15 - Festa Surpresa


- Luisa, para onde nós estamos indo? – Isabella perguntou enquanto Luisa dirigia para um lugar que nós não fazíamos ideia de onde ficava.
- Tem certeza que você não está reconhecendo o caminho, Isa? – Isabella olhou em volta, eu e Julie fizemos o mesmo, quase que instintivamente.
- Não acredito. – Isabella disse.
- Lembrou? – Luisa perguntou, olhando para trás por um milésimo de segundo. Isabella assentiu e olhou para nós duas.
- O sítio. – Ela disse.
- Não acredito. – Falei.
- Aquele sítio? – Julie perguntou tão pasma quanto nós duas.
- Alguém pode dizer que raio de sítio é esse? – Keegan perguntou. Josh e Ian estavam com a mesma cara de interrogação.
- Vocês lembram quando nós contamos do nosso primeiro porre para vocês? – Perguntei.
- Quando a Luisa descobriu e ameaçou vocês três por vários dias? – Ian perguntou.
- Isso! Foi nesse sítio.
- É um sítio da minha família. Nós sempre íamos para lá nas férias da escola... E a minha festa de 18 anos também foi lá. – Isabella disse sem esconder a empolgação na voz.
- Isso vai ser engraçado. – Julie disse.
- O que? – Perguntei.
- Voltar lá, depois de tanto tempo...
- Algo me diz que o porre de vocês não é a única história que vocês tem pra contar desse sítio... – Josh disse.
- Definitivamente não. – Eu respondi.

Todo o sono que nós estávamos sentindo foi embora quando nós descobrimos para onde estávamos indo. Fomos contando para os meninos algumas das coisas que aconteceram das vezes anteriores que estivemos naquele sítio. Luisa se empolgou tanto que trocou de lugar com Rodrigo e foi conversando com a gente enquanto ele dirigia. Quando chegamos lá, em me senti com 18 anos outra vez, foi até engraçado. Estava tarde, então nós não demoramos muito a ir para os quartos e dormir, o dia seguinte seria longo, com certeza.

Confirmando a minha teoria, às oito da manhã, Luisa estava batendo – literalmente – nas portas dos nossos quartos.

- Acordem, casais! O dia está muito bonito para vocês ficarem dentro desse quarto... Não importa o que vocês estejam fazendo. – Ouvi de olhos fechados, me recusando a acreditar que ela estava realmente fazendo todo aquele barulho às oito da manhã. Abri os olhos e Josh estava olhando para mim. – Bom dia, baby.
- Bom dia, Annie. – Ele passou a mão nos meus cabelos.
- Eu sei, estou descabelada.
- Para, você está linda. – Ele me puxou para perto dele.
- E você é um ator. Eu acabei de acordar, Josh... Você já me viu melhor que isso.
- Eu já te vi mais arrumada que isso. Mas tão linda quanto. De jeitos diferentes, mas tão linda quanto.
- Você não existe, sabia? – Ele me deu um beijo e nós teríamos ficado mais tempo na cama se Luisa não tivesse gritado no corredor outra vez.
- Anne e Josh, todos já acordaram, só faltam vocês dois!
- Nós já acordamos sim! – Eu gritei sem me atrever a sair do abraço de Josh.
- Vocês tem meia hora para descer.
- Se faz muita coisa em meia hora...

Nós tomamos banho, nos arrumamos e descemos. Isabella e Keegan já estavam tomando café com Luisa e Rodrigo. Julie e Ian, como sempre, ainda não tinham descido.

- Bom dia, pessoas! – Eu e Josh falamos ao mesmo tempo, animados.
- Bom dia, casal. De onde vem essa animação toda? – Isabella perguntou. Eu preferi não responder. Josh também não falou nada.
- Ok, pela demora de vocês dois em responder, eu imagino o que vocês fizeram nessa meia hora... – Luisa disse e nós rimos. Para o bem das minhas bochechas, que deviam estar num tom de vermelho desconhecido, Julie e Ian chegaram dando bom dia e se sentando conosco.
- Afinal de contas, o que nós viemos fazer aqui, Lu? – Isabella perguntou.
- Primeiro, aproveitar o sítio. Depois... Surpresa.
- Surpresa?
- É, surpresa. E nem adianta perguntar o que é, eu não vou dizer. – Luisa falou.

