38 - I won't give in, I can't give up on this love

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COM

SEIS MESES DEPOIS

- Pensa no que eu te falei. – Eric disse enquanto nos despedíamos no aeroporto de Los Angeles. Ele ficou duas semanas aqui em LA, veio visitar como havíamos combinado ainda em NY. – A gente dá um jeito na distância de LA pra NY, o que não pode é você ficar sozinha quando tem alguém querendo ficar do seu lado. A gente já fez dar certo uma vez, pode fazer de novo. – Eu abri a boca para responder, mas ele me impediu. – Sim, eu sei que você ainda gosta dele e que ele terminou com você por causa da ameaça da Vanessa, eu sei. Mas agora não tem mais filme e eles ainda estão juntos.
- Eu sei. Deixa essa premiere passar e todos os meus vínculos com INYS acabarem de vez e a gente vê o que faz, ok? – Anunciaram o vôo dele. Ele me deu um abraço e eu não sabia o motivo, mas não queria que ele fosse embora. Ele me reconfortava, me lembrava do Brasil e depois das meninas era a pessoa que me conhecia a mais tempo naquele país.
- Tchau Ann. A gente se fala.
- Tchau Eric. Me liga quando chegar em NY pra avisar se chegou bem, ok?
- Tudo bem, mãe. – Ele brincou e foi em direção ao portão de embarque. Antes de sumir do meu campo de visão, ele olhou para trás e acenou. Respondi o aceno e fui em direção ao estacionamento pensando no que ele havia me dito.

Ele tinha razão, eu sabia. Josh e Vanessa ainda estavam namorando. Há seis meses eu sabia que eles haviam começado o namoro por causa de uma ameaça dela, mas eu os vi juntos, sem fingir. Ele parecia feliz, achei melhor não atrapalhar. Eric era uma boa opção para mim, era certo. Minha família gostava dele, minhas amigas gostavam dele. O único problema era que eu ainda não gostava do mesmo jeito de antes. Mas ele estava disposto a fazer com que eu voltasse a gostar, e o simples fato de que ele ia fazer isso sabendo que gostava de outro cara era incrível.

Cheguei em casa e como as meninas não estavam, fui para o computador. Abri o facebook, vi os comentários dos amigos brasileiros nas fotos de quando Eric estava por aqui. Muitos deles acharam que nós tínhamos voltado. Facebook sempre dando a impressão errada das coisas. Abri minha caixa de entrada do e-mail e tinha um do Logan. Nós quase não nos falamos nessas duas semanas em que Eric esteve aqui, eu praticamente não parei em casa. “Seu amigo já foi embora? Agora você vai ter tempo para mim? Kkkkk, brincadeira. Ele fez boa viagem de volta para NY? Estou no Kentucky visitando a família distante, você ia gostar disso aqui. Beijo, Logan”. Logan vivia viajando de um lado para o outro dos EUA. Acho que nós ainda não nos conhecemos porque ele não sossegou em LA desde que eu voltei. Respondi o e-mail dele e acabei adormecendo perto do computador, pensando no que Eric havia me dito. Minha sina era me afogar em pensamentos, só pode.

UM MÊS DEPOIS

Depois que descobriram a verdade, Keegan e Ian se reaproximaram de Josh. Isabella e Julie também, mas eu era a única que preferia continuar afastada. Nós já conseguíamos ficar no mesmo ambiente, mas nunca falávamos mais que o extremamente necessário. Eles não contaram a ele que eu sabia da verdade sobre ele e Vanessa e eu achei melhor assim. Mas essas não foram as únicas coisas que mudaram nesses sete meses.

Para começar, meus cabelos agora são castanhos escuros, mas com várias mechas em outros tons de castanho e loiro escuro. Isabella, nossa loira do Tchan, agora é ruiva. Julie, que tinha a cor dos cabelos parecidos com os meus, mas era branquinha, ficou loira. Foi nossa loucura de 31 de dezembro, a gente sempre inventava alguma coisa para o Ano Novo. Ano Novo que foi lindo esse ano. Vimos a queima de fogos na praia da Santa Monica pela primeira vez, e foi lindo. Mas nada comparado à praia de Copacabana. Keegan tinha uma casa por ali e nós passamos a primeira semana do ano na praia.

No meu aniversário, em janeiro, Julie, Isabella, Keegan e Ian me colocaram dentro de um avião de surpresa e me levaram à Disney. Quando chegamos ao aeroporto de Orlando, Eric estava nos esperando no desembarque. Tudo bem, eu estava fazendo 25 anos, essa viagem à Disney chegou mais ou menos uns 10 anos atrasada, mas todos nós nunca nos divertimos tanto. A Disney era um lugar mágico, e a magia não diminuía se você tivesse 5, 10 ou 90 anos. Nós passamos cinco dias lá e não conseguimos ver tudo. Eu estava loucamente feliz, mas sentia que faltava alguma coisa ali. Alguém para falar a verdade. Josh me mandou um sms de feliz aniversário no dia 18, mas só isso. Quando chegamos em casa, Dane nos entregou um embrulho imenso e disse que tinha chegado para mim durante a semana. Abri quando cheguei no apartamento, era um Mickey gigante de pelúcia, bem parecido com um que eu não comprei na Disney porque não ia conseguir trazer no avião. Tinha um cartão. “Não é o Mickey da Disney, mas é uma forma de fazer com que eu estivesse presente na comemoração dos seus 25 anos. Feliz aniversário, Ann. Logan”. Até hoje não sei como ele conseguiu meu endereço, e ele não falou, mas o Logan tinha se tornado um bom amigo nos últimos tempos.

No trabalho, as coisas estavam bem mais tranquilas, In New York’s Streets estava em pós produção, então para eu, Julie e Isabella só sobrava o trabalho normal, releases de alguns filmes, algumas entrevistas salpicadas com alguns atores aleatórios, nada de muito grande. Tive tempo de sobra para trabalhar no meu projeto de roteiro que ainda não estava pronto. Isabella e Julie tentaram invadir o meu computador umas três vezes para conseguir ler, mas eu mudava a senha toda semana e não contei nem a sinopse para elas duas. Já disse, aquela história era diferente, era especial. E ela só ia ser divulgada sob uma condição que eu já estava começando a achar impossível. 

- Anne, desgruda desse computador, pelo amor de Deus! A gente vai se atrasar, ficamos de chegar cedo na cada da Beatrice para ajudar a arrumar a festa, esqueceu? – Isabella gritou na porta do meu quarto pela quinta vez. Eu estava escrevendo, e não estava no clima para festas hoje. Ninguém entendia, porque só eu sabia o que estava fazendo nesse dia de abril, no ano anterior. Mas era festa de aniversário da Bea e não ia ser a primeira vez que eu ia disfarçar tristeza no aniversário de uma amiga.
- Estou indo. – Eu disse e estava terminando de escrever o último parágrafo quando Julie ameaçou.
- Anne Christine Borges, se você não sair daí agora eu vou te buscar com uma arma na mão! Toma cuidado, YOLO, não esquece! – Meu Deus. Ela se superou. Usar YOLO como ameaça. #JulieFeelings
- Ok, Ju, eu não quero desperdiçar a minha única vida. – Desliguei o notebook sem terminar mesmo e fui me arrumar. Quer dizer, arrumar a bolsa, já que a gente ia se arrumar para a festa na casa dela depois que a gente arrumasse a festa.
- Vamos embora logo, eu tenho que ficar esperando por vocês duas mesmo? – Brinquei quando saí do quarto com a minha pequena bolsa.
- Anne, Anne, não esquece, você só vive uma vez...
- Mas você me ama demais para me matar, Julie. Vamos logo antes que a gente realmente se atrase.

O trânsito em Los Angeles era sempre um caso a parte, então nós demoramos quase uma hora para chegar na casa dos pais da Beatrice, onde ia ser a festa. A casa era gigante, típica casa americana com dois andares, quintal grande e piscina. Natalie já estava lá, e junto com ela, tinha mais umas dez pessoas arrumando o quintal.

- Ela precisava da gente para arrumar a festa mesmo? – Julie perguntou quando viu que não faltava muito a ser feito.
- Até parece que você não conhece a Beatrice, Julie. – Natalie começou a responder. – Ela é exagerada, não falta muita coisa. E todo mundo que está aí é do buffet que ela mesma contratou.
- Então nós quatro estamos aqui para... – Isabella disse.
- Para acalmar a Beatrice. Ela fica uma pilha em dia de festa, vocês vão ver.

Dito e feito. Beatrice não parava de andar de um lado para o outro, parecia uma barata tonta. Toda hora o telefone tocava ou alguém perguntava a ela onde colocaria tal coisa. Quando ela estava a ponto de chorar de nervoso, Isabella se manifestou.

- Chega, já está quase na hora da festa, vamos nos arrumar.
- Em que quarto a gente pode fazer isso, Bea? – Perguntei.
- No quarto de hóspedes, o meu quarto está cheio de várias coisas da casa que a gente tirou do alcance de pessoas que podem ficar alteradas depois de algumas bebidas. – Eu ri.
- Vamos subir, então. – Julie disse.

- Ah! Vocês só não podem bater a porta desse quarto, pelo amor de Deus! – Beatrice falou assim que nós entramos.
- Por quê?
- Porque a maçaneta está com problema e o chaveiro não veio consertar. Ou seja, quem quer que bata a porta desse quarto vai ficar preso aqui, porque quando a porta emperra, só dá pra abrir com a chave pelo lado de fora. E a chave vai ficar comigo essa noite, por precaução. – Vou me manter longe dessa porta, só por precaução.

Depois das explicações sobre a porta que emperra, uu fui a primeira a tomar banho. De repente eu ia conseguir sair de lá um pouquinho mais animada, já que provavelmente até os rapazes do buffet perceberam que o meu humor hoje passava longe de todas aquelas bolas de gás, luzes e flores da decoração.

- Meu Deus. Quem é você e para onde levou a Anne que a gente conhece? – Beatrice perguntou quando eu saí do banheiro.
- Hã?
- Anne, você está se arrumando para uma festa, não para ser babá de uma criança num domingo no parque. – Natalie disse. Continuei parada, sem saber exatamente sobre o que elas estavam falando.
- Pelo amor de Deus, Anne! Calça jeans, camiseta e sapatilha? Qual o pedaço do “festa de adultos” você não entendeu? – Olhei para a minha roupa e realmente não vi nada de errado nela.
- Eu sabia! Ainda bem que eu e Isabella viemos com peças a mais na bolsa para você.
- Eu não vou trocar de roupa.
- Ah, você vai, baby. Nós somos quatro e você não vai sair desse quarto vestindo esse cosplay de babá adolescente! – Isabella disse enquanto mexia na bolsa procurando alguma coisa para eu usar.

Elas me fizeram trocar de roupa umas cinco vezes, mas acabou que eu gostei da roupa do final. No fim das contas, eu estava de short, salto alto e com uma super maquiagem. As meninas também estavam bem arrumadas, mas Beatrice com certeza ia ser o centro das atenções a noite toda, não só por ser a aniversariante, mas porque estava deslumbrante.

- Está na hora, meninas. Vamos descer. – Quando chegamos ao primeiro andar, alguns convidados já estavam lá e já tinha uma música contida tocando.
- Ah, eu quase esqueci! O karaokê está no carro, se você quiser a gente coloca aí, Bea. – Isabella disse.
- É claro que eu quero!
- Ann, vamos lá comigo buscar?
- Vamos. – Eu achei estranho, ela não ia precisar de ajuda para pegar o karaokê. Mas, enfim, era Isabella, a gente não perguntava muito sobre as coisas que ela falava.

