38 - I won't give in, I can't give up on this love
SEIS MESES DEPOIS
- Pensa no que eu te falei. – Eric disse enquanto nos
despedíamos no aeroporto de Los Angeles. Ele ficou duas semanas aqui em LA,
veio visitar como havíamos combinado ainda em NY. – A gente dá um jeito na distância
de LA pra NY, o que não pode é você ficar sozinha quando tem alguém querendo
ficar do seu lado. A gente já fez dar certo uma vez, pode fazer de novo. – Eu
abri a boca para responder, mas ele me impediu. – Sim, eu sei que você ainda
gosta dele e que ele terminou com você por causa da ameaça da Vanessa, eu sei.
Mas agora não tem mais filme e eles ainda estão juntos.
- Eu sei. Deixa essa premiere passar e todos os meus
vínculos com INYS acabarem de vez e a gente vê o que faz, ok? – Anunciaram o
vôo dele. Ele me deu um abraço e eu não sabia o motivo, mas não queria que ele
fosse embora. Ele me reconfortava, me lembrava do Brasil e depois das meninas
era a pessoa que me conhecia a mais tempo naquele país.
- Tchau Ann. A gente se fala.
- Tchau Eric. Me liga quando chegar em NY pra avisar se
chegou bem, ok?
- Tudo bem, mãe. – Ele brincou e foi em direção ao portão de
embarque. Antes de sumir do meu campo de visão, ele olhou para trás e acenou.
Respondi o aceno e fui em direção ao estacionamento pensando no que ele havia
me dito.
Ele tinha razão, eu sabia. Josh e Vanessa ainda estavam
namorando. Há seis meses eu sabia que eles haviam começado o namoro por causa
de uma ameaça dela, mas eu os vi juntos, sem fingir. Ele parecia feliz, achei
melhor não atrapalhar. Eric era uma boa opção para mim, era certo. Minha
família gostava dele, minhas amigas gostavam dele. O único problema era que eu
ainda não gostava do mesmo jeito de antes. Mas ele estava disposto a fazer com
que eu voltasse a gostar, e o simples fato de que ele ia fazer isso sabendo que
gostava de outro cara era incrível.
Cheguei em casa e como as meninas não estavam, fui para o
computador. Abri o facebook, vi os comentários dos amigos brasileiros nas fotos
de quando Eric estava por aqui. Muitos deles acharam que nós tínhamos voltado.
Facebook sempre dando a impressão errada das coisas. Abri minha caixa de
entrada do e-mail e tinha um do Logan. Nós quase não nos falamos nessas duas
semanas em que Eric
esteve aqui, eu praticamente não parei em casa. “Seu amigo já foi embora? Agora você vai ter tempo para mim? Kkkkk,
brincadeira. Ele fez boa viagem de volta para NY? Estou no Kentucky visitando a
família distante, você ia gostar disso aqui. Beijo, Logan”. Logan vivia
viajando de um lado para o outro dos EUA. Acho que nós ainda não nos conhecemos
porque ele não sossegou em LA desde que eu voltei. Respondi o e-mail dele e
acabei adormecendo perto do computador, pensando no que Eric havia me dito.
Minha sina era me afogar em pensamentos, só pode.
UM MÊS DEPOIS
Depois que descobriram a verdade, Keegan e Ian se
reaproximaram de Josh. Isabella e Julie também, mas eu era a única que preferia
continuar afastada. Nós já conseguíamos ficar no mesmo ambiente, mas nunca
falávamos mais que o extremamente necessário. Eles não contaram a ele que eu
sabia da verdade sobre ele e Vanessa e eu achei melhor assim. Mas essas não
foram as únicas coisas que mudaram nesses sete meses.
Para começar, meus cabelos agora são castanhos escuros, mas
com várias mechas em outros tons de castanho e loiro escuro. Isabella, nossa
loira do Tchan, agora é ruiva. Julie, que tinha a cor dos cabelos parecidos com
os meus, mas era branquinha, ficou loira. Foi nossa loucura de 31 de dezembro, a
gente sempre inventava alguma coisa para o Ano Novo. Ano Novo que foi lindo
esse ano. Vimos a queima de fogos na praia da Santa Monica pela primeira vez, e
foi lindo. Mas nada comparado à praia de Copacabana. Keegan tinha uma casa por
ali e nós passamos a primeira semana do ano na praia.
No meu aniversário, em janeiro, Julie, Isabella, Keegan e
Ian me colocaram dentro de um avião de surpresa e me levaram à Disney. Quando
chegamos ao aeroporto de Orlando, Eric estava nos esperando no desembarque.
Tudo bem, eu estava fazendo 25 anos, essa viagem à Disney chegou mais ou menos
uns 10 anos atrasada, mas todos nós nunca nos divertimos tanto. A Disney era um
lugar mágico, e a magia não diminuía se você tivesse 5, 10 ou 90 anos. Nós
passamos cinco dias lá e não conseguimos ver tudo. Eu estava loucamente feliz,
mas sentia que faltava alguma coisa ali. Alguém para falar a verdade. Josh me
mandou um sms de feliz aniversário no dia 18, mas só isso. Quando chegamos em
casa, Dane nos entregou um embrulho imenso e disse que tinha chegado para mim
durante a semana. Abri quando cheguei no apartamento, era um Mickey gigante de
pelúcia, bem parecido com um que eu não comprei na Disney porque não ia
conseguir trazer no avião. Tinha um cartão. “Não
é o Mickey da Disney, mas é uma forma de fazer com que eu estivesse presente na
comemoração dos seus 25 anos. Feliz aniversário, Ann. Logan”. Até hoje não
sei como ele conseguiu meu endereço, e ele não falou, mas o Logan tinha se
tornado um bom amigo nos últimos tempos.
No trabalho, as coisas estavam bem mais tranquilas, In New York’s Streets estava em pós
produção, então para eu, Julie e Isabella só sobrava o trabalho normal,
releases de alguns filmes, algumas entrevistas salpicadas com alguns atores
aleatórios, nada de muito grande. Tive tempo de sobra para trabalhar no meu
projeto de roteiro que ainda não estava pronto. Isabella e Julie tentaram
invadir o meu computador umas três vezes para conseguir ler, mas eu mudava a
senha toda semana e não contei nem a sinopse para elas duas. Já disse, aquela
história era diferente, era especial. E ela só ia ser divulgada sob uma
condição que eu já estava começando a achar impossível.
- Anne, desgruda desse computador, pelo amor de Deus! A
gente vai se atrasar, ficamos de chegar cedo na cada da Beatrice para ajudar a
arrumar a festa, esqueceu? – Isabella gritou na porta do meu quarto pela quinta
vez. Eu estava escrevendo, e não estava no clima para festas hoje. Ninguém
entendia, porque só eu sabia o que estava fazendo nesse dia de abril, no ano
anterior. Mas era festa de aniversário da Bea e não ia ser a primeira vez que
eu ia disfarçar tristeza no aniversário de uma amiga.
- Estou indo. – Eu disse e estava terminando de escrever o
último parágrafo quando Julie ameaçou.
- Anne Christine Borges, se você não sair daí agora eu vou
te buscar com uma arma na mão! Toma cuidado, YOLO, não esquece! – Meu Deus. Ela
se superou. Usar YOLO como ameaça. #JulieFeelings
- Ok, Ju, eu não quero desperdiçar a minha única vida. –
Desliguei o notebook sem terminar mesmo e fui me arrumar. Quer dizer, arrumar a
bolsa, já que a gente ia se arrumar para a festa na casa dela depois que a
gente arrumasse a festa.
- Vamos embora logo, eu tenho que ficar esperando por vocês
duas mesmo? – Brinquei quando saí do quarto com a minha pequena bolsa.
- Anne, Anne, não esquece, você só vive uma vez...
- Mas você me ama demais para me matar, Julie. Vamos logo
antes que a gente realmente se atrase.
O trânsito em
Los Angeles era sempre um caso a parte, então nós demoramos
quase uma hora para chegar na casa dos pais da Beatrice, onde ia ser a festa. A
casa era gigante, típica casa americana com dois andares, quintal grande e
piscina. Natalie já estava lá, e junto com ela, tinha mais umas dez pessoas
arrumando o quintal.
- Ela precisava da gente para arrumar a festa mesmo? – Julie
perguntou quando viu que não faltava muito a ser feito.
- Até parece que você não conhece a Beatrice, Julie. –
Natalie começou a responder. – Ela é exagerada, não falta muita coisa. E todo
mundo que está aí é do buffet que ela mesma contratou.
- Então nós quatro estamos aqui para... – Isabella disse.
- Para acalmar a Beatrice. Ela fica uma pilha em dia de
festa, vocês vão ver.
Dito e feito. Beatrice não parava de andar de um lado para o
outro, parecia uma barata tonta. Toda hora o telefone tocava ou alguém
perguntava a ela onde colocaria tal coisa. Quando ela estava a ponto de chorar
de nervoso, Isabella se manifestou.
- Chega, já está quase na hora da festa, vamos nos arrumar.
- Em que quarto a gente pode fazer isso, Bea? – Perguntei.
- No quarto de hóspedes, o meu quarto está cheio de várias
coisas da casa que a gente tirou do alcance de pessoas que podem ficar
alteradas depois de algumas bebidas. – Eu ri.
- Vamos subir, então. – Julie disse.
- Ah! Vocês só não podem bater a porta desse quarto, pelo
amor de Deus! – Beatrice falou assim que nós entramos.
- Por quê?
- Porque a maçaneta está com problema e o chaveiro não veio
consertar. Ou seja, quem quer que bata a porta desse quarto vai ficar preso
aqui, porque quando a porta emperra, só dá pra abrir com a chave pelo lado de
fora. E a chave vai ficar comigo essa noite, por precaução. – Vou me manter
longe dessa porta, só por precaução.
Depois das explicações sobre a porta que emperra, uu fui a
primeira a tomar banho. De repente eu ia conseguir sair de lá um pouquinho mais
animada, já que provavelmente até os rapazes do buffet perceberam que o meu
humor hoje passava longe de todas aquelas bolas de gás, luzes e flores da
decoração.
- Meu Deus. Quem é você e para onde levou a Anne que a gente
conhece? – Beatrice perguntou quando eu saí do banheiro.
- Hã?
- Anne, você está se arrumando para uma festa, não para ser
babá de uma criança num domingo no parque. – Natalie disse. Continuei parada,
sem saber exatamente sobre o que elas estavam falando.
- Pelo amor de Deus, Anne! Calça jeans, camiseta e
sapatilha? Qual o pedaço do “festa de adultos” você não entendeu? – Olhei para
a minha roupa e realmente não vi nada de errado nela.
- Eu sabia! Ainda bem que eu e Isabella viemos com peças a
mais na bolsa para você.
- Eu não vou trocar de roupa.
- Ah, você vai, baby. Nós somos quatro e você não vai sair
desse quarto vestindo esse cosplay de babá adolescente! – Isabella disse
enquanto mexia na bolsa procurando alguma coisa para eu usar.
Elas me fizeram trocar de roupa umas cinco vezes, mas acabou
que eu gostei da roupa do final. No fim das contas, eu estava de short, salto
alto e com uma super maquiagem. As meninas também estavam bem arrumadas, mas
Beatrice com certeza ia ser o centro das atenções a noite toda, não só por ser
a aniversariante, mas porque estava deslumbrante.
- Está na hora, meninas. Vamos descer. – Quando chegamos ao
primeiro andar, alguns convidados já estavam lá e já tinha uma música contida
tocando.
- Ah, eu quase esqueci! O karaokê está no carro, se você
quiser a gente coloca aí, Bea. – Isabella disse.
- É claro que eu quero!
- Ann, vamos lá comigo buscar?
