inchado, com o nariz torto sangrando e com um dente quebrado.

- Isso é pra você aprender a tratar uma mulher. Principalmente a minha mulher. – Josh disse para ele enquanto um primo da Isabella o mantinha afastado de Renan e levava o que sobrou do meu ex-namorado para longe. Eu quase pulei no pescoço dele.
- Você está bem?  - Eu perguntei enquanto virava o rosto dele em todas as direções procurando um machucado, mas não achava nada.
- Ele está tão bêbado que não acertou nem um soco em mim. – Ele disse rindo, mudando o tom de voz e a expressão completamente para falar comigo. Dei um beijo nele.
- Obrigada por me defender. De verdade, hoje ele estava mais babaca que o normal.
- Te defender é o meu dever, baby. Mas... Como você teve coragem de namorar um idiota desses?
- Eu tinha 17 anos. E não te conhecia pessoalmente. – Ele sorriu e me deu um beijo.
- E só acho que isso não pode virar uma prática.
- O que?
- Eu socando todos os seus ex-namorados. – Ele falou.
- Não faltam tantos assim para virar uma prática. Mas o que podia sim virar uma prática era outra coisa. – Eu o abracei outra vez.
- O que?
- Repete o que você disse para ele agora.
- Que aquilo era para ele aprender a tratar uma mulher?
- Não, o que você disse depois, seu bobo.
- “Principalmente a minha mulher”.
- Fala outra vez.
- Minha, minha, minha, minha. Só minha. – Ele falou no meu ouvido enquanto eu o abraçava de novo.
- Toda sua, baby.
- Acho que vou fazer você repetir isso mais tarde. – Ele falou.
- Quantas vezes você quiser.
- E amanhã, depois, e nos outros dias também.
- É só pedir, e eu aceito.
- Vou me lembrar disso. – Ele me deu outro beijo e a festa continuou ali. E nossa festa foi até bem mais tarde depois que essa acabou. 

Esse capítulo foi  especialmente dedicado a três pessoas muito agradáveis , só que não.
Gostaram do capítulo? E da pancadaria? HAHAHA, ADOREI ESCREVER ISSO,  vocês não tem noção de como. 
E no próximo capítulo, tem SÃO PAULO! 
Beijo, beijo!

14 - Caxambu City

4
COM

- Vivos? – Julie perguntou para os meninos enquanto eles voltavam do quintal da casa dos pais da Isabella.
- Da segunda vez, tudo fica mais fácil. – Josh respondeu.
- Mais fácil pra você, né? – Keegan estava branco feito papel. – Eu não achei que a sua família fosse ser pior que a da Anne, baby. – Isabella deu um abraço nele.
- Pode-se dizer que de nós três, a mais tranquila é a da Julie. – Ela disse.
- Ufa. – Ian disse.
- Eu não ficaria tão aliviada se fosse você, Ian... – Falei.
- Por quê?
- Porque você pediu a Julie em casamento antes de falar com os pais dela, o que pode ser bem perigoso. – Botei medo e ele caiu, ficou mais branco do que o Keegan.
- Em São Paulo a gente descobre isso...
- Bem, vamos voltar para o hotel? – Julie perguntou.
- Voltar para onde? – Luisa, a irmã de Isabella se materializou do nosso lado no meio da sala.
- Pro hotel, Lu. Ou você acha que a gente vai dormir por aqui? – Isabella perguntou.
- Quem disse que eu quero que vocês durmam? Tem uns joguinhos interessantes guardados pra depois que os nossos pais forem dormir...
- LUISA HELENA, que joguinhos são esses? – Isa perguntou enquanto corava. No mínimo ela acho que os jogos seriam dos mais hots... Mas a cabeça da Luisa era uma caixinha de surpresas, verdade.
- Nada que você deva temer, irmãzinha. Só umas coisinhas regadas a tequila. – Olhei para o Josh. Ele entendeu, porque a Luisa falava em inglês na frente deles. Nós dois fizemos a mesma cara, ao mesmo tempo.
- Bem, Lu... eu acho que eu e o Josh vamos passar essa brincadeira. – Falei.
- Por quê? Vai dizer que você parou de beber agora que mora em LA?
- Não... Mas é que da última vez que eu e ele bebemos a gente extrapolou... Sabe como é, traumatiza. – Brinquei,
- Então vocês vão jogar só uma rodada, vai ser divertido! Um copinho de tequila não vai deixar vocês bêbados. – Ela disse com a cara de gatinho do Shrek que era especialidade da família. Olhei para o Josh em busca de uma resposta e ele fez que sim com a cabeça.
- Mas só um copo. – Ele disse. Luisa deu pulinhos quando percebeu que todos nós jogaríamos. Às vezes eu esquecia que ela era mais velha... E casada.
- O Rodrigo vai jogar com a gente também, né? – Perguntei me referindo ao marido dela.
- Claro que vai! A gente vai dormir por aqui, então nenhum de nós dois vai voltar dirigindo pra casa... E eu não bebo sem ele. – Não resisti a um suspiro. Eles dois eram realmente fofos.
- Então chama logo ele, criatura, que a minha garganta está gritando por tequila – Isabella disse. Era de família mesmo.
- Rodriiiiiigo! – Luisa foi gritando pela casa tentando adivinhar onde ele estava.
- Como é o nome dele? – Ian perguntou.
- Rodrigo. – Julie respondeu na maior naturalidade.
- Rodrrrigo? – E aio nós descobrimos que americanos falando um nome com “dr” pode ser realmente engraçado. Nós tentamos ensinar os meninos a falarem o nome do Rodrigo até a hora em que a Lu voltou... Com ele.
- Meu nome virou a diversão de vocês, é? – Ele perguntou.
- Exatamente, Rodrrrrrrigo. – Falei tentando imitar os meninos, mas não consegui e todos nós rimos.
- Quero ver como vai ser isso depois do terceiro copo de tequila...
- Let the games begin! – Luisa gritou e se sentou na outra ponta do sofá enquanto Rodrigo colocava um joguinho de dardos em cima da mesa e uma garrafa de tequila do lado.
- É fácil... Vocês vão jogar os dardos e fazer a tarefa que a casinha em que ele cair, mandar. Anne, você é a primeira na ordem alfabética, faça as honras. – Ele me estendeu um dardo e eu joguei. Caiu no “Drink with a buddy” (Beba com um amigo) e eu bebi com o Josh. Logo depois, ele jogou – propositalmente – no “Pass”, e nós não bebemos mais pelo resto da noite. Keegan foi variando o “Half shot” com o “Full shot” e Isabella tinha álcool na veia, não ficou para trás. Julie deu uma maneirada porque não gostava muito de tequila e porque era a motorista da rodada. Mas Ian... Ah, o Ian... Bebeu tanto que em um momento, ao invés de jogar o dardo para frente, jogou para trás e acertou no pobre do Rodrigo, que do lado da Luisa também ficou trêbado no final da noite.  

Voltamos para o hotel com Isabella, Keegan e Ian bêbados, dormindo no carro enquanto eu, Julie e Josh lutávamos para lembrar o caminho de volta para o hotel. Pobre vida...

No dia seguinte, não sei como, Isabella acordou com um mega pique. Ela fez nós todos almoçarmos cedo porque ia nos levar num tour pela cidade.