Passamos o resto do café da manhã tentando convencer a Luisa a dizer o que seria a surpresa e o máximo que nós conseguimos foi um “não vai ser hoje”. Quando percebemos que não ia adiantar insistir, fomos cada casal para um lado. Isabella e Keegan voltaram a dormir – ou melhor, voltaram para o quarto. Julie e Ian foram para a piscina e Luisa e Rodrigo saíram para comprar alguma coisa para a “surpresa”.

- Vem cá, tem um lugar que eu acho que você vai gostar. – Falei, puxando Josh para fora da casa.
- O que é?
- Você vai ver. Era meu lugar favorito nesse sítio quando nós vivíamos aqui. – Eu fui explicando enquanto nós atravessávamos o gramado lateral em direção a uma outra casa. De longe, nós vimos um mini lago e eu apontei para ele. – Foi lá que eu e as meninas tomamos o nosso primeiro porre com a turma do ensino médio. Foi na nossa formatura.
- A sua turma de ensino médio estava toda aqui? – Ele perguntou.
- Quase toda. Por razões óbvias, os nossos ex-namorados não vieram. Nós três tínhamos acabado de terminar com eles, e eu acho que isso só influenciou na bebedeira.
- Você bebeu por causa de um ex-namorado? – Ele perguntou meio espantado.
- Se você soubesse o quanto eu bebi quando nós dois terminamos, não falaria isso.
- Sério?
- Sério. Eu não te contei que as meninas me proibiram de beber depois que eu... – Campo minado, Anne. – Depois que eu exagerei um pouquinho. Eu não bebo mais vinho por isso.
- Eu não sabia...
- Não virei alcoólatra, mas foi bem perto. – Eu ri.
- Você ainda ri disso?
- Agora é engraçado, porque nós dois estamos juntos de novo. E passou, não tem mais motivo pra ficar remoendo. Chegamos. – Falei. Ele parou e ficou olhando para a construção na nossa frente sem entender muita coisa.
- O que é isso? – Não respondi e abri o portão. No primeiro barulho que ele fez, vários cachorros começaram a latir e Josh entendeu o que era aquilo. – Um canil. – O caseiro do sítio tinha acabado de limpar o canil, então estava super tranquilo ficar lá dentro.
- Da última vez que eu vim aqui tinham mais cachorros. Agora só tem uns dez... – Eu falei enquanto um beagle muito fofo pulava em cima de mim.
- Você conseguia ficar aqui dentro quando tinham mais cachorros?
- Ah, aqui é bem grande, dá pra ficar sim. E as meninas nunca me deixavam ficar muito tempo mesmo. – Um labrador gigante quase derrubou Josh enquanto eu falava. Mas quando um vira lata preto com umas machinhas brancas chegou perto dele, eu juro que ele quase chorou. – Saudades do Driver? – Ele assentiu.
- Ele deve estar aprontando na casa do Avan...
- Que nada, ele é tão bonzinho! – Falei.
- Ele já está velho, não tem mais pique pra muita coisa.
- Eu sempre quis ter um cachorro lá em LA, mas as meninas nunca deixaram. Realmente, é complicado ter um dentro de um apartamento. E lá no prédio nem pode.
- Então é por isso que eu quase te perco pro Driver toda vez que você vai lá em casa? – Eu ri.
- Exatamente. – Nós dois rimos juntos. Depois ficamos correndo de um lado para o outro no canil brincando com os cachorros. Só paramos quando o moço que tomava conta chegou para soltar os cães. Posso jurar que ele não entendeu nada quando viu dois adultos brincando lá dentro como se fossem duas crianças, mas é a vida.

O resto do dia passou voando como os dois seguintes. No quarto dia em que estávamos no sítio, acordei organizando as malas, porque logo teríamos que ir embora. Mas um barulho chamou a minha atenção do lado de fora e eu fui na janela. Tinha um micro ônibus e quatro carros chegando.

- O que é isso? – Josh perguntou.
- Gente... Muita gente.
- ANNEEEEEEEE, VEM  AQUI! – Isabella gritou na porta do meu quarto e quando eu abri, mal tive tempo de olhar para ela e ela e Julie me puxaram para fora. Eu percebi Josh, Ian e Keegan vindo atrás de nós três sem entender nada. Nós só paramos quando chegamos na varanda e vimos as pessoas descendo do ônibus e saindo dos carros. – NO WAY!!! – Isabella disse aos gritos. A família dela tinha chegado no dia anterior. Dos carros, saíram alguns amigos dela. Eu só reconheci a Larissa e a Nicole de longe. Mas do ônibus, eu reconheci todos os que saíram. E dava um grito maior a cada vez que reconhecia um rosto.
- Ai meu Deus do céu, É A NOSSA TURMA DO ENSINO MÉDIO!

