16 - Garoando


- E aqui estamos. Nossa última cidade antes de voltar para LA. – Eu disse quando nós chegamos em São Paulo.  Para variar, estava garoando.
- Minha cidade. Eu senti falta desse ar! – Julie disse serelepe enquanto nós entrávamos no saguão do aeroporto.
- E o ar daqui é diferente? – Ian perguntou.
- É uma teoria da Isabella que passou para a Julie. Eu não vejo diferença nenhuma nos ares, mas, enfim... Vamos pegar as malas! – Eu disse. Pela primeira vez, nós não encontramos fãs fazendo alvoroço na saída do nosso vôo. Estávamos pegando as malas quando três meninas se aproximaram devagarinho...
- Anne? – É incrível. Agora os fãs deles nos chamam pelo nome.
- É meu nome. – Respondi em português. Eu estava meio afastada dos meninos, mas eles estavam atrás de mim, e eu tenho quase certeza que elas tiveram que se controlar para não gritar quando perceberam que eles estavam tão perto.
- Julie e Isabella? – Uma das outras meninas perguntou.
- Sim, somos nós. – Julie respondeu.
- Ai meu Deus do céu, eu não acredito que a gente encontrou vocês! – A terceira menina perguntou enquanto a primeira começava a chorar baixinho.
- Eu tenho certeza que não éramos nós três exatamente que vocês queriam ver... – Isabella disse.
- Vocês também. – A segunda menina falou enquanto a primeira continuava chorando.
- Como são os nomes de vocês? – Perguntei.
- Eu sou Flávia. – A segunda menina disse. – Essa é a Débora e aquela ali chorando, é a Letícia.
- Oi meninas. Letícia, por que você está chorando assim? Fica calma. – Isabella disse quase abraçando a menina.
- Hoje é aniversário dela. – Débora falou. – Nós somos ultra fãs dos meninos e quando soubemos que eles iam chegar aqui em São Paulo hoje, quase piramos.
- Só que falaram que vocês iam chegar por outro portão e lá está muito lotado. Nós viemos para esse aqui só por vir e acabou que vocês saíram por aqui.
- Ah, então é por isso que quase não tem ninguém aqui... – Julie entendeu.
- Vocês querem falar com eles, né? – Perguntei. É claro que elas queriam. Mas acho que depois da minha pergunta a ficha delas caiu e a Letícia que estava chorando chorou ainda mais e as outras duas só conseguiram assentir...
- Meninos, venham aqui! – Isabella chamou e quando eles se aproximaram, elas só faltaram enfartar.
- Respirem fundo e falem alguma coisa. Vocês vão querer se matar mais tarde se não falarem nada agora. – Falei.
- Oi! – Elas três falaram juntas. E não saíram do lugar. Resolvi ajudar.
- Meninos, hoje é aniversário dela. – Apontei para Letícia.
- Parabéééns, Letícia! – Keegan disse todo animado enquanto dava um abraço nela. Josh e Ian fizeram o mesmo e eu pude ver que ela quase desfaleceu.
- Quantos anos você está fazendo?
- Dezoito.
- E seus pais deixaram você passar o seu aniversário aqui?
- Eles não tiveram muito a fazer. Conhecer eles três é um dos maiores sonhos da minha vida. E eu realizei agora. – Ela disse com os olhinhos brilhando e quando eu olhei para o lado, vi Isabella chorando junto com ela. Ah, TPM...
- Então vamos registrar esse momento! – Falei. – Cadê as câmeras de vocês? – Débora mostrou a câmera e nós tiramos muitas fotos. Muitas mesmo. Cada uma tirou uma individual com os meninos, com a gente, uma das três com eu e as meninas, uma das três com eles três e uma de nós nove que o funcionário do aeroporto teve a boa vontade de tirar. Elas saíram de perto da gente saltitantes e eu ouvi uma delas ligando para a mãe chorando “mãe, eles estão aqui, eles falaram com a gente”. Eu me vi nela.
- Elas fizeram o meu dia. – Ian disse.
- Acredite, vocês fizeram o ano delas.  – Isabella falou enxugando lágrimas.
- E por que você está chorando mesmo, Isa? – Josh perguntou.
- TPM, Josh. TPM. – Keegan fez cara de quem contava e assentiu. É, era TPM.
- Bem, vamos pegar um táxi? – Ian disse. – Ou três...

A viagem de carro do aeroporto ao hotel demorou um pouquinho, mas foi bem fácil de relevar. Chegamos ao Hilton no fim da tarde e, sinceramente, tudo o que eu queria era me jogar na cama e ficar lá o resto do dia. Viajar cansa. Fizemos os check ins e nos despedimos. Isabella e Julie também não pareciam ter disposição para muita coisa além de descansar.

Assim que chegamos ao quarto, eu me joguei na cama com a roupa que eu estava. Josh fez o mesmo, mas antes que pudéssemos falar alguma coisa, o celular dele tocou.