- E chegamos. O Parque das Águas. – Eu devia ter uns 20 anos na última vez que fui ali e o lugar parecia cada vez mais lindo. – A maior...
- ... estância hidromineral do mundo! – Keegan completou e todos nós rimos. Isabella estava falando disso, há semanas. Se duvidar, até as plantas do nosso prédio em LA sabem que o Parque das Águas é a maior estância hidromineral do mundo.
- Ah, whatever, é lindo. – Ela respondeu e nós rimos mais ainda.
- Você já veio aqui?- Josh me perguntou enquanto caminhávamos pelo parque.
- Algumas vezes. Quer dizer, sempre que a gente visitava a Isa, a gente vinha aqui.
- É realmente, muito bonito.
- É sim, e ainda tem as fontes de água que a gente pode beber.
- Só não pode beber todas elas. – Isabella disse.
- Por quê? – Keegan perguntou.
- Diz a lenda que o resultado não é muito bom se você beber todas elas ao mesmo tempo... – Isa respondeu.
- Nunca acreditei em lendas.
- Keegan, se eu fosse você, acreditava nessa... Ninguém bebe todas as águas, deve ser por um motivo. – Julie disse.
- Além do mais, a gente pode voltar e beber das outras durante a semana. – Falei.
- Depois a gente fala disso das águas... – Ele desconversou.
- Vamos tirar fotos! – Isabella disse serelepe e pimpona.

Nós andamos o parque inteiro com os meninos mostrando os detalhes e contando historinhas das vezes anteriores em que estivemos lá. Era diferente estar ali com eles. A sensação era de que, finalmente, eles três estavam prontos para ficar de vez nas nossas vidas, conhecendo um lado que não tinham visto antes.

- Anne, você lembra de quando você tropeçou ali e quase caiu dentro do lago? – Julie perguntou rindo enquanto nós fazíamos um piquenique em baixo de uma árvore. A Isabella pensou em tudo.
- E tem como esquecer? Se não fosse o primo da Isabella me segurar eu tinha caído com tudo no laguinho. – Falei.
- O primo da Isabella? – Josh perguntou fingindo ciúmes. – O que ele estava fazendo tão perto de você, Anne?
- Nem te conto! – E não ia contar mesmo. Não era o tipo de coisa que se contava a um namorado. Nós rimos e logo eu tratei de mudar de assunto.
- Mas, Julie, eu também lembro que você ficou presa no meio do lago enquanto andava de pedalinho sozinha porque teve câimbra.
- E foi sozinha porque estava numa fase “sou independente, solteira e feliz”. – Isabella completou.
- Não teve graça. – Ela disse e nós rimos mais ainda.
- Claro que teve. Falando nisso, acho que pedalinho ia ser uma boa, viu? – Falei e achei estranho quando todos eles concordaram.

- Ann... Eu estou realmente feliz por estar aqui com você. Apesar do que eu te fiz...
- Esquece isso, Joshua! – O interrompi enquanto pedalava.
- Apesar do que eu te fiz – Ele continuou. – essa é provavelmente uma das melhores viagens que eu já fiz na vida.
- Eu já te disse isso umas cinquenta vezes... Você sabe que eu estou feliz por estar aqui com você. – Ele pegou a minha mão e deu um beijo nela.
- Hum, Ann... É impressão minha ou a Isabella está diferente?
- Diferente como?
- Não sei, tem alguma coisa diferente nela. – Ele disse e eu concordei com a cabeça.
- Eu também reparei. Provavelmente é porque ela está em casa... Eu também fiquei assim, eufórica no Rio. E você vai ver a Julie quando chegar em São Paulo...
- Eu fico assim quando volto para o Kentucky. Falando em Kentucky, quando você vai lá comigo, hein? Ainda tem muito da minha família pra você conhecer...
- Acho que depois do que você passou com os meus primos, tios e o meu pai, eu não posso me negar a conhecer a sua família, certo? – Eu ri. – Quando nós voltarmos pros Estados Unidos a gente vai. De qualquer forma, eu e a Amy temos a festa dos seus pais pra planejar.
- Exatamente, a festa dos meus pais... – Ele olhou para mim. – Vocês já pensaram em alguma coisa? – Perguntou.
- Nós tivemos mais algumas ideias, mas eu confesso que ao pensei muito porque estou focando no casamento da Julie. Assim que nós voltarmos, temos as provas das roupas. Todos nós. – Falei, provavelmente rápido demais.
- Anne, me diz, você para de pensar em algum momento? – Ele riu. – Sério, como você consegue planejar tudo isso ao mesmo tempo?
- Costume. Eu saí de casa muito cedo, planejei a minha vida muito cedo... Planejar viagens e festas não é nada perto disso. – Ele parou de pedalar e ficou olhando para mim. – O que foi? – Perguntei, provavelmente vermelha. Eu morria de vergonha quando qualquer pessoa me encarava desse jeito, principalmente ele.
- Só agora eu percebi o quanto eu te admiro. Como pessoa, não só como mulher. – E lá se foi o chão da Anne... Suspirei e dei um beijo nele.
- Obrigada, baby.

Nós paramos o pedalinho e fomos para o que era quase o fim da nossa visita: As fontes d’água. Passamos por todas elas lendo os quadrinhos e bebendo algumas. Toda vez que eu vou lá, me pergunto como pode haver tanta diferença entre águas. No fim das contas, é tudo água!
- Quantas você bebeu, Isa? – Julie perguntou enquanto nós caminhávamos em direção ao teleférico, minha parte preferida toda vez que ia ali.
- Sete. E você?
- Cinco. Anne?
- Bebi oito! – Eu ri. – Ian?
- Seis. Josh, e você?
- Preparem-se para o recorde: Bebi nove. – Batemos palmas de brincadeira. – Keegan, por que está tão quieto?
- Porque eu bebi as doze.
- KEEGAN! Você é louco? Qual pedaço do ‘não beba todas elas de uma vez você não entendeu”? – Isabella brigou com ele.
- Ah, Isa... Eu fui bebendo e quando vi já tinha bebido todas.
- Ai, ai, ainda bem que não sou eu que divido o quarto com você. – Falei. – Isa, se você precisar usar o banheiro, é só bater no nosso quarto, ok?  - Nós rimos.
- Não vou passar mal, gente.
- Eu espero mesmo, Keegan Philip. – Isabella falou com a voz séria que ela só fazia quando estava muito brava.
- Ui, Keegan Philip. – Ian brincou. E as piadas referentes às águas do Keegan duraram o resto do dia.

O teleférico que nós pegamos levava ao Morro Caxambu. Ele não tinha muita utilidade prática, mas a vista... Valia a pena. Como era dia de semana, não tinha ninguém lá além de nós seis. Lá de cima, nós conseguíamos ver a cidade inteira e o pôr do sol, que era a parte que eu mais gostava. Eu sentei na frente de Josh e ele me abraçou pelas costas.