A empolgação foi tanta que nós fomos felizes da vida falar com todo mundo que tinha chegado sem pensar em quem realmente podia ter chegado. Fomos falando com alguns amigos e apresentando eles aos meninos quando eu vi a expressão de Julie mudar.

- Hum... Meninas... Eu acho que vocês deviam ver quem acabou de sair do último carro... – Olhei para trás. Tinham três homens juntos e eu demorei a reconhecer, mas nunca esqueceria o jeito de andar de um deles. Acho que fiquei sem reação e Isabella ficou do mesmo jeito.
- O quão infantil vai ser se eu virar as costas e ignorar a presença deles? – Perguntei.
- Muito. E agora eles já viram que a gente viu... Não dá pra fazer muita coisa. –Isabella respondeu.
- Ah, dá sim. – Me aproximei de Josh enquanto eles caminhavam e as meninas fizeram o mesmo com Ian e Keegan.
- Quem são esses? – Josh perguntou.
- Renan, Henrique e Raphael. Nossos ex-namorados do ensino médio que não deviam estar aqui.
- O que foi, nós não merecemos uma recepção calorosa que nem o resto da turma, não? – Raphael disse quando viu que não fizemos nada quando eles se aproximaram.
- Você realmente quer resposta para isso? – Julie perguntou.
- Eita, calma, Julie. Nós viemos em paz. – Henrique completou.
- É bom mesmo. – Isabella disse. Renan estava olhando para mim, ignorando o fato de Josh estar ao meu lado.
- Oi, Anne.
- Oi. – Respondi e nós nove ficamos num silêncio constrangedor. – Esses são os nossos namorados, Josh e Keegan. E aquele é o noivo da Julie, Ian. – Raphael me interrompeu.
- Nós somos Raphael, Renan e Henrique, os ex-namorados. – Acho que todo mundo ali falava inglês, porque, né...
- Nós sabemos. – Ian falou com a voz séria enquanto eles apertavam as mãos uns dos outros. Acho que Luisa percebeu o clima ruim de longe e veio amenizar a situação.
- Surpresa!! – Ela gritou do nosso lado. – Eu organizei um encontro com os seus amigos de ensino médio. Algumas pessoas infelizmente não puderam vir, e outras não deviam ter vindo... Mas, é isso. Venham que vocês ainda não viram tudo.

Luisa nos levou para ver a decoração da festa que eu não sei como eles fizeram, mas estava linda. Tinha uma pista de dança, um DJ e karaokê, para a alegria da Isabella. Nós passamos bastante tempo conversando com os amigos antigos e foi realmente bom reencontrar uma boa parte deles. Nossos ex-namorados passaram a maior parte do tempo isolados num canto, o que foi bom, facilitou a nossa caminhada pela festa. Mas não foi por muito tempo.

- Você mudou bastante desde o ensino médio, Anne. – Renan falou, se materializando do meu lado enquanto eu tinha ido buscar um refrigerante.
- Eu cresci. Acontece.
- Sabe o que ia ser muito legal? Se a gente pudesse ir pra um canto desses conversar melhor... – Ele tentou se aproximar.
- Você só pode estar de sacanagem.
- Que isso, Anne... A gente tem uma história!
- Não, a gente tinha uma história. Uma história que você destruiu. E eu não sei se você percebeu, mas eu tenho namorado. – Eu disse e me virei.

- O que foi aquilo? – Josh perguntou quando eu voltei para perto dele. Ian e Keegan estavam junto com ele.
- Nada. Meu ex-namorado sendo o babaca que sempre foi. Normal.
- Você não sai mais do meu lado. – Ele passou o braço pela minha cintura e eu dei um beijo nele quando vi que Renan estava olhando. Isabella e Julie chegaram logo depois com cara de poucos amigos. Acho que os meninos não vieram em paz.

Henrique, Renan e Raphael não se aproximaram mais o dia todo. O que me preocupava era o fato de que eles três estavam com uma latinha de cerveja diferente a cada minuto que eu olhava e por menos que eles significassem, ainda iam voltar para Caxambu dirigindo. Nós estávamos com os meninos  conversando com umas colegas de turma, morrendo de rir das histórias antigas quando eu descobri a que a minha preocupação tinha fundamento.