- Vamos. – Eu achei estranho, ela não ia precisar de ajuda
para pegar o karaokê. Mas, enfim, era Isabella, a gente não perguntava muito
sobre as coisas que ela falava.
- Ann, a gente sabe por que você está assim. – Ela disse
quando nós saímos de dentro de casa. Eu sabia que ela não precisava de ajuda.
- Não, vocês não sabem.
- Tem certeza? Porque eu acho que mais ou menos essa hora,
há um ano atrás, você estava suspirando por causa de uma entrevista que tinha
feito pela manhã. – Elas sabem. Não falei nada. – Ele deve vir hoje, você sabe,
né?
- Sei.
- Por que você não aproveita para conversar com o Josh e
acabar logo com essa agonia, hein? – Ela perguntou enquanto pegava o karaokê no
carro.
- Eu não tenho nada para falar com ele, Isabella.
- É claro que você tem, Anne. – Eu sabia que eu tinha, o que
não tinha era a coragem mesmo. Ele estava feliz, ponto.
- E eu vou falar o quê? “Oi Josh, que bom que você está
feliz com ela, mas eu ainda sinto a sua falta”? É patético demais, até pra mim,
Isabella. Sem dizer que isso teria que ser conversado quando nós dois
estivéssemos sozinhos, e a gente passa muito longe disso toda vez que se
encontra.
- Então esse é o problema?
- Não Isabella, esse é só o início do problema.
- Ok, então. Mas mais cedo ou mais tarde você vai ter que
conversar com ele, saiba disso. – Quando ela terminou de falar, eu vi um carro
se aproximando. E eu conhecia aquele carro, era Josh.
- Vamos entrar, eu não quero falar com ele aqui fora.
POV JOSH
Quando cheguei à casa de Beatrice, vi que Isabella e Anne
estavam do lado de fora e entraram assim que viram meu carro se aproximar. O
simples fato de ver Anne de longe já me deixava nervoso, ainda mais hoje. Eu
parei de falar o que estava falando com Ian e Keegan na metade quando percebi
que ela já tinha chegado.
- Josh, isso já está mais do que chato. – Ian disse.
- O que?
- Você e a Anne nessa brincadeira de gato e rato, um fugindo
do outro, se tratando como se fossem só colegas. – Keegan respondeu.
- Mas nós somos só colegas. Eu tenho namorada, vocês
esqueceram?
- Você não ama a sua namorada. Nós sabemos que você ainda
gosta da Anne. – Droga. Não respondi.
- Josh, nós sabemos que o namoro de vocês é de fachada. –
Keegan disse assim que eu estacionei.
- O quê? – Como assim eles sabiam disso? Eu não contei a
ninguém.
- As meninas descobriram editando os vídeos do making of do
filme e contaram para a gente.
- Por que vocês não me disseram isso antes?
- Porque a Anne não queria.
- Ela sabe?
- Sabe. E ela tentou falar com você, mas você estava sozinho
com a Vanessa... Ela viu vocês dois se beijando afastados no set, sem ninguém
vendo. Achou que vocês estivessem felizes, que você estivesse realmente
gostando dela, e preferiu não se manifestar. Eu só estou te contando isso tudo
porque eu, Isabella, Ian e Julie já estamos percebendo há tempos que vocês dois
não superaram um ao outro e nós somos seus amigos... Isso já deu o que tinha
que dar, as gravações do filme acabaram. – Keegan falou de uma vez só.
- Você tem que falar com ela, Josh. – Ian disse.
- Como? A gente nunca fica sozinho pra conversar! E isso é
só o começo... Pra terminar com ela, eu disse muita coisa que não devia, eu não
sei se ala vai me perdoar...
- O problema é a falta de oportunidade? – Keegan perguntou.
- É só o início, eu disse.
- Ok. – Ele falou e começou a sair do carro.
POV ANNE
Josh e os meninos já haviam chegado há umas duas horas, e eu
estava começando a chegar no meu limite. Desde que nós terminamos, eu não
fiquei nem vinte minutos no mesmo lugar que Josh, e agora já tinham se passado
horas. E hoje ele estava diferente, não sei se era pelo que a data
representava, ou pela saudade... A gente não se via desde o último dia de
gravações em NY.
Quando eu peguei o meu terceiro copo de o que quer que fosse
aquilo com álcool que estavam servindo, Isabella e Julie se aproximaram.
- Por favor, nós não ficamos semanas te controlando em NY
para você voltar a beber desse jeito na primeira vez que visse ele. – Julie
disse.
- Eu... Me deixa beber, vai ser mais fácil assim.
- Não, Anne! – Isabella tirou o copo da minha mão.
- Faz o seguinte: Vai lá no quarto, tira os sapatos, lava o
rosto, descansa, e depois você volta. – Julie disse. – Você ainda tem que
aguentar a noite toda aqui. Se ficar bêbada vai ser pior.
- Obrigada. – Eu fiz o que ela disse. Fui para o quarto,
fechei a porta com cuidado e me joguei na cama, ignorando o barulho que vinha
do primeiro andar.
POV JOSH
Eu estava conversando com Isabella, Keegan, Ian e Julie
quando meu celular tocou pela terceira vez. Era Vanessa. Ignorei. Estava
procurando Anne com os olhos, mas ela tinha sumido.
- Que marcação, hein! – Ian brincou.
- Pois é.
Nós continuamos conversando e uns dez minutos depois, o
telefone tocou outra vez. Eu estava prestes a ignorar outra vez, quando Julie
me impediu.
- Se você não atender, ela vai continuar ligando a noite
toda.
- Não dá para atender aqui, o barulho está muito grande...
- Você pode ir para o quarto onde nós nos trocamos mais
cedo... – Isabella disse.
- Será que a Bea não vai se importar?
- Claro que não, você só vai atender uma ligação. – Ela
respondeu.
- Já que é assim, qual é o quarto?
- Subindo as escadas, a terceira porta à esquerda. – Eu já
estava seguindo as instruções de Isabella quando Julie me chamou.
- Ah, Josh. A porta está com um probleminha... Se você não
bater, ela não fecha.
POV ANNE
Alguém no primeiro andar tinha começado a cantar This Love, do The Verônicas. “Even if I leave you now and it breaks my heart, even if I’m not around,
I won’t give in, I can’t give up on this love”. Claro, como se eu já não estivesse
surtando o suficiente aqui sozinha nesse quarto com Josh no primeiro andar. Gritei
no travesseiro pela décima vez, e antes de levantar o rosto, ouvi a
porta do quarto se abrindo e achei que fosse uma das meninas.
- Para de me encher a paciência! Eu disse que não queria
ouvir nada de você hoje à noite. – Quando reconheci a voz, fiquei paralisada no
lugar onde estava. Era Josh. – Quer saber, eu não vejo a hora dessa maldita
premiere chegar de vez pra eu me ver livre desse filme e livre de você! – E ban. Ele bateu a porta. Eu me virei, e
ele tinha desligado o telefone e tinha acabado de notar a minha presença. – Anne... Você está aqui. – Sim, eu estou. E
você bateu a porta. Eu sabia que aquilo tinha que significar alguma coisa além
de uma simples batida de porta, mas eu não conseguia lembrar o que era, não
quando eram aqueles olhos castanho esverdeados que eu senti tanta falta que
estavam me olhando da porta... A porta! A porta está emperrada!
- Você bateu a porta. – Foi a única coisa que eu consegui
dizer antes de sair correndo e tentar abrí-la, sem sucesso.
- Mas a Julie disse que ela estava com problema e tinha que
bater...
- Nós estamos presos.
Look da Anne:
http://i50.tinypic.com/35k7m0j.jpg
This Love, The Veronicas:
E a porta emperrou, e a porta emperrou...
37 - And all that you got left is being strong
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primeira temporada
·
Postado por
Ariel Cristina Borges
às
segunda-feira, agosto 27, 2012
O que Connor me disse mais cedo mudou alguma coisa em mim. Parece que tudo o
que eu sentia por Josh, tudo o que eu achei que estivesse começando a esquecer,
passou por cima de mim como uma avalanche. Eu demorei dois meses para pegar
cada pedacinho desse sentimento e colocar numa caixa gigante com 50 cadeados
dentro do meu peito. Connor disse que ele estava péssimo e que eu tinha alguma
coisa interessante para assistir nos
vídeos do making of do filme e todos esses cadeados abriram automaticamente,
sem a minha permissão e todos os pedacinhos de sentimento que estavam nessa
caixa imensa saíram pulando feito pipoca, um para cada canto, cada um atingindo
um pedaço diferente do meu corpo. E cada célula, de cada pedacinho atingido,
agora gritava desesperadamente que eu ainda amava Josh. Não que eu não soubesse
disso. Eu sabia. Mas agora eu sentia tudo de novo. E eu já tinha quase
esquecido de como aquilo fazia com que eu me sentisse bem, apesar de todas as
circunstâncias.
Já cheguei da Starbucks há horas. E desde que cheguei, estou
fazendo a mesma coisa. Só tirei os sapatos, sentei na minha cama, abri o
notebook e comecei a buscar vídeos antigos do Josh. Assisti em ordem
cronológica, comecei por ele pequenininho, nas entrevistas dos primeiros
filmes, os primeiros red carpets, os eventos... Eu sabia aquilo tudo de trás
para frente. Das entrevistas de divulgação de Journey 2: The Misterious Island,
eu só consegui assistir uma: aquela em que ele e Vanessa estão numa rádio e os
locutores pedem para eles responderem às perguntas como se um fosse o outro.
Também só assisti porque não consegui parar de rir de Josh imitando
perfeitamente a risada de Vanessa. Eu sempre ria com esse vídeo, desde a época
que ele era novo... Depois, para descontrair, passei para as milhares de
entrevistas de divulgação de The Hunger Games. Consegui rir mais ainda, quando
Josh se juntava com a Jennifer Lawrence não dava coisa boa. Ou dava, eles
fizeram quatro filmes que bateram recorde de bilheteria. Eram amigos até hoje,
mas se viam pouco. Eu já tinha visto ele ao telefone com ela algumas vezes.
Estava prestes a chegar nas entrevistas atuais quando uma
janelinha do meu e-mail subiu: “Você tem
uma nova mensagem de Connor Logan.” Fui abrir o e-mail. Connor Logan – que
eu chamava só de Logan para não confundir com o Connor Mason, irmão do Josh –
era um amigo virtual que eu tinha feito nesse tempo de voltar a escrever. Ele
achou o meu blog mais ou menos duas semanas depois do meu término com Josh e
gostou dos meus textos. Nós começamos a conversar e diversas vezes, ele me
animou na madrugada. Era uma amizade virtual, como tantas outras que eu já tive
na vida. De repente essa iria para frente em algum momento, ele era de LA. Respondi
o e-mail dele e voltei às entrevistas atuais.
Encontrei a minha primeira entrevista com Josh e a assisti
umas dez vezes. Só cinco meses haviam se passado dela para cá, mas muita coisa
havia mudado. Naquela data, eu era a Anne, fã do Josh. Depois dela, eu passei a
ser a Anne, namorada do Josh. Agora eu era a Anne... A Anne depois do Josh. E
eu ainda estava tentando entender o que aquilo significava. Assisti ao nosso
primeiro livechat, o que foi gravado no dia seguinte ao pedido de namoro,
quando ele disse “Meu coração? Está completamente ocupado. Estou namorando. Há
pouco tempo, mas estou.” E eu hiperventilei sentada naquela cadeira. Eu ainda
lembrava da sensação, e não tinha como esquecer com ele usando o cordão que eu
havia dado no dia anterior. Instintivamente, procurei o meu anel no indicador
da mão esquerda, e não achei. Me arrependi de ter devolvido.
