16 - Is this what it feels like to really cry?


Vanessa. Ben. Lindsey. Exatamente no mesmo restaurante que eu e Josh. Juntos. Isso não pode estar acontecendo. Minha chefe acabou de me ver fazendo uma coisa que eu não deveria fazer de forma alguma, e eu sabia desde o início. E o que ela tem para me falar não é bom, é visível na expressão dela enquanto caminha até nós dois, paralisados no meio do corredor do restaurante. Nos afastamos involuntariamente quando a vimos, mas mesmo assim, ela com certeza percebeu que nós estávamos juntos. Hoje, qualquer um perceberia.

- Anne? – Ela disse enquanto se aproximava de nós dois, ignorando completamente a presença de Josh ali.
- Oi, Lindsey. – Eu respondi no tom de voz mais calmo que consegui naquele momento.
- Eu preciso te ver amanhã, na minha sala, assim que você chegar na produtora, ok? – Ela não parecia irritada ou chateada, ela me olhava quase que com pena.
- Ok.
- Eu vou indo. Boa noite, Anne. Boa noite, Josh. – Ela disse e foi embora do restaurante. Eu e Josh continuamos parados no lugar onde estávamos, sem reação alguma. Tanto que nem percebemos quando outra pessoa veio em nossa direção.
- Oi, princesa. – Ben não perdia a mania de me chamar de princesa. O problema não era a palavra, era o modo como ele dizia. Eu nunca me senti bem, ele sabe disso. Quando ele se aproximou, Josh me puxou para mais perto, se colocando entre nós dois, me protegendo. Mesmo assim, Ben se aproximou o suficiente para falar baixinho e fazer com que nós dois ouvíssemos: - Eu disse que se você não ficasse comigo, não ia ficar com mais ninguém. – Tive que segurar Josh pelo braço antes que ele voasse no pescoço de Ben. Ele foi embora antes que eu soltasse o braço de Josh, de repente, percebendo o perigo. Mas depois que ele foi, nós percebemos que ainda faltava uma pessoa das três conhecidas. E dessa vez quem ia precisar ser segurada era eu.
- Vocês realmente acharam que durante esse mês inteiro eu não percebi que vocês estavam juntos? Tolinhos. – Ela jogou um beijo para Josh e olhou para mim. – Tchau, Anne. – Ela acertou o meu nome. Eu sabia que ela só estava sendo extremamente irritante ao me chamar de Anna esse tempo todo. Mas agora isso não importava mais, já que, provavelmente, eu seria demitida no dia seguinte.

Eu e Josh ficamos parados no mesmo lugar, até que um garçom veio com o nosso pedido. Eu já tinha até esquecido que nós tínhamos que pegar alguma comida ali, perdi completamente o apetite. Josh pagou e nós voltamos para o carro em silêncio. Ele abriu a porta para mim e assim que eu entrei no carro, a ficha caiu. Junto com ela, uma lágrima. A primeira de muitas.

- E agora? O que a gente vai fazer? – Eu perguntei assim que ele entrou no carro, bateu a porta e ficou encarando o vidro, sem começar a dirigir.
- Eu não sei, Anne. O que você acha que a Lindsey vai falar amanhã? – Ele estava sério.
- De duas, uma: Ou ela vai me demitir, ou ela vai... – Minha voz falhou e eu não consegui terminar a segunda opção. Mas ele entendeu.
- Ou ela vai pedir para nós dois terminarmos. – Parece que ditas em voz alta, essas palavras tinham um peso maior do que quando estavam só na minha cabeça. Eu vi uma lágrima escorrer no rosto dele e me joguei nos braços dele, chorando mais do que já estava.
- Eu não quero que nada disso aconteça. – Eu disse, entre lágrimas. – Meu emprego é o que me mantém aqui. E você... Eu não posso ficar sem você, Josh. – Ele me deu um beijo e me colocou no meu banco outra vez.
- Anne, ela só vai conversar com você amanhã de manhã. Por hoje, você ainda é a jornalista responsável pela cobertura de In New York’s Streets. Você ainda é a minha namorada. – Ele disse, enxugando as próprias lágrimas. – E você sabe que eu não gosto de te ver chorar. – Dessa vez ele enxugou o meu rosto. – Nós vamos para a minha casa, vamos jantar como se nada tivesse acontecido e depois a gente conversa sobre isso, ok? Promete que você vai ser a minha Anne, sem lágrimas, por pelo menos mais umas três horas?
- Prometo. – Eu esbocei um sorriso e ele me deu um beijo. Fomos para a casa dele e quando eu entrei na sala, quase não reconheci o ambiente. Ele havia afastado os sofás e colocado a mesa da cozinha na sala, com dois jogos de pratos, copos, talheres e velas.
- Espera aí, rapidinho. – Ele disse depois que entramos, indo até a cozinha. – Coloca uma música aí, Anne. – Fui até a estante escolher um CD e por fim, não consegui escolher nenhum. Decidi então ligar o rádio e apertar play no CD que tivesse lá dentro. Me surpreendi quando reconheci a música que tinha começado a tocar.
- Kelly Clarkson? – Perguntei da sala.
- Não era para você ouvir isso! – Ele disse entre risos da cozinha, mas era perceptível que os risos não eram totalmente plenos. Afinal, eu não era a única triste ali. Prestei atenção na letra da música tocando e fiquei pior ainda.

