8 - May, 3rd
- Ben, o que você está fazendo aqui?
- Eu quero saber o que você está fazendo com esse cara,
Anne! – Ele falou mais alto e olhando para Josh, como se eu não estivesse no
campo de visão. Mas se ele sabia gritar, eu também conseguia fazer o mesmo.
- Não te interessa o que eu estava fazendo com ele, Ben! –
Ele olhou para mim pela primeira vez. – Agora você pode fazer um favor para nós
dois e ir embora.
- Eu não vou a lugar nenhum, Anne! – Ele falou enquanto me
puxava pelo braço e me tirava de perto de Josh como se fosse ele quem estivesse
alterado. – Me larga, Ben, você está me machucando!
- Larga ela, cara. – Josh se manifestou pela primeira vez,
dando a volta na moto e vindo para perto de nós dois. Ele usou um tom de voz
que eu achei que fosse impossível de sair dele, sempre tão educado.
- Não se mete que eu quero saber dela! – Ben disse e me
puxou para perto, então eu entendi o motivo de toda aquela alteração. Ele
estava cheirando a bebida. Ele nunca foi de beber, então está completamente
bêbado e descontrolado. Ótimo.
- Você está bêbado, Ben!
- Eu já falei para você largar ela! – Josh repetiu depois
que eu comuniquei que Ben estava bêbado.
Nesse momento, ele chegou mais perto, deu um empurrão em Ben
usando um braço e tentou me puxar com o outro, mas Ben foi mais rápido e me
jogou para trás com toda a sua força, que mesmo com ele estando bêbado, não foi
abalada. Eu caí no chão em cima do meu pulso esquerdo e no mesmo instante senti
uma dor imensa na mão. O que me distraiu dela foi a pontada na minha coxa e a
sensação de líquido escorrendo do ponto onde doía. Olhei para os dois a tempo
de ver Josh cambaleando para trás depois de um soco no rosto, mas se
recuperando e dando outro soco em Ben, que caiu no chão. Bêbado e machucado,
ele não se levantou mais e Josh veio em minha direção imediatamente.
- Anne, Anne. – Ele disse enquanto se aproximava. – Você
está bem?
- Não. Acho que machuquei a mão e a perna. – Nesse instante
nós dois olhamos para a minha perna pela primeira vez e eu pude ver o que tinha
acontecido. Quando eu caí com o lado esquerdo do corpo no chão, um caco de
vidro que estava no chão entrou na minha perna e ainda estava lá. E sangrava,
muito.
- Fica quieta. – Eu estava enjoada com todo aquele sangue e
com tanta dor que nem discuti. Fiquei quieta e esperei para ver o que ele ia
fazer. Cuidadosamente, ele segurou a minha perna com uma mão e tirou o caco de
vidro com outra. – Não foi um corte muito fundo, não precisa de hospital. –
Imediatamente, ele passou para o outro lado do meu corpo e me pegou no colo.
- O que você vai fazer? – Perguntei assustada.
- Não posso te deixar machucada no meio da rua, né, Anne? Me
diz o número do seu apartamento, eu te deixo lá em cima e a gente dá um jeito
nessa perna. – Arfei com o contato que nós estávamos tendo e pela primeira vez,
percebi que ele também estava machucado. Um lado do rosto dele estava
extremamente inchado, e imaginei que aquele foi o lugar onde Ben acertou o soco
que o fez cambalear. Ben esse que não estava mais ali, se levantou e foi embora
sem que nós percebêssemos.
- Você também está machucado.
- Não se preocupa comigo, você está pior. – Ele disse
enquanto caminhava comigo no colo – coisa que ele fazia parecer muito fácil -
até a entrada do meu prédio.
- Josh, e a sua moto? – Eu lembrei subitamente. Ele parou,
olhou para a moto, olhou para mim e continuou a caminhar.
- Estou mais preocupado com você. – Ele disse, enquanto
atravessava a porta automática da portaria do prédio.
- Espera. – Ela parou.
- O que foi?
- Onde estão as chaves da moto?
- No meu bolso, mas eu não consigo pegar com você no colo.
Esquece a moto, Anne. – Eu ignorei as últimas palavras dele, soltei o meu braço
que estava em volta de seu pescoço e peguei a chave da moto. Nesse momento,
Dane, meu porteiro, estava na nossa frente, perguntando se estava tudo bem
comigo.
- Está sim, Dane, não foi nada sério. Mas eu preciso que
você me faça um favor. Está vendo aquela moto e aqueles dois capacetes ali na
frente?
- Sim.
- Pega a moto e coloca na garagem do prédio e guarda os capacetes
aqui na entrada com você, por favor? – Eu disse, estendendo a chave da moto
para ele.
-- Claro. – Dane disse enquanto pegava a chave da minha mão
direita e eu me segurava em Josh outra vez. Eu esperava que Josh começasse a
andar outra vez em direção aos elevadores, mas ele continuou parado, olhando
para mim, como quem não estava morrendo de pressa há alguns minutos a ponto de
não se importar com uma Harley Davidson.