- Ann, a gente sabe por que você está assim. – Ela disse quando nós saímos de dentro de casa. Eu sabia que ela não precisava de ajuda.
- Não, vocês não sabem.
- Tem certeza? Porque eu acho que mais ou menos essa hora, há um ano atrás, você estava suspirando por causa de uma entrevista que tinha feito pela manhã. – Elas sabem. Não falei nada. – Ele deve vir hoje, você sabe, né?
- Sei.
- Por que você não aproveita para conversar com o Josh e acabar logo com essa agonia, hein? – Ela perguntou enquanto pegava o karaokê no carro.
- Eu não tenho nada para falar com ele, Isabella.
- É claro que você tem, Anne. – Eu sabia que eu tinha, o que não tinha era a coragem mesmo. Ele estava feliz, ponto.
- E eu vou falar o quê? “Oi Josh, que bom que você está feliz com ela, mas eu ainda sinto a sua falta”? É patético demais, até pra mim, Isabella. Sem dizer que isso teria que ser conversado quando nós dois estivéssemos sozinhos, e a gente passa muito longe disso toda vez que se encontra.
- Então esse é o problema?
- Não Isabella, esse é só o início do problema.
- Ok, então. Mas mais cedo ou mais tarde você vai ter que conversar com ele, saiba disso. – Quando ela terminou de falar, eu vi um carro se aproximando. E eu conhecia aquele carro, era Josh.
- Vamos entrar, eu não quero falar com ele aqui fora.

POV JOSH

Quando cheguei à casa de Beatrice, vi que Isabella e Anne estavam do lado de fora e entraram assim que viram meu carro se aproximar. O simples fato de ver Anne de longe já me deixava nervoso, ainda mais hoje. Eu parei de falar o que estava falando com Ian e Keegan na metade quando percebi que ela já tinha chegado.

- Josh, isso já está mais do que chato. – Ian disse.
- O que?
- Você e a Anne nessa brincadeira de gato e rato, um fugindo do outro, se tratando como se fossem só colegas. – Keegan respondeu.
- Mas nós somos só colegas. Eu tenho namorada, vocês esqueceram?
- Você não ama a sua namorada. Nós sabemos que você ainda gosta da Anne. – Droga. Não respondi.
- Josh, nós sabemos que o namoro de vocês é de fachada. – Keegan disse assim que eu estacionei.
- O quê? – Como assim eles sabiam disso? Eu não contei a ninguém.
- As meninas descobriram editando os vídeos do making of do filme e contaram para a gente.
- Por que vocês não me disseram isso antes?
- Porque a Anne não queria.
- Ela sabe?
- Sabe. E ela tentou falar com você, mas você estava sozinho com a Vanessa... Ela viu vocês dois se beijando afastados no set, sem ninguém vendo. Achou que vocês estivessem felizes, que você estivesse realmente gostando dela, e preferiu não se manifestar. Eu só estou te contando isso tudo porque eu, Isabella, Ian e Julie já estamos percebendo há tempos que vocês dois não superaram um ao outro e nós somos seus amigos... Isso já deu o que tinha que dar, as gravações do filme acabaram. – Keegan falou de uma vez só.
- Você tem que falar com ela, Josh. – Ian disse.
- Como? A gente nunca fica sozinho pra conversar! E isso é só o começo... Pra terminar com ela, eu disse muita coisa que não devia, eu não sei se ala vai me perdoar...
- O problema é a falta de oportunidade? – Keegan perguntou.
- É só o início, eu disse.
- Ok. – Ele falou e começou a sair do carro.

POV ANNE

Josh e os meninos já haviam chegado há umas duas horas, e eu estava começando a chegar no meu limite. Desde que nós terminamos, eu não fiquei nem vinte minutos no mesmo lugar que Josh, e agora já tinham se passado horas. E hoje ele estava diferente, não sei se era pelo que a data representava, ou pela saudade... A gente não se via desde o último dia de gravações em NY.

Quando eu peguei o meu terceiro copo de o que quer que fosse aquilo com álcool que estavam servindo, Isabella e Julie se aproximaram.

- Por favor, nós não ficamos semanas te controlando em NY para você voltar a beber desse jeito na primeira vez que visse ele. – Julie disse.
- Eu... Me deixa beber, vai ser mais fácil assim.
- Não, Anne! – Isabella tirou o copo da minha mão.
- Faz o seguinte: Vai lá no quarto, tira os sapatos, lava o rosto, descansa, e depois você volta. – Julie disse. – Você ainda tem que aguentar a noite toda aqui. Se ficar bêbada vai ser pior.
- Obrigada. – Eu fiz o que ela disse. Fui para o quarto, fechei a porta com cuidado e me joguei na cama, ignorando o barulho que vinha do primeiro andar.

POV JOSH

Eu estava conversando com Isabella, Keegan, Ian e Julie quando meu celular tocou pela terceira vez. Era Vanessa. Ignorei. Estava procurando Anne com os olhos, mas ela tinha sumido.

- Que marcação, hein! – Ian brincou.
- Pois é.

Nós continuamos conversando e uns dez minutos depois, o telefone tocou outra vez. Eu estava prestes a ignorar outra vez, quando Julie me impediu.

- Se você não atender, ela vai continuar ligando a noite toda.
- Não dá para atender aqui, o barulho está muito grande...
- Você pode ir para o quarto onde nós nos trocamos mais cedo... – Isabella disse.
- Será que a Bea não vai se importar?
- Claro que não, você só vai atender uma ligação. – Ela respondeu.
- Já que é assim, qual é o quarto?
- Subindo as escadas, a terceira porta à esquerda. – Eu já estava seguindo as instruções de Isabella quando Julie me chamou.
- Ah, Josh. A porta está com um probleminha... Se você não bater, ela não fecha.

POV ANNE

Alguém no primeiro andar tinha começado a cantar This Love, do The Verônicas. “Even if I leave you now and it breaks my heart, even if I’m not around, I won’t give in, I can’t give up on this love”. Claro, como se eu já não estivesse surtando o suficiente aqui sozinha nesse quarto com Josh no primeiro andar. Gritei no travesseiro pela décima vez, e antes de levantar o rosto, ouvi a porta do quarto se abrindo e achei que fosse uma das meninas.

- Para de me encher a paciência! Eu disse que não queria ouvir nada de você hoje à noite. – Quando reconheci a voz, fiquei paralisada no lugar onde estava. Era Josh. – Quer saber, eu não vejo a hora dessa maldita premiere chegar de vez pra eu me ver livre desse filme e livre de você! – E ban. Ele bateu a porta. Eu me virei, e ele tinha desligado o telefone e tinha acabado de notar a minha presença. – Anne... Você está aqui. – Sim, eu estou. E você bateu a porta. Eu sabia que aquilo tinha que significar alguma coisa além de uma simples batida de porta, mas eu não conseguia lembrar o que era, não quando eram aqueles olhos castanho esverdeados que eu senti tanta falta que estavam me olhando da porta... A porta! A porta está emperrada!
- Você bateu a porta. – Foi a única coisa que eu consegui dizer antes de sair correndo e tentar abrí-la, sem sucesso.
- Mas a Julie disse que ela estava com problema e tinha que bater...
- Nós estamos presos. 

Look da Anne:
http://i50.tinypic.com/35k7m0j.jpg
This Love, The Veronicas: 
E a porta emperrou, e a porta emperrou...

37 - And all that you got left is being strong

11
COM

O que Connor me disse mais cedo mudou alguma coisa em mim. Parece que tudo o que eu sentia por Josh, tudo o que eu achei que estivesse começando a esquecer, passou por cima de mim como uma avalanche. Eu demorei dois meses para pegar cada pedacinho desse sentimento e colocar numa caixa gigante com 50 cadeados dentro do meu peito. Connor disse que ele estava péssimo e que eu tinha alguma coisa interessante para assistir nos vídeos do making of do filme e todos esses cadeados abriram automaticamente, sem a minha permissão e todos os pedacinhos de sentimento que estavam nessa caixa imensa saíram pulando feito pipoca, um para cada canto, cada um atingindo um pedaço diferente do meu corpo. E cada célula, de cada pedacinho atingido, agora gritava desesperadamente que eu ainda amava Josh. Não que eu não soubesse disso. Eu sabia. Mas agora eu sentia tudo de novo. E eu já tinha quase esquecido de como aquilo fazia com que eu me sentisse bem, apesar de todas as circunstâncias.

Já cheguei da Starbucks há horas. E desde que cheguei, estou fazendo a mesma coisa. Só tirei os sapatos, sentei na minha cama, abri o notebook e comecei a buscar vídeos antigos do Josh. Assisti em ordem cronológica, comecei por ele pequenininho, nas entrevistas dos primeiros filmes, os primeiros red carpets, os eventos... Eu sabia aquilo tudo de trás para frente. Das entrevistas de divulgação de Journey 2: The Misterious Island, eu só consegui assistir uma: aquela em que ele e Vanessa estão numa rádio e os locutores pedem para eles responderem às perguntas como se um fosse o outro. Também só assisti porque não consegui parar de rir de Josh imitando perfeitamente a risada de Vanessa. Eu sempre ria com esse vídeo, desde a época que ele era novo... Depois, para descontrair, passei para as milhares de entrevistas de divulgação de The Hunger Games. Consegui rir mais ainda, quando Josh se juntava com a Jennifer Lawrence não dava coisa boa. Ou dava, eles fizeram quatro filmes que bateram recorde de bilheteria. Eram amigos até hoje, mas se viam pouco. Eu já tinha visto ele ao telefone com ela algumas vezes.

Estava prestes a chegar nas entrevistas atuais quando uma janelinha do meu e-mail subiu: “Você tem uma nova mensagem de Connor Logan.” Fui abrir o e-mail. Connor Logan – que eu chamava só de Logan para não confundir com o Connor Mason, irmão do Josh – era um amigo virtual que eu tinha feito nesse tempo de voltar a escrever. Ele achou o meu blog mais ou menos duas semanas depois do meu término com Josh e gostou dos meus textos. Nós começamos a conversar e diversas vezes, ele me animou na madrugada. Era uma amizade virtual, como tantas outras que eu já tive na vida. De repente essa iria para frente em algum momento, ele era de LA. Respondi o e-mail dele e voltei às entrevistas atuais.

Encontrei a minha primeira entrevista com Josh e a assisti umas dez vezes. Só cinco meses haviam se passado dela para cá, mas muita coisa havia mudado. Naquela data, eu era a Anne, fã do Josh. Depois dela, eu passei a ser a Anne, namorada do Josh. Agora eu era a Anne... A Anne depois do Josh. E eu ainda estava tentando entender o que aquilo significava. Assisti ao nosso primeiro livechat, o que foi gravado no dia seguinte ao pedido de namoro, quando ele disse “Meu coração? Está completamente ocupado. Estou namorando. Há pouco tempo, mas estou.” E eu hiperventilei sentada naquela cadeira. Eu ainda lembrava da sensação, e não tinha como esquecer com ele usando o cordão que eu havia dado no dia anterior. Instintivamente, procurei o meu anel no indicador da mão esquerda, e não achei. Me arrependi de ter devolvido.