- Sabe do que eu lembrei agora? – Eu imaginava, mas queria saber se era a mesma coisa que eu.
- Não...
- De quando eu te pedi em namoro pela primeira vez. Foi num por do sol também, lembra? – Era a mesma coisa.
- E você achou que eu ia esquecer? Eu lembro até hoje de todas as palavras do discurso que você fez antes de me pedir em namoro. – Falei.
- Lembra mesmo?
- Eu te conheço há pouco tempo. Mas, desde o dia daquela entrevista, eu me sinto diferente. E ontem... Eu saí cedo da cama porque simplesmente não consegui dormir. Pensei em você a noite toda. E quando mandei aquele sms, eu sabia que você devia estar dormindo, mas queria que estivesse acordada, queria ouvir sua voz. Quando meu telefone tocou e era Isabella, eu pirei. Achei que tivesse acontecido alguma coisa séria com você e por um momento, eu tive medo. Medo do que podia ter acontecido. Numa fração de segundo, um mundo de possibilidades passou pela minha cabeça. Quando ela me falou que tinha sido o Ben, eu acho que se ele tivesse passado na minha frente eu teria perdido a cabeça. Quando te ouvi chorando então, tudo o que eu queria era te ver. E eu não sei o que é isso que eu estou sentindo. Sei que é bom. E depois da manhã de hoje, junto com as meninas, Ian e Keegan, eu tive uma ideia sobre o que eu deveria fazer. Ou o que eu achava que deveria fazer. Se você achar precipitado, quiser esperar, eu vou te entender completamente... Anne, você quer namorar comigo? – Eu disse tudo o que ele tinha me falado naquele dia e ele ficou pasmo, porque eu realmente lembrava.
- Eu amo você. – Ele disse, em português no meu ouvido e eu quase tive um treco. Adorava o sotaque daquele menino no português, ainda mais falando isso...
- Eu também te amo. Muito. – Ele apertou o abraço à minha volta e nós nos beijamos. E o mundo estava perfeito...

Obviamente, já era noite quando nós voltamos para o hotel. Assim que entramos no lobby, demos de cara com Luisa e Rodrigo, que pareciam estar ali há um bom tempo.

- Finalmente vocês chegaram! – Ela disse, antes mesmo de dizer oi.
- Oi pra você também, Lu. – Isabella disse, mas ela relevou.
- Peguem as malas de vocês.
- O que? Por que? – Perguntei.
- Você entendeu, Anne! Peguem as malas, isso é um sequestro.  – Ela brincou. Nós não nos mexemos. – Estão esperando o que? Vamos, ainda temos que pegar a estrada hoje! – E só aí nós nos mexemos, mesmo que não soubéssemos para onde íamos. Mas uma boa surpresa sempre me deixava intrigada. O que será que a mente fértil da Luisa planejou?

Hey pessoinhas! Como sempre, lá vou eu pedir desculpas pela demora...
Fim de período na faculdade é osso! 
Anyways, gostaram do cap?  
Enquanto eu não postar, vocês podem ir no ask me perturbar sobre a fic, não esqueçam!  hehe
Joguinho da tequila: http://www.entretendo.com/imagens/2012/05/jogos-para-beber.jpg
Não consegui escolher uma foto do Parque das Águas, procurem no Google, porque é só lindo! 
Morro Caxambu: http://farm5.staticflickr.com/4034/4669132016_633dc7aedc_z.jpg

13 - Showers and stuff

4
COM

Eu ainda não sei o que fazer. Não sei se devo contar ao Josh que nós brigamos e eu nem sei o motivo real ou se eu ligo para o Eric e faço ele me dizer o que contou ao Josh e tento descobrir por mim mesmo se ele estava falando a verdade. Sinceramente, eu nem sei o que pode ter deixado o Josh tão bravo a ponto de me machucar do jeito que me machucou. Tudo bem, ele nem lembra do que fez e provavelmente, fez porque estava bêbado. Ele nunca tinha sido mais bruto comigo nem em brincadeiras. Ele nunca levantaria a mão para mim, nunca.

Tudo isso foi girando na minha cabeça enquanto eu fingia que estava dormindo na viagem de carro de Belo Horizonte até Caxambu, a cidade da Isabella. Os pais dela tinham alugado uma van – sim, uma van – para levar nós seis e todas as malas do aeroporto até o hotel no centro da cidade dela. De lá, nós íamos alugar um carro que nem fizemos no Rio para passar a semana.

De tanto fingir, acabou que eu dormi de verdade e quando acordei, já tínhamos chegado ao Palace Hotel, no centro de Caxambu. Eu ainda estava meio transtornada com o que as meninas tinham me contado, e já tinha visto que Josh tinha percebido que havia algo errado comigo. Quando entramos no nosso quarto, eu me sentei na cama antes de fazer qualquer coisa. Eu sabia que ele ia perguntar.

- O que está acontecendo com você, Anne? – Seu tom de voz era sério. – Você está me evitando desde o aeroporto.
- Eu não estou te evitando.
- E você acha mesmo que eu não percebi que você passou metade da viagem de carro fingindo que estava dormindo do meu lado? – Ele me conhecia feito a palma da mão, fazer o que? Só de relembrar a história na minha cabeça para contar a ele, meus olhos se encheram d’água. – Anne... – Ele se sentou ao meu lado, a seriedade na voz passando para preocupação. – O que foi? Me conta. – Ele me abraçou e eu só consegui chorar.
- Desculpa. – Eu me afastei respirando fundo e tentando me acalmar. – Eu... Eu descobri quem fez isso na sua mão.
- Como assim, quem fez? Explica isso direito.
- Fui eu. Com as minhas unhas.
- O que? Por que você... Espera. – Ele se levantou e olhou do meu braço para os meus olhos algumas vezes. – Se você fez isso com a minha mão, quer dizer que... Que fui eu quem te machucou assim? – Assenti. Ele ficou transtornado, sem saber o que dizer ou o que fazer. – Anne, desculpa. Eu... eu não acredito que eu fui capaz de fazer isso com você. Eu nunca me odiei tanto na minha vida. – Ele estava quase chorando. – Por quê? Por que eu fiz isso com você? – Ele se perguntava enquanto andava de um lado para o outro no quarto. Eu não sabia se ficava sentada ou se me levantava e tentava fazer com que ele se acalmasse antes de continuar a falar. Continuei onde estava.
- As meninas disseram que nós dois brigamos sério quando voltamos para o hotel depois da boate.
- Por quê?
- Eu fui ao banheiro, meu celular tocou, era o Eric, você atendeu e ele te falou alguma coisa que fez você beber mais do que o normal. Nós voltamos para o hotel mais que bêbados, e enquanto nós brigávamos, as meninas disseram que você não parava de perguntar “por que eu não tinha te contado antes” e eu só sabia dizer “que ele estava mentindo”. – Falei de uma vez. Ele se sentou ao meu lado, mas quando tentou me tocar, desistiu no meio do caminho e puxou a mão de volta.
- Anne... Você tem alguma coisa pra me contar? – Eu queria dizer que tinha, mas eu não tinha a mínima noção de como seria a reação ele se descobrisse do meu noivado agora. E eu nunca tinha visto o Josh transtornado daquele jeito, não ia piorar a situação.
- Não. Eu não consigo lembrar o que ele te disse. Só fica martelando na minha cabeça eu te falando que ele está mentindo. Quer dizer, só o fato de eu ter te dito isso, já que nem disso eu lembro pelas minhas próprias memórias. – Em dia normal, depois disso ele me abraçaria, mas ele ficou imóvel. Um calafrio percorreu a minha espinha. Ele não podia fazer disso um hábito.
- Me empresta o seu celular. Eu vou ligar pra ele e a gente descobre o que foi que ele disse.
- Não. Eu não sei o que foi, mas o que ele te disse fez a gente brigar como nunca. Eu não quero que isso aconteça de novo, e pela primeira vez, gosto do fato de nós estarmos tão bêbados que não lembramos disso. – Eu não sabia se tocava nele enquanto dizia isso e o clima entre nós dois ficava cada vez mais estranho. Mas ele não parecia convencido. Eu percebi pelo seu olhar que ele ainda queria falar com o Eric. Eu não ia deixar isso acontecer. Não aqui no Brasil. Nós viemos para cá nos divertir, em algum momento o drama constante nas nossas vidas tinha que dar uma pausa. – Vamos resolver isso quando nós voltarmos para casa, por favor. Eu não quero lidar com o Eric aqui. Eu e as meninas esperamos tanto pra voltar ao Brasil e estamos tão felizes por vocês terem vindo conosco. Não vai ser justo estragar tudo por causa dele.
- Ok, Ann. – Ele continuou imóvel, sentado ao meu lado. – Eu... Eu vou tomar um banho. – Ele se levantou e ficou visivelmente desconfortável. Me deu um beijo na testa sem encostar anda além dos lábios em mim e foi para o banheiro. Ouvi o chuveiro sendo ligado quase que imediatamente.