- Vocês vem com a gente. – Renan falou arrastado – e em inglês – enquanto me puxava pelo braço. Henrique e Raphael faziam o mesmo com Isabella e Julie.
- Não, elas não vão. – Josh me puxou dele e ficou na minha frente.
- Me larga, Raphael! – Julie gritou. Ian também estava a segurando pelo outro braço.
- Larga a Isabella, cara. – Keegan fez aquela cara que sempre me deixava com medo.
- Estão machinhos, os americanos que precisam se maquiar pra trabalhar, né? – Henrique falou.
- E você que não é ator, nem trabalhando está e está usando base? – Isabella falou. 
- Anne, vem comigo, agora! – Renan conseguiu segurar meu outro braço, mas antes que ele conseguisse me puxar, Josh segurou a mão dele.
- Larga ela.
- Tira a mão de mim. – Ele disse para Josh.
- Só quando você largar o braço dela.
- Eu não vou largar ela! Não sei se você sabe, mas eu já usei e abusei do braço e de muito mais dessa aí. – E foi aí que tudo aconteceu.

Josh deu um soco bem dado em Renan e quando Henrique tentou ajudar o amigo, acabou acertando Isabella, o que fez Keegan dar um empurrão nele. Ele caiu no chão e Raphael tentou segurar Keegan pelas costas quando ele ia com tudo para cima de Henrique, mas Ian foi mais rápido em segurar Raphael. Antes que eu pudesse perceber, eles seis estavam meio que atracados pelo chão e eu podia dizer que Ian, Keegan e Josh estavam levando a melhor. Alguns primos da Isabella apareceram para separar e nós pudemos avaliar os estragos.

Josh estava com a camisa rasgada, Keegan estava descabelado e com os botões da camisa arrebentados e Ian estava bem sujo. Henrique estava com um olho roxo e com um machucado na mão. Raphael estava sangrando pelo nariz e também mal conseguia abrir o olho esquerdo. E Renan... Eu não sei como Josh fez aquilo tudo em tão pouco tempo, mas ele estava com o rosto bem inchado, com o nariz torto sangrando e com um dente quebrado.

- Isso é pra você aprender a tratar uma mulher. Principalmente a minha mulher. – Josh disse para ele enquanto um primo da Isabella o mantinha afastado de Renan e levava o que sobrou do meu ex-namorado para longe. Eu quase pulei no pescoço dele.
- Você está bem?  - Eu perguntei enquanto virava o rosto dele em todas as direções procurando um machucado, mas não achava nada.
- Ele está tão bêbado que não acertou nem um soco em mim. – Ele disse rindo, mudando o tom de voz e a expressão completamente para falar comigo. Dei um beijo nele.
- Obrigada por me defender. De verdade, hoje ele estava mais babaca que o normal.
- Te defender é o meu dever, baby. Mas... Como você teve coragem de namorar um idiota desses?
- Eu tinha 17 anos. E não te conhecia pessoalmente. – Ele sorriu e me deu um beijo.
- E só acho que isso não pode virar uma prática.
- O que?
- Eu socando todos os seus ex-namorados. – Ele falou.
- Não faltam tantos assim para virar uma prática. Mas o que podia sim virar uma prática era outra coisa. – Eu o abracei outra vez.
- O que?
- Repete o que você disse para ele agora.
- Que aquilo era para ele aprender a tratar uma mulher?
- Não, o que você disse depois, seu bobo.
- “Principalmente a minha mulher”.
- Fala outra vez.
- Minha, minha, minha, minha. Só minha. – Ele falou no meu ouvido enquanto eu o abraçava de novo.
- Toda sua, baby.
- Acho que vou fazer você repetir isso mais tarde. – Ele falou.
- Quantas vezes você quiser.
- E amanhã, depois, e nos outros dias também.
- É só pedir, e eu aceito.
- Vou me lembrar disso. – Ele me deu outro beijo e a festa continuou ali. E nossa festa foi até bem mais tarde depois que essa acabou. 

Esse capítulo foi  especialmente dedicado a três pessoas muito agradáveis , só que não.
Gostaram do capítulo? E da pancadaria? HAHAHA, ADOREI ESCREVER ISSO,  vocês não tem noção de como. 
E no próximo capítulo, tem SÃO PAULO! 
Beijo, beijo!

3 comentários:

  1. Tapas, socos e o must da pancadaria. Esses foram os ingredientes usados para deixar a Natascha muito, muito feliz!

    *o*

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  2. ADOREEEEEEI A PANCADARIA kkk
    "Principalmente a MINHA mulher." MORRI depois dessa!

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