Nos vídeos relacionados, uma entrevista nova de Josh. Pela data, ela tinha sido gravada na semana passada. Não sei o porquê, de repente eu era meio masoquista e gostava de sofrer, ela tinha sido gravada depois do nosso término, mas eu cliquei nela e comecei a assistir. No início, foram as mesmas perguntas de sempre, sobre o filme, sobre a carreira, sobre as gravações e blá, blá, blá. Realmente, tem jornalista que deve ter preguiça de montar uma entrevista direito, só pode. Mas, enfim, continuei assistindo, até um pedaço que chamou mais a minha atenção.

- Então, Josh, você e Vanessa estão namorando outra vez, certo?  - A expressão dele mudou levemente, mas depois voltou ao normal.
- Certo.
- Nós encontramos um dos seus últimos tweets, de um tempo atrás, onde você disse que estava na última semana de gravações em LA e prestes a embarcar para NY e filmar aqui... E disse que “a sua garota tinha mandado oi”. Essa garota era a Vanessa? – Não, essa garota sou eu! Josh demorou a responder.
- Hum... Vanessa é minha namorada. Ela já não é mais uma garota, não é? – Ele respondeu brincando, e quase que instintivamente, mexeu no pingente do cordão que estava usando e eu pausei a cena para ver direito. Era o cordão que eu havia dado, mas tinha outra coisa ali... Parecia outro pingente, e era prata, dava para perceber pelo contraste com o pingente original. Avancei um pouco a cena e pausei outra vez, então, eu consegui ver o que era. O meu anel. Ele ainda usava o cordão que eu havia dado e agora, ainda usava com o meu anel pendurado junto.

Fechei o notebook e deitei na cama olhando para o teto. Se eu já estava com milhares de coisas na cabeça só com o que Connor havia me dito, agora então... Josh estava usando o meu anel junto com o cordão dele. Não era bem a atitude de uma pessoa que não se importava com o significado daqueles objetos. Sinceramente, agora eu me mantenho o mais longe o possível dele no set, não tive como reparar se ele já estava usando o cordão assim há mais tempo. Mas ele usou numa entrevista, ele sabia que meio mundo ia assistir àquilo e que eu podia estar inclusa nesse meio mundo. Adormeci pensando nisso, e sonhei com aquele dia na praia. Odeio sonhos reais. Odeio sentir o que já senti uma vez e provavelmente não vou sentir de novo. Odeio.

Acordei cedo no dia seguinte e não consegui tirar da cabeça que hoje ia começar a assistir os vídeos de making of. Tudo bem que até chegar aos vídeos do dia em que ele terminou comigo, dia 14 de agosto, ia demorar um pouco, mas já era um começo.

Quando cheguei ao set, fui direto para a ilha de edição. Isabella e Julie não haviam chegado e eu queria adiantar o trabalho. Comecei a assistir aos vídeos do primeiro dia e elas chegaram uns trinta minutos depois. Nós tínhamos nos visto no dia anterior, mas não adiantava, a gente sempre tinha alguma coisa a falar. Eu ainda não havia contado o que Connor havia me dito no dia anterior, e não contei. Ainda não. Eu nem sabia se nós íamos chegar naquele vídeo hoje. Por isso, depois do nosso intervalo para colocar as últimas horas da nossa vida em dia – eu omiti, por acaso, todo o pedaço dos vídeos da noite anterior – nós voltamos a assistir àqueles vídeos com força total.

Já havíamos assistido umas quatro horas de filme, e só tínhamos chegado a uma conclusão. Keegan e Josh não batiam bem, de forma alguma. Ainda não havíamos chegado no dia em que o Ian se juntou ao elenco, mas tínhamos certeza que quando chegássemos, ele entraria nessa classificação. Eu sentia tanta falta daquela convivência... Anne, trabalho, atenção.

DOIS DIAS DEPOIS

Eu já estava começando a ficar agoniada. Já estava cansada que assistir vídeos de making of e NADA do dia 14 de agosto chegar. Ontem à noite, Logan me perguntou o que eu tinha. Era engraçado, ele percebeu que eu estava diferente pelo meu jeito de falar na internet. É óbvio que ele não sabia de Josh, eu não seria louca de contar para alguém que nunca havia visto. Mas amizades virtuais sempre te surpreendem.

- Bom dia. – Foi a minha vez de chegar atrasada, dormi tarde.
- Bom dia, Ann. – Julie respondeu.
- Trouxe a cama nas costas, foi? – Isabella perguntou.
- É...
- Hum, eu conheço essa cara... O que está acontecendo, hein? – Julie perguntou. Respirei fundo. Revirei os olhos. Mexi no cabelo. Falei tudo o que tinha para falar sobre o vídeo do dia 14.
- Anne, minha filha, porque você não disse isso antes? A gente teria começado por esse vídeo! – Isabella falou enquanto procurava o dia 14 nas datas dos dvds de agosto. – 10, 11... 14, achei!
- Tem certeza que você quer assistir isso? – Julie perguntou e eu só olhei para ela. – Ok, você tem.

O primeiro vídeo era de Josh, Keegan e Ian. Depois Troian se juntou a eles e teve um pedacinho em que só ela e Keegan apareceram nas filmagens, tinham acabado de gravar uma cena sozinhos. Eu comecei a me perguntar se Connor tinha certeza sobre o que havia me falado naquele dia na Starbucks, até que começou a passar um vídeo de Josh e Vanessa depois de terem gravado uma cena. Provavelmente a cena que eles ensaiaram fora do trailer de figurino e eu vi... Agora eu nem sei mais se aquilo era um ensaio mesmo. Quando eles começaram a conversar, eu me atentei.

- Eu não tenho nada a falar com você – Josh disse, quase tentando fugir dela quando ela o impediu. Não entendi. Eles não estavam juntos?
- Mas eu tenho uma coisa a falar para você. E você vai ter que me ouvir, queridinho. – Odeio o tom debochado dela.
- Fala rápido.
- Você sabe que a Lindsey tem pessoas superiores a ela na Lionsgate, não sabe? Pessoas que não dariam uma chance de misericórdia se soubessem que três pessoas da equipe do filme namoram atores do mesmo filme...
- Onde você quer chegar, Vanessa?
- É o seguinte, Josh. Você vai terminar com a Anne. E vai falar que é porque você quer. – Isabella pausou o vídeo nesse pedaço.

- Mas o que essa garota disse? – Eu estava em choque, elas duas estavam quase lá.
- Aperta play, vamos terminar isso.

- Não há possibilidade disso acontecer.
- É claro que há, Josh. É isso ou a magricela estrangeira e as amiguinhas dela perdem o emprego, porque eu vou dar um jeito dos relacionamentos de vocês serem descobertos. E não faça a besteira de contar isso a um deles... Se você fizer alguma coisa demais, elas vão ser completamente prejudicadas.
- Você é louca.
- Sou, mas os diretores da Lionsgate não sabem disso e eu sou a estrela do filme deles, tenho uma credibilidade E, ah, depois nós vamos assumir um relacionamento.
- Agora você se superou na loucura. Qual o pedaço do “nós nunca vamos ficar juntos outra vez” que você não entendeu?
- Relacionamentos de fachada existem para isso. Vai ser pela divulgação do filme. E pela manutenção do emprego da sua Anne.
- Eu não vou conseguir fazer isso.
- Você é um bom ator. Você consegue. Agora deixa eu ir embora. Tenho que descansar para não estar com olheiras quando os paparazzis nos virem juntos nos próximos dias. Até mais, futuro namorado.

Como era esperado, eu estava chorando. Não conseguia nem pensar. Julie e Isabella estavam num silêncio quase sepulcral ao meu lado. Quem entrasse na sala só ouviria o meu choro baixo e as respirações delas duas.

- Isso só pode ser brincadeira. – Julie começou a falar.
- O Josh fez isso tudo por nós três?
- Ela ameaçou os nossos empregos e ele aceitou as condições dela para que nós continuássemos aqui... – Eu ainda não tinha conseguido falar nada.

As imagens daquele vídeo, as palavras de Julie e Isabella depois que nós assistimos, tudo, estava rodando na minha cabeça. Ele terminou comigo para que eu, Isabella e Julie não perdêssemos o emprego. O namoro dele com Vanessa era falso. Era por isso que outras pessoas diziam que eles ficavam mais próximos quando estavam em lugares públicos. E quando eu estava por perto. Eles estavam fingindo para a imprensa e para mim. Agora tudo fazia sentido. O meu anel, o cordão... Ele ainda me amava.

- Anne, o que você está esperando para ir atrás dele? – Isabella disse me arrancando a força dos meus pensamentos.
- Hã?
- Mulher, corre, ele está gravando hoje! Vai falar com ele que você sabe de tudo, vai! – Julie praticamente me expulsou da cadeira.
- Eu não posso falar isso com ele aqui, vocês esqueceram?
- Você não precisa gritar para os quatro ventos, Anne. Depois de todo esse tempo ignorando o Josh, ele vai perceber que tem algo de diferente se você só olhar para ele sem parecer que quer que ele morra.  – Isabella disse, mas eu não me movi.
- Anne Christine Borges, você não tem mais 15 anos! O cara te ama, vai atrás dele! – Eu não sabia se ria ou se chorava.
- Eu vou.

Me levantei e saí da sala. Estava tão concentrada nos vídeos nos últimos dias que não sabia em qual pedaço do set estavam sendo as gravações daquele dia. Demorei séculos para descobrir que eles estavam no cenário da cafeteria, mas quando fui até lá, ele não estava mais.

- Você viu o Josh? – Perguntei a alguém por ali e percebi que mesmo depois de meses trabalhando no mesmo filme, eu ainda não conhecia a equipe inteira.
- Ele foi para o trailer dele.
- Obrigada.

Os trailers ficavam do outro lado do set. Ótimo. Eu praticamente corri o caminho todo, mas meus saltos altos não ajudavam. Eu realmente precisava começar a usar sapatos mais baixos. Quanto mais eu me aproximava, mais nervosa eu ficava. Para melhorar a minha situação, o trailer de Josh era o último. Passei pelo trailer da maquiagem, pelo do figurino, pelo de Troian, Vanessa, Keegan e Ian, até conseguir avistar o de Josh.

Duas pessoas estavam sentadas nas escadinhas do trailer dele, e conforme fui chegando mais perto, vi que eram ele mesmo e Vanessa. Eu não contava de encontrá-lo com ela. Não tinha mais ninguém em volta, só eles dois sentados e eu me aproximando. Ele estava sentado de costas para a mim, ela estava com a atenção voltada para a frente deles. Nenhum dos dois havia me visto e eu parei de andar para pensar no que fazer.  Me escondi no cantinho do trailer de Ian e pensei. Depois que respirei fundo dez vezes, saí de onde estava e quando olhei para o trailer dele, parei outra vez. Sim, eles dois ainda estava ali... Mas estavam se beijando.

Não tinha ninguém olhando. Eles não sabiam que eu estava ali. Não tinha texto por perto, aquilo não era um ensaio. Saí de perto o mais rápido o possível para que eles dois, ainda assim, não me vissem.

Eu não tinha outra pessoa a culpar além de mim mesma. Eu não devia ter acreditado que ele tinha mudado de ideia com tanta facilidade. Eu devia ter tentado outra vez, de repente se eu insistisse, ele teria me contado a verdade. É meio difícil pensar isso quando você ouve que a pessoa não que mais ficar com você, mas eu devia ter desconfiado. Aquele não era o Josh que eu conheci e por quem me apaixonei. Agora, juntos há mais de um mês, vai que ela conseguiu conquistá-lo outra vez? Sei lá, de repente ele achou que não teria mais chances comigo... E ele estava parecendo até feliz. Às vezes, eu o pegava olhando para ela de um jeito que nunca olhou para mim.