Eu me senti péssima. Josh nunca tinha ficado tão distante. Ele está se punindo por ter me machucado, mas eu realmente não liguei. Tenho certeza que ele não fez por mal, estávamos bêbados e ele não mediu a força. De repente, ele até tinha motivos para uma raiva tão grande a ponto de me machucar.

Continuei sentada na cama, pensando no que tinha acabado de acontecer, quando ouvi um soluço mais alto vindo do banheiro. Ele sufocou o som assim que o fez, e isso chamou a minha atenção. Me aproximei da porta silenciosamente. Pude ouvir outros soluços abafados do lado de dentro e não me contive em passar a mão na maçaneta e abri-la, agradecendo aos céus por nós dois termos o costume de não trancar portas.

Josh não tinha ido tomar banho. O chuveiro ligado era para me distrair, quando ele estava sentado no chão do banheiro. Chorando. Quando me viu, ele escondeu o rosto. Desliguei o chuveiro. Fui na direção dele e fiz com que ele me abraçasse, mesmo que ele não tivesse muita vontade. E claro, comecei a chorar junto instantaneamente.

- Josh, não fica assim, por favor. – Falei alguns instantes depois de ter chegado ali.
- Eu não devia ter te machucado assim, Anne. Por mais bêbado que eu estivesse. Por mais motivos que eu tivesse. Eu não devia! – Eu tentei enxugar suas lágrimas, mas ele chorava compulsivamente, eu nunca havia o visto daquele jeito. – Eu nunca vou me perdoar pelo o que eu fiz com você. Nunca
- Mas eu te perdoo, ok? Eu tenho certeza absoluta que você não fez por querer. Você nunca me machucaria de propósito.
- Não, isso nunca passou pela minha cabeça. Eu te amo tanto. Nunca imaginei que um dia fosse fazer isso com você. – E para que enxugar as lágrimas dele quando as minhas caiam na mesma velocidade?
- Eu amo você. Você sabe disso. Sabe que eu não consigo mais me imaginar sem você. O que aconteceu já passou. Foi só um machucado, vai sarar. E você nunca fez antes, não vai fazer de novo. Eu não fiquei brava com você em momento algum. – Me afastei para olhá-lo nos olhos. – Mas eu vou ficar se você não parar com isso de não me tocar. Me abraça direito, vai? – Ele me envolveu em seus braços com a vontade normal.
- Desculpa. Eu fiquei apavorado. – Ele quase parou de chorar. Se afastou para me olhar da mesma forma que eu tinha feito antes. – Você é a mulher que eu mais amo nesse mundo. A dor que eu senti quando descobri que te machuquei foi como se esse machucado estivesse em mim. Porque você é uma parte de mim, Ann. Eu também não me imagino sem você. E eu fiquei com receio de te machucar outra vez.
- Me tocando? – Ele assentiu. – Bota uma coisa na sua cabeça, Joshua. Eu preciso de você. Não tem possibilidade de eu viver num mundo em que nós convivamos e você não me toque. Eu acho que só me senti pior do que agora, quando percebi que você preferiu não encostar em mim quando nós passamos sete meses separados.  Nós somos parte um do outro. Nunca mais pense em não me tocar, ok? – Ele sorriu e eu sorri junto. Nós paramos de chorar e ele me deu um beijo.

Ficamos ali abraçados por mais um tempo, por mais estranho que ficar no chão de um banheiro de hotel parecesse. Só me levantei quando meu celular tocou e eu tive que ir atender, mas Josh veio atrás de mim. Confesso que senti um medo em relação à pessoa que estava me ligando e vi isso refletido nos olhos do Josh. Respirei aliviada quando vi o nome na tela.

- É a Isa. – Falei e Josh pareceu tão aliviado quanto eu. – Oi baby. – Falei tentando disfarçar a voz de choro.
- Ann, o que houve, porque essa voz? – E, logicamente, não consegui.
- Já passou. Depois eu te explico.
- Tudo bem, então. Só liguei para avisar que nós vamos sair em quarenta minutos para almoçar na casa dos meus pais. Eu já pedi um carro na recepção. – Ela disse sem esconder a animação na voz falando da casa dos pais.
- Ok, eu e Josh vamos nos arrumar.
- Até mais, baby.

- Nós temos quarenta minutos para ficar prontos. Vamos para a casa da Isa. – Ele me puxou para perto e me abraçou.
- Obrigado por não ter pirado com o que eu fiz. Obrigado por me perdoar. – Ele disse com o tom de voz normal. – Toda vez que você prova ser a mulher que eu escolhi pra dividir o resto da minha vida, eu tenho vontade de adiantar meus planos.
- Que planos?
- Surpresa. Mas não se preocupe, nem fique ansiosa. Ainda vai demorar um pouco... Eu tenho tudo em mente.
- Dizer isso para uma pessoa curiosa que nem eu é quase tortura, amor.
- Você vai ver que vai valer a pena esperar. – E me deu um beijo.
- Acho que nós precisamos de um banho.
- Acho que você devia vir junto para se certificar que eu vou entrar no chuveiro dessa vez.
- Acho que essa é uma ótima ideia. – Nós rimos e fomos tomar banho.

Conseguimos nos arrumar dentro do tempo, por milagre dos céus, não nos atrasamos. Quando descemos, Isabella e Keegan já estavam esperando no lobby.

- Cadê Julie e Ian? – Perguntei.
- Ainda não desceram. – Nós ficamos conversando por mais uns quinze minutos antes de eles dois aparecerem correndo pelas escadas do hotel, com as bochechas rosadas. Rosadas demais para serem só por causa da corrida...
- Nós achamos que íamos ter que chamar os bombeiros. – Keegan disse.
- Desculpa. Nós... cochilamos. E perdemos a hora. – Julie disse.
- Ok, eu conheço esse cochilo. – Falei e o rosa das bochechas deles dois passou para um vermelho vibrante.
- Vamos logo, estou morrendo de fome. – Isabella disse.
- Seu namorado está te influenciando muito, viu?  Isso de estar morrendo de fome é cosia dele. – Josh disse. E fez questão de não largar a minha mão nem um segundo desde o momento em que saímos do quarto.
- Eu acho que é saudade da comida da minha mãe. – Isabella respondeu.

Ela tinha alugado um carro igual ao que nós usamos no Rio, só que esse era preto. Dessa vez, eu e Josh passamos para um dos bancos de trás e Isabella foi dirigindo com Keegan no carona. O meu namorado fez questão de ir abraçado comigo durante toda a viagem. E eu estava com um sorriso interno maior que o mundo; ele me amava. Aquilo tudo foi porque ele me machucou. Eu também o amava. Tanto amor que até doía, não cabia no peito. E não tinha Eric que pudesse mudar o que eu sentia. Nem o que o dono dos braços que me envolviam sentia. E saber disso foi suficiente para garantir a minha tranquilidade. Pelo menos enquanto estávamos no Brasil 

Eu sei que eu ia postar antes, mas passei o fim de semana fora, sorry! 
Tem muito spoiler do futuro da fic subliminar nesse capítulo, just saying. 
Espero que vocês gostem, e até o próximo! 