Nos vídeos relacionados, uma entrevista nova de Josh. Pela
data, ela tinha sido gravada na semana passada. Não sei o porquê, de repente eu
era meio masoquista e gostava de sofrer, ela tinha sido gravada depois do nosso
término, mas eu cliquei nela e comecei a assistir. No início, foram as mesmas
perguntas de sempre, sobre o filme, sobre a carreira, sobre as gravações e blá,
blá, blá. Realmente, tem jornalista que deve ter preguiça de montar uma
entrevista direito, só pode. Mas, enfim, continuei assistindo, até um pedaço
que chamou mais a minha atenção.
- Então, Josh, você e Vanessa estão namorando outra vez,
certo? - A expressão dele mudou
levemente, mas depois voltou ao normal.
- Certo.
- Nós encontramos um dos seus últimos tweets, de um tempo
atrás, onde você disse que estava na última semana de gravações em LA e prestes
a embarcar para NY e filmar aqui... E disse que “a sua garota tinha mandado
oi”. Essa garota era a Vanessa? – Não, essa garota sou eu! Josh demorou a
responder.
- Hum... Vanessa é minha namorada. Ela já não é mais uma
garota, não é? – Ele respondeu brincando, e quase que instintivamente, mexeu no
pingente do cordão que estava usando e eu pausei a cena para ver direito. Era o
cordão que eu havia dado, mas tinha outra coisa ali... Parecia outro pingente,
e era prata, dava para perceber pelo contraste com o pingente original. Avancei
um pouco a cena e pausei outra vez, então, eu consegui ver o que era. O meu
anel. Ele ainda usava o cordão que eu havia dado e agora, ainda usava com o meu
anel pendurado junto.
Fechei o notebook e deitei na cama olhando para o teto. Se
eu já estava com milhares de coisas na cabeça só com o que Connor havia me
dito, agora então... Josh estava usando o meu anel junto com o cordão dele. Não
era bem a atitude de uma pessoa que não se importava com o significado daqueles
objetos. Sinceramente, agora eu me mantenho o mais longe o possível dele no
set, não tive como reparar se ele já estava usando o cordão assim há mais
tempo. Mas ele usou numa entrevista, ele sabia que meio mundo ia assistir
àquilo e que eu podia estar inclusa nesse meio mundo. Adormeci pensando nisso,
e sonhei com aquele dia na praia. Odeio sonhos reais. Odeio sentir o que já
senti uma vez e provavelmente não vou sentir de novo. Odeio.
Acordei cedo no dia seguinte e não consegui tirar da cabeça
que hoje ia começar a assistir os vídeos de making of. Tudo bem que até chegar
aos vídeos do dia em que ele terminou comigo, dia 14 de agosto, ia demorar um
pouco, mas já era um começo.
Quando cheguei ao set, fui direto para a ilha de edição.
Isabella e Julie não haviam chegado e eu queria adiantar o trabalho. Comecei a
assistir aos vídeos do primeiro dia e elas chegaram uns trinta minutos depois. Nós
tínhamos nos visto no dia anterior, mas não adiantava, a gente sempre tinha
alguma coisa a falar. Eu ainda não havia contado o que Connor havia me dito no
dia anterior, e não contei. Ainda não. Eu nem sabia se nós íamos chegar naquele
vídeo hoje. Por isso, depois do nosso intervalo para colocar as últimas horas
da nossa vida em dia – eu omiti, por acaso, todo o pedaço dos vídeos da noite
anterior – nós voltamos a assistir àqueles vídeos com força total.
Já havíamos assistido umas quatro horas de filme, e só
tínhamos chegado a uma conclusão. Keegan e Josh não batiam bem, de forma
alguma. Ainda não havíamos chegado no dia em que o Ian se juntou ao elenco, mas
tínhamos certeza que quando chegássemos, ele entraria nessa classificação. Eu
sentia tanta falta daquela convivência... Anne, trabalho, atenção.
DOIS DIAS DEPOIS
Eu já estava começando a ficar agoniada. Já estava cansada
que assistir vídeos de making of e NADA do dia 14 de agosto chegar. Ontem à
noite, Logan me perguntou o que eu tinha. Era engraçado, ele percebeu que eu
estava diferente pelo meu jeito de falar na internet. É óbvio que ele não sabia
de Josh, eu não seria louca de contar para alguém que nunca havia visto. Mas amizades
virtuais sempre te surpreendem.
- Bom dia. – Foi a minha vez de chegar atrasada, dormi
tarde.
- Bom dia, Ann. – Julie respondeu.
- Trouxe a cama nas costas, foi? – Isabella perguntou.
- É...
- Hum, eu conheço essa cara... O que está acontecendo, hein?
– Julie perguntou. Respirei fundo. Revirei os olhos. Mexi no cabelo. Falei tudo
o que tinha para falar sobre o vídeo do dia 14.
- Anne, minha filha, porque você não disse isso antes? A
gente teria começado por esse vídeo! – Isabella falou enquanto procurava o dia
14 nas datas dos dvds de agosto. – 10, 11... 14, achei!
- Tem certeza que você quer assistir isso? – Julie perguntou
e eu só olhei para ela. – Ok, você tem.
O primeiro vídeo era de Josh, Keegan e Ian. Depois Troian se
juntou a eles e teve um pedacinho em que só ela e Keegan apareceram nas
filmagens, tinham acabado de gravar uma cena sozinhos. Eu comecei a me
perguntar se Connor tinha certeza sobre o que havia me falado naquele dia na
Starbucks, até que começou a passar um vídeo de Josh e Vanessa depois de terem
gravado uma cena. Provavelmente a cena que eles ensaiaram fora do trailer de
figurino e eu vi... Agora eu nem sei mais se aquilo era um ensaio mesmo. Quando
eles começaram a conversar, eu me atentei.
- Eu não tenho nada a
falar com você – Josh disse, quase tentando fugir dela quando ela o
impediu. Não entendi. Eles não estavam juntos?
- Mas eu tenho uma
coisa a falar para você. E você vai ter que me ouvir, queridinho. – Odeio o
tom debochado dela.
- Fala rápido.
- Você sabe que a
Lindsey tem pessoas superiores a ela na Lionsgate, não sabe? Pessoas que não
dariam uma chance de misericórdia se soubessem que três pessoas da equipe do
filme namoram atores do mesmo filme...
- Onde você quer
chegar, Vanessa?
- É o seguinte, Josh.
Você vai terminar com a Anne. E vai falar que é porque você quer. – Isabella
pausou o vídeo nesse pedaço.
- Mas o que essa garota disse? – Eu estava em choque, elas
duas estavam quase lá.
- Aperta play, vamos terminar isso.
- Não há possibilidade
disso acontecer.
- É claro que há,
Josh. É isso ou a magricela estrangeira e as amiguinhas dela perdem o emprego,
porque eu vou dar um jeito dos relacionamentos de vocês serem descobertos. E
não faça a besteira de contar isso a um deles... Se você fizer alguma coisa
demais, elas vão ser completamente prejudicadas.
- Você é louca.
- Sou, mas os
diretores da Lionsgate não sabem disso e eu sou a estrela do filme deles, tenho
uma credibilidade E, ah, depois nós vamos assumir um relacionamento.
- Agora você se
superou na loucura. Qual o pedaço do “nós nunca vamos ficar juntos outra vez”
que você não entendeu?
- Relacionamentos de
fachada existem para isso. Vai ser pela divulgação do filme. E pela manutenção
do emprego da sua Anne.
- Eu não vou conseguir
fazer isso.
- Você é um bom ator.
Você consegue. Agora deixa eu ir embora. Tenho que descansar para não estar com
olheiras quando os paparazzis nos virem juntos nos próximos dias. Até mais,
futuro namorado.
Como era esperado, eu estava chorando. Não conseguia nem
pensar. Julie e Isabella estavam num silêncio quase sepulcral ao meu lado. Quem
entrasse na sala só ouviria o meu choro baixo e as respirações delas duas.
- Isso só pode ser brincadeira. – Julie começou a falar.
- O Josh fez isso tudo por nós três?
- Ela ameaçou os nossos empregos e ele aceitou as condições
dela para que nós continuássemos aqui... – Eu ainda não tinha conseguido falar
nada.
As imagens daquele vídeo, as palavras de Julie e Isabella
depois que nós assistimos, tudo, estava rodando na minha cabeça. Ele terminou
comigo para que eu, Isabella e Julie não perdêssemos o emprego. O namoro dele
com Vanessa era falso. Era por isso que outras pessoas diziam que eles ficavam
mais próximos quando estavam em lugares públicos. E quando eu estava por perto.
Eles estavam fingindo para a imprensa e para mim. Agora tudo fazia sentido. O
meu anel, o cordão... Ele ainda me amava.
- Anne, o que você está esperando para ir atrás dele? –
Isabella disse me arrancando a força dos meus pensamentos.
- Hã?
- Mulher, corre, ele está gravando hoje! Vai falar com ele
que você sabe de tudo, vai! – Julie praticamente me expulsou da cadeira.
- Eu não posso falar isso com ele aqui, vocês esqueceram?
- Você não precisa gritar para os quatro ventos, Anne.
Depois de todo esse tempo ignorando o Josh, ele vai perceber que tem algo de
diferente se você só olhar para ele sem parecer que quer que ele morra. – Isabella disse, mas eu não me movi.
- Anne Christine Borges, você não tem mais 15 anos! O cara
te ama, vai atrás dele! – Eu não sabia se ria ou se chorava.
- Eu vou.
Me levantei e saí da sala. Estava tão concentrada nos vídeos
nos últimos dias que não sabia em qual pedaço do set estavam sendo as gravações
daquele dia. Demorei séculos para descobrir que eles estavam no cenário da
cafeteria, mas quando fui até lá, ele não estava mais.
- Você viu o Josh? – Perguntei a alguém por ali e percebi
que mesmo depois de meses trabalhando no mesmo filme, eu ainda não conhecia a
equipe inteira.
- Ele foi para o trailer dele.
- Obrigada.
Os trailers ficavam do outro lado do set. Ótimo. Eu
praticamente corri o caminho todo, mas meus saltos altos não ajudavam. Eu
realmente precisava começar a usar sapatos mais baixos. Quanto mais eu me
aproximava, mais nervosa eu ficava. Para melhorar a minha situação, o trailer
de Josh era o último. Passei pelo trailer da maquiagem, pelo do figurino, pelo
de Troian, Vanessa, Keegan e Ian, até conseguir avistar o de Josh.
Duas pessoas estavam sentadas nas escadinhas do trailer
dele, e conforme fui chegando mais perto, vi que eram ele mesmo e Vanessa. Eu
não contava de encontrá-lo com ela. Não tinha mais ninguém em volta, só eles
dois sentados e eu me aproximando. Ele estava sentado de costas para a mim, ela
estava com a atenção voltada para a frente deles. Nenhum dos dois havia me
visto e eu parei de andar para pensar no que fazer. Me escondi no cantinho do trailer de Ian e
pensei. Depois que respirei fundo dez vezes, saí de onde estava e quando olhei
para o trailer dele, parei outra vez. Sim, eles dois ainda estava ali... Mas
estavam se beijando.
Não tinha ninguém olhando. Eles não sabiam que eu estava
ali. Não tinha texto por perto, aquilo não era um ensaio. Saí de perto o mais
rápido o possível para que eles dois, ainda assim, não me vissem.
Eu não tinha outra pessoa a culpar além de mim mesma. Eu não
devia ter acreditado que ele tinha mudado de ideia com tanta facilidade. Eu
devia ter tentado outra vez, de repente se eu insistisse, ele teria me contado
a verdade. É meio difícil pensar isso quando você ouve que a pessoa não que
mais ficar com você, mas eu devia ter desconfiado. Aquele não era o Josh que eu
conheci e por quem me apaixonei. Agora, juntos há mais de um mês, vai que ela
conseguiu conquistá-lo outra vez? Sei lá, de repente ele achou que não teria
mais chances comigo... E ele estava parecendo até feliz. Às vezes, eu o pegava
olhando para ela de um jeito que nunca olhou para mim.
