10 - Two ♥

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COM
Um mês se passou desde a nossa primeira reunião com a equipe do filme e agora a pré divulgação ia começar para valer. O primeiro evento era uma coletiva de imprensa com brunch para uns 30 jornalistas com Woody, Josh e Erin Jones, a atriz que ia interpretar o par romântico dele. Eu e ela nos demos bem de cara. Para falar a verdade, acho que a única colega de cena dele que não se deu bem comigo mesmo foi a Vanessa. Por razões óbvias.

Confesso que senti vontade de ficar sentadinha junto com os jornalistas fazendo perguntas para Josh, Erin e Woody, mas não tinha nada que eles fossem responder que eu já não soubesse. E a minha barriga estava aparecendo mais, então eu estava evitando ser vista de muito perto por jornalistas. Mesmo assim, os rumores já tinham começado e nós queríamos adiar essa confirmação pelo máximo de tempo possível. Já conversamos com a Ellen e só vamos lá depois que resolvermos contar, o que provavelmente vai acontecer pelo twitter do Josh. Vamos dar motivos para as fãs dele terem síncopes.

Hoje, especialmente, eu tirei o dia para enjoar. Não estava com muita vontade de comer nada que me oferecessem, nem chocolate. Quer dizer. Tinha uma coisa.

- Annie, você precisa comer, não vou ficar tranquilo na coletiva se souber que você está aqui atrás sem se alimentar. – Josh disse.
- Mas o enjôo tirou a minha vontade de tudo... – Eu estava sentada num sofazinho confortável no “backstage” da coletiva.
- Quando você fica assim, toma coisas geladas. Já tentou? – Lembrei de uma coisa que com certeza não ia me enjoar.
- Sorvete de maça verde. – Falei.
- Sorvete de maça verde? Mas você está de estômago vazio!
- Mas essa foi a única comida que não me deu ânsia só de falar o nome...
- Será que tem sorvete de maça verde no restaurante do hotel? – Eu sabia que ia convencê-lo.
- Ah, deve ter... Eu vou lá procurar. – Falei, me levantando.
- Você é louca? Claro que não vai! Senta aí, sossega o facho que eu procuro o sorvete pra você. – Ele falou fingindo estar bravo e se abaixou na minha frente depois que eu sentei novamente. – Promete pra mim que da próxima vez que você estiver assim, vai ficar em casa descansando? – Não tinha como resistir àquela cara.
- Prometo.
- Josh, nós vamos entrar em cinco minutos. – Erin disse, entrando na sala. – Você está bem, Anne? – Ela mudou o tom de voz assim que me viu. Eu devia estar pálida.
- Estou sim. É só enjôo.
- Você comeu alguma coisa hoje? – Outra bronca não, por favor. Josh riu.
- Fica com ela um pouquinho, Erin? Eu vou caçar o sorvete de maça verde. – Ele disse e ela sorriu.
- Pode deixar. Vai, mas vai rápido. – Ele me deu um beijo na testa e saiu.
- Quando eu estava grávida, também vivia assim. – Erin disse. Ela tem um filho de dois anos.
- Eu não vejo a hora da fase dos enjoos passar.
- Com quantos meses você está mesmo?
- Acabei de fazer três. Tinham falado que isso passava nessa época. – Falei, desiludida.
- E passa mesmo. Você vai ver, daqui há pouco tempo, alivia. Ainda não dá para sentir ele mexer, né? – Ela perguntou com um sorriso no rosto.
- Não, mas eu quero muito que dê. Acho que estou ansiosa para tudo com a gravidez.
- E já decidiu como vai ser o parto?
- Acho que vou tentar o normal. Mas se não der, faço cesárea mesmo. – Nos distraímos conversando sobre gravidezes e bebês (para variar, eu não tinha outro assunto) até Josh chegar com um pote de sorvete de maça verde e uma colher.
- Aqui eles mesmos fazem o sorvete... Esse está fresquinho.
- Espera, você pediu no restaurante do hotel e eles tinham? Que milagre!
- Não, eu pedi no restaurante e eles não tinham, mas pediram para eu aguardar para ver se ia sair hoje. Aí me convidaram para ir até a cozinha e lá mesmo me deram um pote de sorvete de maça verde que tinha acabado de gelar. A filha do chef é minha fã...
- O que uma foto e um autógrafo não fazem, hein? – Erin disse. Ele me deu o pote e se sentou ao meu lado. – Vou retocar a maquiagem, já volto pra gente entrar, Josh. – Erin saiu.
- Trata de ficar bem, ok? Se você sentir qualquer coisa diferente, QUALQUER coisa, pede para me avisarem que eu saio de lá na hora.
- Ok. – Falei.
- Anne, eu estou falando sério. Sei que você não vai querer atrapalhar, mas eu vou ficar preocupado.
- Pode ficar tranquilo. Eu juro que se acontecer alguma coisa, te chamo.
- Tudo bem. – Ele me deu um beijo e um beijo na minha barriga e me deixou sozinha na sala. Peguei o controle da TV e zapeei entre os canais. Deixei num filme qualquer, não queria prestar atenção, para falar a verdade.