12 - Let's go get high

2
COM

- Eu nunca mais deixo você usar aquele vestido. – Josh disse quando nós acordamos.
- Por quê?
- Porque de alguma forma, eu estou loucamente cansado e não sei o motivo. – Eu me virei para ele na cama.
- Isso é porque você bebeu demais. Não é por causa do meu vestido. – Me defendi.
- O que você me diz do fato de serem duas da tarde e nós dois ainda estarmos na cama de roupa de baixo? E você com a minha camisa...
- Isso é porque nós dois bebemos demais, meu vestido continua sendo inocente... Falando nisso, cadê ele? – Olhei em volta no quarto e não vi.
- Depois a gente acha. – Ele disse com uma voz suspeita.
- Joshua Ryan. Onde você colocou o meu vestido?
- Eu? Eu nem peguei o seu vestido! – Não acreditei nem um pouquinho. E ele também não queria que eu acreditasse. Convenhamos, ele conseguiria fingir com os pés nas costas. – Ok. Foi mais forte do que eu... Escondi enquanto você dormia. – Ele falou meio envergonhado.
- Por quê? – Perguntei séria.
- Porque tirando o Ian e o Keegan, todos os homens daquela boate passaram a noite com os olhos mergulhados no seu decote. – Eu ri.
- Você também? – Perguntei.
- É claro! Mas eu posso, eles não. – Ele pareceu realmente chateado.
- Tudo bem, eu não uso mais o vestido em público. – Eu disse. – Ele é realmente bem econômico no pano...
- Econômico? Se juntar o pano do seu vestido, dá pra fazer uma roupinha de bebê. E ainda falta pano. – Ele riu.
- Não exagera, ok? – Me deu um beijo. – Josh... Só eu não lembro muito bem da noite passada?
- Não. Eu lembro da boate, de algumas pessoas que pediram pra tirar foto com a gente, de música muito alta e de conversar com você. Só.
- Eu não lembro como nós chegamos ao hotel. Nem se nós fizemos alguma coisa durante a noite.
- A julgar pelo fato de que nós ainda estamos tecnicamente vestidos, provavelmente não fizemos nada.
- Odeio quando isso acontece. Fico com a sensação de que aconteceu alguma coisa super importante comigo e eu perdi. – Como sempre, eu falei demais.
- Isso já aconteceu com você antes?
- Na época da faculdade. – Foi a resposta mais rápida que eu consegui inventar. Eu nunca diria a ele que não lembro de nada que aconteceu durante uma noite que eu passei com o Eric.
- Não sabia que você era dessas na época da faculdade...
- Eu não era, foram só duas vezes. – Três com a vez mais recente.
- Um dia, eu quero ouvir as suas histórias de faculdade. Você não fala muito disso, por quê? – Como eu ia responder isso?
- Hum... Porque eu acho que você não vai gostar de ouvir muito sobre a minha época de faculdade...
- Eu pensei que já tivesse deixado claro que eu me interesso por você, mas ok...
- Não é isso! Eu nunca pensaria que você não se interessa por mim, de verdade. Mas... É  que 80% das minhas lembranças da faculdade tem o Eric, como amigo ou como namorado. Eu achei que você não ia curtir muito me ouvir falando dele.
- Ah sim... Anne, infelizmente, eu não tenho como arrancar o Eric do seu passado. Eu tenho que aceitar, você não precisa se privar de me falar as coisas por causa disso. - Será mesmo?
- Sério?
- Claro que sim, meu amor. Até porque você não tem como ignorar as minhas ex-namoradas, a mídia sempre vai te lembrar. – Ele brincou com os meus cabelos enquanto falava.
- Eu te amo tanto. – Dei um beijo nele e o movimento fez a minha cabeça latejar. – Ai! – Falei. – Segundos depois, meu celular tocou na mesa de cabeceira. Parecia que tinha um sino tocando dentro da minha cabeça.
- Ann, pelo amor de Deus, atende isso, minha cabeça vai explodir! – Josh disse.

- Alô. – Atendi sem ver quem era.
- Boa tarde, Anne. Liguei para te acordar. – Era Julie.
- Não sei se devo te agradecer por isso. Estou morrendo de dor de cabeça.
- Nós vamos jantar com os seus pais hoje. E eu preciso saber se nós ainda vamos para Minas.
- É claro que vamos! A Isabella morre se nós não formos.
- Você e o Josh já fizeram as malas?
- Não, mas a gente arruma antes de ir para a casa dos meus pais.
- Ok então. Hum, Ann, está tudo bem?
- Tudo sim, baby.
- Mesmo? – Por que tanta insistência?
- Sim.
- Tudo bem então. Não se esqueçam de pedir o almoço no quarto, vocês não podem ficar de estômago vazio.
- Até mais tarde, Ju.

- O que foi? – Josh perguntou.
- Julie ligou para nos acordar. E para dizer que nós temos que arrumar as malas, almoçar e que vamos para a casa dos meus pais mais tarde.
- Espero que essa ressaca gigante já tenha passado até lá.
- Eu também. Se não o meu pai vai achar que você me embebedou para abusar da minha inocência. – Brinquei.
- RÁ, RÁ, você, inocente, Anne? Conta outra, vai.
- Deixa eu me iludir! – Respondi.
- Ainda bem que você sabe que é ilusão... – Não respondi.
- Vou tomar um banho para ver se o peso do mundo sai das minhas costas e se a minha cabeça para de latejar. Pede a comida no quarto pra gente?
- Se eu tivesse mais forças, iria pro banho com você, mas não. Pela primeira vez na vida, eu vou te trocar pela cama.
- Tudo tranquilo se você só me trocar pela cama vazia. – Disse antes de me levantar.

Acho que fiquei uns vinte minutos em baixo do chuveiro fazendo a ressaca passar. E mesmo assim, ela não passou. Quando me olhei no espelho, vi que meus olhos estavam inchados, provavelmente por ter dormido demais. Mas o que me chamou a atenção foi uma marca arroxeada no meu braço direito que eu não tinha percebido porque a blusa do Josh que eu estava vestindo era de manga comprida. Passei a mão e senti o músculo dolorido. Era como se alguém tivesse apertado o meu braço com muita força. E eu não lembrava como ou quando isso tinha acontecido, nem se foi uma brincadeira ou se foi sério. Devo ter ficado bastante tempo analisando a marca no meu braço, porque voltei à realidade com Josh me chamando.

- Ann, a comida chegou. – Me enrolei na toalha e saí do banheiro. – O que é isso no seu braço? – Ele perguntou se aproximando enquanto eu me vestia. Puxei o braço no instante em que ele colocou a mão.
- Ai. Não sei, só vi essa marca agora, depois que tirei a sua camisa.
- Será que você bateu em algum lugar? – Ele perguntou preocupado.
- Isso definitivamente não é roxo de topada.
- Que estranho. Parece que alguém segurou o seu braço com força... Tem só esse roxo ou você achou algum outro? – Ele passou os olhos pelas minhas pernas procurando alguma coisa diferente.
- Não, acho que só tem esse... – Me examinei automaticamente.
- Parece que a nossa noite foi mais animada do que a gente imaginava.
- Pois é. – Ele estendeu a mão esquerda para segurar o meu braço e ver a marca mais de perto e eu vi que a mão dele também estava machucada. – O que foi isso? – O machucado dele era diferente, tinha sangrado e o sangue tinha coagulado. Eram quatro cortes curtos no peito da mão. Eles provavelmente foram feitos ao mesmo tempo, eram muito certinhos e simétricos, como... Unhas.
- Não sei, acho que foi ontem na casa dos seus pais, brincando com o seu irmão, de repente... Não lembro de ter feito isso na minha mão.
- Eu acho que nunca mais bebo na vida. Agora a gente aparece machucado e nem lembra como... – Eu estava começando a ficar histérica.
- Calma, Annie. – Ele me abraçou. – Não deve ter sido nada demais...
- Tomara mesmo...