Então, é isso. Anne, seja forte. Acabou, ele está com ela de
vez e você vai seguir a sua vida. Em dois dias você volta para Los Angeles e eu
te proíbo de ficar triste quando chegar lá. Era tão estranho dar conselhos a
mim mesma. Mas agora, era isso o que eu tinha que fazer. Seguir em frente. Um dia eu vou
esquecer que o amo. Um dia eu consigo. Até lá... até lá eu vou levando.
Música do nome do capítulo:
Faith to Fall Back On, Hunter Hayes
Alguém gostou da visita ilustre de Connor Logan? HEHE
36 - We're just ordinary people, we don't know which way to go
UM MÊS DEPOIS
- Não, Eric, eu não vou tirar uma foto ali! – Eu disse
enquanto ele continuava insistindo para que eu subisse numa pedra para tirar
uma foto. Estávamos no Riverside Park e a pedra ficava às beiras do Hudson
River.– Eu vou cair! – Eu ri.
- Não vai, Ann, a foto vai ficar boa!
- Eric Bragança! Eu não vou subir nessa pedra! Está frio, e
eu não estou com vontade de tomar um banho no Hudson River!
- Ok, eu desisto de você. – Nós continuamos caminhando. –
Falta quanto tempo para você voltar para LA mesmo? – Ele perguntou.
- Duas semanas. Meu voo está marcado para a segunda semana
de setembro.
- Eu vou sentir a sua falta. De novo. – Desde que Eric me
encontrou no Central Park naquele dia, nós dois nos reaproximamos. Não como
antes, não voltamos a namorar. A nossa amizade voltou a ser o que era antes do
nosso namoro. Antes dele, só vinham Isabella e Julie. No momento, ele voltou a
ser o meu melhor amigo homem.
- Eu também... Mas agora a gente se achou, e pelo menos nós
estamos no mesmo país! – Quando estava com ele e com as meninas, era quase como
se nada tivesse acontecido. Eu conseguia brincar, fazer piadas e chorar de rir.
Mas quando ficava sozinha, cada segundo me lembrava que eu ainda era apaixonada
por quem não devia. – São só seis horas de vôo, você pode ir visitar a gente em
LA e ficar na casa do Keegan e do Ian. – Sim, os ciúmes iniciais de Keegan e
Ian passaram na primeira vez em
que Eric saiu conosco. Eles se aproximaram bastante, e foi
bom para eles dois, porque eu não fui a única a me afastar de Josh quando ele
começou a namorar Vanessa outra vez. Foi quase uma reação em cadeia. Eu me afastei,
Isabella e Julie se afastaram e, logo depois, Keegan e Ian. Não por ele ter
terminado comigo. Isso foi ruim, mas era uma coisa que eu tinha que sofrer
sozinha. Mas sim por ele não ter esperado nem três dias para aparecer com a
garota que estava com ele há um mês, por ele ter me traído por esse um mês e
por essa garota ser justo a Vanessa.
- Sério?
- Claro, Eric! Você acha que depois de tudo o que você fez
por mim nesse mês eu vou nós vamos conversar por telefone e internet pelo resto
da vida? – Eu ri.
- Menos mal. Te disse que a minha mãe adorou saber que a
gente se reencontrou aqui? Ela viu as fotos daquele dia no Central Park com as
meninas, Ian e Keegan. – A mãe dele sempre gostou de mim.
- A reação foi a mesma lá em casa. Até as minhas tias
falaram comigo pela internet querendo saber de você.
- Visita a minha família quando você for ao Brasil, eles vão
gostar de te ver.
- Te digo o mesmo. – Continuamos caminhando pelo Riverside
Park, passamos o dia inteiro por lá, era um lugar incrível, mas não se
comparava ao Central Park. A companhia de Eric fazia tudo passar mais rápido, e
quando eu vi a hora, já estávamos quase atrasados. – Que horas o pessoal ficou
de chegar no seu apartamento? – Perguntei, já sabendo da resposta.
- Às seis. Por quê?
- Porque são cinco e meia. – Ele se espantou.
- Temos que correr. – Ele me pegou pela mão e literalmente
correu em direção à saída do parque, onde seu carro estava estacionado. Quando
chegamos ao prédio dele, pegamos o elevador no estacionamento, e quando ele
parou na portaria, Isabella, Keegan, Ian e Julie entraram. Conseguimos chegar
junto com eles, ao menos.
- Olá pessoas! – Eu disse quando eles entraram no elevador.
- Oi! Peraí, onde vocês estavam? – Ian perguntou.
- Viemos do estacionamento, acabamos de chegar do Riverside.
– Eric respondeu.
- Quase perdemos a hora. – Eu falei e Julie olhou para mim
com a sobrancelha levantada. Olhei para Isabella e ela estava do mesmo jeito.
Eu já sabia que ia ouvir no momento em que os meninos saíssem de perto de nós.
- Chegamos. – Keegan falou e segurou a porta do elevador.
Ele, Ian e Eric não se moveram enquanto eu, Isabella e Julie não saímos. Cavalheiros,
esses meninos.
Quando entramos no apartamento, os meninos foram direto para
a cozinha deixar as sacolas, e eu, Isabella e Julie ficamos na sala.
Interrogatório em 3, 2, 1...
- Anne, o que está acontecendo com você e Eric, hein? –
Isabella perguntou em português, como sempre fazia quando não queria que alguém
entendesse o que nós íamos falar. Mas Eric entendia, e ele estava no outro
cômodo.
- SHHHH! O Eric entende português, esqueceu?
- Ops, desculpa.
- Não foge do assunto, Anne! – Julie perguntou, um pouco
mais baixo. – Estou sentindo cheiro de revival no ar...
- Que revival o que! Vocês estão loucas! Eu e Eric não
estamos juntos outra vez.
- Não é o que parece... – Isabella falou.
- Anne, nunca, em hipótese alguma, você perde a noção da hora
quando tem alguma coisa marcada... Você perdeu hoje, e não foi a primeira vez
nesse mês. – Julie disse.
- Sem dizer que nesse último mês, você está mais grudada no
Eric do que quando vocês namoravam. – Isabella disse.
- Não estou não. Acredite, quando nós namorávamos, eu não
tinha vocês na mesma cidade para dividir meu tempo.
- Whatever, o fato é que vocês estão parecendo um casal
outra vez.
- Ele, com certeza, gostaria que isso fosse verdade... –
Julie disse.
- Não viaja, Ju. O Eric é meu amigo, e só.
- Anne, ele é seu ex-namorado. Ele nunca vai ser seu amigo, e só.
- Dá para perceber pelo jeito que ele te olha que ele ainda
gosta de você, Anne.
- Mas eu não gosto mais dele desse jeito, vocês sabem disso.
- Sim, nós sabemos que você gosta de um cara que terminou
com você e não esperou nem uma semana para aparecer publicamente com outra. –
Eu odiava quando a Isabella tinha razão.
- Mas, mesmo ele sendo o cara que me enganou, eu ainda o
amo.
- Olha a chance que está aparecendo na sua frente outra vez!
O Eric é um desses caras que Deus fez e jogou a forma fora. – Quando a Julie
tinha razão ao mesmo tempo, então, era pior ainda. – Me diz um defeito dele,
vai. – Pensei, e não soube o que falar. - Viu, ele não tem defeitos.
- Ninguém é perfeito, Julie.
- Então fala só uma coisinha no Eric que te incomoda, Anne.
– Isabella entrou na briga. Mas dessa vez eu sabia o que responder.
- Só uma coisinha? Ele não é o Josh. – E depois disso, elas
desistiram, e os meninos vieram para a sala. Mas eu passei o resto da noite
pensando no que elas haviam me dito e tive que admitir que percebi que Eric, às
vezes, demonstrava um carinho maior que o carinho de amizade.
Eu gostei dele por muito tempo depois que nós terminamos.
Ben foi uma tentativa minha de esquecê-lo, de repente, por isso, não deu certo.
Para falar a verdade, eu só superei o Eric com o Josh. Será que era ele quem ia
me fazer superar o Josh de vez? Obrigada, Julie. Obrigada, Isabella. Agora eu
vou ficar com isso na cabeça.
Despertei do meu “transe” com o celular de Julie tocando ao
meu lado. Era Lindsey.
- Oi Lindsey. Sim, eu estou com Anne, Isabella, Keegan e
Ian, por quê? Ok, fala. – Ela ouviu o que Lindsey tinha a dizer por mais tempo.
– AH, isso é incrível! Eles vão amar a novidade. Eu amei! Ok, obrigada,
Lindsey, até segunda feira!
- Julie do céu, o que foi, fala logo que eu estou curiosa. –
Isabella disse.
- Para de enrolar, criatura! Fala de uma vez! – Eu reforcei.
- Nós vamos passar mais duas semanas em NY! A produção do
filme acabou de decidir que as últimas cenas podem ser filmadas aqui ao invés
de serem filmadas em LA. – Mais um mês em Nova Iorque ? Isso era
mais do que perfeito, eu estava apaixonada por aquela cidade! Isabella e Keegan
estavam abraçados. Julie e Ian estavam se beijando. Olhei para Eric. Ele estava
com um sorriso de orelha a orelha – e que sorriso – enquanto vinha na minha
direção.
- Você não vai embora!
- Não! – Eu disse rindo, e ele me abraçou por mais tempo que
o de costume. Ops.
Quando nos separamos, Isabella e Julie me olhavam com aquele
olhar que significava “eu disse”. A noite passou até mais rápido depois
daquilo. Nós jantamos e brindamos mais um tempo em Nova Iorque com duas
garrafas de vinho, todos iríamos embora de táxi, de qualquer forma. Quando eles
foram embora, eu fiquei para ajudar Eric com a louça, e nós dois bebemos mais
um pouco. Eu tinha que parar com isso, nunca bebi tanto como no último mês...
Quando percebi o motivo pelo aumento no meu consumo de álcool, bebi mais uma
taça. Nós acabamos e sentamos no sofá; eu não tinha muita noção do que estava
fazendo enquanto nós conversávamos, mas tudo bem, conseguiria entrar num táxi e
voltar para o hotel.
- Ann? – Ele perguntou do nada depois que ficamos alguns
minutos calados.
- Oi.
- Estou muito feliz por você ficar mais um mês aqui em Nova Iorque.
- Eu também! – E eu realmente estava. Mas o Eric estava tão
próximo assim quando nós sentamos aqui?
- Nós estamos bêbados, né?
- Com certeza. – Eu ri. – Por que essa colocação filosófica
agora?
- Por que agora eu estou com coragem de fazer uma coisa que
quero desde o dia em que nós dois terminamos há dois anos. – Droga. Tinha que
tocar nesse assunto? Eu ia começar a me afastar quando ele começou a falar uma
coisa que chamou a minha atenção. – Terminar com você foi a pior coisa que eu
fiz. Eu dei mais valor à minha carreira do que ao que nós sentíamos um pelo
outro, e você não tem noção de como eu me arrependi e me arrependo até hoje. A
gente se viu quase todos os dias nesse último mês e só Deus sabe o quanto eu me
controlei para não fazer o que estou prestes a fazer agora. – Eram palavras que
eu queria ouvir... Mas, tinha alguma coisa de errado ali, e eu não sei se era o
meu cansaço ou a bebida, de repente os dois, que me impediam de perceber o que
era. Continuei prestando atenção, mesmo assim. – Anne, me perdoa? Eu não devia
ter terminado com você. Desculpa. – Meu Deus, como eu esperei para ouvir isso.