Comecei a tomar o sorvete e senti um alívio instantâneo no enjôo. Nem os remédios faziam esse efeito. Não comi muito, logo o alívio passou e o enjôo voltou. Peguei no sono vendo TV e devo ter dormido por uns 30 minutos, porque quando voltei, Josh e Erin já estavam conversando baixinho perto de mim. Sim, coletivas de imprensa são curtas. Mal tive tempo de perguntar como tinha sido porque corri para o banheiro. Eu definitivamente não estava bem.

- Vamos para o hospital. Você não enjoa assim desde o início dos dois meses e isso já tinha que ter acabado. – Josh disse ao meu lado no banheiro. Ele já tinha trago a minha bolsa.
- Não precisa. Eu vou ficar bem. Além do mais, eu tenho consulta amanhã. – Falei.
- Um segundo. – Ele pegou o celular e se afastou. Lavei o rosto e escovei os dentes. Tomei mais um remédio para enjôo e ele já estava começando a melhorar.

Quando voltei para a sala, Josh estava de pé me esperando, com a bolsa dele no ombro.

- Liguei para a Dra. Madison. Sua consulta foi adiantada para hoje. Vamos? – Ele disse com aquele sorriso de “Venci” no rosto.
- Tudo bem, vamos. – Assim que falei isso, senti tontura e tive que me apoiar na parede. Josh chegou ao meu lado em dois milésimos de segundo.
- Vamos rápido. – Ele disse e foi me ajudando pelo caminho.
- Mandem notícias! – Erin falou.

Estávamos perto do consultório, então não demoramos muito a chegar. Quando vi que não tinha ninguém para entrar na minha frente, me perguntei se Josh tinha dito que eu estava morrendo para que eu passasse na frente. Na verdade, eu já estava até melhor.

- E aí, Anne. O que você teve? – Dra. Madison perguntou.
- Um enjôo muito forte. Não consegui comer nada hoje.
- Você acabou de entrar no terceiro mês, certo?
- Certo.
- E foi só isso? – Antes que eu pudesse responder, Josh falou no meu lugar.
- Ela também teve tontura.
- Calma, amor. Eu estou bem. – Falei.
- E quando foi essa tontura?
- Há pouco tempo. Eu estava enjoada, vomitei e logo depois, fiquei tonta. – Ela sorriu.
- Você disse que não comeu nada hoje, certo?
- Sim...
- Está explicada a sua tontura. Você não pode ficar sem nada no estômago, tem uma criança faminta aí dentro. E seu enjôo foi forte porque provavelmente foi o último. Acontece com muitas mulheres. Espera essa semana acabar e se esses enjoos continuarem, você volta aqui e a gente troca a sua medicação. Podem ficar tranquilos. – Ela falou olhando para o Josh. – Vamos aproveitar que você está de estômago vazio e fazer logo a ultra?
- Vamos sim. – Falei.