Então, é isso. Anne, seja forte. Acabou, ele está com ela de vez e você vai seguir a sua vida. Em dois dias você volta para Los Angeles e eu te proíbo de ficar triste quando chegar lá. Era tão estranho dar conselhos a mim mesma. Mas agora, era isso o que eu tinha que fazer. Seguir em frente. Um dia eu vou esquecer que o amo. Um dia eu consigo. Até lá... até lá eu vou levando. 

Música do nome do capítulo: 
Faith to Fall Back On, Hunter Hayes
Alguém gostou da visita ilustre de Connor Logan?  HEHE

36 - We're just ordinary people, we don't know which way to go

6
COM

UM MÊS DEPOIS

- Não, Eric, eu não vou tirar uma foto ali! – Eu disse enquanto ele continuava insistindo para que eu subisse numa pedra para tirar uma foto. Estávamos no Riverside Park e a pedra ficava às beiras do Hudson River.– Eu vou cair! – Eu ri.
- Não vai, Ann, a foto vai ficar boa!
- Eric Bragança! Eu não vou subir nessa pedra! Está frio, e eu não estou com vontade de tomar um banho no Hudson River!
- Ok, eu desisto de você. – Nós continuamos caminhando. – Falta quanto tempo para você voltar para LA mesmo? – Ele perguntou.
- Duas semanas. Meu voo está marcado para a segunda semana de setembro.
- Eu vou sentir a sua falta. De novo. – Desde que Eric me encontrou no Central Park naquele dia, nós dois nos reaproximamos. Não como antes, não voltamos a namorar. A nossa amizade voltou a ser o que era antes do nosso namoro. Antes dele, só vinham Isabella e Julie. No momento, ele voltou a ser o meu melhor amigo homem.
- Eu também... Mas agora a gente se achou, e pelo menos nós estamos no mesmo país! – Quando estava com ele e com as meninas, era quase como se nada tivesse acontecido. Eu conseguia brincar, fazer piadas e chorar de rir. Mas quando ficava sozinha, cada segundo me lembrava que eu ainda era apaixonada por quem não devia. – São só seis horas de vôo, você pode ir visitar a gente em LA e ficar na casa do Keegan e do Ian. – Sim, os ciúmes iniciais de Keegan e Ian passaram na primeira vez em que Eric saiu conosco. Eles se aproximaram bastante, e foi bom para eles dois, porque eu não fui a única a me afastar de Josh quando ele começou a namorar Vanessa outra vez. Foi quase uma reação em cadeia. Eu me afastei, Isabella e Julie se afastaram e, logo depois, Keegan e Ian. Não por ele ter terminado comigo. Isso foi ruim, mas era uma coisa que eu tinha que sofrer sozinha. Mas sim por ele não ter esperado nem três dias para aparecer com a garota que estava com ele há um mês, por ele ter me traído por esse um mês e por essa garota ser justo a Vanessa.
- Sério?
- Claro, Eric! Você acha que depois de tudo o que você fez por mim nesse mês eu vou nós vamos conversar por telefone e internet pelo resto da vida? – Eu ri.
- Menos mal. Te disse que a minha mãe adorou saber que a gente se reencontrou aqui? Ela viu as fotos daquele dia no Central Park com as meninas, Ian e Keegan. – A mãe dele sempre gostou de mim.
- A reação foi a mesma lá em casa. Até as minhas tias falaram comigo pela internet querendo saber de você.
- Visita a minha família quando você for ao Brasil, eles vão gostar de te ver.
- Te digo o mesmo. – Continuamos caminhando pelo Riverside Park, passamos o dia inteiro por lá, era um lugar incrível, mas não se comparava ao Central Park. A companhia de Eric fazia tudo passar mais rápido, e quando eu vi a hora, já estávamos quase atrasados. – Que horas o pessoal ficou de chegar no seu apartamento? – Perguntei, já sabendo da resposta.
- Às seis. Por quê?
- Porque são cinco e meia. – Ele se espantou.
- Temos que correr. – Ele me pegou pela mão e literalmente correu em direção à saída do parque, onde seu carro estava estacionado. Quando chegamos ao prédio dele, pegamos o elevador no estacionamento, e quando ele parou na portaria, Isabella, Keegan, Ian e Julie entraram. Conseguimos chegar junto com eles, ao menos.
- Olá pessoas! – Eu disse quando eles entraram no elevador.
- Oi! Peraí, onde vocês estavam? – Ian perguntou.
- Viemos do estacionamento, acabamos de chegar do Riverside. – Eric respondeu.
- Quase perdemos a hora. – Eu falei e Julie olhou para mim com a sobrancelha levantada. Olhei para Isabella e ela estava do mesmo jeito. Eu já sabia que ia ouvir no momento em que os meninos saíssem de perto de nós.
- Chegamos. – Keegan falou e segurou a porta do elevador. Ele, Ian e Eric não se moveram enquanto eu, Isabella e Julie não saímos. Cavalheiros, esses meninos.

Quando entramos no apartamento, os meninos foram direto para a cozinha deixar as sacolas, e eu, Isabella e Julie ficamos na sala. Interrogatório em 3, 2, 1...

- Anne, o que está acontecendo com você e Eric, hein? – Isabella perguntou em português, como sempre fazia quando não queria que alguém entendesse o que nós íamos falar. Mas Eric entendia, e ele estava no outro cômodo.
- SHHHH! O Eric entende português, esqueceu?
- Ops, desculpa.
- Não foge do assunto, Anne! – Julie perguntou, um pouco mais baixo. – Estou sentindo cheiro de revival no ar...
- Que revival o que! Vocês estão loucas! Eu e Eric não estamos juntos outra vez.
- Não é o que parece... – Isabella falou.
- Anne, nunca, em hipótese alguma, você perde a noção da hora quando tem alguma coisa marcada... Você perdeu hoje, e não foi a primeira vez nesse mês. – Julie disse.
- Sem dizer que nesse último mês, você está mais grudada no Eric do que quando vocês namoravam. – Isabella disse.
- Não estou não. Acredite, quando nós namorávamos, eu não tinha vocês na mesma cidade para dividir meu tempo.
- Whatever, o fato é que vocês estão parecendo um casal outra vez.
- Ele, com certeza, gostaria que isso fosse verdade... – Julie disse.
- Não viaja, Ju. O Eric é meu amigo, e só.
- Anne, ele é seu ex-namorado. Ele nunca vai ser seu amigo, e só.
- Dá para perceber pelo jeito que ele te olha que ele ainda gosta de você, Anne.
- Mas eu não gosto mais dele desse jeito, vocês sabem disso.
- Sim, nós sabemos que você gosta de um cara que terminou com você e não esperou nem uma semana para aparecer publicamente com outra. – Eu odiava quando a Isabella tinha razão.
- Mas, mesmo ele sendo o cara que me enganou, eu ainda o amo.
- Olha a chance que está aparecendo na sua frente outra vez! O Eric é um desses caras que Deus fez e jogou a forma fora. – Quando a Julie tinha razão ao mesmo tempo, então, era pior ainda. – Me diz um defeito dele, vai. – Pensei, e não soube o que falar. - Viu, ele não tem defeitos.
- Ninguém é perfeito, Julie.
- Então fala só uma coisinha no Eric que te incomoda, Anne. – Isabella entrou na briga. Mas dessa vez eu sabia o que responder.
- Só uma coisinha? Ele não é o Josh. – E depois disso, elas desistiram, e os meninos vieram para a sala. Mas eu passei o resto da noite pensando no que elas haviam me dito e tive que admitir que percebi que Eric, às vezes, demonstrava um carinho maior que o carinho de amizade.

Eu gostei dele por muito tempo depois que nós terminamos. Ben foi uma tentativa minha de esquecê-lo, de repente, por isso, não deu certo. Para falar a verdade, eu só superei o Eric com o Josh. Será que era ele quem ia me fazer superar o Josh de vez? Obrigada, Julie. Obrigada, Isabella. Agora eu vou ficar com isso na cabeça.

Despertei do meu “transe” com o celular de Julie tocando ao meu lado. Era Lindsey.

- Oi Lindsey. Sim, eu estou com Anne, Isabella, Keegan e Ian, por quê? Ok, fala. – Ela ouviu o que Lindsey tinha a dizer por mais tempo. – AH, isso é incrível! Eles vão amar a novidade. Eu amei! Ok, obrigada, Lindsey, até segunda feira!
- Julie do céu, o que foi, fala logo que eu estou curiosa. – Isabella disse.
- Para de enrolar, criatura! Fala de uma vez! – Eu reforcei.
- Nós vamos passar mais duas semanas em NY! A produção do filme acabou de decidir que as últimas cenas podem ser filmadas aqui ao invés de serem filmadas em LA. – Mais um mês em Nova Iorque? Isso era mais do que perfeito, eu estava apaixonada por aquela cidade! Isabella e Keegan estavam abraçados. Julie e Ian estavam se beijando. Olhei para Eric. Ele estava com um sorriso de orelha a orelha – e que sorriso – enquanto vinha na minha direção.
- Você não vai embora!
- Não! – Eu disse rindo, e ele me abraçou por mais tempo que o de costume. Ops.

Quando nos separamos, Isabella e Julie me olhavam com aquele olhar que significava “eu disse”. A noite passou até mais rápido depois daquilo. Nós jantamos e brindamos mais um tempo em Nova Iorque com duas garrafas de vinho, todos iríamos embora de táxi, de qualquer forma. Quando eles foram embora, eu fiquei para ajudar Eric com a louça, e nós dois bebemos mais um pouco. Eu tinha que parar com isso, nunca bebi tanto como no último mês... Quando percebi o motivo pelo aumento no meu consumo de álcool, bebi mais uma taça. Nós acabamos e sentamos no sofá; eu não tinha muita noção do que estava fazendo enquanto nós conversávamos, mas tudo bem, conseguiria entrar num táxi e voltar para o hotel.

- Ann? – Ele perguntou do nada depois que ficamos alguns minutos calados.
- Oi.
- Estou muito feliz por você ficar mais um mês aqui em Nova Iorque.
- Eu também! – E eu realmente estava. Mas o Eric estava tão próximo assim quando nós sentamos aqui?
- Nós estamos bêbados, né?
- Com certeza. – Eu ri. – Por que essa colocação filosófica agora?
- Por que agora eu estou com coragem de fazer uma coisa que quero desde o dia em que nós dois terminamos há dois anos. – Droga. Tinha que tocar nesse assunto? Eu ia começar a me afastar quando ele começou a falar uma coisa que chamou a minha atenção. – Terminar com você foi a pior coisa que eu fiz. Eu dei mais valor à minha carreira do que ao que nós sentíamos um pelo outro, e você não tem noção de como eu me arrependi e me arrependo até hoje. A gente se viu quase todos os dias nesse último mês e só Deus sabe o quanto eu me controlei para não fazer o que estou prestes a fazer agora. – Eram palavras que eu queria ouvir... Mas, tinha alguma coisa de errado ali, e eu não sei se era o meu cansaço ou a bebida, de repente os dois, que me impediam de perceber o que era. Continuei prestando atenção, mesmo assim. – Anne, me perdoa? Eu não devia ter terminado com você. Desculpa. – Meu Deus, como eu esperei para ouvir isso. Ele se aproximou e eu não me afastei. Senti seus lábios nos meus e continuei ali. Quando ele viu que eu não ia fugir, aumentou a intensidade do beijo, que ficou quase bruto. Bruto até demais. Será que era possível que o beijo de Josh tivesse mudado em tão pouco tempo?