Cause we belong together now, yeah, forever united, here somehow, yeah, you got a piece of me, and honestly my life would suck without you

Como se eu precisasse de uma música para dizer que ia ser bem difícil ficar sem o Josh. Não consegui trocar de música, só fiquei ali ouvindo, pensando no que me esperaria amanhã e me segurando para não chorar de novo, eu havia prometido. Mas o esforço foi em vão quando ele surgiu do nada e me puxou num abraço.

- Josh... Eu não sei o que eu vou fazer se a gente tiver que se separar. – Ele me puxou para o sofá e me abraçou mais forte.
- Se ela falar para a gente se separar, a gente se separa. Vai ser só no período de gravação do filme, afinal. O que eu sinto por você não vai mudar.
- Cinco meses, Josh. Cinco meses te vendo praticamente todos os dias te tratando como um colega de trabalho qualquer. Te tratando como um simples amigo. Eu não vou conseguir, Josh... – Ele não me respondeu, de repente percebendo que ia ser tão difícil para ele quanto seria para mim. – Eu te amo tanto. – Eu disse, pela primeira vez nesse um mês de namoro que estava prestes a acabar, deixando mais lágrimas rolarem pelo meu rosto e vendo que ele também já estava chorando outra vez.
- Eu também te amo, Anne. Tudo isso aqui é prova disso. E eu vou esperar o tempo que for para te ter de novo. Por mais que cada dia seja uma batalha. No final a gente vai vencer a guerra. – Eu o abracei e nós ficamos ali, deitados no sofá por um bom tempo.
- Eu não quero dormir. – Eu disse quando percebi que toda a expectativa e o nervosismo acumulados o dia inteiro estavam começando a dar sinais no meu corpo. – Não quero perder a noite. É a nossa última noite juntos por um bom tempo.
- Você ainda está com fome? Porque tem um jantar inteiro ali esperando pela gente. É só colocar no microondas. – Ele disse, forçando um sorriso. Nós comemos e depois ficamos conversando coisas sem sentido até que eu lembrei de uma coisa. Nós já estávamos no sofá outra vez, e já que era a nossa última noite, que fosse uma noite completa.
- Hey, sabe do que eu lembrei? – Perguntei como se nada tivesse acontecido e ele desconfiou do meu tom de voz, fazendo uma cara de desentendido. Me aproximei do rosto dele e continuei. – Você ainda tem a segunda parte do presente para receber. – Encostei meus lábios nos dele enquanto falava.
- Sério? Eu achei que essa segunda parte tinha ficado pelo ar, junto com o pedaço do “fomos descobertos”. – Ele falou, rindo. Eu comecei a me afastar.
- Tudo bem, se você não quer, deixa p... – Ele não me deixou terminar a frase. Eu um minuto, meu bolero já tinha parado em algum canto desconhecido da sala junto com a camisa dele e eu não sei como nós fomos parar no quarto.

Acordei às seis da manhã e lembrei do que teria que enfrentar. Saí da cama e me vesti, deixando Josh num sono de pedra. Não queria acordá-lo. Porque ele fica extremamente fofo quando dorme. E porque eu não queria outra despedida cheia de lágrimas e tristeza. Se, provavelmente, a gente só ia ficar junto de novo daqui a não sei quantos meses, que a nossa última lembrança seja a da última noite. Fui para a sala, peguei a minha bolsa e encontrei meu bolero perto da janela. Na extremidade contrária ao sofá. Junto com a camisa dele. Não consegui conter um sorriso. Peguei os dois, vesti o bolero e coloquei a camisa dele na bolsa, por impulso.