Eu quase não consegui comer direito depois disso tudo, mas como nós não comíamos há quase vinte horas, a fome falou mais alto. Depois nós nos distraímos arrumando as malas, mas até a hora em que nós saímos para jantar com os meus pais, nós sabíamos que alguma coisa de muito errada tinha acontecido na noite anterior. Por via das dúvidas, eu estava com um vestido de mangas compridas e Josh tinha feito um curativo na mão machucada. A desculpa oficial era que ele tinha se cortado com um copo que quebrou enquanto nós almoçávamos. Não tinha como falar para os meus pais que nós tínhamos ficado bêbados a ponto de não lembrar o que tinha acontecido.

Isabella, Keegan, Ian e Julie nos esperavam no lobby e juro que vi um olhar estranho nos olhos de todos eles enquanto eu e Josh nos aproximávamos de mãos dadas. E rindo, porque eu fiz o favor de tropeçar no chão liso, como sempre.

- Oi. – Eu disse ainda rindo.
- Oi... – Julie ainda estava olhando estranho para nós dois. Quer dizer, todos eles estavam. Mas era minha última noite no Rio, depois eu conversava com as meninas.
- Vamos? Não quero demorar a chegar na casa dos meus pais.
- O que foi isso na sua mão, Josh? – Ian perguntou.
- Me cortei com um copo no almoço. – E Josh respondeu com a maior naturalidade do mundo. Era bom ter um namorado ator nessas horas...

Fomos conversando normalmente no carro até a casa dos meus pais e quando chegamos, todo o clima estranho foi deixado de lado assim que pisamos na sala. Depois que jantamos, Matheus apareceu com dois papeis dobrados e entregou um para mim e um para o Josh – que sustentou a versão do copo quebrado sem nem pestanejar a noite toda.

- O que é isso, Matheus? – Perguntei.
- Abre, oras.
- Open it. – Falei para Josh quando lembrei que ele provavelmente não tinha entendido o que o meu irmão tinha dito. Nós abrimos os papeis ao mesmo tempo e vimos duas versões de um mesmo desenho. Éramos nós três, eu, Josh e Matheus, no Cristo. A versão desenhada por uma criança da foto que nós tiramos lá e que eu já tinha revelado e dado para ele.
- Ah, Matheus, é lindo! – Ele me abraçou.
– Eu vou sentir saudades de você, Ann. – E a Anne já estava chorando. – Por que você está chorando?
- Porque eu também vou sentir saudades de você, pequeno. – Ele me abraçou de novo e depois se virou para o Josh.
- Eu gostei de você. – Fui traduzindo. – Mas se você fizer a minha irmã chorar, você vai se ver comigo! – Tentei não rir para dar credibilidade à ameaça do meu irmão de sete anos.
- Ele viu isso na televisão ontem e disse que ia dizer para o Josh... – Minha mãe disse. Matheus deu um abraço no Josh e depois foi dormir, já estava na hora dele.

Eu passei o resto da noite agarrada nos meus pais, já estava sentindo o clima da despedida. Antes de irmos embora, minha mãe me chamou no quarto.

- Eu quero te dar uma coisa. – Ela disse quando nós entramos.
- Mãe, não precisava ter se preocupado em comprar nada...
- Eu não comprei. – Ela pegou uma caixinha no armário.
- Mãe, você vai me dar o que eu estou achando que você vai me dar?
- Sim. – Eu já estava chorando. Ela abriu a caixinha que guardava o colar de ouro branco com um coração de diamante que foi o presente de casamento do meu avô para a minha avó.
- Mãe... Eu não sei o que dizer. Obrigada. – Ela me deu um abraço e depois colocou o colar em mim.
- Eu sempre disse que ia te dar esse colar quando você se casasse. Mas você está muito longe e eu acho que você devia ter alguma coisa nossa na sua nova vida. Até porque algo me diz que você não via demorar a se casar com esse menino. – Ela derramou uma lágrima. Eu posso contar nos dedos das mãos todas as vezes em que vi minha mãe chorando em toda a minha vida. – E nunca mais vai voltar para casa. – Aí quem chorou mais fui eu. – Mas você sabe o que dizem, casa é onde o coração está. E o seu é do Josh.
- Eu não me vejo mais sem ele.
- Então luta para vocês dois nunca se separarem. – Eu abracei a minha mãe como nunca tinha feito antes. Nós nunca fomos daquele tipo de mãe e filha super confidentes que aparecem na TV. Mas pela primeira vez na vida eu senti que aquele muro entre nós duas tinha acabado de cair. Pena que foi justo quando eu estava indo embora. De novo.

Quando nós descemos, eu ainda estava meio chorosa. Foi inevitável chorar mais quando eu me despedi do meu pai e da minha mãe, outra vez, mas eu ia ficar bem. Isabella voltou dirigindo para o hotel, eu não tinha condições. Fui em silêncio e abraçada com o Josh até Ipanema.

- É um cordão muito bonito. – Josh disse quando percebeu que eu não tirei o cordão nem para dormir.
- Era da minha avó. É meio que herança de família.
- Então eu acho que a Sophia já tem uma jóia mesmo antes de nascer, é isso? – Eu sorri.
- Exatamente. Vai ser da Sophia... Mas o mais engraçado você não sabe.
- O que?
- Esse foi o presente de casamento do meu avô para a minha avó. E a minha mãe ganhou quando casou.
- Isso quer dizer que você devia ganhar quando casasse também? – Assenti.
- Mas a minha mãe me deu porque “você não vai demorar a casar com esse menino mesmo” – Imitei o tom de voz dela.
- Por mim a gente fugia pra Vegas e casava lá.
- Mas eu não quero um casamento de Vegas! – Respondi. – Sonhei demais com isso pra ter a cerimônia celebrada pelo Elvis.
- É verdade... Você merece mais que isso.
- Nós merecemos. – Ele me deu um beijo.
- Vamos dormir, amanhã o vôo é cedo.

Para variar, nós acordamos atrasados. Nos arrumamos o mais rápido o possível, porque ainda tínhamos que fazer o check in no hotel, o check in no aeroporto e os meninos ainda iam se despedir dos fãs que ainda estavam na porta do hotel.

Fizemos tudo tão rápido que acho que só consegui respirar normalmente quando entrei no avião e sentei na poltrona. Tirei um cochilinho, o vôo do Rio para Minas durava só quarenta minutos. Quando chegamos ao aeroporto em Belo Horizonte, tinham mais fãs esperando do que quando chegamos ao Rio.