Josh foi com nós duas até a outra salinha onde ficava a maca e o aparelho de ultra sonografia. Me deitei e depois que arrumou a máquina, Dra. Madison colocou aquele gel gelado na minha barriga.

- Hum, você está com 12 semanas e meia... – Ela disse falando para o meu prontuário. – Torçam um pouquinho, pode ser que hoje nós consigamos ouvir o coraçãozinho do bebê. – Não consegui conter o sorriso.
- Sério? – Olhei para Josh e ele estava sorrindo tanto quanto eu, segurando a minha mão.
- Sério. – Fiquei tensa. Eu provavelmente ia ouvir o coração do meu filho pela primeira vez e ela falava isso com aquela naturalidade?
- Eu posso gravar? – Josh perguntou.
- Pode sim, pai babão. Mas não começa agora para o celular não dar interferência no aparelho. – Ela riu.

Parece que os segundos demoraram século para passar até o momento em que ela disse “vamos tentar ouvir agora?”. Num primeiro momento, não conseguimos. Eu já estava começando a ficar desanimada quando ela mexeu na minha barriga e pediu para que eu ficasse falando, para tentar fazer com que ele se mexesse lá dentro.

- Pronto. – Ela viu a freqüência mudando na tela e abriu os auto falantes. – Eis o coração do seu bebê. – Chorei instantaneamente. Aquele “tum tum, tum tum, tum tum” era, sem dúvidas, o som mais perfeito que eu já tinha ouvido na vida. Josh também estava chorando e quando eu percebi isso, chorei mais. Só que aí nós paramos de ouvir. – Anne, se acalma. Ele está mudando de posição por causa dos seus soluços.
- Tudo bem.
- Vou tentar de novo. – Ela mexeu a maquininha e alguns instantes depois, conseguiu outra vez. Só que o som era diferente. Como se o aparelho estivesse com alguma interferência.
- Você ligou o celular, Josh? – Ela perguntou.
- Não, ele ainda está no meu bolso.
- Aconteceu alguma coisa com ele? – Perguntei e ela sabia que eu estava falando do bebê.
- Um instante. – Ela mexeu em algumas coisas na máquina depois de desligar os auto falantes novamente. Depois, mexeu na minha barriga novamente e nos colocou para ouvir. – Hum... Anne, Josh, eu tenho uma coisa a contar para vocês.
- O que aconteceu? – Perguntei preocupada. É engraçado como você nunca percebe o mais óbvio quando isso está bem embaixo do seu nariz. Josh apertou a minha mão.

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- O que a gente faz agora? – Josh perguntou. Nós já estávamos em casa, sentados no sofá, olhando para o teto, sem reação. Não podia ser.
- Não sei – Falei. Num salto, peguei meu celular. Liguei para Isabella.

- Oi chuchu! Tudo bem? Como foi a coletiva? – Ela falou e eu ouvi um chorinho de criança pequena que, com certeza, não era do Seth.
- Você está com a Julie? – Falei séria.
- Estou sim... Aconteceu alguma coisa? – Ela perguntou.
- Coloca no viva voz. – Falei.
- Anne... Você está me deixando preocupada.
- Coloca no viva voz logo, Isa! – Enquanto ela colocava o dela, coloquei o meu também para Josh poder ouvir.
- Tudo bem... Pode falar, a Julie está aqui.
- Acho que vocês não vão mais precisar brigar para saber quem vai ser padrinho do bebê. – Falei séria.
- Anne... Não me diz que você... Não, Anne, de novo? – Julie falou.
- Meu sonho de ter um filho acabou, gente.
- Ai meu Deus do céu. – Eu comecei a chorar.
- Não vai ter mais um bebê... São dois!
- O QUE? ANNE, VOCÊ SABE QUE EU VOU AÍ TE AGREDIR PESSOALEMNTE, NÃO SABE? – Julie disse.
- Não vai, ela está grávida. De gêmeos! – Josh disse.
- Nós chegamos aí em dez minutos! – Isabella disse.