- Você não acha que eu também mereço um souvenir? – Ele disse, olhando para mim do corredor, com a cara de sono mais linda do mundo. Tirei o bolero, entreguei a ele e vesti a camisa cinza de botões dele por cima do vestido. Me engoliu, mas eu não ligava. – Você ia embora sem me acordar?
- Era a intenção. Eu queria evitar... isso.
- Isso o quê?
- Nós dois, aqui, parados um na frente do outro, lembrando da noite de ontem e se perguntando quando ela vai poder acontecer de novo. Pensando no que vai acontecer comigo daqui a pouco e no que pode acontecer com nós dois depois disso. Eu aqui, morrendo de vontade de voltar para ontem e fazer o tempo parar no momento em que você estacionou o carro na frente do hotel. Eu aqui, pensando na possibilidade de preferir a demissão para não precisar me afastar de você. Eu aqui, quase chorando outra vez. – Ele me abraçou e me deu um beijo.
- E você achou mesmo que eu não ia querer estar com você hoje?
- Eu acho melhor não, Josh. A gente ainda não sabe o que a Lindsey vai falar. É melhor a gente ainda não aparecer juntos na produtora.
- Deixa eu te levar em casa, pelo menos. – Ele pediu com cara de cachorro pidão.
- Tem como te negar alguma coisa quando você faz essa cara? – Eu ri.
- Deixa só eu colocar uma camisa. – Ele disse e voltou para o quarto. Voltou tão rápido que eu não tinha nem colocado as duas sandálias.

Fomos até a porta do meu prédio conversando normalmente. Quando ele estacionou, nós dois não conseguimos falar nada por uns segundos. Até que eu resolvi dar um fim àquela tensão.

- Eu preciso ir. – Disse olhando para ele. Quando ele virou o rosto, os olhos estavam cheios d’água. Dessa vez quem estava chorando não era eu. – Hey, calma. Não fica assim. Vai dar tudo certo. – Eu disse enquanto o abraçava. – A gente vai vencer a guerra no final, lembra? – Não derramei uma lágrima. Ele me deu um beijo.
- Eu te amo, Anne.
- Eu também te amo, Josh. – Dei outro beijo nele e saí do carro, usando todas as minhas forças para não chorar tudo o que não chorei no carro enquanto não chegava ao apartamento. Julie e Isabella ainda estavam dormindo, tudo estava silencioso. Sentei no sofá, encostei a cabeça e simplesmente chorei. Compulsivamente. A ponto de fazer Isabella e Julie acordarem e virem saber o que havia acontecido. Depois que expliquei, elas ficaram tão perplexas quanto eu ao chegar no restaurante ontem.

- Acho que se a Vanessa aparece na minha frente hoje, eu dou nela. – Julie disse.
- Você não tem noção da vontade que eu estou de fazer isso. – Respondi. – Vou tomar café, um banho e ir para a produtora. Desculpa ter acordado vocês.
- Que isso. – Isabella disse. – Vai tomar banho que a gente faz o café.
- Obrigada.

Tomei um banho rápido, coloquei a primeira roupa que vi pela frente, me maquiei o suficiente para esconder os olhos inchados de choro, tomei café e fui para a Lionsgate. Cheguei cedo, mas eu sabia que Lindsey era sempre a primeira a chegar. O quanto antes resolvesse isso, melhor. Bati na porta dela e ela, já sabendo que era eu, pediu que eu entrasse.