Ele se aproximou e eu não me afastei. Senti seus lábios nos meus e continuei
ali. Quando ele viu que eu não ia fugir, aumentou a intensidade do beijo, que
ficou quase bruto. Bruto até demais. Será que era possível que o beijo de Josh
tivesse mudado em tão pouco tempo?
Foi aí que eu percebi. Eu queria ouvir aquelas palavras sim,
mas vindas da boca de outra pessoa. Eu queria aquele beijo. Mas não da pessoa
que estava me beijando agora. A coisa errada no discurso dele que eu não
conseguia perceber, não era o discurso em si, mas a pessoa que o fazia. Eu ouvi
aquilo tudo pensando no Josh. Eu estava beijando Eric pensando no Josh. Meu
Deus, o que eu estou fazendo?! Me afastei dele o mais rápido o possível.
- Hum, Josh – damn – Eric eu... Eu preciso ir embora. Tchau.
– Não dei tempo para ele responder nem de me impedir de ir embora. Quando
cheguei na rua, peguei um táxi imediatamente e disse para onde iria.
Durante o trajeto, fiquei tentando juntar os pedaços do que
havia acontecido, e eu jurei que eu nunca mais beberia vinho na minha vida.
Estava tudo embaralhado na minha cabeça. Eu via Eric dizendo que estava
arrependido e Josh me pedindo desculpas. Depois eu lembrava de ter beijado
Eric, mas na minha cabeça, eu via Josh. Ninguém me odiava mais que eu mesma
naquele momento. Porque eu beijei outra pessoa. Porque essa outra pessoa não
merecia que eu a tivesse beijado pensando em outro. Porque a pessoa
que eu beijei, não era o Josh. Parabéns, Anne.
No dia seguinte, acordei com o meu celular gritando do meu
lado. Quando peguei, era Julie ligando.
- Ooooi. – Eu falei com voz de sono.
- Oi Ann. Te acordei? – Minha cabeça parecia que ia explodir
com cada palavra dela.
- Sim. Que horas tem?
- Duas da tarde.
- Meu Deus, eu preciso levantar!
- Liguei para saber como foi o fim da noite com o Eric...
- Hã? Eu não fui embora com vocês?
- Não, você ficou para ajudar o Eric a arrumar a bagunça...
Esqueceu?
- Eu não lembro de mais nada depois que vocês foram embora.
– Pânico era o que eu estava começando a sentir.
- Anne, onde você está? – Julie perguntou preocupada.
- No meu quarto no hotel.
- Menos mal, pelo menos você chegou aí segura... Está
sozinha?
- Espero que sim. – Olhei para os lados e tudo estava
normal, não parecia que outra pessoa tivesse passado por ali nas últimas horas.
- Hum, Anne. – Ela riu. – Eu preciso te perguntar... Você
está vestida? – Olhei para mim mesma e respirei fundo, aliviada.
- Sim. E com as mesmas roupas de ontem... Não tirei nem os
sapatos.
- Nossa, vocês beberam mais umas cinco garrafas depois que
nós fomos embora, né?
- Você esqueceu que eu não lembro?
- Ah, desculpa. É porque eu lembro de ter te deixado lá
alegrinha, não bêbada a ponto de não lembrar o que aconteceu. Você nunca foi
disso... – Não respondi. Eu sabia por que tinha começado a beber tanto assim. –
Ah. – Ela percebeu. – Anne, isso já está ficando sério demais. Você tem uma
semana pra sair dessa fossa disfarçada, ou eu e Isabella vamos interferir. –
Fiquei muda. – E não adianta se fingir de morta que eu sei que você está aí.
Mais tarde a gente te liga, um beijo. – Ela desligou. Parece que eu não estava
conseguindo fingir tão bem quanto achei que estava...
TRÊS SEMANAS DEPOIS
Eu estava me sentindo num programa de alcoólicos anônimos.
Julie e Isabella conseguiam ser bem persistentes quando queriam. Elas
simplesmente passaram todos os dias das últimas semanas regulando o que eu
bebia. E eu não me atrevi a tomar nem uma gota de álcool. Para falar a verdade,
é muito ruim não saber o que aconteceu com você durante uma noite inteira. E o
pior, Eric também não lembrava. Eu só torcia para nós não termos feito nada
demais naquela noite.
Entrei na Starbucks da Times Square e elas duas já estavam
sentadas numa mesa ao fundo. Quando me viram, Julie levantou um copo extra de
café. Elas tinham pegado o meu. Ainda era estranho ser a que chegava e ia
embora sozinha... Não via a hora de voltar para o nosso apartamento de LA. As
cumprimentei e sentei entre as duas.
- Descafeínado com creme pra você, Ann. – Isabella me
estendeu o copo quando eu sentei.
- Obrigada baby. – Peguei o notebook e o liguei. Nós íamos
fazer redigir as últimas entrevistas, finalmente. Faltavam uma semana para as
gravações de In New York’s Streets acabarem
oficialmente. Era um alívio. Nós estávamos conversando sobre alguma cosia
avulsa enquanto eu procurava a pasta com as coisas do filme do meu computador.
- Organizar as pastas, ninguém quer, né, Ann? – Julie disse.
- Abstrai, meu computador nunca foi organizado.
- Anne, o que é isso aqui? – Isabella apontou para uma pasta
chamada “Roteiro”. Elas não deviam ver aquilo, não agora.
- Nada. – Tentei desconversar e continuar procurando a pasta
de INYS, mas elas não deixaram. Isabella tirou a minha mão do touchpad enquanto
Julie abria a pasta e elas viam vários documentos do word separados, meu
trabalho das últimas madrugadas.
- Anne, você voltou a escrever! – Isabella disse, largando a
minha mão.
- Sim, voltei... Achei mais produtivo do que simplesmente
não dormir à noite. Mas, mesmo assim, vocês não vão ver isso agora. Fechei a
pasta.
- Ah, Anne, para com isso! A gente sempre leu as suas
histórias antes de todo mundo.
- Mas vocês vão ler antes de todo mundo... Só não vão ler
agora. – Eu ainda não sabia se ia divulgar aquilo para o mundo. Aquela história
era diferente... Era especial. Abri a pasta de INYS e atraí a atenção delas
duas para o trabalho.
Quando nossos cafés acabaram, eu fui até o balcão pedir mais
três, ainda tínhamos algum trabalho a fazer. Estava concentrada em não deixar
os três copos de café caírem no chão, andando num chão escorregadio e
extremamente liso de salto alto, quando alguém se aproximou.
- Precisa de ajuda? – Eu me sobressaltei quando ouvi. Olhei
para trás e sorri instantaneamente.
- Connor! Amy! Que saudade de vocês! – Eu tentei
cumprimentá-los, mas não consegui com todos aqueles copos. – Eu estou ali com
as meninas, vocês podiam sentar com a gente...
- Vamos! – Amy disse e eles dois me acompanharam até a mesa.
Deixei os copos e dei um abraço em cada um, ignorando o fato de que eles dois
me lembravam loucamente do Josh.
- Vou pegar os nossos cafés, já volto. Você quer o de
sempre, Amy? – Connor perguntou.
- Sim sim.
- Anne, cadê os cookies? – Isabella perguntou.
- Droga, esqueci. Connor, vou com você para pedir os
cookies, senão ela não vai parar de reclamar no meu ouvido.
- Depois de você. – Ele estendeu a mão para que eu passasse
na frente. Eu já tinha quase esquecido que o cavalheirismo era de família...
Presta atenção, Anne, não vai pensar em besteira.
- Ah, Amy, recebi aquele texto que você me mandou ontem e
adorei... – Isabella começou a falar assim que eu me levantei.
Toda Starbucks, em qualquer lugar do mundo, tem uma filinha
básica no balcão de pedidos. A diferença da loja da Times Square para as outras
era que em cinco minutos, a filinha básica se transformava numa fila gigante.
Pelo menos, dessa vez eu não estava sozinha.
- Como vai a vida, Connor? – Me resumi em perguntar só isso.
Não ia fazer a linha da ex-namorada patética que perguntava do menino para
outras pessoas...
- Vai bem! Agora, meio corrida, essa semana eu e Amy
começamos o último período da faculdade... E eu estou pensando em chamá-la para
morar comigo. – Ele disse com um brilhinho nos olhos.
- Aaaah, super apoio essa decisão! Vocês ficam tão lindos
juntos!
- Eu quero ver se dá certo, sabe...
- Ver se dá certo... Peraí, Connor... VOCÊ VAI PEDIR A AMY
EM CASAMENTO?
- Fala baixo, Anne, é pra ser surpresa!
- Se eu te der um abraço agora ela vai desconfiar, né?
- Com certeza, se contenha. – Ele riu.
- Ai, parabéns, eu tenho certeza que ela vai aceitar!
- E você sabe por que eu estou te contando isso, né?
- Porque você acha que eu sou uma boa pessoa para confiar
segredos?
- Também... Mas porque eu quero que você seja uma das
madrinhas... – Eu achei que tinha ouvido errado. Piorou quando ele continuou a
falar. – Sendo o par do meu irmão.
- Hum, Connor... Eu acho que isso não vai acontecer. Ele tem
outra namorada agora, esqueceu?
- Aquela menina não entra no meu casamento nem com uma casa
mobiliada de presente, quem dirá sendo madrinha. – Eu não consegui conter um
sorrisinho.
Chegou a nossa vez. Fizemos os pedidos e continuamos
conversando enquanto esperávamos.
- Eu sei que você está morrendo de vontade de perguntar como
ele está... – Culpada. – Pode perguntar, eu não conto.
- Como ele está?
- Péssimo. – Nós só podíamos estar falando de duas pessoas
diferentes.
- Não é o que parece todo dia no set, quando ele fica com
aquela garota de pingente para cima e para baixo.
- Anne, você esqueceu que ele é ator? – O que aquilo
significava?
- E isso quer dizer que...
- Isso que dizer que não posso te falar mais nada, já falei
demais até agora. – Eu devia estar com uma interrogação gigante na testa,
porque ele continuou a falar. – Anne, você também cuida da parte de edição do
making of do filme, né?
- Sim, eu editei boa parte do making of de LA... Mas o que
isso tem a ver com o Josh estar péssimo?
- Tem a ver que pra esse making of, muitas vezes, as câmeras
não são desligadas depois que as cenas acabam, certo?
- Certo, não desligam as câmeras para pegar os atores agindo
espontaneamente. E eu ainda não sei onde você quer chegar.
- Quem está editando o making of de NY?
- Eu, Isabella e Julie vamos começar amanhã.
- E vocês assistem a todos os vídeos, certo?
- Certo.
- Ok. Preste uma atenção especial aos vídeos do dia em que Josh terminou com
você.
- Por quê?
- Você pode achar algumas coisas bem interessantes por
ali... – Nossos cafés ficaram prontos e Connor não tocou mais nesse assunto
pelo resto da tarde. Eu é que não tirei aquilo da cabeça. O que será que ele
tanto queria que eu visse no making of do filme?
Música do nome do capítulo:
Ordinary People, Asher Book
(Trilha sonora de Fame)
Não me matem pelo beijo, por favor...
A felicidade está chegando!
AH, esse capítulo já teve mini spoilers da segunda temporada da fic!
AH, esse capítulo já teve mini spoilers da segunda temporada da fic!
35 - Will you do all these things like we used to?
“Por que quem vai te
abraçar? Me fala, quem vai te socorrer? Quando chover e acabar a luz, pra quem
você vai correr? E quem vai me levar entre as estrelas? Quem vai fazer toda
manhã me cobrir de luz? Quem além de você?”
Quando
cheguei ao quarto do hotel, não sabia o que fazer. Ainda estava transtornada.