- E o número só aumenta... – Keegan disse.
- Vão falar com eles, nós pegamos as malas. – Julie falou e eles foram.
- Então... Vocês estão bem? – Isabella me perguntou enquanto nós estávamos pegando as malas.
- Sim... Por que não estaríamos? – Resolvi ocultar o pedaço dos machucados com origens desconhecidas.
- Vocês não lembram do que houve anteontem na boate? – Isabella perguntou. Eu sabia que tinha alguma coisa...
- Não. Mas vocês podem me contar.
- Já era tarde e você foi ao banheiro com a Clara e deixou o celular na mesa onde nós estávamos, com o Josh. – Isabella começou.
- Nós já estávamos meio bêbados, aí o seu celular tocou e ele ia ver só para te dizer quem era quando você voltasse... Mas ele se transformou quando leu o nome na tela.
- Era o Eric. – Adivinhei.
- Exatamente. O Josh atendeu, e o Eric falou alguma coisa que deixou o Josh com muita raiva. Tanto que ele começou a beber muito mais depois que desligou o telefone e não dizia pra ninguém o que o Eric tinha falado até que você voltou. – Julie explicou.
- Você também já estava meio alta por causa da bebida, mas acompanhou o Josh em todas as bebidas que ele tomou depois, e como você não é das mais resistentes, voltou para o hotel completamente bêbada. Quer dizer, voes dois estavam completamente bêbados. – Eu ia ouvindo e as coisas iam começando a se encaixar...
- Quando nós entramos no elevador, ele te segurou pelo braço e você disse que estava machucando, mas ele não soltou. – Por isso o meu braço tinha ficado roxo.
- E eu tentei tirar a mão dele do meu braço, não tentei? – As marcas de unha...
- Sim.
- Vocês brigaram feio, Anne. A gente ouvia os gritos dos nossos quartos. – Julie disse.
- Estávamos prestes a bater na porta do quarto de vocês quando os gritos pararam do nada. Vocês devem ter dormido. E quando acordaram de ressaca, não lembraram de nada. – Eu devia estar branca feito papel.
- O que nós gritávamos?
- O Josh repetia algo do tipo “por que você não me contou antes?” e você chorava mais que o normal, dizendo que “ele estava mentindo”.
- Resta descobrir o que o Eric contou a ele. – Isabella disse.
- Eu não faço ideia. 

YEY, pessoas. Estava cansada dos capítulos sem dramas e histórias ocultas...
Anne e Josh  deixaram marcas um no outro - e não foi por um bom motivo.
Agora resta saber o que o Eric contou para o Josh... E eu garanto que não é o que vocês estão pensando.
Obrigada por todos os comments fofos, vocês são uns amores! 
Beijinhos ;)

11 - Amigos da família

5
COM

- Oi Anne. – Ela disse de onde estava, parecia recosa quanto à minha reação. Eu fiquei alguns segundos pensando no que ia fazer, mas eu sempre me dei muito bem com a mãe do Eric. E ele não estava nem aqui, acho que não tinha motivo para não tratá-la normalmente. Sorri e ela pareceu aliviada.
- Tem tanto tempo que nós não nos vemos! Como vai a senhora? – Disse andando na direção dela.
- Tem muito tempo mesmo. E você já tinha passado da fase do “senhora” da última vez. – Ela disse sorrindo e me deu um abraço. – Quando foi mesmo?
- Que nós nos vimos pela última vez? – Ela assentiu. – Eu não tenho muita certeza... – Era mentira, eu tinha. – Mas acho que foi na formatura do Eric. – Nossa conversa estava sendo estranhamente formal. Era constrangedor estar ali na frente dela depois de tudo o que aconteceu entre eu e o Eric.
- Sim, foi na formatura dele mesmo. Vocês dois estavam tão lindos... – E o meu constrangimento atingiu níveis alarmantes agora. Abaixei a cabeça enquanto corava. – Desculpa. É que da última vez em que eu te vi, você e o Eric estavam...
- Noivos, eu sei. – Não a deixei terminar de falar. Do nada, a presença dela ali parecia perigosa para o segredo que eu vinha guardando do Josh... – Como você soube que eu estava aqui? – A mãe do Eric não era do tipo que se ligava em programas e sites de fofoca.
- O Eric me disse. Ele tentou falar com você esses dias, mas você não atendia ao telefone.
- Eu devia estar longe... Fico meio relapsa quando viajo. – Inventei uma desculpa. – Da última vez que eu e Eric nos encontramos, ele disse para eu visitar você e a Brenda quando viesse ao Brasil.
- No fim das contas, eu te achei primeiro. – Ela riu.
- Vamos almoçar? – Minha tia chamou. – Fica com a gente, Cibele?
- Não posso, eu só dei uma passadinha para ver a Anne... Tem gente lá em casa.
- Que pena! – Minha tia disse e eu concordei com a cabeça.
- De repente eu volto mais tarde... Com a Brenda. – Eu e a irmã do Eric éramos bem próximas quando nós namorávamos. Tentamos manter o contato depois do término, mas não deu muito certo. Eu sentia falta dela.
- Volte sim, eu vou gostar de vê-la. – Falei, como sempre, sem pensar.
- Vou falar com ela quando voltar para casa e de repente, nós voltamos sim.
- Até mais. – Minha tia disse. Quando dona Cibele se afastou ela se virou para mim. – O quão estranho isso foi?
- Muito, tia. Muito. – Voltei para o quarto de Clara.
- Quem era? – Isabella perguntou. Sentei na cama antes de responder.
- Não gostei da sua cara. – Julie disse. – Quem era?
- A mãe do Eric.
- O que ela queria? – Giovanna perguntou.
- Me ver. Só isso. Foi estranho.
- É normal, ela é sua ex-sogra.
- Você vai falar para o Josh eu ela veio? – Clara perguntou.
- Só se ela voltar mais tarde.
- Então eu acho melhor você melhorar essa cara, porque nós vamos almoçar e os meninos estão vindo. – Isabella disse.
- E o Josh te conhece só de te olhar. – Julie completou.
- Eu sei. – Falei. Respirei fundo e sorri. De repente eu consigo fingir.

Nós fomos para a sala e os meninos chegaram logo depois. E incrivelmente limpos para quem estava jogando futebol no calor que estava fazendo no Rio.

- Vocês jogaram futebol num campo com ar condicionado, é?  - Julie perguntou.
- Não, nós nem começamos a jogar. Preferimos esperar o almoço. – Keegan respondeu.
- Isso foi provavelmente bom, porque a minha mãe ia fazer todos vocês tomarem banho antes de comer se vocês estivessem suados. – Giovanna disse.
- E eu estou com fome, não quero esperar. – Clara disse e todos nós rimos. Todos menos o Josh que estava olhando para mim. É, eu não tinha conseguido fingir...
- O que você tem? – Ele perguntou baixinho quando veio para o meu lado.
- Nada não...
- Sério, Anne? – Ele perguntou com aquela cara de “eu te conheço, não adianta mentir”.
- Depois eu te explico. – Eu sorri e dei um beijo nele. – Vamos almoçar agora, ok?
- Eu devo ter medo? – Ele perguntou preocupado.
- Não mesmo. Não é nada demais. Você sabe que eu sou exagerada.
- Você não me engana, Anne. Tem alguma coisa acontecendo.
- Você vai entender logo, logo. E se não entender, eu explico. – Eu dei um sorrisinho e ele sorriu junto. O abracei pela cintura e ele me deu um beijo na testa. Isabella e Julie olharam para mim assim que nós nos viramos para eles. Elas perceberam que ele tinha percebido. Tudo acabado.

Nós almoçamos e foi até fácil me distrair com os meus primos e o Keegan juntos falando besteira. De vez em quando, o Josh me olhava para saber se eu ainda estava estranha, mas eu tentei rir de verdade e pelo menos agora pareço ter conseguido. Quando acabamos, voltamos para a sala e minha tia surgiu com uma caixa que eu já sabia do que era.

