02 - In the back of a car

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COM

Respirei fundo antes de falar alguma coisa para impedir a minha vontade de voar no pescoço dela. Josh segurou a minha mão e me puxou mais para perto. Ele não usou força, mas conseguiria me segurar discretamente se eu desse um passo na direção de Vanessa. É bom ter um marido que te conhece. Pelo menos quando você está em público e não pode fazer algo que pode te levar para a cadeia.

- O que você está fazendo aqui, Vanessa? – Ele perguntou antes de mim.
- Eu ainda sou contratada da Lionsgate, darling. – Respira, Anne. Só respira. – Recebi o convite dessa premiere e não pude recusar. Ainda mais tendo vocês dois como diretores. Sabe, o mundo acha que nós somos amigos.
- Mas nós não somos. – Falei. – E você já pode ir embora.
- Eu acho que a gente podia tentar mudar esse status. – Ela disse. – Eu estou realmente arrependida pelo que fiz a vocês...
- Por favor, me diz que você não está pedindo desculpas e acha que nós vamos ser best friends forever agora. – Falei.
- Não acho que nós vamos ser amigas, mas acho que não há mais motivos para ressentimentos. Você ficou com o cara, eu não tenho mais nada a fazer.
- Mesmo assim, eu não tenho muita vontade de te perdoar.
- Eu acho que a gente podia superar isso trabalhando juntas... Você já deve estar pensando em outro roteiro, certo? – Dei uma gargalhada tão alta que Josh se assustou ao meu lado.
- Claro, Vanessa, querida. – Assenti para Josh soltar a minha mão e ele me deixou, relutante, caminhar na direção dela. – A gente pode pensar nisso, sim. – Falei sorrindo enquanto segurei as mãos dela. De fora, as pessoas eram capazes de acreditar que nós éramos amigas mesmo. Me aproximei do ouvido dela. – Você não sabe como é gratificante para mim te ver me pedindo trabalho. Qual foi o filme que você fez depois de In New York’s Street’s mesmo? Ah, sim, você não fez. Mas presta bastante atenção, baby. No dia em que eu te escolher para um filme meu, ou eu estou louca ou eu fui obrigada. – Me afastei, mas continuei falando no mesmo tom irônico e com um sorriso no rosto. – E eu juro que se você se aproximar de mim e do meu marido outra vez eu te faço voltar de onde você veio. – Ela ficou vermelha, provavelmente de raiva e vergonha. Ou talvez porque eu percebi a olhada que ela deu no Josh antes de começar do discurso de “estou arrependida”.
- Pois é, Vanessa, acho que se a roteirista não te quer, não há nada que o diretor possa fazer. – Josh disse. – E obrigado pelos votos de felicidade que você nos fez antes, mas eles não são necessários. Nós já somos infinitamente felizes. – Ele colocou uma mão na minha cintura pelas minhas costas – Agora, Anne, amor, nós temos que entrar. O filme vai começar.
- Vamos sim, baby. E, Vanessa, fique à vontade. Se você não for bem tratada por alguém hoje, é só falar com a gente. Sabe como é, os diretores são basicamente os donos da festa. – Pisquei para ela antes de me virar e dar o braço para Josh.

- Por um momento eu realmente achei que você cogitaria a possibilidade de trabalhar com ela – Josh disse depois que entramos.
- Ando convivendo muito com atores. Estou pegando uma veia dramática, sabe...
- Você está pegando uma veia dramática? Por favor, amor. Drama é seu nome do meio.
- Shh, não precisa espalhar.
- Todo mundo que te conhece já sabe. E depois desse filme o mundo inteiro vai saber, de verdade.
- Ai, céus, vou assistir New Beginnings outra vez... Ainda bem que a maquiagem é à prova d’água.
- Você fica linda de qualquer jeito, amor. Até com a maquiagem borrada.
- E eu já disse que os seus elogios só contam pra estatística. Não tem como ficar bonita parecendo um panda.
- Mas eu te acho linda. Até de cara limpa. Maquiagem borrada é lucro. – Dei um beijo nele. Já tinha desistido de ter essa discussão com Josh. Por menos humilde que isso pareça, eu já aceitei o fato de que pra ele eu estou sempre linda. É o amor, fazer o que?
- Obrigada, baby. – Agradeci e nós encontramos nossos lugares.
- Mr. and Mrs. Hutcherson. Parece que o mundo já te aceitou como sendo minha. – Ele leu os papeis grudados nas costas das nossas cadeiras.
- Ai do mundo que não tivesse aceitado a verdade. – Eu disse enquanto nós nos sentávamos e alguém vinha mais do que rápido buscar os papeis com os nossos nomes que Josh estava segurando. Depois que estava com as mãos livres, ele segurou o meu rosto com uma delas.
- Eu te amo muito, viu?
- Eu também te amo demais, baby. – Ele me deu um beijo e eu desejei que aquele clima de início de casamento (muito melhor que início de namoro) nunca passasse.