Foi aí que eu percebi. Eu queria ouvir aquelas palavras sim, mas vindas da boca de outra pessoa. Eu queria aquele beijo. Mas não da pessoa que estava me beijando agora. A coisa errada no discurso dele que eu não conseguia perceber, não era o discurso em si, mas a pessoa que o fazia. Eu ouvi aquilo tudo pensando no Josh. Eu estava beijando Eric pensando no Josh. Meu Deus, o que eu estou fazendo?! Me afastei dele o mais rápido o possível.

- Hum, Josh – damn – Eric eu... Eu preciso ir embora. Tchau. – Não dei tempo para ele responder nem de me impedir de ir embora. Quando cheguei na rua, peguei um táxi imediatamente e disse para onde iria.

Durante o trajeto, fiquei tentando juntar os pedaços do que havia acontecido, e eu jurei que eu nunca mais beberia vinho na minha vida. Estava tudo embaralhado na minha cabeça. Eu via Eric dizendo que estava arrependido e Josh me pedindo desculpas. Depois eu lembrava de ter beijado Eric, mas na minha cabeça, eu via Josh. Ninguém me odiava mais que eu mesma naquele momento. Porque eu beijei outra pessoa. Porque essa outra pessoa não merecia que eu a tivesse beijado pensando em outro. Porque a pessoa que eu beijei, não era o Josh. Parabéns, Anne.

No dia seguinte, acordei com o meu celular gritando do meu lado. Quando peguei, era Julie ligando.

- Ooooi. – Eu falei com voz de sono.
- Oi Ann. Te acordei? – Minha cabeça parecia que ia explodir com cada palavra dela.
- Sim. Que horas tem? 
- Duas da tarde.
- Meu Deus, eu preciso levantar!
- Liguei para saber como foi o fim da noite com o Eric...
- Hã? Eu não fui embora com vocês?
- Não, você ficou para ajudar o Eric a arrumar a bagunça... Esqueceu?
- Eu não lembro de mais nada depois que vocês foram embora. – Pânico era o que eu estava começando a sentir.
- Anne, onde você está? – Julie perguntou preocupada.
- No meu quarto no hotel.
- Menos mal, pelo menos você chegou aí segura... Está sozinha?
- Espero que sim. – Olhei para os lados e tudo estava normal, não parecia que outra pessoa tivesse passado por ali nas últimas horas.
- Hum, Anne. – Ela riu. – Eu preciso te perguntar... Você está vestida? – Olhei para mim mesma e respirei fundo, aliviada.
- Sim. E com as mesmas roupas de ontem... Não tirei nem os sapatos.
- Nossa, vocês beberam mais umas cinco garrafas depois que nós fomos embora, né?
- Você esqueceu que eu não lembro?
- Ah, desculpa. É porque eu lembro de ter te deixado lá alegrinha, não bêbada a ponto de não lembrar o que aconteceu. Você nunca foi disso... – Não respondi. Eu sabia por que tinha começado a beber tanto assim. – Ah. – Ela percebeu. – Anne, isso já está ficando sério demais. Você tem uma semana pra sair dessa fossa disfarçada, ou eu e Isabella vamos interferir. – Fiquei muda. – E não adianta se fingir de morta que eu sei que você está aí. Mais tarde a gente te liga, um beijo. – Ela desligou. Parece que eu não estava conseguindo fingir tão bem quanto achei que estava...

TRÊS SEMANAS DEPOIS

Eu estava me sentindo num programa de alcoólicos anônimos. Julie e Isabella conseguiam ser bem persistentes quando queriam. Elas simplesmente passaram todos os dias das últimas semanas regulando o que eu bebia. E eu não me atrevi a tomar nem uma gota de álcool. Para falar a verdade, é muito ruim não saber o que aconteceu com você durante uma noite inteira. E o pior, Eric também não lembrava. Eu só torcia para nós não termos feito nada demais naquela noite.

Entrei na Starbucks da Times Square e elas duas já estavam sentadas numa mesa ao fundo. Quando me viram, Julie levantou um copo extra de café. Elas tinham pegado o meu. Ainda era estranho ser a que chegava e ia embora sozinha... Não via a hora de voltar para o nosso apartamento de LA. As cumprimentei e sentei entre as duas.

- Descafeínado com creme pra você, Ann. – Isabella me estendeu o copo quando eu sentei.
- Obrigada baby. – Peguei o notebook e o liguei. Nós íamos fazer redigir as últimas entrevistas, finalmente. Faltavam uma semana para as gravações de In New York’s Streets acabarem oficialmente. Era um alívio. Nós estávamos conversando sobre alguma cosia avulsa enquanto eu procurava a pasta com as coisas do filme do meu computador.
- Organizar as pastas, ninguém quer, né, Ann? – Julie disse.
- Abstrai, meu computador nunca foi organizado.
- Anne, o que é isso aqui? – Isabella apontou para uma pasta chamada “Roteiro”. Elas não deviam ver aquilo, não agora.
- Nada. – Tentei desconversar e continuar procurando a pasta de INYS, mas elas não deixaram. Isabella tirou a minha mão do touchpad enquanto Julie abria a pasta e elas viam vários documentos do word separados, meu trabalho das últimas madrugadas.
- Anne, você voltou a escrever! – Isabella disse, largando a minha mão.
- Sim, voltei... Achei mais produtivo do que simplesmente não dormir à noite. Mas, mesmo assim, vocês não vão ver isso agora. Fechei a pasta.
- Ah, Anne, para com isso! A gente sempre leu as suas histórias antes de todo mundo.
- Mas vocês vão ler antes de todo mundo... Só não vão ler agora. – Eu ainda não sabia se ia divulgar aquilo para o mundo. Aquela história era diferente... Era especial. Abri a pasta de INYS e atraí a atenção delas duas para o trabalho.

Quando nossos cafés acabaram, eu fui até o balcão pedir mais três, ainda tínhamos algum trabalho a fazer. Estava concentrada em não deixar os três copos de café caírem no chão, andando num chão escorregadio e extremamente liso de salto alto, quando alguém se aproximou.

- Precisa de ajuda? – Eu me sobressaltei quando ouvi. Olhei para trás e sorri instantaneamente.
- Connor! Amy! Que saudade de vocês! – Eu tentei cumprimentá-los, mas não consegui com todos aqueles copos. – Eu estou ali com as meninas, vocês podiam sentar com a gente...
- Vamos! – Amy disse e eles dois me acompanharam até a mesa. Deixei os copos e dei um abraço em cada um, ignorando o fato de que eles dois me lembravam loucamente do Josh.
- Vou pegar os nossos cafés, já volto. Você quer o de sempre, Amy? – Connor perguntou.
- Sim sim.
- Anne, cadê os cookies? – Isabella perguntou.
- Droga, esqueci. Connor, vou com você para pedir os cookies, senão ela não vai parar de reclamar no meu ouvido.
- Depois de você. – Ele estendeu a mão para que eu passasse na frente. Eu já tinha quase esquecido que o cavalheirismo era de família... Presta atenção, Anne, não vai pensar em besteira.
- Ah, Amy, recebi aquele texto que você me mandou ontem e adorei... – Isabella começou a falar assim que eu me levantei.

Toda Starbucks, em qualquer lugar do mundo, tem uma filinha básica no balcão de pedidos. A diferença da loja da Times Square para as outras era que em cinco minutos, a filinha básica se transformava numa fila gigante. Pelo menos, dessa vez eu não estava sozinha.

- Como vai a vida, Connor? – Me resumi em perguntar só isso. Não ia fazer a linha da ex-namorada patética que perguntava do menino para outras pessoas...
- Vai bem! Agora, meio corrida, essa semana eu e Amy começamos o último período da faculdade... E eu estou pensando em chamá-la para morar comigo. – Ele disse com um brilhinho nos olhos.
- Aaaah, super apoio essa decisão! Vocês ficam tão lindos juntos!
- Eu quero ver se dá certo, sabe...
- Ver se dá certo... Peraí, Connor... VOCÊ VAI PEDIR A AMY EM CASAMENTO?
- Fala baixo, Anne, é pra ser surpresa!
- Se eu te der um abraço agora ela vai desconfiar, né?
- Com certeza, se contenha. – Ele riu.
- Ai, parabéns, eu tenho certeza que ela vai aceitar!
- E você sabe por que eu estou te contando isso, né?
- Porque você acha que eu sou uma boa pessoa para confiar segredos?
- Também... Mas porque eu quero que você seja uma das madrinhas... – Eu achei que tinha ouvido errado. Piorou quando ele continuou a falar. – Sendo o par do meu irmão.
- Hum, Connor... Eu acho que isso não vai acontecer. Ele tem outra namorada agora, esqueceu?
- Aquela menina não entra no meu casamento nem com uma casa mobiliada de presente, quem dirá sendo madrinha. – Eu não consegui conter um sorrisinho.

Chegou a nossa vez. Fizemos os pedidos e continuamos conversando enquanto esperávamos.

- Eu sei que você está morrendo de vontade de perguntar como ele está... – Culpada. – Pode perguntar, eu não conto.
- Como ele está?
- Péssimo. – Nós só podíamos estar falando de duas pessoas diferentes.
- Não é o que parece todo dia no set, quando ele fica com aquela garota de pingente para cima e para baixo.
- Anne, você esqueceu que ele é ator? – O que aquilo significava?
- E isso quer dizer que...
- Isso que dizer que não posso te falar mais nada, já falei demais até agora. – Eu devia estar com uma interrogação gigante na testa, porque ele continuou a falar. – Anne, você também cuida da parte de edição do making of do filme, né?
- Sim, eu editei boa parte do making of de LA... Mas o que isso tem a ver com o Josh estar péssimo?
- Tem a ver que pra esse making of, muitas vezes, as câmeras não são desligadas depois que as cenas acabam, certo?
- Certo, não desligam as câmeras para pegar os atores agindo espontaneamente. E eu ainda não sei onde você quer chegar.
- Quem está editando o making of de NY?
- Eu, Isabella e Julie vamos começar amanhã.
- E vocês assistem a todos os vídeos, certo?
- Certo.
- Ok. Preste uma atenção especial aos vídeos do dia em que Josh terminou com você.
- Por quê?
- Você pode achar algumas coisas bem interessantes por ali... – Nossos cafés ficaram prontos e Connor não tocou mais nesse assunto pelo resto da tarde. Eu é que não tirei aquilo da cabeça. O que será que ele tanto queria que eu visse no making of do filme?


Música do nome do capítulo:
Ordinary People, Asher Book
(Trilha sonora de Fame)
Não me matem pelo beijo, por favor...
A felicidade está chegando!
AH, esse capítulo já teve mini spoilers da segunda temporada da fic!

35 - Will you do all these things like we used to?

4
COM

Por que quem vai te abraçar? Me fala, quem vai te socorrer? Quando chover e acabar a luz, pra quem você vai correr? E quem vai me levar entre as estrelas? Quem vai fazer toda manhã me cobrir de luz? Quem além de você?”