Agora, estava sozinha, e cantando Quem,
Além de Você, do Leoni na cabeça. Eu estava fazendo de tudo para não entrar
na fossa como se tivesse 16 anos. Isso ia ser patético demais. Almocei, tomei
um banho e comecei a trabalhar. Editei entrevistas, escrevi textos para o site,
assisti trailers de filmes novos, fiz de tudo para me manter ocupada. No fim
das contas, o dia até que passou rápido. A parte mais difícil foi deitar e
dormir, mas depois que consegui, finalmente, adormecer, fui até o outro dia de
manhã. Afinal, ainda era dia de semana, eu tinha que trabalhar.
- Bom
dia. – Disse no meu tom de voz normal quando cheguei ao set. Keegan, Ian,
Isabella e Julie já haviam chegado e vieram falar comigo.
-
Como você está, Ann? – Ian perguntou. Ele e Keegan pareciam mais preocupados do
que as meninas, provavelmente porque não me viram no dia anterior. E porque
eles não me ligaram de uma em uma hora para saber como eu estava.
-
Estou bem. – Eu disse e esbocei um sorriso que sumiu no instante em que eu
reconheci a voz de quem havia chegado.
- Bom
dia. – Josh disse atrás de mim. Todos responderam, menos eu. Tudo o que eu
queria era sair dali. Não queria nem olhar para ele. Mas eu não tive escolha, e
quando me virei, vi um Josh cansado. As olheiras dele estava mais fundas que as
minhas. Nos encaramos por alguns segundos, mas quando eu vi que ele ia falar
alguma coisa, saí dali e fui buscar café numa bandeja longe dele. Vanessa
chegou e logo depois, Lindsey veio com novidades.
- Vim
falar com vocês só para deixar avisado que depois de amanhã vocês vão gravar
outro livechat. Mais informações, no dia, em cima da hora, como sempre. – Ela
brincou e se aproximou de mim. – Anne, você melhorou? As meninas disseram que
você não estava se sentindo bem ontem...
- Já
estou melhor sim, Lindsey. – Era mentira, mas eu achei que dizer que eu ficava
pior a cada segundo não ia ser legal. – Obrigada pela preocupação. – Ela
assentiu e enquanto eu caminhava para perto das meninas outra vez, meu telefone
tocou. Atendi sem olhar, ma pressa, pois tinha esquecido de colocar no
silencioso. Por onde andava a minha cabeça mesmo?
- Oi.
- Anne?
-
Sim. Eric? – Julie levantou a sobrancelha.
- Eu
mesmo. Liguei para saber se você está melhor.
- De
verdade? Não.
-
Eu imaginei. Ah, deixa eu tirar uma dúvida... O set do filme em que você está
trabalhando está na rua hoje?
-
Sim, hoje é dia de externa. Por quê?
-
Então eu acertei. Olha para trás. – Me virei, e do outro lado da rua estava
Eric, encostado no carro, balançando uma echarpe verde. Minha echarpe
verde.
-
Estou indo até aí. – Desligamos o telefone e eu pude sentir os olhares de
Isabella, Julie, Keegan, Ian, Troian, Vanessa e Josh nas minhas costas enquanto
atravessava a rua.
-
Você esqueceu lá em casa. – Ele disse me entregando a echarpe quando eu me
aproximei.
-
Obrigada. Eu nem me lembrava que estava usando isso.
-
Hum... Aquelas ali são Julie e Isabella? – Ele apontou para as meninas no set.
-
Sim.
-
Elas parecem diferentes de longe... – Ele acenou e elas corresponderam.
-
Quer ir até lá falar com elas?
-
Você acha uma boa ideia? Josh está ali, não está?
- Não
devo mais satisfações a ele. Vamos. – Usei um tom que impedia discussões.
Quando chegamos, Isabella e Julie tinham quase colocado uma placa na testa:
“Você está louca?”, mas disfarçaram e cumprimentaram Eric normalmente.
-
Eric, quanto tempo! – Julie disse.
-
Acho que da última vez que nós nos vimos ainda estávamos na faculdade –
Isabella disse e eu sei que ela quis dizer que da última vez que elas viram
Eric, nós ainda namorávamos.
-
Vocês não vão apresentar o amigo de vocês? – Keegan perguntou. Josh estava com
uma máscara de ferro na expressão.
-
Hum, gente, esse é o Eric, um amigo nosso do Brasil. Nós dois fizemos faculdade
na mesma época e no mesmo lugar. Eric, esses são Keegan, Ian, Troian, Vanessa e
Josh. – Josh parecia cada vez mais irritado. Sem motivo nenhum, diga-se de
passagem. Afinal, foi ele quem disse “eu não quero mais ficar com você”.
-
Bem, Ann, eu só passei para te devolver a echarpe e falar com as meninas. Estou
atrasado, preciso ir.
-
Tudo bem.
-
Isabella, Julie, foi um prazer rever vocês. – Ele disse, dando beijinhos e
abraços nelas duas. Desculpa se nós somos brasileiros e, para nós, isso é
normal. – Vamos marcar alguma coisa para por a conversa em dia. - Ele se
aproximou delas duas e de Keegan e Ian. – Tragam seus namorados. – Elas riram.
-
Vamos marcar sim, Eric.
-
Bem, tchau, pessoal. Depois eu te ligo, Anne. Tchau. – Ele me deu dois
beijinhos e um abraço, da mesma forma que tinha feito com as meninas e foi
embora.
- Seu
amigo é muito bonito, Anne. – Vanessa disse.
- Eu
sei. – Respondi e saí dali.
As
gravações daquele dia seriam só até a hora do almoço. Eu tentei assistir como
sempre fazia, mas era visível que a minha presença ali estava atrapalhando
Josh, ele estava errando a mesma cena várias vezes, e sempre no momento em que
passava os olhos na minha direção. Eu também não estava nem um pouco
confortável, então saí de perto e depois disso, o tempo passou até mais rápido.
Almocei com Julie e Isabella no meu quarto do hotel e depois elas ficaram ali
comigo pelo resto da tarde. Eu sabia que era uma tentativa de me animar, mas eu
também sabia que ficaria triste no momento em que elas saíssem dali. E assim
foi.
-
Alô. – Atendi ao telefone sem ver quem era, mais uma vez.
- Ann?
Tudo bem?
- Ah,
oi Eric. Não, não está tudo bem. – Eu ri.
- Você
já jantou? – Era a segunda vez que ele me perguntava isso em dois dias.
-
Não.
- Quer
comer alguma coisa? Eu posso passar no seu hotel. – Por que não? Pelo menos
era uma companhia.
-
Tudo bem. Estou hospedada no Plaza.
- Vou
comprar alguma coisa para comer e devo chegar aí em uns trinta minutos.
- Ok,
estou no quarto 305.
- Até
daqui a pouco.
Desliguei
o telefone e fiquei exatamente no mesmo lugar. Eu não tinha vontade de me
arrumar para nada, e Eric já estava mais que acostumado a me ver desarrumada. Além
do mais eu estava com uma preguiça gigante e um frio que eu não sabia de onde
estava vindo já que o aquecedor estava ligado. Ele não demorou a chegar, eu nem
tinha assistido a um episódio de The OC inteiro e me ligaram da recepção
avisando que o “Sr. Bragança” estava lá em baixo e precisava de autorização
para subir. Autorizei a entrada dele e continuei no mesmo lugar.
-
Está aberta! – Eu gritei da cama quando ele bateu à porta.
-
Nossa... Da última vez que eu te vi assim, você tinha 18 anos, nós estávamos no
início da faculdade e você tinha acabado de descobrir que o cara que você
gostava tinha namorado. – Ele brincou.
-
Toda menina já se apaixonou por um gay na vida, Eric.
- Nem toda, Anne. Você é que tem dedo podre. – Ele disse,
deixando um pacote com alguma coisa comestível na mesa e vindo na minha direção.
- Você esqueceu que é meu ex-namorado, é?
- Nunca esqueceria. - Ele me deu um beijo na testa. – Anne, você está quente.
- Você esqueceu que é meu ex-namorado, é?
- Nunca esqueceria. - Ele me deu um beijo na testa. – Anne, você está quente.
- Hã?
- Você está com frio?
- Um pouco.
- Isso é febre. Tem algum anti térmico aí?
- Na bolsinha roxa de remédios, ali em cima. – Apontei para
a estante. Ele pegou o comprimido e eu tomei.
- Você estava se sentindo mal antes?
- As meninas vieram almoçar comigo e ficaram a tarde inteira
aqui. Mas depois que elas foram embora eu fiquei indisposta...
- Anne, pelo amor de Deus, o que está acontecendo com você?
Você é a pessoa mais forte que eu conheci até hoje – Hã? – e agora fica com
febre emocional? – Ele é médico agora, é?
- Febre emocional, hã?
- Você está se sentindo melhor agora?
- Um pouco.
- Viu? Ainda não deu tempo do anti térmico fazer efeito.
Você melhorou porque não está mais sozinha.
- Convencido.
- É sério, Anne. – Eu sabia que era sério. Realmente me
senti melhor depois que ele chegou. Agora eu tinha o que, medo de ficar sozinha
a ponto de ficar com febre? Eu não fiquei assim nem com o término do namoro com
o Renan, e eu tinha 17 anos.
Eric tinha passado no Mc Donalds. Ele pegou nossos
sanduíches, trouxe para a cama e se sentou ao meu lado, eu ainda estava coberta
até o pescoço. Comemos assistindo The OC – yey – e eu só lembro de acordar
no dia seguinte com meu celular despertando com “It’s a quarter after one, I’m all alone and I need you now”.
Precisava trocar aquela música urgentemente. Tinha um bilhete de Eric na mesa
de cabeceira. “Você adormeceu assistindo
a maratona de The OC, e antes da Marisa ter uma overdose de analgésicos e
álcool. Não se preocupe, o Ryan a achou num beco. Se a doente precisar de
alguma coisa, liga para mim, ok? Isso vale para ela e para você. Até mais,
Anne. Eric.”. Eu dormi ao lado dele outra vez? Droga, isso já estava ficando
chato. Quem vivia para dormir eram Isabella e Julie, não eu.
Levantei da cama e me arrumei. Decidi que não ia mais ficar
doente por causa de um cara que não me quis. Ok, não era qualquer cara, e eu
tinha certeza absoluta de que ainda o amava, mas uma hora eu vou ter que
superar esse término, e vai começar agora.
No set, mergulhei com todas as minhas forças na edição dos
vídeos de making of de LA. Fiquei longe das gravações o dia todo e nas poucas
vezes que passei por lá, eu e Josh mal nos olhamos. Eu não queria pensar em
como ia ser o livechat de amanhã...
Voltei para o hotel mais tarde que no dia anterior. Coloquei
uma música animada para tocar e tomei um banho. Em dias normais eu dançaria no
ritmo da música, mas isso ia ser demais para a minha tentativa de animação.
Quando voltei para o quarto, meu celular tinha chamadas não
atendidas de Isabella, Julie e Eric. Achei estranho, mas não sabia para quem
ligar primeiro. Decidi esperar para ver quem seria o próximo a ligar. Desliguei
o rádio e liguei a TV enquanto penteava os cabelos, e estava distraída até que
ouvi um nome conhecido vindo dela: Josh Hutcherson. Agucei os ouvidos.
- “O ator Josh
Hutcherson foi visto hoje de manhã indo de carro ao set de seu novo filme, In
New York’s Streets, com a sua colega de elenco e ex-namorada, Vanessa Hudgens.
Os dois trocaram um beijo antes de saírem do carro. Aparentemente, eles estão
juntos outra vez.” – Desliguei a TV. Sentei na cama. E fiquei.
Meu telefone tocou, mas eu não me levantei nem para ver quem
era. Ele terminou comigo. Há três dias. E ficou com outra. Com ela. Justo ela.
Podia ser qualquer pessoa, mas foi a Vanessa. Naquele momento, o meu esforço de
um dia todo para ficar bem foi à baixo junto com as lágrimas que eu não impedi
que caíssem. Como eu pude ser tão ingênua, meu Deus?
