09 - Little Bean

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COM
- Droga. – Foi a única coisa que eu consegui dizer antes de sair do abraço do Josh, levantar da cama e ir correndo para o banheiro.

Depois que contei que estava grávida, parece que meu organismo resolveu provar para todo mundo. Enjoos matinais foram meus melhores amigos na última semana... E o médico disse que eles vão continuar fieis a mim pelos três primeiros meses de gravidez. Como já estava com mais ou menos dois meses, só faltava um mês desse jeito. A única coisa que eu não entendia era por que raios esses enjoos são chamados de matinais se eles duram o dia todo. 

- Enjoo outra vez? – Josh perguntou na porta do banheiro. Ao invés de responder, vomitei mais uma vez. Já não pedia mais para ele se afastar, não ia adiantar. Me levantei depois que me senti aliviada, escovei os dentes, lavei o rosto e olhei para o Josh.
- Não vejo a hora de esses enjoos passarem. – Ele me abraçou.
- Falta pouco, Annie. Já, já você não vai mais sentir.
- Mas ainda falta um mês, no mínimo.
- E depois desse um mês, vão faltar mais seis para o bebê nascer. Então essa vai ser a menor parte da sua gestação. Vai passar rápido.
- Espero que sim. – Pode-se dizer que eu estava ficando um pouquinho manhosa com todos os enjoos, hormônios e mimos. Mas só um pouquinho. – Ele me deu um beijo na testa.
- Preparada para a reunião que nós temos hoje?
- Era eu quem devia te fazer essa pergunta. – Falei. – Nós vamos encontrar o Woody Allen.
- Eu estou nervoso. Mas vou sobreviver. – Josh falou sorrindo.
- Então eu também acho que vou ficar bem. – Ele colocou uma mão na minha barriga e continuou com um braço em volta dos meus ombros.
- Para falar a verdade, estou mais preocupado com a tarde. Mais ansioso, até.
- Eu confesso que estou uma pilha. A gente podia conseguir ver o sexo do bebê na primeira ultra sonografia...
- Dessa vez, se a ultra rolar, a gente só vai conseguir saber se está tudo bem com ele. Ou ela. Whatever. O que importa é que eu amo muito vocês dois. – Agora o “Eu amo você” vinha adaptado.
- Nós também te amamos. – Respondi. – Acho que vou logo para o banho... Preciso caçar o que vestir. – Eu estava especialmente enjoada naquele dia, então acho que ia ter que recorrer a alguma coisa larguinha. Uma saia social de cintura alta estava fora dos planos.
- Vai para o banho que eu vou fazer o seu café.
- Tem coisas suficientes para isso? Por que, né, agora você pega uma coisa de cada tipo para o meu café da manhã... – Brinquei.
- E você come tudo... Não vou deixar minha mulher grávida ficar com fome.
- Com aquela quantidade de comida eu vou ficar obesa, isso sim.
- Não reclama, eu vou continuar te mimando e te fazendo comer tudo o que você quiser até o bebê nascer. – Ele se abaixou e deu um beijo na minha barriga. – O papai já volta, tudo bem? – Estava achando incrivelmente fofo isso de ele falar com o bebê toda hora. Não pude evitar um sorriso. – Eu amo você. – Ele disse antes de me dar um beijo e me deixar sozinha no banheiro.

Eu nunca acreditei quando as pessoas falavam que tudo em você mudava ao engravidar. Apesar de só saber que vou ser mãe há uma semana, eu já reparei que meu senso de direção e atenção já mudou. Faço tudo mais devagar e tenho uma atenção que nunca tive. Tipo, até entrar no box molhado agora eu entro devagar. Isso nunca aconteceu. Esses dias cheguei a falar sozinha “essa não é a Anne que eu conheço” e, ao me ouvir, Josh respondeu: “Claro, essa é a Anne grávida/mãe”. Aí eu chorei, comprovando o argumento dele.
Quando saí do banho, Josh já tinha feito meu café da manhã de batalhão, mas eu não consegui comer tudo dessa vez por causa dos enjoos.

- Você está bem de verdade? – Ele perguntou.
- Sim, pode ficar tranquilo. São só enjoos. E eu estou meio nervosa por causa da reunião, tudo coopera.
- Se você sentir alguma coisa a mais, me avisa, ok? Te levo para o médico em dois segundos.
- Pode deixar, amor. – Falei sorrindo.
- Por que esse sorriso agora? – Ele perguntou.
- Você fica fofo preocupado comigo. – Ele ficou vermelho.
- Ah... fazer o que, me preocupo mesmo. – Dei um beijo nele.
- Tudo bem, mas você pode se preocupar se arrumando? Nós estamos quase atrasados e você ainda nem foi para o banho.
- E eu tenho certeza que vou tomar banho, me arrumar e ainda vou ter que te esperar, Anne Christine.
- Isso é um fato. E mais um motivo para você ir logo. – Ele me deu outro beijo rápido.
- Tudo bem, eu vou.