Nós assistimos ao filme outra vez e como esperado, chorei do início ao fim outra vez. Josh passou o tempo todo com o braço em volta do meu ombro e eu vi que ele também derramou algumas lagriminhas em algumas partes. Nós fomos para a after party da premiere depois do filme e ficamos só o tempo de marcar presença. Mesmo assim, não vi sinal da Vanessa. Acho que ela realmente vai para bem longe depois da minha resposta de mais cedo.

Depois da premiere de LA, fomos para Londres e Paris na mesma semana e depois terminamos as premieres em Nova York. Dessa vez, pelo menos a surpresa foi boa. Eric e Meredith apareceram e fizeram questão de falar que estão torcendo pela nossa indicação ao Globo de Ouro. Sim, agora o mundo já sabia e as nossas entrevistas eram quase baseadas nisso. Eu estava começando a ficar loucamente nervosa e a premiação só ia acontecer no início de janeiro.

- Ann, que dia é hoje? – Josh perguntou no dia em que voltamos para casa, quando conseguimos, finalmente, descansar.
- Não sei, baby... Acho que é dia 20. – Nós dois estávamos deitados no sofá, ignorando a televisão, como sempre.
- Estica o braço e vê no meu celular aí na mesinha do abajur. – Me estiquei com preguiça e peguei o celular dele. Me espantei quando vi a data.
- Isso não pode estar certo.
- O que foi?
- Hoje é dia 21, Josh. Não acredito que eu esqueci... 
- Esqueceu de que? – Levantei a sobrancelha. Ele ficou tão espantado quanto eu quando percebeu o que nós dois tínhamos esquecido.
- Feliz mêsversário de casamento, Annie.
- O dia já está quase acabando e a gente só dormiu! Não pode ser verdade...
- Ann, baby, respira. O dia não está quase acabando, ainda são seis da noite. A gente anda pode sair para comemorar. Eu sei onde a gente pode jantar. E tive uma outra ideia... – Ele fez aquela cara que fazia quando estava planejando alguma surpresa para mim.
- O que foi?
- Surpresa. Vai se arrumar, nós vamos jantar fora. E faz uma bolsa. Também não vamos dormir em casa. Eu só preciso dar alguns telefonemas...
- Joshua Ryan Hutcherson, o que você está tramando?
- Você vai ver. Mas só se me der o celular. – Estendi o celular para ele e ele começou a tocar.
- Nossa. Atende, vai!
- É da produtora. Deve ser alguma coisa séria. – Ele falou e nós nos sentamos.

Josh atendeu ao telefonema sério e me ignorou completamente quando eu perguntei o motivo do sorriso bobo dele conforme ele ouvia o que a outra pessoa estava falando.


- Ok, obrigado Lindsey. – Ele disse antes de desligar.
- Lindsey? Aquela Lindsey?
- Sim, sim.
- E você vai falar só isso? O que ela queria? O que ela disse?
- A sua impaciência ainda me mata. – Ele riu.
- Amor, fala logo! – Mudei o tom de voz...
- Você sabe que me ganha quando fala manhosa assim, né? – E consegui o que queria. – Ok, eu falo. – Ele disse isso e fez silêncio para me provocar.
- Josh!
- New Beginnings foi indicado ao SAG Awards e ao Critics Movie Awards do início do ano que vem.
- Ai meu Deus. E você e a Emma?
- Também fomos indicados a melhor ator e atriz. – Pulei no pescoço dele e nós caímos no sofá outra vez.
- Josh! Parabéns, amor, isso é incrível!
- Parabéns para você também, baby. Acho que nós temos mais motivos para comemorar agora.
- Exatamente... Ainda vai ficar sem dizer o que você vai fazer?
- Agora mais ainda.
- Adoro as suas surpresas, sabia? – Ele me deu um beijo.
- Você ainda não viu nada, baby. Vai se arrumar que eu tenho que fazer ligações para tudo dar certo.
- Ok baby. Não vou tentar descobrir, tenho uma bolsa para arrumar.
- Vai lá, gostosa. – Eu ri e subi para o nosso quarto.