Troquei a playlist do rádio, agarrei um travesseiro e
chorei. Pateticamente. Desesperadamente. Como se eu tivesse 15 anos, ouvindo
músicas tristes e chorando na cama.
“If only I could be on that bed again, if
only it was me instead of him (…) It should have been me inside that car, it
should have been me instead of him in the dark. Does he watch your favorite
movies? Does he hold you when you cry? Does he let you tell him all your
favorite parts when you’ve seen it a million times? Does he sings to all your
music while you dance to Purple Rain? Does he do all these things like I used
to?(…) Will he love you like I loved you? Will he tell you everyday? Will he
make you feel like you’re invincible with every word he’ll say? Can you promise
me if this is right, don’t throw it all away? Can you do all these things, will
you do all these things like we used to?”
O discurso de Like We
Used To era masculino, mas se eu trocasse o pronome, ela diria exatamente o
que eu estava sentido naquele momento. Eu já estava a ouvindo pelo que pareceu
ser uma eternidade quando senti alguém me abraçando na cama pelas costas e vi
Julie na minha frente. Ela e Isabella desistiram de ligar e foram até o hotel.
Não sei como, mas elas conseguiram entrar no quarto sem falar comigo. Elas
provavelmente acionaram a segurança do hotel e disseram que eu estava morrendo,
mas eu não me importava. Eu precisava delas duas e elas estavam ali, como
sempre estiveram.
Elas simplesmente ficaram ao meu lado, sem dizer nada, até
que eu me acalmasse. Em um determinado momento, meu celular tocou outra vez, e
Isabella atendeu. Era Eric. Ela disse que eu estava bem e que ligaria para ele
no dia seguinte. Elas passaram a noite comigo e, no dia seguinte, fomos cedo
para o set. O livechat era às dez da manhã.
Josh e Vanessa foram os últimos a chegar e entraram de mãos
dadas no trailer de maquiagem. Assim que eles entraram, o assunto acabou e
todos ficaram num silêncio sepulcral. Uma lágrima escorreu pela minha bochecha
quando me sentei na cadeira de maquiagem de Beatrice, e ela a enxugou sem falar
nada. Quando ela acabou, não esperei por ninguém, fui para a locação onde seria
gravado o livechat e fiquei lendo o programa que Lindsey já havia nos
entregado.
Como no livechat anterior, Josh se sentou ao meu lado. Só
que dessa vez ele ficou calado, mal olhava para o meu lado. Melhor assim.
Passeii o livechat inteiro lembrando que eu era uma
profissional. Foi horrível falar com ele depois de tudo o que aconteceu, mas,
pior ainda, foram as perguntas do final, as do twitter. Quer dizer, a última
delas.
- Então, Josh, Vanessa, a @VHutcherson quer saber se vocês
estão namorando... – Julie perguntou e depois olhou para mim, como quem pedia
desculpas.
- Sim, nós estamos. – Vanessa respondeu enquanto eles dois
se olhavam e davam as mãos.
- Há quanto tempo? – Isabella perguntou, e aquilo não veio
do twitter. Ela e Julie queriam estrangular o Josh.
- Há um mês. – Um mês. Se isso fosse verdade, ele já estava
com ela quando eu achei que estava grávida... As coisas só ficavam piores para
mim.
- E vocês estão felizes? – Meu senso de humor ácido entrou
em ação.
- Muito. – Vanessa respondeu. Logo depois, terminamos o
livechat. Eu estava me levantando para sair dali o mais rápido o possível, mas
Vanessa segurou o meu braço e se aproximou do meu ouvido. – Eu disse que ia
ficar com ele outra vez. E que você ia perguntar se nós estávamos felizes.
- Chega, Vanessa. – Ele falou.
- Vocês se merecem. – Disse olhando para ele. – Agora me
larga. Vai ficar com o seu namoradinho.
Ela soltou o meu braço e eu senti todos os olhares nas
minhas costas mais uma vez. Todos ali sabiam de mim e de Josh. Todos perceberam
o ótimo clima que ficou depois que a
entrevista acabou.
Como se tivesse sido colocado ali num passe de mágica, Eric
apareceu atrás das câmeras. Ele estava com um crachá de visitante, deve ter
assistido a pelo menos metade do livechat. Quando percebeu que eu o havia
visto, ele veio na minha direção e me deu um abraço. Fiz um esforço gigante para
não chorar ali.
- Me tira daqui, por favor. – Eu disse.
- Vamos.
Like We Used to, A Rocket to the Moon
Quem, Além de Você, Leoni
34 - All the symptoms of a girl with a broken heart
Eu saí correndo pelo corredor até as escadas do prédio. O
salto alto não ajudou na minha corrida, mas eu não ia parar e andar agora. As
lágrimas ajudaram ainda menos.
Ele terminou comigo. Depois de tudo o que nós passamos. Como
eu pude acreditar que ele era diferente? E eu... Eu amo aquele homem. Ou o
homem que eu achei que ele fosse. Eu estava apaixonada, e acabei de receber uma
facada nas costas. Chorar era a única coisa que eu podia fazer agora.
Cheguei à portaria e percebi que eu não tinha rumo, não tinha
nenhum lugar em mente para ir. Comecei a andar, mesmo assim. Quando percebi,
estava chegando ao Central Park. Nunca tinha ido ali à noite, nem sozinha, mas
estava transtornada demais para voltar ou pedir informações. Do jeito que eu
estava, provavelmente, me levariam para um hospital. Sentei num banquinho
qualquer e tudo o que eu consegui fazer foi chorar mais baixo do que antes.
Lembrei de todos os momentos dos últimos três meses. O
pedido de namoro. O anel de âncora, que eu tirei do dedo pela primeira vez
agora e coloquei dentro da bolsa. Todas as músicas, os sorrisos, as flores, tudo
foi mentira. Eu me entreguei a ele como só tinha me entregado a uma pessoa a
vida toda... E ele fez isso. A maior vontade que eu tenho agora é de voltar no
dia 18 de abril e ser uma péssima entrevistadora. Fazer perguntas clichês e não
esperar pelas respostas. Ele não se interessaria por mim, não me reconheceria
no brunch e hoje, nós seríamos só colegas de trabalho. Mas voltar no tempo é
impossível. Eu tenho que seguir em frente, eu sei. Mas não hoje. Hoje eu só vou
me perguntar o que poderia ter sido.
- Você está bem? – Alguém me perguntou em inglês, mas eu
tive a impressão de que conhecia aquela voz.
- Sim, eu estou b... – Parei de falar quando levantei a
cabeça para ver quem tinha falado comigo. Não podia ser. Era coincidência
demais.
- Anne? – Ele pareceu estar tão espantado quanto eu.
- Eric... – Eu não conseguia formular uma frase completa.
- Anne, você está bem? O que aconteceu? O que você está
fazendo aqui, não mora em
Los Angeles ? Meu Deus, não acredito que te encontrei! – Eu
ainda estava tentando processar os acontecimentos recentes. Eu não tinha mais
namorado. Josh me enganou. Eric apareceu. E estava na minha frente esperando
por uma resposta.
- Eu estou bem, Eric, não se preocupe.
- Não sei se você mudou em dois anos, mas você não costumava
chorar em lugares públicos... – Ele disse enquanto se sentava ao meu lado. – O
que houve?
- Longa história. Que eu não sei se você vai querer ouvir...
- Algum namorado idiota te deixou assim?
- Está tão na cara?
- Eric, você vem conosco? – Um amigo dele disse a uns dez
metros do banco onde nós estávamos.
- Não, vocês podem ir. Ela é... – Ele olhou para mim. – uma
velha amiga. Do Brasil. Vejo vocês amanhã!
- Eric, não, vai com eles, eu vou ficar bem.
- Pelo visto você continua teimosa, né? – Eu tive que rir,
mesmo com o rosto molhado de lágrimas.
- Tem coisas que não mudam.
- Vamos sair daqui, está congelando. Você já jantou?
- Não... Mas eu não acho que vou conseguir comer alguma
coisa agora...
- Nem brigadeiro?
- Brigadeiro? Aqui? Isso vai soar patético, mas eu acho que
mataria por um prato brigadeiro agora. – Isso Anne, você já está no fundo do
poço, se balança agora para se sujar mais na lama.
- Se eu te disser que achei uma loja de artigos brasileiros
semana passada e que a minha despensa está cheia de latas de leite condensado e
chocolate em pó você me poupa do seu banho de sangue? – Ficou claro que ele não
tinha esquecido de mim. E que ele ainda era capaz de quase tudo para me
agradar.
- Só se você tiver alguma coisa mais forte que chocolate
quente para beber.
- Agora você bebe assim, fora de eventos importantes? – Ele
pareceu espantado.
- Pois é, algumas
coisas mudam.
- Você acha mesmo que não tem nada mais forte na minha
casa? - Ele brincou.
- Viu, isso não mudou! – Ele riu e eu me espantei de ter
feito uma piadinha, mesmo que sem graça.
- Vamos? – Eu não sei onde eu estava com a cabeça de aceitar
ir para a casa do Eric assim. Mas ele ainda era meu ex-namorado. De todos, o
único que não tinha me magoado no final. Achei que ele merecia um voto de
confiança.
- Sim. Onde você mora?
- Num prédio do Upper East. Dá para ir andando... – Nós
começamos a caminhar.
- Não acredito. Eu moro... estou num apartamento no Upper
West.
- Então só o Central Park nos separava... Há quanto tempo
você está aqui em Nova
Iorque ?
- Há quase um mês...
- Trabalhando?
- Sim. O filme que eu estou cobrindo com a Isa e a Ju veio
filmar aqui... – Falei. Eric não sabia muita coisa sobre o meu trabalho.
- Isabella e Julie estão aqui com você? Elas também saíram
do Brasil? – Parecia que eu tinha muita coisa para contar a ele.
- Nós dividimos um apartamento em Los Angeles. Aqui
em Nova Iorque
também, mas esse pedaço da história é mais complicado.
- Tem a ver com o cara que te deixou chorando no meio do
Central Park?
- Culpada.
- Qual é o nome dele? – Ele, com certeza ia lembrar.
- Josh... – Ele olhou para mim com a sobrancelha levantada.
- Você arrumou um namorado com o mesmo nome do Josh
Hutcherson? – Ops.
- Hum... Ele não tem só o mesmo nome do Josh Hutcherson... –
Ele pensou e ligou uma coisa à outra.
- Peraí. O seu namorado é o Josh Hutcherson? Anne... Como...
Hã?
- Ex-namorado. – Eu o corrigi, mas nem eu mesma tinha me
convencido daquilo. – Eu te disse, longa história.
- Você conseguiu conhecer o tal do Josh... E ainda namorou
com ele! Essa história vai ser longuíssima. – Eric tinha ciúmes de Josh quando
nós namorávamos. Na época em que eu nem sonhava que ia namorar com ele.
- E eu só vou contar depois da terceira taça de vinho.
- Definitivamente, você mudou muito.
- Você não tem noção de quanto. Mas, fala de você...
Desistiu da Itália e veio para Nova Iorque.?
- Conheci muita gente na Itália, fiz muitas amizades.
Algumas que não duraram nem uma semana... Mas outras mais duradouras. Um amigo
desses é o Giovanni. Ele é dono de uma rede de academias. Abriu uma aqui em Nova Iorque e eu vim
administrar.
- Então você vai morar aqui de vez?
- Vou. E você, vai voltar para LA?
- As gravações aqui acabam em um mês... E nós voltamos para
LA para o fim das gravações e finalização do filme.
- Ah... – Ele pareceu desapontado. – Nós chegamos. – Ele
disse quando nós paramos na portaria de um prédio parecido com o de Ian no Upper
East. – Vamos subir?