Quando cheguei ao quarto do hotel, não sabia o que fazer. Ainda estava transtornada. Agora, estava sozinha, e cantando Quem, Além de Você, do Leoni na cabeça. Eu estava fazendo de tudo para não entrar na fossa como se tivesse 16 anos. Isso ia ser patético demais. Almocei, tomei um banho e comecei a trabalhar. Editei entrevistas, escrevi textos para o site, assisti trailers de filmes novos, fiz de tudo para me manter ocupada. No fim das contas, o dia até que passou rápido. A parte mais difícil foi deitar e dormir, mas depois que consegui, finalmente, adormecer, fui até o outro dia de manhã. Afinal, ainda era dia de semana, eu tinha que trabalhar.

- Bom dia. – Disse no meu tom de voz normal quando cheguei ao set. Keegan, Ian, Isabella e Julie já haviam chegado e vieram falar comigo.
- Como você está, Ann? – Ian perguntou. Ele e Keegan pareciam mais preocupados do que as meninas, provavelmente porque não me viram no dia anterior. E porque eles não me ligaram de uma em uma hora para saber como eu estava.
- Estou bem. – Eu disse e esbocei um sorriso que sumiu no instante em que eu reconheci a voz de quem havia chegado.
- Bom dia. – Josh disse atrás de mim. Todos responderam, menos eu. Tudo o que eu queria era sair dali. Não queria nem olhar para ele. Mas eu não tive escolha, e quando me virei, vi um Josh cansado. As olheiras dele estava mais fundas que as minhas. Nos encaramos por alguns segundos, mas quando eu vi que ele ia falar alguma coisa, saí dali e fui buscar café numa bandeja longe dele. Vanessa chegou e logo depois, Lindsey veio com novidades.
- Vim falar com vocês só para deixar avisado que depois de amanhã vocês vão gravar outro livechat. Mais informações, no dia, em cima da hora, como sempre. – Ela brincou e se aproximou de mim. – Anne, você melhorou? As meninas disseram que você não estava se sentindo bem ontem...
- Já estou melhor sim, Lindsey. – Era mentira, mas eu achei que dizer que eu ficava pior a cada segundo não ia ser legal. – Obrigada pela preocupação. – Ela assentiu e enquanto eu caminhava para perto das meninas outra vez, meu telefone tocou. Atendi sem olhar, ma pressa, pois tinha esquecido de colocar no silencioso. Por onde andava a minha cabeça mesmo?

- Oi.
- Anne?
- Sim. Eric? – Julie levantou a sobrancelha.
- Eu mesmo. Liguei para saber se você está melhor.
- De verdade? Não.
- Eu imaginei. Ah, deixa eu tirar uma dúvida... O set do filme em que você está trabalhando está na rua hoje?
- Sim, hoje é dia de externa. Por quê?
- Então eu acertei. Olha para trás. – Me virei, e do outro lado da rua estava Eric, encostado no carro, balançando uma echarpe verde. Minha echarpe verde.
- Estou indo até aí. – Desligamos o telefone e eu pude sentir os olhares de Isabella, Julie, Keegan, Ian, Troian, Vanessa e Josh nas minhas costas enquanto atravessava a rua.
- Você esqueceu lá em casa. – Ele disse me entregando a echarpe quando eu me aproximei.
- Obrigada. Eu nem me lembrava que estava usando isso.
- Hum... Aquelas ali são Julie e Isabella? – Ele apontou para as meninas no set.
- Sim.
- Elas parecem diferentes de longe... – Ele acenou e elas corresponderam.
- Quer ir até lá falar com elas?
- Você acha uma boa ideia? Josh está ali, não está?
- Não devo mais satisfações a ele. Vamos. – Usei um tom que impedia discussões. Quando chegamos, Isabella e Julie tinham quase colocado uma placa na testa: “Você está louca?”, mas disfarçaram e cumprimentaram Eric normalmente.
- Eric, quanto tempo! – Julie disse.
- Acho que da última vez que nós nos vimos ainda estávamos na faculdade – Isabella disse e eu sei que ela quis dizer que da última vez que elas viram Eric, nós ainda namorávamos.
- Vocês não vão apresentar o amigo de vocês? – Keegan perguntou. Josh estava com uma máscara de ferro na expressão.
- Hum, gente, esse é o Eric, um amigo nosso do Brasil. Nós dois fizemos faculdade na mesma época e no mesmo lugar. Eric, esses são Keegan, Ian, Troian, Vanessa e Josh. – Josh parecia cada vez mais irritado. Sem motivo nenhum, diga-se de passagem. Afinal, foi ele quem disse “eu não quero mais ficar com você”.
- Bem, Ann, eu só passei para te devolver a echarpe e falar com as meninas. Estou atrasado, preciso ir.
- Tudo bem.
- Isabella, Julie, foi um prazer rever vocês. – Ele disse, dando beijinhos e abraços nelas duas. Desculpa se nós somos brasileiros e, para nós, isso é normal. – Vamos marcar alguma coisa para por a conversa em dia. - Ele se aproximou delas duas e de Keegan e Ian. – Tragam seus namorados. – Elas riram.
- Vamos marcar sim, Eric.
- Bem, tchau, pessoal. Depois eu te ligo, Anne. Tchau. – Ele me deu dois beijinhos e um abraço, da mesma forma que tinha feito com as meninas e foi embora.
- Seu amigo é muito bonito, Anne. – Vanessa disse.
- Eu sei. – Respondi e saí dali.

As gravações daquele dia seriam só até a hora do almoço. Eu tentei assistir como sempre fazia, mas era visível que a minha presença ali estava atrapalhando Josh, ele estava errando a mesma cena várias vezes, e sempre no momento em que passava os olhos na minha direção. Eu também não estava nem um pouco confortável, então saí de perto e depois disso, o tempo passou até mais rápido. Almocei com Julie e Isabella no meu quarto do hotel e depois elas ficaram ali comigo pelo resto da tarde. Eu sabia que era uma tentativa de me animar, mas eu também sabia que ficaria triste no momento em que elas saíssem dali. E assim foi.

- Alô. – Atendi ao telefone sem ver quem era, mais uma vez.
- Ann? Tudo bem?
- Ah, oi Eric. Não, não está tudo bem. – Eu ri.
- Você já jantou? – Era a segunda vez que ele me perguntava isso em dois dias.
- Não.
- Quer comer alguma coisa? Eu posso passar no seu hotel. – Por que não? Pelo menos era uma companhia.
- Tudo bem. Estou hospedada no Plaza.
- Vou comprar alguma coisa para comer e devo chegar aí em uns trinta minutos.
- Ok, estou no quarto 305.
- Até daqui a pouco.

Desliguei o telefone e fiquei exatamente no mesmo lugar. Eu não tinha vontade de me arrumar para nada, e Eric já estava mais que acostumado a me ver desarrumada. Além do mais eu estava com uma preguiça gigante e um frio que eu não sabia de onde estava vindo já que o aquecedor estava ligado. Ele não demorou a chegar, eu nem tinha assistido a um episódio de The OC inteiro e me ligaram da recepção avisando que o “Sr. Bragança” estava lá em baixo e precisava de autorização para subir. Autorizei a entrada dele e continuei no mesmo lugar.

- Está aberta! – Eu gritei da cama quando ele bateu à porta.
- Nossa... Da última vez que eu te vi assim, você tinha 18 anos, nós estávamos no início da faculdade e você tinha acabado de descobrir que o cara que você gostava tinha namorado. – Ele brincou.
- Toda menina já se apaixonou por um gay na vida, Eric.
- Nem toda, Anne. Você é que tem dedo podre. – Ele disse, deixando um pacote com alguma coisa comestível na mesa e vindo na minha direção.
- Você esqueceu que é meu ex-namorado, é?
- Nunca esqueceria. - Ele me deu um beijo na testa. – Anne, você está quente.
- Hã?
- Você está com frio?
- Um pouco.
- Isso é febre. Tem algum anti térmico aí?
- Na bolsinha roxa de remédios, ali em cima. – Apontei para a estante. Ele pegou o comprimido e eu tomei.
- Você estava se sentindo mal antes?
- As meninas vieram almoçar comigo e ficaram a tarde inteira aqui. Mas depois que elas foram embora eu fiquei indisposta...
- Anne, pelo amor de Deus, o que está acontecendo com você? Você é a pessoa mais forte que eu conheci até hoje – Hã? – e agora fica com febre emocional? – Ele é médico agora, é?
- Febre emocional, hã?
- Você está se sentindo melhor agora?
- Um pouco.
- Viu? Ainda não deu tempo do anti térmico fazer efeito. Você melhorou porque não está mais sozinha.
- Convencido.
- É sério, Anne. – Eu sabia que era sério. Realmente me senti melhor depois que ele chegou. Agora eu tinha o que, medo de ficar sozinha a ponto de ficar com febre? Eu não fiquei assim nem com o término do namoro com o Renan, e eu tinha 17 anos.

Eric tinha passado no Mc Donalds. Ele pegou nossos sanduíches, trouxe para a cama e se sentou ao meu lado, eu ainda estava coberta até o pescoço.  Comemos assistindo The OC – yey – e eu só lembro de acordar no dia seguinte com meu celular despertando com “It’s a quarter after one, I’m all alone and I need you now”. Precisava trocar aquela música urgentemente. Tinha um bilhete de Eric na mesa de cabeceira. “Você adormeceu assistindo a maratona de The OC, e antes da Marisa ter uma overdose de analgésicos e álcool. Não se preocupe, o Ryan a achou num beco. Se a doente precisar de alguma coisa, liga para mim, ok? Isso vale para ela e para você. Até mais, Anne. Eric.”. Eu dormi ao lado dele outra vez? Droga, isso já estava ficando chato. Quem vivia para dormir eram Isabella e Julie, não eu.

Levantei da cama e me arrumei. Decidi que não ia mais ficar doente por causa de um cara que não me quis. Ok, não era qualquer cara, e eu tinha certeza absoluta de que ainda o amava, mas uma hora eu vou ter que superar esse término, e vai começar agora.

No set, mergulhei com todas as minhas forças na edição dos vídeos de making of de LA. Fiquei longe das gravações o dia todo e nas poucas vezes que passei por lá, eu e Josh mal nos olhamos. Eu não queria pensar em como ia ser o livechat de amanhã...

Voltei para o hotel mais tarde que no dia anterior. Coloquei uma música animada para tocar e tomei um banho. Em dias normais eu dançaria no ritmo da música, mas isso ia ser demais para a minha tentativa de animação.

Quando voltei para o quarto, meu celular tinha chamadas não atendidas de Isabella, Julie e Eric. Achei estranho, mas não sabia para quem ligar primeiro. Decidi esperar para ver quem seria o próximo a ligar. Desliguei o rádio e liguei a TV enquanto penteava os cabelos, e estava distraída até que ouvi um nome conhecido vindo dela: Josh Hutcherson. Agucei os ouvidos.

- “O ator Josh Hutcherson foi visto hoje de manhã indo de carro ao set de seu novo filme, In New York’s Streets, com a sua colega de elenco e ex-namorada, Vanessa Hudgens. Os dois trocaram um beijo antes de saírem do carro. Aparentemente, eles estão juntos outra vez.” – Desliguei a TV. Sentei na cama. E fiquei.

Meu telefone tocou, mas eu não me levantei nem para ver quem era. Ele terminou comigo. Há três dias. E ficou com outra. Com ela. Justo ela. Podia ser qualquer pessoa, mas foi a Vanessa. Naquele momento, o meu esforço de um dia todo para ficar bem foi à baixo junto com as lágrimas que eu não impedi que caíssem. Como eu pude ser tão ingênua, meu Deus?