Eu fui até o meu armário caçar o que vestir repetindo que não ia me render às roupas de grávida e ia continuar me vestindo como Anne nos nove meses de gestação. Mesmo assim, passei pelas roupas justas, transparências e decotes e escolhi um vestido longo, preto com branco, larguinho e que não ia marcar a minha mini barriga de dois meses. Não peguei salto alto para evitar uma bronca da médica. A Dra. Madison foi a médica que acompanhou o pré-natal e fez os partos da Isabella e da Julie, e eu lembro de ela ser bem rígida. Não quero arriscar uma bronca na primeira consulta.

Quando Josh saiu, eu realmente ainda estava na frente do espelho me maquiando, mas pelo menos já estava vestida.

- Não fala. Agora eu demoro mais para escolher o que vestir.
- Mas eu não falei nada... – Ele disse sorrindo me olhando pelo espelho.
- Mas eu sei que você pensou, Joshua.
- Qual camisa eu coloco? – Ele me ignorou e mostrou uma camisa azul e uma verde.
- Vai com a azul. Essa verde parece sorvete de maçã verde.
- Sorvete de maçã verde?
- Sim, você nunca comeu?
- Já, mas é super complicado de achar.
- Isso é, até lá no Brasil foi difícil... Acho que ainda morava lá quando comi pela última vez. – Comentei.
- Tudo bem, então eu coloco a camisa azul. Não quero que ninguém me compare a um sorvete de maça verde.
- Nem eu. – Falei. – Não que você não seja gostoso que nem o sorvete... Mas você é meu.
- Ciumenta!
- Você sempre soube disso. – Falei sem desviar os olhos do espelho. Estava distraída com a caixa de maquiagem e não percebi ele se aproximando.
- Você sabe que não tem motivos para se preocupar... – Ele falou no meu ouvido depois que me puxou pelas costas para perto dele. Arrepiei.
- Claro que eu não tenho motivos para me preocupar. – Falei com o pouco de sanidade que me restava. – Eu sou sua esposa e estou grávida. – Ele me virou de frente para ele e me deu um beijo.
- Só minha.
- Amor... Você sabe que mulheres grávidas ficam excitadas com mais facilidade, não sabe? Nós estamos atrasados e você está me provocando...
- Ok, desculpa. – Ele se afastou, mas me deu um beijo na bochecha antes. – Depois a gente conversa sobre isso.

Terminei de me arrumar – ele ficou me esperando – e nós fomos para a reunião. Juro que tentei ficar calma, mas era com o Woody Allen que nós íamos encontrar. Tudo bem que ele tinha me entregado o Oscar... Ops. Isso só me deixava mais nervosa ainda. Respira, Anne, respira.

- Você está bem, Annie?
- Sim sim.
- Por que não para de balançar a perna?
- Não estou balançando a perna... – Eu estava e só naquele momento tinha reparado. Ele me olhou com a sobrancelha levantada e não falou nada. – Tudo bem, estou nervosa. É muita coisa para o mesmo dia. E a essa hora eu não posso nem comer nada por causa da ultra.
- Não me diz que você quer comer sorvete de maça verde... – Ele falou.
- Não queria, mas agora que você comentou até deu uma vontadezinha...
- Vontadezinha?
- É, só vontadezinha. – Ele fez a cara que faz quando está pensando em alguma coisa que vai ser difícil, mas eu ignorei porque nós chegamos ao lugar da reunião. O prédio da Dream Works no centro de Los Angeles.

Fomos direto para o estacionamento e assim que o segurança viu quem estava no carro, autorizou a nossa entrada. Às vezes é fácil ser conhecido. Entramos no elevador no estacionamento e no caminho até o décimo andar, Josh me perguntou uma coisa na qual eu ainda não tinha pensado.

- Annie, nós vamos contar a eles sobre a sua gravidez?
- Hã?
- A gravidez, amor. Eles vão saber antes de todo mundo? – Estranho perceber que quando ele disse “mundo” ele se referiu ao mundo todo. Mesmo.
- Acho que... Não sei. Eles tem que saber, né? As gravações do filme vão ser em Londres e eu não vou poder ir em um determinado momento da gestação... E eu não vou ficar longe de você. – Acho que deixei transparecer medo demais na última frase, porque ele me abraçou no mesmo momento.
- Tudo bem... Então a gente conta. De repente a gente consegue até agendar as filmagens fora do país de acordo com a sua gestação. – Me senti um pouquinho mais importante que o de costume.
- Eles não vão fazer isso por mim, Josh.
- Se tem uma coisa que equipes de filmes sempre fazem, é a vontade dos protagonistas. E como eu também não pretendo perder nem um diazinho da sua gravidez... Eles vão acabar cedendo.