- Meu Deus, não tia. Essa caixa não! – Falei.
- O que tem ali, Ann? – Josh perguntou.
- Nada! – Tentei pela última vez fazer com que minha tia desistisse daquela caixa e voltasse para o quarto, mas Giovanna foi mais rápida em falar o que era.
- São fotos antigas, Josh.
- Fotos da Anne pequena? – Ele perguntou.
- Fotos da Anne menor, você quis dizer, né? – Keegan brincou.
- Também tem uns vídeos aqui... – Clara pegou o pen drive.
- No pen drive? Clara, você planejou isso?
- Não, prima... Imagina! – Ironia impera. Ela levantou e colocou o pen drive na entrada USB do home theater e a tortura começou.

O primeiro vídeo que ela colocou foi justo o da minha apresentação de zouk no ensino médio. Aquela que a Julie e a Isabella disseram que iam mostrar ao Josh... Joguei uma almofada nelas duas.

- Vocês tem dedo nisso, né? – Elas só riram. Josh não tirava os olhos da TV.
- Por que você nunca me disse que sabia dançar assim? – Ele perguntou.
- Porque eu sabia, não sei mais.
- Duvido que você não lembre rápido.
- Se você quiser que eu lembre, é só pedir que eu volto a praticar, baby.
- Você só vai dançar isso de novo se for comigo, Anne Christine. – Ele falou sério. – Quando nós voltarmos para LA procuramos uma academia de dança.
- Hum hum, ok. – Não coloquei muita fé no que ele disse.
- Eu estou falando sério.
- Mesmo? – Espantei.
- Mesmo.
- Ok, Joshua. Vamos dançar. – Ele passou um braço pelos meus ombros e nós continuamos a assistir os vídeos.

Clara tinha separado alguns realmente antigos, tipo o vídeo da minha primeira apresentação de dança quando eu tinha 5 anos, e alguns mais atuais, tipo o da minha festa de 18 anos quando eu e as meninas cantamos Skyscraper da Demi Lovato loucamente alto. Ok, não tão atual assim. Quando ela chegou nos vídeos da época da faculdade, graças a Deus, não eram muitos, eu comecei a ficar aliviada porque eles estavam acabando. Mas não deveria.

- Anne, aquele ali dançando é o Eric? – Josh perguntou. Eu não podia dizer que não era, estava na cara que era ele.
- Sim.
- E por que esse vídeo está aí?
- Hum... Porque eu dancei com ele. – Ele me olhou com cara de interrogação. – Isso foi na faculdade... A turma dele tinha que apresentar um trabalho de dança e faltava uma menina... Eu ajudei. – Clara estava me olhando com cara de “desculpas”, mas ela não tinha culpa de nada. Josh ficou meio desconfortável em me ver dançando com ele, mas eu nãotinha como mudar o meu passado.

A campainha tocou no final do vídeo tirando a nossa atenção para a porta bem no momento em que a gente acabava de dançar e o Eric me dava um beijo. Sabendo do final, Giovanna passou o vídeo o mais rápido o possível.  Mas eu não acho que a pessoa que chegou fosse fazer muita diferença...

- Anne! – Brenda disse assim que me viu na sala e eu levantei para abraçá-la.
- Oi Brenda! Que saudade de você!
- Quanto tempo, cara! Como você tá? O Eric me disse que vocês se encontraram em Nova York...
- Sim, mas já faz um tempo. Ele me visitou em LA no início do ano... Já tem um tempinho que a gente não se vê...
- Eu sei que você está namorando. – Ela disse. É claro. Ela e Eric sempre foram melhores amigos.
- E eu lembrei que tenho que te apresentar a ele... – Me virei para o Josh. – Vem cá.
- É sua prima? – Ele perguntou enquanto caminhava na minha direção.
- Não exatamente. – Respirei fundo. – Hum... Josh, essas são Brenda e Cibele.
- Prazer em conhecê-las. – Ele disse enquanto apertava as mãos das duas. – Elas são amigas da família, é isso?
- Sim, são... Mas elas também são a mãe e a irmã do Eric.
- Ah. – Foi a única coisa que ele disse antes de respirar fundo.
- Elas moram aqui perto... E vieram me ver. – Eu disse mais para ele do que para todo mundo ouvir.
- Está tudo bem, sério. Elas são parte do seu passado, não tem como apagar. – Sorri.
- Obrigada.

Josh levou a presença da família do Eric ali realmente numa boa. Elas ficaram ali por mais ou menos uma hora e meia, mas nós tínhamos que ir embora porque íamos sair à noite e tínhamos que voltar para o hotel e nos arrumar. Quando estava me despedindo, Josh já estava longe, e a mãe do Eric me chamou num canto.

- Anne, isso aqui é para você. – Ela me estendeu uma caixa.
- O que é isso?
- Algumas coisas que o Eric guardou aí da última vez que veio ao Brasil. Ele pediu para eu te entregar. Eu não sei o que tem aí.
- Ok. – Não tinha muito a dizer. – Obrigada. Foi um prazer te rever.
- Tchau, Anne. – Imediatamente, eu dei a caixa para uma das meninas levarem até o hotel. Eu não fazia ideia do que tinha ali dentro e não tinha certeza se queria que o Josh visse. Depois eu ia ligar para o Eric e perguntar. Enquanto isso era bom que essa caixa ficasse fora do alcance e da vista do Josh. Só por garantia. Mas que eu queria abrir, eu queria.

Quando chegamos ao hotel, a caixa ficou com a Julie que guardou na mala dela. Eu me proibi de continuar pensando nisso naquela noite. Mas eu tinha que falar com o Josh.

- Obrigada. – Eu disse quando nós entramos no quarto.
- Pelo quê?
- Por ter aceitado a família do Eric hoje sem maiores problemas.
- Meu problema é com ele, não com a família dele. Não tinha motivos para criar desconforto. – Ele me abraçou.
- Você não tem motivos para criar desconforto nem com ele. Você já me ganhou, Joshua Ryan. Não tem competição em lugar algum.
- Bom saber que eu não vou mais precisar socar ex-namorados...
- Eu realmente espero que não. – Ele me deu um beijo.
- Que sacola é essa que você trouxe da casa da sua tia? – Ele apontou para a sacola que eu coloquei na cama.
- O vestido que eu vou usar hoje à noite. Clara me deu de presente. E você só vai vê-lo quando eu o vestir, nem adianta tentar.
- Eu já aprendi a não discutir quando você esconde as coisas de mim. Só pode fazer o favor de colocar logo esse vestido? Eu sou curioso.
- Vou tomar banho.

Tomei banho e saí do banheiro de roupão. Me arrumei enquanto ele tomava o banho dele e quando ele saiu, eu estava devidamente vestida, penteada, maquiada e calçada.

- Uau. Acho que eu não vou deixar você sair desse quarto. Ou melhor, dessa cama.
- Josh! Espera a noite acabar, pelo menos. – Eu ri.
- Sério, você está linda. Mesmo com a economia de pano nesse vestido. – Caminhei até ele.
- É tudo pra você, baby. – Provoquei e falei no ouvido dele. Mas antes que ele conseguisse me segurar, eu me afastei. – Estou te esperando lá em baixo, não demora.

Saí do quarto e quando cheguei ao lobby, pensei ser a oportunidade perfeita para ligar para o Eric. Mas por algum motivo desconhecido, ele não atendia ao telefone.

Eu conhecia o Eric. Ele não atendeu agora porque eu não atendi antes. Mas se ele queria brincar, eu conhecia as regras. 

Demorei um pouquinho mais com esse por causa do aniversário do baixinho, gente, sorry. 
A foto do vestido da Anne está no capítulo anterior ;)
Alguém chuta o conteúdo da caixa? 
Beijiiinho ;) hehe