Troquei a playlist do rádio, agarrei um travesseiro e chorei. Pateticamente. Desesperadamente. Como se eu tivesse 15 anos, ouvindo músicas tristes e chorando na cama.

If only I could be on that bed again, if only it was me instead of him (…) It should have been me inside that car, it should have been me instead of him in the dark. Does he watch your favorite movies? Does he hold you when you cry? Does he let you tell him all your favorite parts when you’ve seen it a million times? Does he sings to all your music while you dance to Purple Rain? Does he do all these things like I used to?(…) Will he love you like I loved you? Will he tell you everyday? Will he make you feel like you’re invincible with every word he’ll say? Can you promise me if this is right, don’t throw it all away? Can you do all these things, will you do all these things like we used to?”

O discurso de Like We Used To era masculino, mas se eu trocasse o pronome, ela diria exatamente o que eu estava sentido naquele momento. Eu já estava a ouvindo pelo que pareceu ser uma eternidade quando senti alguém me abraçando na cama pelas costas e vi Julie na minha frente. Ela e Isabella desistiram de ligar e foram até o hotel. Não sei como, mas elas conseguiram entrar no quarto sem falar comigo. Elas provavelmente acionaram a segurança do hotel e disseram que eu estava morrendo, mas eu não me importava. Eu precisava delas duas e elas estavam ali, como sempre estiveram.

Elas simplesmente ficaram ao meu lado, sem dizer nada, até que eu me acalmasse. Em um determinado momento, meu celular tocou outra vez, e Isabella atendeu. Era Eric. Ela disse que eu estava bem e que ligaria para ele no dia seguinte. Elas passaram a noite comigo e, no dia seguinte, fomos cedo para o set. O livechat era às dez da manhã.

Josh e Vanessa foram os últimos a chegar e entraram de mãos dadas no trailer de maquiagem. Assim que eles entraram, o assunto acabou e todos ficaram num silêncio sepulcral. Uma lágrima escorreu pela minha bochecha quando me sentei na cadeira de maquiagem de Beatrice, e ela a enxugou sem falar nada. Quando ela acabou, não esperei por ninguém, fui para a locação onde seria gravado o livechat e fiquei lendo o programa que Lindsey já havia nos entregado.

Como no livechat anterior, Josh se sentou ao meu lado. Só que dessa vez ele ficou calado, mal olhava para o meu lado. Melhor assim.

Passeii o livechat inteiro lembrando que eu era uma profissional. Foi horrível falar com ele depois de tudo o que aconteceu, mas, pior ainda, foram as perguntas do final, as do twitter. Quer dizer, a última delas.

- Então, Josh, Vanessa, a @VHutcherson quer saber se vocês estão namorando... – Julie perguntou e depois olhou para mim, como quem pedia desculpas.
- Sim, nós estamos. – Vanessa respondeu enquanto eles dois se olhavam e davam as mãos.
- Há quanto tempo? – Isabella perguntou, e aquilo não veio do twitter. Ela e Julie queriam estrangular o Josh.
- Há um mês. – Um mês. Se isso fosse verdade, ele já estava com ela quando eu achei que estava grávida... As coisas só ficavam piores para mim.
- E vocês estão felizes? – Meu senso de humor ácido entrou em ação.
- Muito. – Vanessa respondeu. Logo depois, terminamos o livechat. Eu estava me levantando para sair dali o mais rápido o possível, mas Vanessa segurou o meu braço e se aproximou do meu ouvido. – Eu disse que ia ficar com ele outra vez. E que você ia perguntar se nós estávamos felizes.
- Chega, Vanessa. – Ele falou.
- Vocês se merecem. – Disse olhando para ele. – Agora me larga. Vai ficar com o seu namoradinho.

Ela soltou o meu braço e eu senti todos os olhares nas minhas costas mais uma vez. Todos ali sabiam de mim e de Josh. Todos perceberam o ótimo clima que ficou depois que a entrevista acabou.

Como se tivesse sido colocado ali num passe de mágica, Eric apareceu atrás das câmeras. Ele estava com um crachá de visitante, deve ter assistido a pelo menos metade do livechat. Quando percebeu que eu o havia visto, ele veio na minha direção e me deu um abraço. Fiz um esforço gigante para não chorar ali.

- Me tira daqui, por favor. – Eu disse.
- Vamos. 

Like We Used to, A Rocket to the Moon
Quem, Além de Você, Leoni

34 - All the symptoms of a girl with a broken heart

5
COM

Eu saí correndo pelo corredor até as escadas do prédio. O salto alto não ajudou na minha corrida, mas eu não ia parar e andar agora. As lágrimas ajudaram ainda menos.

Ele terminou comigo. Depois de tudo o que nós passamos. Como eu pude acreditar que ele era diferente? E eu... Eu amo aquele homem. Ou o homem que eu achei que ele fosse. Eu estava apaixonada, e acabei de receber uma facada nas costas. Chorar era a única coisa que eu podia fazer agora.

Cheguei à portaria e percebi que eu não tinha rumo, não tinha nenhum lugar em mente para ir. Comecei a andar, mesmo assim. Quando percebi, estava chegando ao Central Park. Nunca tinha ido ali à noite, nem sozinha, mas estava transtornada demais para voltar ou pedir informações. Do jeito que eu estava, provavelmente, me levariam para um hospital. Sentei num banquinho qualquer e tudo o que eu consegui fazer foi chorar mais baixo do que antes.

Lembrei de todos os momentos dos últimos três meses. O pedido de namoro. O anel de âncora, que eu tirei do dedo pela primeira vez agora e coloquei dentro da bolsa. Todas as músicas, os sorrisos, as flores, tudo foi mentira. Eu me entreguei a ele como só tinha me entregado a uma pessoa a vida toda... E ele fez isso. A maior vontade que eu tenho agora é de voltar no dia 18 de abril e ser uma péssima entrevistadora. Fazer perguntas clichês e não esperar pelas respostas. Ele não se interessaria por mim, não me reconheceria no brunch e hoje, nós seríamos só colegas de trabalho. Mas voltar no tempo é impossível. Eu tenho que seguir em frente, eu sei. Mas não hoje. Hoje eu só vou me perguntar o que poderia ter sido.

- Você está bem? – Alguém me perguntou em inglês, mas eu tive a impressão de que conhecia aquela voz.
- Sim, eu estou b... – Parei de falar quando levantei a cabeça para ver quem tinha falado comigo. Não podia ser. Era coincidência demais.
- Anne? – Ele pareceu estar tão espantado quanto eu.
- Eric... – Eu não conseguia formular uma frase completa.
- Anne, você está bem? O que aconteceu? O que você está fazendo aqui, não mora em Los Angeles? Meu Deus, não acredito que te encontrei! – Eu ainda estava tentando processar os acontecimentos recentes. Eu não tinha mais namorado. Josh me enganou. Eric apareceu. E estava na minha frente esperando por uma resposta.
- Eu estou bem, Eric, não se preocupe.
- Não sei se você mudou em dois anos, mas você não costumava chorar em lugares públicos... – Ele disse enquanto se sentava ao meu lado. – O que houve?
- Longa história. Que eu não sei se você vai querer ouvir...
- Algum namorado idiota te deixou assim?
- Está tão na cara?
- Eric, você vem conosco? – Um amigo dele disse a uns dez metros do banco onde nós estávamos.
- Não, vocês podem ir. Ela é... – Ele olhou para mim. – uma velha amiga. Do Brasil. Vejo vocês amanhã!
- Eric, não, vai com eles, eu vou ficar bem.
- Pelo visto você continua teimosa, né? – Eu tive que rir, mesmo com o rosto molhado de lágrimas.
- Tem coisas que não mudam.
- Vamos sair daqui, está congelando. Você já jantou?
- Não... Mas eu não acho que vou conseguir comer alguma coisa agora...
- Nem brigadeiro?
- Brigadeiro? Aqui? Isso vai soar patético, mas eu acho que mataria por um prato brigadeiro agora. – Isso Anne, você já está no fundo do poço, se balança agora para se sujar mais na lama.
- Se eu te disser que achei uma loja de artigos brasileiros semana passada e que a minha despensa está cheia de latas de leite condensado e chocolate em pó você me poupa do seu banho de sangue? – Ficou claro que ele não tinha esquecido de mim. E que ele ainda era capaz de quase tudo para me agradar.
- Só se você tiver alguma coisa mais forte que chocolate quente para beber.
- Agora você bebe assim, fora de eventos importantes? – Ele pareceu espantado.
- Pois é, algumas coisas mudam.
- Você acha mesmo que não tem nada mais forte na minha casa?  - Ele brincou.
- Viu, isso não mudou! – Ele riu e eu me espantei de ter feito uma piadinha, mesmo que sem graça.
- Vamos? – Eu não sei onde eu estava com a cabeça de aceitar ir para a casa do Eric assim. Mas ele ainda era meu ex-namorado. De todos, o único que não tinha me magoado no final. Achei que ele merecia um voto de confiança.
- Sim. Onde você mora?
- Num prédio do Upper East. Dá para ir andando... – Nós começamos a caminhar.
- Não acredito. Eu moro... estou num apartamento no Upper West.
- Então só o Central Park nos separava... Há quanto tempo você está aqui em Nova Iorque?
- Há quase um mês...
- Trabalhando?
- Sim. O filme que eu estou cobrindo com a Isa e a Ju veio filmar aqui... – Falei. Eric não sabia muita coisa sobre o meu trabalho.
- Isabella e Julie estão aqui com você? Elas também saíram do Brasil? – Parecia que eu tinha muita coisa para contar a ele.
- Nós dividimos um apartamento em Los Angeles. Aqui em Nova Iorque também, mas esse pedaço da história é mais complicado.
- Tem a ver com o cara que te deixou chorando no meio do Central Park?
- Culpada.
- Qual é o nome dele? – Ele, com certeza ia lembrar.
- Josh... – Ele olhou para mim com a sobrancelha levantada.
- Você arrumou um namorado com o mesmo nome do Josh Hutcherson? – Ops.
- Hum... Ele não tem só o mesmo nome do Josh Hutcherson... – Ele pensou e ligou uma coisa à outra. 
- Peraí. O seu namorado é o Josh Hutcherson? Anne... Como... Hã?
- Ex-namorado. – Eu o corrigi, mas nem eu mesma tinha me convencido daquilo. – Eu te disse, longa história.
- Você conseguiu conhecer o tal do Josh... E ainda namorou com ele! Essa história vai ser longuíssima. – Eric tinha ciúmes de Josh quando nós namorávamos. Na época em que eu nem sonhava que ia namorar com ele.
- E eu só vou contar depois da terceira taça de vinho.
- Definitivamente, você mudou muito.
- Você não tem noção de quanto. Mas, fala de você... Desistiu da Itália e veio para Nova Iorque.?
- Conheci muita gente na Itália, fiz muitas amizades. Algumas que não duraram nem uma semana... Mas outras mais duradouras. Um amigo desses é o Giovanni. Ele é dono de uma rede de academias. Abriu uma aqui em Nova Iorque e eu vim administrar.
- Então você vai morar aqui de vez?
- Vou. E você, vai voltar para LA?
- As gravações aqui acabam em um mês... E nós voltamos para LA para o fim das gravações e finalização do filme.
- Ah... – Ele pareceu desapontado. – Nós chegamos. – Ele disse quando nós paramos na portaria de um prédio parecido com o de Ian no Upper East. – Vamos subir?
- Vamos.
- Ah, Anne... Você se importa se eu falar em português com você?
- Não! Às vezes é bom saber que eu ainda sei falar português.
- Você sente falta de casa?
- Todos os dias. Mas já me acostumei com a vida americana. Tudo bem que Nova Iorque é quase outro mundo de tão diferente de Los Angeles, mas... Você sabe, isso aqui sempre foi o meu sonho.
- Sei sim... – Entramos no elevador e ele apertou o 10.
- Décimo andar, Eric? – Ele tinha medo de altura.
- Eu respiro fundo toda vez que entro no elevador. E nunca, em ocasião alguma, eu fico mais de vinte segundos na janela. – Eu ri, outra vez.
- Mas a vista lá de cima deve ser linda...
- É sim... Mas eu sou daqueles que apreciam com moderação.
- Moderação forçada.
- Detalhes... – Saímos do elevador, e como no prédio de Ian, só havia um pequeno hall e duas portas no corredor. Quando entrei, confirmei a suspeita de que o apartamento era o andar inteiro. Era gigante.  E eu podia jurar que aquilo não tinha sido decorado por Eric, quando nós estávamos pensando em ca... Lembranças impróprias.
- Wow. Eric, seu apartamento é lindo.
- Obrigado. A decoradora fez um bom trabalho. – Eu sabia que não tinha sido ele. – Hum, vamos logo fazer esse brigadeiro? Ainda não comi desde que comprei o leite condensado.
- Você já sabe cozinhar, Eric?
- Brigadeiro eu sei. Não pergunta do resto. – Assenti. – Vamos, a cozinha é por aqui. – E que cozinha... Cabiam três da nossa de LA dentro dessa.