Chegamos à reunião pontualmente, às nove da manhã. Saímos meio dia. Ficar três horas sentada é muito mais complicado agora e eu já estava cansada e faminta antes de sair da DreamWorks. Ainda tínhamos algumas horas antes da consulta, por isso Josh me levou para almoçar num restaurante perto do prédio da Dream Works.

- Love, London. – Disse. – Gostei do nome.
- Você amou esse roteiro desde o momento em que descobriu que seria gravado em Londres, Annie.
- Isso é verdade...
- Bom que as datas de gravação lá coincidem com a sua gestação. – Ele falou baixo, para ninguém no restaurante ouvir. – A gente deve voltar de lá com o filme todo gravado quando você estiver com uns sete meses... E aí eu vou poder te curtir em tempo integral.
- Meu Deus do céu, até lá eu vou estar gigante!
- Você vai estar linda. A grávida mais linda do mundo.
- Babão.
- Se já sou assim com você, imagina com o nosso filho? Não vejo a hora de saber se está tudo bem com ele. – Sorri. Ainda estava amando o “Josh preocupado”.
- Vai estar tudo bem sim. Vai dar tudo certo dessa vez. – Me arrepiei quando lembrei do fim do ano passado, do nosso acidente.
- Não quero que você pense nisso... – Ele sabia do que eu estava falando. – Não vai te fazer bem. – Ele segurou a minha mão e puxou a cadeira para o meu lado. Respirei fundo.
- Não vou. Juro.
- Nossa comida chegou! – Ele disse tentando mudar de assunto e me animar. Como sempre, eu estava comendo massa. Dessa vez, ravióli ao molho branco com queijo. Porção dupla.
- Estou faminta.
- Para variar... – Josh brincou.
- O que posso fazer? Agora como por dois! E a porção individual desse restaurante é muito pequena...
- Você fica linda tentando se explicar. Pode comer, amor. Seja feliz. – Dei a primeira garfada no macarrão e, ah... Estava tão bom! Mas eu lembrei de outra coisa, subitamente.
- Josh... Será que eles tem sorvete de maça verde?
- É impressão minha ou você está com desejo?
- Não sei. Nunca tive isso... Mas eu estou com MUITA vontade.
- Isso é desejo. Tem umas sorveterias no caminho para a clínica, a gente pode passar lá se não tiver aqui. – Sorri feito criança. – Agora você vai comer até mais rápido.
- Não vou... – No fim das contas, comi educadamente rápido, mas foi pela fome mesmo.

DEPOIS DO ALMOÇO, ANTES DA CONSULTA

- Annie, nós estamos nos atrasando... Já rodamos todas as sorveterias possíveis por aqui e não achamos o sorvete de maçã verde. Nem na MaggieMoo’s.
- Nem na Marble Slab... – Falei triste. Estava oficialmente decepcionada com as sorveterias famosas do centro de Los Angeles.
- Meu Deus do céu, você está realmente com vontade de comer isso, né? – Assenti. – Vamos ao médico logo por causa da hora. Depois eu juro que a gente roda o estado todo de carro atrás desse sorvete. Seu desejo é uma ordem. – Não podia ter arrumado um homem melhor que ele.

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- Vocês são pais de primeira viagem, certo? – Dr. Madison perguntou.
- Sim. – Respondi.
- Então vamos do início.

Ela explicou tudo do início, todos os cuidados que eu ia ter que tomar, durante toda a gravidez, as coisas que já ia ter que começar a preparar  e todos os outros detalhes. Eu estava radiante e Josh refletia o meu brilho. Nunca estive tão feliz em toda a minha vida.

Conseguimos fazer a ultra e tudo estava correndo bem com o bebê. Ela disse que o bebê era do tamanho de um feijãozinho... E de uma hora para a outra, nosso bebê ganhou um apelido.

- Amor, antes de a gente ia atrás do sorvete, a gente pode passar em outro lugar?
- Onde, Annie?
- Numa loja de roupa de bebê... – Falei.
- Nós ainda não compramos nada para o feijãozinho, né?
- Não.
- Vamos gastar um pouco com nosso bebê. – Ele disse rindo enquanto me abraçava. Entramos no carro e encontramos uma loja grande de bebê no caminho para casa.

Estacionamos perto do parque que ficava em frente à loja. Quando saímos do carro e eu olhei para o parque, quase não acreditei no que vi. Um daqueles trailers de sorvete que dizia: “Mais de 130 sabores”. Tinha que ter maçã verde.

- Josh! – Chamei e apontei para o trailer. Ele entendeu e nós fomos direto para lá.


E eu fui feliz com meu marido, dois potes de sorvete de maçã verde e meu feijãozinho.

Apareci, meu povo! 
Desculpa a demora, tomara que vocês gostem do capítulo :))
No próximo vai ter uma passagem de tempo...