- Oi, Lindsey.
- Oi, Anne. Você provavelmente sabe o motivo de eu ter te chamado aqui hoje, não?
- Sim.
- Anne, antes de tudo, eu quero te dizer uma coisa: Eu já sabia do namoro de vocês há muito tempo. Mas como isso nunca atrapalhou o trabalho de nenhum de vocês dois, eu resolvi não me meter. Até ontem.
- O que aconteceu para você ter ido parar naquele restaurante àquela hora? – Perguntei, ainda perplexa com o fato dela já saber de nós dois.
- Benjamin e Vanessa vieram falar comigo que tinham descoberto uma coisa que podia interferir no desenvolvimento do filme e que era proibida pelas regras da empresa. Me falaram de você e de Josh e eu disse que não acreditava, então eles me levaram até o restaurante dizendo que iam me provar que não estavam mentindo. Eu não tinha o que fazer além de ir até o restaurante com eles ontem e te chamar para conversar hoje.
- Eu não acredito que eles fizeram isso. Eu sabia que o Ben estava muito quieto. Depois da ameaça que ele me fez, eu devia desconfiar que ele estava armando alguma.
- Ameaça? Que ameaça? – Lindsey perguntou.
- Ele disse que se eu não voltasse a ser namorada dele não seria de mais ninguém. Sem falar na briga que arrumou com Josh antes mesmo de nós dois termos ficados juntos. E, ah, sem contar no terror psicológico que me fez passar me ligando bêbado de madrugada para falar besteiras. – Falei tudo, já não tinha mais nada a perder mesmo...
- A presença dele no mesmo ambiente que você te incomoda?
- Profundamente.
- Deixa isso anotado aqui. Acho que posso tomar uma providência. Mas, infelizmente, nós temos que falar sobre você. E Josh. – Meu coração disparou.
- O que você quer que nós façamos? – Perguntei com medo da resposta.
- Anne, infelizmente, eu vou pedir para vocês se separarem. Você é uma ótima profissional, nós não podemos simplesmente te perder. Entenda, eu sempre soube do relacionamento de vocês. Mas ninguém sabia que eu sabia. Agora que Vanessa e Ben sabem, se eu não tomar uma atitude meu pescoço corre o risco de ficar a prêmio. Desculpe.
- Eu te entendo perfeitamente.
- Isso é mais comum do que você imagina. Mas nunca ninguém vem fazer fofoca sobre o relacionamento de um ator com alguém da produção de um filme. Vanessa e Ben interpretaram o papel de duas crianças de cinco anos, mas, infelizmente, eu não posso ignorá-los. – Eu estava me segurando para não chorar de novo.
- Eu já sabia que isso ia acontecer... Ontem era nosso aniversário de namoro. Mas, de qualquer forma, nós já nos despedimos. – Eu disse, mais para mim do que para ela.
- Estou me sentindo péssima. É visível o quanto vocês se gostam.
- É... Lindsey, você ainda precisa de mim para mais alguma coisa? Eu não estou me sentindo muito bem.
- Não, Anne. Você pode ir. Te peço desculpas, mais uma vez.
- Você não tem que se sentir culpada, Lindsey. A culpa é da Vanessa e do Ben. Você só está fazendo o seu trabalho e eu tenho certeza que se eles não tivessem conseguido atingir eu e Josh através de você, teriam encontrado outra forma. Afinal, os dois são nossos ex-namorados com dor de cotovelo eterna. – A minha tristeza estava começando a se transformar em raiva e era muito bom não ter muita gente na empresa a essa hora. Não sei o que faria se um dos dois se materializasse na minha frente.
- Vocês vão ficar juntos de novo, não se preocupe. Agora vá para casa. Você precisa descansar. – Ela disse enquanto segurava a minha mão por cima da mesa.
- Eu vou sim. Tchau, Lindsey.
- Tchau, Anne.

Fui até o carro no estacionamento como um foguete, entrei no carro e me recusei a chorar ali. Eu já sabia que isso ia acontecer e já chorei o suficiente para um ano. Não ia fazer aquilo de novo. Não em público. Quando liguei o carro e comecei a manobrar no estacionamento, recebi um sms. Era Julie.

Hey Ann... Você lembra do que nós tínhamos combinado para hoje? Nós íamos comprar o presente de aniversário da Isabella e algumas coisas para a festa surpresa depois de amanhã, aproveitando que ela vai passar o dia com o Keegan. Se você não quiser ir, eu te entendo completamente. Só me avisa, ok? Beijo, Julie.”

Tinha esquecido completamente que o aniversário da Isabella era em dois dias e que nós estávamos planejando uma festa surpresa com os meninos. Respondi o sms.

“Ai Julie, eu tinha esquecido mesmo! Mas eu vou com você sim, de qualquer forma, preciso de uma distração. Estou indo para casa. Beijo, Ann.”

Uma distração era tudo o que eu precisava para tirar a minha situação com Josh da cabeça. Para tentar tirar a minha situação com Josh da cabeça. Para fingir que eu tinha tirado a minha situação com Josh da cabeça. Ainda assim, era aniversário da minha melhor amiga. E ela merecia o melhor que eu pudesse oferecer, por mais que o meu melhor, hoje, fosse só a metade do que o que era ontem. Ainda mais com os planos do Keegan... Essa festa tinha que ser inesquecível. E se dependesse de mim, seria.


 Música do nome do capítulo: 
http://www.youtube.com/watch?v=GWkiRyjxfRg 
Cry, Kelly Clarkson
My Life Would Suck Without You: 
http://www.youtube.com/watch?v=cRM70Jw7F4M

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