Desliguei o telefone e fiquei exatamente na mesma posição. Josh me abraçou.

- Acho que agora a gente faz tudo do mesmo jeito. Só que em dobro. – Ele disse. A minha ficha ainda estava caindo.
- Eu estou me sentindo tão bem! Sempre quis ser mãe e agora vou ser mãe de gêmeos. Gêmeos. Dois, ao mesmo tempo. A sua mãe vai ter surtos quando a gente contar.
- Todo mundo vai ter surtos quando a gente contar. – Ele ficou olhando para mim e eu não pude não rir. – Você me faz o homem mais feliz do mundo inteiro, Annie. Eu te amo! Amo vocês. Vocês três! – Ele ajoelhou na minha frente e beijou a minha barriga.
- Agora eu tenho que falar com vocês dois, né? Papai ama muito vocês, viu? Não vejo a hora de saber como vocês são e segurar vocês no colo.
- Assim não vai sobrar mãe sem chorar. – Eu falei, já aos soluços. – Ele se sentou ao meu lado de novo.
- Você é a mãe mais linda desse mundo todo! – Ele me abraçou e me deu um beijo.

Nós ficamos conversando até Julie, Ian, Alice, Keegan, Isabella e Seth chegarem. Eles fizeram uma festa gigantesca e melhor: trouxeram a comida. Eu estava faminta. Nós passamos o resto do dia juntos e eu não conseguia parar de me imaginar cuidando dos meus bebês toda vez que Julie e Isabella paravam para cuidar de Alice e Seth. Eles dois estavam a cada dia mais lindos e eu não via a hora de ver as carinhas dos meus bebês. Dos dois. Era muita felicidade para uma Anne só.

Quando a hora do lanche chegou, Josh, Ian e Keegan saíram para comprar mais coisas para nós comermos. Eu, Isabella e Julie ficamos “sozinhas” pela primeira vez em muito tempo.

- Ser mãe de gêmeos sempre foi a sua cara, Anne. – Julie disse.
- Eu ainda não acreditei muito bem. Gêmeos. Será que eu dou conta?
- Claro que dá. Você vai ver quando eles nascerem. – Isabella me confortou.
- Vocês vão me ajudar?
- Sempre. – Julie respondeu.
- Mesmo que você não queira. Você acha que nós vamos perder a oportunidade de mimar DUAS crianças?  - Isabella disse.
- Eu não sei o que seria de mim sem vocês duas.
- É, acho que você não seria nada. – Julie falou e elas me abraçaram.
- Parabéns, mamãe. – Nem preciso dizer que chorei um rio depois disso, não é?

Nós continuamos conversando até a hora em que os meninos voltaram da cozinha. Além das sacolas de compras, Josh entrou com um pacote que parecia ser uma carta, mas não disse nada. Eles foram até a cozinha preparar o que quer que tinham comprado e nós três continuamos na sala, vendo Seth engatinhar enquanto Alice dormia.

- O que esses meninos tanto cochicham na cozinha, hein? – Isabella disse. – Vou lá descobrir e ver se precisam de ajuda. Olhem o Seth, por favor?
- Vai lá, Isa. – Falei.

Quando ela chegou lá, passou a ser mais uma cochichando. Alguma coisa tinha acontecido, mas quando voltou, ela não disse nada. Estranho. Quando eu estava quase levantando para perguntar o que era, o celular do Josh tocou e ele veio para a sala buscar. Depois que atendeu e falou com quem tinha ligado, ele veio sorridente e parou ao meu lado.

- Tenho boas notícias.
- Fala logo o que aconteceu, criatura. – Falei.
- Marcaram nossa viagem para as filmagens em Londres. Nós vamos em um mês. E voltamos dois meses e meio depois.


Eu vou voltar para Londres em um mês.