Meu guarda roupa tinha mudado um pouco para aparições públicas depois do casamento. Querendo ou não, agora eu era famosa pelos meus créditos, não só por ser a esposa de um Hollywoodiano. Tinha uma reputação a zelar e manter. E ainda tinham as listas das pessoas mais mal vestidas do ano... Como não sabia para onde nós íamos, preferi na ousar e coloquei um vestido azul que o Josh tinha me dado na Forever 21 em uma das vezes que nós fomos a Nova York com um cinto preto por cima. Separei uma sandália preta e comecei a arrumar a bolsa quando Josh entrou no quarto e foi se arrumar.

Nós saímos de casa uma hora e meia depois e eu estava realmente ficando curiosa para saber onde ele ia me levar. Pelo trajeto que ele fez de carro, era algum lugar fora de Hollywood Hills, mais perto de onde ficava o apartamento em que eu e as meninas moramos.

- Chegamos. – Ele disse e eu olhei para fora.
- Tem certeza que você não vai me impedir de olhar?
- Tenho. Não vai dar para esconder, vão vir buscar o carro para estacionar. – No mesmo momento, abriram as nossas portas. Um chofer me ajudou a descer enquanto outro pegava a chave do carro com Josh. Quando reconheci o lugar, me senti lenta por não ter pensado nisso antes.
- Sério?
- É o nosso restaurante. O lugar do nosso primeiro encontro, pelo menos encontro marcado.
- Como você conseguiu mesa?
- Annie, Darling. Meu nome é Josh Hutcherson. Tem peso. E às vezes vale a pena usar.
- Mesmo sabendo que eles com certeza venderam as informações para aqueles paparazzis ali? – Apontei para alguns fotógrafos na esquina.
- Ah, a gente entra rápido e tudo se resolve. – Ele me pegou pela mão e nós chegamos rápido ao lobby do Hilton, o hotel daquela primeira coletiva de INYS quando nós dois nos reencontramos e almoçamos juntos no dia seguinte. – Achei uma boa ideia vir aqui, já que nós tentamos quando fizemos um mês de namoro e não tivemos muita sorte...
- Uma ótima ideia, baby.
- Boa noite. – Ele disse para a recepcionista do restaurante. – Eu fiz uma reserva para dois, no nome de Hutcherson.
- A mesa de vocês já está pronta, Sr. e Sra. Hutcherson. É só acompanhar o maitre do salão. – Nós entramos no restaurante e fomos conduzidos até a nossa mesa, reservada, bem no fundo.
- Você pediu para reservarem a mesma mesa que a gente usou no nosso primeiro encontro?
- Talvez. Pode ter sido só uma feliz coincidência... – Ele disse depois e puxou a cadeira para mim.
- Você não existe, Josh.
- Eu faço tudo por você, é diferente.

Fizemos nossos pedidos e como sempre, a hora passou voando por que nós dois estávamos juntos. A diferença é que agora nós voltamos para a mesma casa e não precisamos nos separar. Com o jantar, nós tomamos uma garrafa inteira de vinho e eu só lembrei que tínhamos vindo de carro na hora de ir embora.

- Vamos pegar um taxi, não temos condições de dirigir depois de ter bebido tudo aquilo.
- E quem disse que nós vamos embora, Annie? Eu não disse que a gente ia passar a noite fora? – Ele me puxou para o balcão da recepção do hotel. – Boa noite. Eu fiz uma reserva mais cedo para uma diária na cobertura.
- Seu sobrenome? – Sério? Em que mundo essa menina vive?
- Hutcherson. – Ela digitou e checou alguns dados com ele antes de nos entregar o cartão que abria a porta do quarto.
- Cobertura, Josh? – Perguntei quando nós entramos no elevador.
- Eu já te disse hoje que eu faço tudo por você. E sempre o melhor.
- Indo nessa escala, quando nós fizermos um ano de casados você vai me dar um hotel.
- Se você quiser um, eu compro uma rede inteirinha. – Sorri.
- Eu te amo muito.
- Eu também te amo demais, Annie.
- Você lembra da última vez em que nós tomamos tanto vinho assim?
- Não esqueceria nem se tentasse. Um dia antes do nosso jantar de ensaio. Depois das fotos.
- Pronto para superar, Joshua? – Falei perto do ouvido dele.
- Você não sabe o que te aguarda, Annie.