Ele fez o brigadeiro. Me surpreendi  porque ele sabia fazer de verdade. Pegamos vinho, taças e fomos para a sala enquanto o brigadeiro esfriava. Depois de anos sem comer um desses, achamos melhor não arriscar a comer quente. Continuamos conversando, colocando os assuntos em dia. Dois anos sem nenhum contato para pessoas que eram tão próximas quanto nós dois significavam muita história para contar. Mas ele não esqueceu do motivo do nosso encontro.

- Pronto, agora você já tomou a terceira taça de vinho. Pode falar o que aconteceu com o Josh. Eu ainda te conheço, você deve estar morrendo para desabafar. E nenhum dos sorrisos que você deu desde a hora em que nos encontramos foi inteiro. Você está triste. – Respirei fundo.
- Antes, eu preciso saber de uma coisa... Você foi à Broadway no fim do mês passado?
- Fui. Dia 21.
- Assistiu The Little Mermaid?
- Hum... – Ele relutou em admitir. – Assisti. Uma ex-namorada minha me fez gostar dessa história... – Eu. – Como você sabe que eu estava lá?
- Eu te vi. Josh me levou para assistir a montagem da Broadway de surpresa e no final, você passou na nossa frente, com o programa da peça na mão.
- Por que você não falou comigo?
- Ah, claro, ia ser lindo chegar pro Josh e falar: “Olha, esse aqui é o meu ex-namorado brasileiro, aquele que só terminou comigo porque mudou de país. Aquele com quem eu provavelmente estaria namorando até hoje se nós dois ainda morássemos no Brasil”. – Merda. Vinho falando.
- Você nunca foi muito forte com bebida, né? Acho melhor você parar com esse vinho... – Ele tentou tirar a taça da minha mão, mas eu não deixei.
- Eu só vou conseguir falar sobre o que aconteceu comigo assim. De qualquer forma, você já me viu pior do que isso.
- Você só vai ficar bem depois de falar.
- Hum, eu não vou ficar bem nem depois de falar, Eric.
- Então começa. – Contei tudo. Desde a entrevista até a briga de hoje cedo, passando por Vanessa e os nossos jantares de aniversário de namoro arruinados. Tomei só mais uma taça de vinho enquanto falava, mas parei por ali, se bebesse mais eu não ia conseguir lembrar o endereço de volta para casa. – Que canalha. Ele te enganou, você não merecia isso.
- Eu me apaixonei, Eric. Esse foi o problema... É tão estranho falar disso com você. – Eu ri.
- Não tem problema algum. Antes de ser seu namorado, eu era seu amigo. E ainda sou.
- Obrigada.  – Eu estava exausta. Chorar cansava. Eric fez de tudo para me distrair, nós conversamos por horas depois que eu contei do Josh. Falei do Ben e das histórias engraçadas de Julie, eu e Isabella nas primeiras semanas em LA. Ele tinha pagado quase a mesma quantidade de micos em Milão. Ele falou da única namorada italiana que ele teve e pelo o que ele descreveu, não pude não reparar em como ela era parecida comigo. 
- Anne, sabe do que eu lembrei?
- Do que? – Eu já estava com sono...
- Do brigadeiro!
- Nossa, eu não estou bem mesmo, Esquecer do brigadeiro...
- Vou na cozinha pegar.
- Ok. – Encostei a cabeça numa almofada e quando abri os olhos, a claridade da janela já me incomodava. Demorei a reconhecer o lugar onde estava, mas quando olhei para a decoração branca e preta, me lembrei. A sala da Eric. Eu estava sem os sapatos, com um travesseiro embaixo do pescoço e um cobertor. Tentei me levantar, mas a dor de cabeça me fez voltar para o travesseiro. Ressaca. Peguei a minha bolsa para olhar as horas no celular. Eram quase nove da manhã. Mas o que me chamou a atenção foram as 37 chamadas não atendidas. Várias de Julie, Isabella, Keegan, Ian e uma de Josh. Por que raios ele me ligou, hein? Agora ficou preocupado?
- Bom dia, Sleeping Beauty. – Eric falou com uma caneca gigante de café na mão.
- Bom dia, Eric. Ai, desculpa. Eu adormeci aqui, né? – Eu disse enquanto levantava devagar e pegava o café.
- Não, Anne, você capotou. Eu fui buscar o brigadeiro e quando voltei, você estava dormindo. Achei melhor não te acordar, você estava exausta.
- Desculpa, eu não queria te dar trabalho.
- Você deu muito trabalho dormindo aí, é claro.
- Quanto eu bebi? Estou morrendo de dor de cabeça.
- Quase a garrafa inteira.
- Meu Deus. – Meu celular vibrou ao meu lado no sofá. Era Isabella. – É a Isa. Ela e Julie devem estar pirando... Tenho que atender. – Ele assentiu.

- Oi, Isa.
- ANNE! Graças a Deus! Onde você está, hein? O que aconteceu? Josh saiu daqui logo depois de você, não explicou nada, nós passamos a noite tentando falar com vocês dois!
- Isa, por favor, fala baixo, estou de ressaca.
- Você bebeu? Anne, você bebeu e está sozinha na rua? ONDE VOCÊ ESTÁ? A gente vai te buscar!
- Isa, baixo. Eu não estou na rua. Passei a noite na casa de um... na casa do Eric.
- Eric? Que Eric? – Dei um tempo para ela ligar o nome à pessoa. – Meu Deus, você achou o Eric? Como assim, Anne? E o Josh? Vocês brigaram, né?
- Longa história, Isabella. O apartamento do Eric é no Upper East, eu vou pegar um táxi e vou para casa daqui a pouco. Não vou trabalhar hoje. Quando eu chegar, explico tudo a vocês.
- Mas você está bem, né?
- Fisicamente, sim, pode ficar despreocupada. Daqui a pouco eu chego.
- Ok, Ann. Eu e Julie estamos te esperando.

- Eric, obrigada por ter me deixado passar a noite aqui, mas eu preciso ir para casa agora.
- Ok, vamos descer, eu te levo.
- Não, Eric, eu pego um táxi. – Eu conhecia aquela expressão. Não ia conseguir discutir...
- Você vai mesmo tentar discutir?
- Tenho chances de vitória?
- Você sabe que não.

 Fiz todos os esforços possíveis para não pensar em Josh no caminho para casa. Eu e Eric fomos conversando normalmente, e eu até que me saí bem.

- É aqui. – Disse quando ele passou na frente do prédio de Ian.
- Anne... Seria muito estranho se eu pedisse seu número de celular americano?
- Só se você não me desse o seu. – Trocamos os números de celular.
- Não vamos perder o contato outra vez, ok?
- Ok. Eu... Eu tenho que subir. Obrigada, outra vez. – Um abraço desconfortável.
- Posso ligar para saber de você mais tarde?
- Pode.
- Tchau Anne.
- Tchau Eric.

Assim que entrei no apartamento, Isabella e Julie saíram correndo e pularam no meu pescoço.

- Anne, graças à Deus, você matou a gente de preocupação! – Julie disse.
- Desculpa, não foi a minha intenção... Mas ontem eu não estava pensando muito bem.
- O que aconteceu com você e o Josh? – Lembrar daquela história toda ali, onde tudo aconteceu e sem a ajuda do álcool foi arrebatador para mim. Não respondi.
- Anne, pelo amor de Deus, o que houve? – Isabella perguntou.
- Ele terminou comigo.
- É O QUE?
- Como assim, meu Deus?
- Eu explico a vocês lá em cima. – Nós subimos e quando chegamos ao quarto, tudo ainda estava quase do mesmo jeito de antes. Meu notebook estava no mesmo lugar onde eu havia deixado na cama no dia anterior quando ele chegou.

Eu já sabia o que ia fazer. Enquanto explicava tudo o que tinha acontecido às meninas, peguei a minha maior mala no canto do quarto onde eu e Josh havíamos deixado as malas vazias... A mochila dele não estava ali. Abri a minha mala em cima da cama.

- Anne, o que você vai fazer? – Julie perguntou, me interrompendo.
- Vou para um hotel. Não posso ficar aqui com ele. – Eu abri o armário e parei quando percebi que metade das roupas dele não estava mais nos cabides. – Parece que ele foi mais rápido. – Aquilo foi a gota d’água. Eu não precisava mais me controlar para não pensar no que havia acontecido. Não precisava fingir força. Não ali. Não com elas. Me ajoelhei no chão e comecei a chorar. Isabella e Julie me abraçaram no mesmo momento e eu chorei mais ainda. Elas não falaram nada até que eu me acalmasse. – Ele me enganou. Eu podia esperar isso que qualquer um, menos dele. – Elas me deixaram falar, do mesmo jeito que Eric fez na noite anterior. – E sabe o que é pior? Eu o amo. Mas parece que o amor dele não era tão verdadeiro quanto parecia.

Enxuguei as lágrimas e me levantei. Peguei todas as roupas dos meus cabides de uma vez só e joguei dentro da mala.

- Anne, não vai... Fica aqui com a gente! – Julie pediu.
- Eu não posso ficar sozinha nesse quarto. Não com todas as lembranças que ele traz pra mim... A gente vai se ver todos os dias no set. E eu vou falar com vocês por telefone. Mas não dá mais para ficar aqui com ele... E menos ainda sem ele. – Antes de continuar a arrumar as minhas malas, lembrei de uma coisa. Peguei a minha bolsa e tirei de dentro dela o anel que ele me deu quando nós começamos a namorar. Coloquei em cima do livro que ele estava lendo, na mesinha de cabeceira, ele ia ter que voltar para buscar em algum momento. Acabou. 

Música do capítulo de hoje: 
Cry, Rihanna:
Pessoas lindas do meu coração, tive uns probleminhas
pessoais esses dias e não postei antes. Mil desculpas.
Mas agora vou voltar ao ritmo normal, ok? hehe