- Josh? Tudo bem? – Eu disse e num impulso estalei os dedos
da mão esquerda, esquecendo completamente que ela estava machucada. Não foi o
meu estalar de dedos nem a minha voz que despertou Josh do transe em que ele se
encontrava, foi o meu grito de dor depois que eu senti a conseqüência de
estalar os dedos e mexer o pulso quando ele está machucado. Ele voltou a andar
rápido e quando chegamos no lobby do elevador, os dois estavam no último andar.
- Onde é a escada? – Ele perguntou elétrico. Menino bipolar.
- É naquela porta à esquerda. – Ele começou a andar em
direção à escada. – Josh, o meu apartamento é no quinto andar, você não vai
subir até lá comigo no colo. – Ele olhou para mim com uma cara de “não acredito
que ela está falando isso”.
- Já disse para você não se preocupar comigo. Além do mais,
você não está em condições de me impedir. – Ele disse, já subindo as escadas. E
não estava mesmo. Minha mão doía desesperadoramente mais depois que estalei os
dedos e ele mantinha a mão no corte da minha coxa para estancar o sangue.
- Ok, mas você vai colocar um gelo nesse rosto quando chegarmos
lá em cima.
- Qual é o número do apartamento?
- 508.
- Suas colegas de quarto estão em casa?
- Provavelmente sim.
Continuamos o caminho em silêncio até chegarmos ao quinto
andar e eu só conseguia pensar na reação que Julie e Isabella teriam quando me
vissem chegando em casa nesse estado carregada por Josh. Acho que daqui a pouco
ele vai ter que levar as minhas amigas pro hospital, porque elas vão enfartar.
Chegamos ao 508 e eu toquei a campainha com o pé, já que as mãos dele estavam
ocupadas. Isabella veio abrir a porta e como eu previ, surtou.
- ANNE DO CÉU, O QUE ACONTECEU? J-J-J-OSH? – Ela gritou e ao som das suas
palavras, Julie veio correndo saber o que havia acontecido e teve praticamente
a mesma reação que Bella.
- Gente, depois eu explico, agora eu e Josh precisamos
entrar. Bella, vamos precisar da sua experiência em primeiros socorros.
Finalmente, ela acordou e saiu da frente. Josh entrou comigo no colo e Julie
pegou uma cadeira para ele me colocar. Ele continuou pressionando o meu corte até
Isabella voltar com a maleta de primeiros socorros que ela tinha no quarto
dela.
- Ta bom, agora vocês podem me explicar o que aconteceu? –
Bella perguntou ao chegar.
- Ben. Bêbado. Na porta do prédio. Me empurrou no chão, eu
machuquei a mão e cortei a perna. Deu um soco no Josh e ele está com o rosto
inchado. – Eu resumi. Julie ainda estava meio absorta. A ponto de não fazer
alguma coisa com o filme do Josh que estava passando na TV. Ironia do destino
ou não, Hunger Games. Bem no pedaço em que o Peeta passa a pomada no machucado
da testa da Katniss. Josh pareceu não perceber, e se percebeu disfarçou muito
bem. Claro, ele é ator.
- Ele está com um corte na testa também, perto da raiz dos
cabelos. – Como eu não percebi isso enquanto vim de lá até aqui com ele?
- Cuida dela primeiro. – Ele abriu a boca pela primeira vez
desde que entramos no apartamento.
- Julie, pega gelo para o pulso da Anne e para o rosto do
Josh. – Isabella disse. Tenho que agradecer aos céus pela mãe dela ser
biomédica e ter ensinado algumas coisas a ela. Odeio hospitais e não gostaria
de estar em um agora. – Vamos ver essa perna, Anne. – Ela disse sentando na
cadeira à minha frente e apoiando meu pé esquerdo na perna dela. – Hum, Josh...
Vai ser difícil de limpar isso aqui se você continuar segurando para estancar o
sangue. – Josh tirou o braço e então eu percebi que não só sua mão, mas seu
braço estavam encharcados de sangue.
- O banheiro é a segunda porta à esquerda. Vai lavar a mão.
– Foi a minha vez de usar um tom de voz que impedisse discussões. Julie voltou
para a sala e colocou um pano com gelo em volta do meu pulso e ficou segurando
outro, provavelmente para o rosto de Josh.
- Cadê ele? – Ela perguntou.
- Foi ao banheiro lavar as mãos. Ai!
- Desculpa, mas eu tenho que limpar. – Isabella respondeu.
- Julie, meu amor, TIRA ESSE FILME DA TV. – A última coisa
que ele precisava agora era achar que nós éramos um bando de fãs neuróticas.
Quer dizer, a última coisa que ele precisava descobrir. Julie trocou o canal
por um outro filme qualquer, só para não ficarmos no silêncio extremo.
- Anne, você tem muito a explicar. – Julie disse, enquanto
voltava para perto de nós.
- Depois eu juro AI ISABELLA que eu explico tudo. – Josh
voltou do banheiro e chegou perto de Isabella para ver o que ela estava
fazendo.
- Toma Josh. – Julie entregou o pano com gelo para ele. –
Senta aí. –Ele se sentou na cadeira
próxima à Isabella, enquanto eu lutava para controlar as caretas que fazia
enquanto ela limpava meu corte. Com água oxigenada.