TRÊS SEMANAS DEPOIS

O fim de dezembro com as festas e toda a neve dos EUA passou voando. Em pouco tempo, nós já estávamos em 2020, Julie estava com sete meses de gravidez e Alice chutava toda vez que ouvia a minha voz. E, claro, eu estava uma pilha por causa do Globo de Ouro. Na semana da premiação, especialmente, eu estava de TPM.

- Não acredito, Josh! Você deixou a toalha molhada outra vez no meu lado da cama! – Falei, não, gritei quando cheguei no quarto, pronta para dormir.
- Deixei? – Ele entrou logo depois de mim. – Desculpa, amor.
- Desculpa? Agora o meu lado da cama está molhado e cheirando a mofo, Josh!
- Anne, é só você deitar no meu lado... – Ele mudou o tom de voz.
- Você sabe que eu não consigo dormir no seu lado!
- Então, o que mais você quer que eu faça? Eu esqueci a toalha aí, pronto, acabou, já pedi desculpas. Quer que eu assopre até secar e você poder dormir? – Ele falou mais alto.
- Também não precisava ser grosso!
- Não precisava? Foi você quem começou gritando!
- Por que eu quero dormir e não posso porque você esqueceu a toalha molhada na minha cama. MAIS UMA VEZ!
- Ah, Anne, dá licença, não tenho paciência para os seus surtos a essa hora.

Ele pegou o travesseiro dele e saiu do quarto. Olhei para a cama molhada e fiz a mesma coisa. Pensei que ia encontrar com ele dormindo na sala, mas os sofás estavam vazios e foi ali que eu deitei para tentar dormir.

Fiquei meia hora praguejando contra a toalha molhada na cama até me acalmar. Depois disso, comecei a achar que exagerei um pouquinho na reação. Até me lembrar de uma coisa.

“- Não importa quanto demore para você se mudar, quando a gente brigar, nós nunca vamos dormir juntos sem fazer as pazes. Nem que a gente fique acordado a noite toda porque você é teimosa e eu sou orgulhoso.
- Nem que você durma no carro e eu no sofá.
- Combinado?
- Combinado.”

Inconscientemente, eu tinha feito o que nós combinamos no casamento da Julie, quando eu disse que precisava de um tempo para me mudar para a casa dele, há quase um ano. Aquela lembrança acabou com a minha raiva e eu briguei com o orgulho por um tempinho, mas fui até a garagem atrás dele...  E lá estava o meu marido, com o banco do carona todo reclinado, tentando se ajeitar com o travesseiro. Entrei no carro pelo lado do motorista e fiquei olhando para frente.

- O que foi?  O sofá está molhado também? – Ele perguntou.
- Não. Ele está até bem sequinho...
- E o que você veio fazer aqui? Ver se consegue dormir no meu lado do carro?  
- Não. Eu vim pedir desculpas.
- O que? Você? Desculpas?
- Sim. Eu exagerei. Não precisava ter feito aquele escândalo todo por causa de uma toalha. É que eu estou pirando. Tem um milhão de premiações pra gente ir e o fato de que a gente está concorrendo em todas elas me deixa louca e eu estou perto da TPM e tenho certeza que vou estar com cólica no dia do Globo de Ouro e estou com medo de gente perder e...
- Shhh... – Ele se sentou e colocou o dedo indicador nos meus lábios para me fazer parar de falar.  – Calma, Annie. – Ele disse me abraçando. Me chamou de Annie. Ele já me perdoou. – Eu também não devia ter gritado com você, sei que você está “em surtos”. Tudo bem que eu também estou bem nervoso, mas você pira de verdade...
- Me perdoa?
- Já te perdoei, Annie. Vem cá. – Ele me deu um beijo. E eu tinha certeza que nós íamos acabar no banco de trás do carro a partir daquele momento e daquele beijo diferente.
- Quem vai para o banco de trás primeiro, eu vou você? – Perguntei.
- Eu passo primeiro, depois vai você que é pequena.

E ali, nós consumamos a nossa reconciliação. Bem do nosso jeito. Juntos. 

Ainda se lembram de mim e da minha fic, pessoas? 
Pois é, passei por uma fase tensa na faculdade, mas estou de volta. 
Curtiram o capítulo?