- Vamos.
- Ah, Anne... Você se importa se eu falar em português com
você?
- Não! Às vezes é bom saber que eu ainda sei falar
português.
- Você sente falta de casa?
- Todos os dias. Mas já me acostumei com a vida americana.
Tudo bem que Nova Iorque é quase outro mundo de tão diferente de Los Angeles,
mas... Você sabe, isso aqui sempre foi o meu sonho.
- Sei sim... – Entramos no elevador e ele apertou o 10.
- Décimo andar, Eric? – Ele tinha medo de altura.
- Eu respiro fundo toda vez que entro no elevador. E nunca,
em ocasião alguma, eu fico mais de vinte segundos na janela. – Eu ri, outra
vez.
- Mas a vista lá de cima deve ser linda...
- É sim... Mas eu sou daqueles que apreciam com moderação.
- Moderação forçada.
- Detalhes... – Saímos do elevador, e como no prédio de Ian,
só havia um pequeno hall e duas portas no corredor. Quando entrei, confirmei a
suspeita de que o apartamento era o andar inteiro. Era gigante. E eu podia jurar que aquilo não tinha sido
decorado por Eric, quando nós estávamos pensando em ca... Lembranças
impróprias.
- Wow. Eric, seu apartamento é lindo.
- Obrigado. A decoradora fez um bom trabalho. – Eu sabia que
não tinha sido ele. – Hum, vamos logo fazer esse brigadeiro? Ainda não comi
desde que comprei o leite condensado.
- Você já sabe cozinhar, Eric?
- Brigadeiro eu sei. Não pergunta do resto. – Assenti. –
Vamos, a cozinha é por aqui. – E que cozinha... Cabiam três da nossa de LA
dentro dessa.
Ele fez o brigadeiro. Me surpreendi porque ele sabia fazer de verdade. Pegamos
vinho, taças e fomos para a sala enquanto o brigadeiro esfriava. Depois de anos
sem comer um desses, achamos melhor não arriscar a comer quente. Continuamos
conversando, colocando os assuntos em dia. Dois anos sem nenhum contato para pessoas
que eram tão próximas quanto nós dois significavam muita história para contar.
Mas ele não esqueceu do motivo do nosso encontro.
- Pronto, agora você já tomou a terceira taça de vinho. Pode
falar o que aconteceu com o Josh. Eu ainda te conheço, você deve estar morrendo
para desabafar. E nenhum dos sorrisos que você deu desde a hora em que nos
encontramos foi inteiro. Você está triste. – Respirei fundo.
- Antes, eu preciso saber de uma coisa... Você foi à
Broadway no fim do mês passado?
- Fui. Dia 21.
- Assistiu The Little Mermaid?
- Hum... – Ele relutou em admitir. – Assisti. Uma
ex-namorada minha me fez gostar dessa história... – Eu. – Como você sabe que eu
estava lá?
- Eu te vi. Josh me levou para assistir a montagem da
Broadway de surpresa e no final, você passou na nossa frente, com o programa da
peça na mão.
- Por que você não falou comigo?
- Ah, claro, ia ser lindo chegar pro Josh e falar: “Olha,
esse aqui é o meu ex-namorado brasileiro, aquele que só terminou comigo porque
mudou de país. Aquele com quem eu provavelmente estaria namorando até hoje se
nós dois ainda morássemos no Brasil”. – Merda. Vinho falando.
- Você nunca foi muito forte com bebida, né? Acho melhor
você parar com esse vinho... – Ele tentou tirar a taça da minha mão, mas eu não
deixei.
- Eu só vou conseguir falar sobre o que aconteceu comigo
assim. De qualquer forma, você já me viu pior do que isso.
- Você só vai ficar bem depois de falar.
- Hum, eu não vou ficar bem nem depois de falar, Eric.
- Então começa. – Contei tudo. Desde a entrevista até a
briga de hoje cedo, passando por Vanessa e os nossos jantares de aniversário de
namoro arruinados. Tomei só mais uma taça de vinho enquanto falava, mas parei
por ali, se bebesse mais eu não ia conseguir lembrar o endereço de volta para
casa. – Que canalha. Ele te enganou, você não merecia isso.
- Eu me apaixonei, Eric. Esse foi o problema... É tão
estranho falar disso com você. – Eu ri.
- Não tem problema algum. Antes de ser seu namorado, eu era
seu amigo. E ainda sou.
- Obrigada. – Eu
estava exausta. Chorar cansava. Eric fez de tudo para me distrair, nós
conversamos por horas depois que eu contei do Josh. Falei do Ben e das
histórias engraçadas de Julie, eu e Isabella nas primeiras semanas em LA. Ele tinha pagado quase
a mesma quantidade de micos em
Milão. Ele falou da única namorada italiana que ele teve e
pelo o que ele descreveu, não pude não reparar em como ela era parecida
comigo.
- Anne, sabe do que eu lembrei?
- Do que? – Eu já estava com sono...
- Do brigadeiro!
- Nossa, eu não estou bem mesmo, Esquecer do brigadeiro...
- Vou na cozinha pegar.
- Ok. – Encostei a cabeça numa almofada e quando abri os
olhos, a claridade da janela já me incomodava. Demorei a reconhecer o lugar
onde estava, mas quando olhei para a decoração branca e preta, me lembrei. A
sala da Eric. Eu estava sem os sapatos, com um travesseiro embaixo do pescoço e
um cobertor. Tentei me levantar, mas a dor de cabeça me fez voltar para o
travesseiro. Ressaca. Peguei a minha bolsa para olhar as horas no celular. Eram
quase nove da manhã. Mas o que me chamou a atenção foram as 37 chamadas não
atendidas. Várias de Julie, Isabella, Keegan, Ian e uma de Josh. Por que raios
ele me ligou, hein? Agora ficou preocupado?
- Bom dia, Sleeping
Beauty. – Eric falou com uma caneca gigante de café na mão.
- Bom dia, Eric. Ai, desculpa. Eu adormeci aqui, né? – Eu
disse enquanto levantava devagar e pegava o café.
- Não, Anne, você capotou. Eu fui buscar o brigadeiro e
quando voltei, você estava dormindo. Achei melhor não te acordar, você estava
exausta.
- Desculpa, eu não queria te dar trabalho.
- Você deu muito trabalho dormindo aí, é claro.
- Quanto eu bebi? Estou morrendo de dor de cabeça.
- Quase a garrafa inteira.
- Meu Deus. – Meu celular vibrou ao meu lado no sofá. Era
Isabella. – É a Isa. Ela e Julie devem estar pirando... Tenho que atender. –
Ele assentiu.
- Oi, Isa.
- ANNE! Graças a Deus!
Onde você está, hein? O que aconteceu? Josh saiu daqui logo depois de você, não
explicou nada, nós passamos a noite tentando falar com vocês dois!
- Isa, por favor, fala baixo, estou de ressaca.
- Você bebeu? Anne,
você bebeu e está sozinha na rua? ONDE VOCÊ ESTÁ? A gente vai te buscar!
- Isa, baixo. Eu não estou na rua. Passei a noite na casa de
um... na casa do Eric.
- Eric? Que Eric? – Dei
um tempo para ela ligar o nome à pessoa. – Meu
Deus, você achou o Eric? Como assim, Anne? E o Josh? Vocês brigaram, né?
- Longa história, Isabella. O apartamento do Eric é no Upper
East, eu vou pegar um táxi e vou para casa daqui a pouco. Não vou trabalhar
hoje. Quando eu chegar, explico tudo a vocês.
- Mas você está bem,
né?
- Fisicamente, sim, pode ficar despreocupada. Daqui a pouco
eu chego.
- Ok, Ann. Eu e Julie
estamos te esperando.
- Eric, obrigada por ter me deixado passar a noite aqui, mas
eu preciso ir para casa agora.
- Ok, vamos descer, eu te levo.
- Não, Eric, eu pego um táxi. – Eu conhecia aquela
expressão. Não ia conseguir discutir...
- Você vai mesmo tentar discutir?
- Tenho chances de vitória?
- Você sabe que não.
Fiz todos os esforços
possíveis para não pensar em Josh no caminho para casa. Eu e Eric fomos
conversando normalmente, e eu até que me saí bem.
- É aqui. – Disse quando ele passou na frente do prédio de
Ian.
- Anne... Seria muito estranho se eu pedisse seu número de
celular americano?
- Só se você não me desse o seu. – Trocamos os números de
celular.
- Não vamos perder o contato outra vez, ok?
- Ok. Eu... Eu tenho que subir. Obrigada, outra vez. – Um
abraço desconfortável.
- Posso ligar para saber de você mais tarde?
- Pode.
- Tchau Anne.
- Tchau Eric.
Assim que entrei no apartamento, Isabella e Julie saíram
correndo e pularam no meu pescoço.
- Anne, graças à Deus, você matou a gente de preocupação! –
Julie disse.
- Desculpa, não foi a minha intenção... Mas ontem eu não
estava pensando muito bem.
- O que aconteceu com você e o Josh? – Lembrar daquela
história toda ali, onde tudo aconteceu e sem a ajuda do álcool foi arrebatador
para mim. Não respondi.
- Anne, pelo amor de Deus, o que houve? – Isabella
perguntou.
- Ele terminou comigo.
- É O QUE?
- Como assim, meu Deus?
- Eu explico a vocês lá em cima. – Nós subimos e quando
chegamos ao quarto, tudo ainda estava quase do mesmo jeito de antes. Meu
notebook estava no mesmo lugar onde eu havia deixado na cama no dia anterior
quando ele chegou.
Eu já sabia o que ia fazer. Enquanto explicava tudo o que
tinha acontecido às meninas, peguei a minha maior mala no canto do quarto onde
eu e Josh havíamos deixado as malas vazias... A mochila dele não estava ali.
Abri a minha mala em cima da cama.
- Anne, o que você vai fazer? – Julie perguntou, me
interrompendo.
- Vou para um hotel. Não posso ficar aqui com ele. – Eu abri
o armário e parei quando percebi que metade das roupas dele não estava mais nos
cabides. – Parece que ele foi mais rápido. – Aquilo foi a gota d’água. Eu não
precisava mais me controlar para não pensar no que havia acontecido. Não
precisava fingir força. Não ali. Não com elas. Me ajoelhei no chão e comecei a
chorar. Isabella e Julie me abraçaram no mesmo momento e eu chorei mais ainda.
Elas não falaram nada até que eu me acalmasse. – Ele me enganou. Eu podia
esperar isso que qualquer um, menos dele. – Elas me deixaram falar, do mesmo
jeito que Eric fez na noite anterior. – E sabe o que é pior? Eu o amo. Mas
parece que o amor dele não era tão verdadeiro quanto parecia.
Enxuguei as lágrimas e me levantei. Peguei todas as roupas
dos meus cabides de uma vez só e joguei dentro da mala.
- Anne, não vai... Fica aqui com a gente! – Julie pediu.
- Eu não posso ficar sozinha nesse quarto. Não com todas as
lembranças que ele traz pra mim... A gente vai se ver todos os dias no set. E
eu vou falar com vocês por telefone. Mas não dá mais para ficar aqui com ele...
E menos ainda sem ele. – Antes de continuar a arrumar as minhas malas, lembrei
de uma coisa. Peguei a minha bolsa e tirei de dentro dela o anel que ele me deu
quando nós começamos a namorar. Coloquei em cima do livro que ele estava lendo,
na mesinha de cabeceira, ele ia ter que voltar para buscar em algum momento.
Acabou.
Música do capítulo de hoje:
Cry, Rihanna:
Pessoas lindas do meu coração, tive uns probleminhas
pessoais esses dias e não postei antes. Mil desculpas.
Mas agora vou voltar ao ritmo normal, ok? hehe
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