- Josh, não tira o gelo do rosto. Quando eu acabar aqui,
limpo o seu corte. - Isabella disse sem nem se virar para ele, concentrada em
começar o meu curativo. Minutos depois, eu estava com uma atadura enrolada na
coxa segurando a infinidade de gaze que ela usou para fazer o meu curativo. –
Fique quieta, Anne. – Já era a segunda vez que falavam assim comigo hoje... –
Agora você, Josh. Pode tirar o gelo, seu rosto vai desinchar logo. – Da mesma
forma que eu, ele estremecia enquanto ela limpava o corte dele e fazia um
curativo. Quando ela terminou com ele, olhou meu pulso e disse que não era
parecia ser nada sério e que se piorasse, iríamos ao hospital do bairro.
- Muito obrigada, Bella.
- Obrigado, Isabella. – Josh também agradeceu.
- Não foi nada, meus amores. – Ela provavelmente estava se
controlando demais para não surtar com a presença de Josh na nossa sala.
- Agora vocês vão explicar exatamente o que aconteceu. –
Julie lembrou que tem língua e disse isso.
- A gente pode ir para o sofá antes? Estou meio desconfortável
nessa posição. – Josh me ajudou a chegar no sofá e Isabella trouxe uma cadeira
para eu esticar a perna. Ele se sentou ao meu lado e elas, no chão, junto das
almofadas.
- Agora falem. – Explicamos tudo, começando pelo fato de eu
ter ido sem carro e terminando em todos os machucados provocados por Ben.
- O Ben, bêbado? Que estranho! Ele nunca foi de beber... –
Julie disse.
- Pois é, mas parece que agora ele bebe... Enfim, vamos
trocar de assunto, porque Ben já deu por hoje. Onde vocês foram tão cedo?
- Ao supermercado. Fomos comprar as coisas para o jantar.
Você lembra que dia é hoje, Anne?
- Hoje? É dia três de maio... – Elas me olharam em
expectativa. – MEU DEUS, HOJE É TRÊS DE MAIO. – Josh me olhou com uma
interrogação no rosto. – Hoje nós três fazemos oito anos de amizade. – Eu
expliquei a ele.
- Que legal, parabéns para vocês! – Ele disse, todo
empolgado.
- Eu lembro como se fosse ontem desse dia há oito anos
atrás. – Eu disse.
– Nossas aulas na escola tinham começado há algumas semanas,
mas só ali nós descobrimos que seríamos realmente amigas... – Julie completou,
com o olhar de quem lembrava do passado.
- E o que aconteceu para vocês descobrirem?
- Eu fui com meu caderno personalizado com uma foto sua,
elas viram e adoraram, nós descobrimos que todas éramos suas fãs e viramos
amigas. – Isso Isabella, pensar antes de falar, ninguém quer, né? Ela percebeu
o que tinha feito e ficou vermelha no mesmo instante.
- Elas também? – Ele se dirigiu a mim.
- Há exatamente o mesmo tempo que eu. – Respondi.
- Isso é muito legal. – Ele disse com sorriso de orelha a
orelha. – Eu me sinto, mais uma vez, muito honrado de ter sido o motivo do
nascimento de uma amizade que dura tanto tempo. Bem, eu vou embor...
- Eu espero que você não diga que vai embora, Joshua. –
Julie disse, com um tom de voz que me fez ficar com medo.
- Você ouviu o que eu acabei de falar? Você foi o motivo dessa amizade, nada mais justo comemorar com a
gente. – Isabella continuou. – Além do mais, com essa perna, Anne não vai poder
ficar em pé por muito tempo e você pode fazer companhia a ela enquanto nós
fazemos o jantar.
- Tenho a impressão de que posso sofrer um atentado se
insistir em ir embora. – Ele brincou.
- Exatamente. – Foi a minha vez de insistir.
- Se é assim, eu fico. - Ele disse, olhando para mim. Eu
desviei o olhar quando percebi pela visão periférica que Isabella e Julie
estavam se cutucando na nossa frente.
- Qual é o menu, chefs? – Perguntei.
- Surpresa! – Elas falaram em uníssono.
- Eu devo ter medo? – Josh perguntou, baixinho, brincando.
- Não, elas cozinham direitinho. – Eu respondi, usando o
mesmo tom.
- Engraçadinhos. – Julie disse. – Enfim, são 18:00. O jantar
sai às 20:30. Estejam prontos.
- Julie, nós não vamos a lugar algum, como não estaríamos
prontos? – Ele perguntou.
- Vocês vão sim. Pro seu quarto. De porta fechada para não
sentirem o cheiro da comida. É surpresa! – É a vez da Isabella me fazer jurar
vingança, ok. Como assim, ela ia me empurrar para o quarto com o Josh?
- Nós temos escolha? – Eu perguntei, já sabendo a resposta.
- Não!
- Tudo bem pra você? – Eu perguntei a ele.
- Claro que sim.
- Então me ajuda a levantar, meu quarto é o mais próximo do
banheiro.
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