- Connor? – Ele esperou a resposta. – Oi, mano, está tudo bem aí? Por aqui também, nós acabamos de chegar na cidade da Julie. Ok, vou colocar no viva voz. – Josh mexeu no celular e o colocou na cama entre nós dois.
- Oi cunhado!
- Oi Ann! Como você está?
- Cansada, mas bem. E você? E a Amy?
- Nós estamos bem. Para falar a verdade, eu liguei para fazer um convite a vocês.
- Estamos ouvindo. – Josh falou.
- O que você acham de passar o Ano Novo no Kentucky? Podem trazer as meninas, Ian e Keegan. – Josh olhou para mim. Eu sorri.
- Acho uma ótima ideia, Connor. Nós vamos sim. – Josh falou.
- Hum, Connor... Falta mais de um mês para o Ano Novo... Por que você perguntou isso agora e não esperou nós voltarmos para LA para não pagar ligação internacional? – Perguntei.
- Ok, Anne, eu já sei que não consigo esconder nada de você. Eu estou ligando para isso e para pedir a ajuda de vocês dois numa surpresa para a Amy.
- Adoro surpresas. – Josh disse.
- Fala, cunhado! – Connor contou pelo telefone o que ele tinha em mente e eu só faltei dar pulinhos pelo quarto. Isso ia ser lindo! – Definitivamente, eu estou contando os dias para o Ano Novo!
- A sua ajuda vai ser imprescindível, Ann. Muito, muito obrigado.
- Estou aqui para isso, cunhado.
- Se você não fosse meu irmão, eu ficaria com ciúmes. – Josh brincou.
- Você não precisa ter ciúmes de ninguém.
- E esse é o momento em que ele vai te beijar e eu vou desligar. Tchau Anne, tchau Josh.
- Tchau Connor. – Nós dois falamos juntos, sem olhar para o telefone. Ele desligou a chamada e como Connor disso, me deu um beijo. Eu já disse que não me cansava do beijo dele? Pois é.
- O que a gente vai fazer hoje? – Ele perguntou enquanto eu me aninhava nele.
- Não sei. E sinceramente, se a gente puder ficar por aqui o resto do dia, eu agradeço demais.
- Ah, que medo de ouvir você dizer que queria sair daqui. Eu estou muito cansado. E com saudade de casa.
- Pode ter certeza que eu te entendo. Mas logo a gente volta. – Dei um beijo nele. Nós ficamos calados por algum tempo e eu sorri enquanto achava que ele tinha dormido.
- Por que esse sorriso do nada?
- Ai, menino, eu achei que você tivesse dormido! – Nós rimos. – E eu estou pensando no Connor e na Amy. Eles são tão perfeitos um para o outro...
- Você realmente gosta do meu irmão, né?
- Muito. – Eu ri. – Eu gosto da sua família toda, Josh.
- Mas você nem conhece a minha família toda! Vai conhecer no Ano Novo. – Eu não tinha pensado nisso.
- Ai, céus, tem mais família para eu conhecer!  Achei que já tivesse passado desse nível.
- Não vai ter uma crise de nervos que nem ano passado em Nova York, por favor. A minha família já te ama, mesmo antes de te conhecer.
- Eu vou ficar calma. Eu juro.

Nós ficamos conversando por mais um tempo e no fim das contas, dormimos ali mesmo, sem trocar de roupa, sem comer nem nada. Acordamos no dia seguinte com uma sms no meu celular. “Vamos para a minha caaaasa! Acordem!”. Julie.

Chegamos na casa da Julie quase na hora do almoço. O que era bem legal, porque a comida da mãe dela era dos deuses. Assim que entramos na sala, Julie começou a chorar. Ela falou com a família e depois eles vieram falar conosco. Não é preciso dizer que o anel de noivado dela roubou a cena. E no fim das contas, o Ian nem sofreu tanto...

- Eu estou impressionada com o tamanho do irmão da Julie. Eu lembro de apertar as bochechas desse menino, de verdade. – Falei enquanto eu, Josh, Isabella e Keegan estávamos conversando e Julie tinha sumido pela casa com Ian e a família.
- Isso é porque ele está maior que você, Anne? – Keegan perguntou.
- Eu nunca tive dúvidas de que isso ia acontecer um dia, Keegs. – Eu ri. Como se soubesse que nós estávamos falando dele, Lucas sentou do nosso lado.
- Eu estava falando para a Julie que é para ela se mudar com uma casa com quarto para mim depois que casar porque eu vou fazer faculdade em Los Angeles.
- E você vai fazer faculdade de que, já sabe?  - Isabella perguntou.
- Arquitetura.
- Meu irmão é arquiteto, quando você se mudar ele pode te dar uma ajuda. – Josh disse.
- Sério? Eu quero muito ir para lá, de verdade.
- Lucas, eu só acho que a sua mãe vai pirar quando souber que mais um filho dela vai para Los Angeles. – Falei.
- Ela já superou isso. Além do mais, a Paula vai fazer faculdade aqui mesmo, começa no ano que vem. – Ele falou.
- Ai, que saudade da sensação de entrar na faculdade! – Falei. – É muito bom, de verdade. Você vai adorar.

Ficamos um bom tempo conversando com o Lucas, ele era simplesmente uma figura. Paula chegou do trabalho no fim da tarde e quase teve um troço quando viu a Julie. Acho que ela não sabia que nós iríamos lá hoje.
- Bem, aproveitando que você chegou, Paula... Eu tenho uma coisinha para falar.
- Pronto, vou ser titia. – Eu juro que vi os olhos do pai da Julie quase saltarem quando Paula disse isso.
- Não, não é isso! Pelo menos não que eu saiba. – Julie riu. – Eu conversei com o Ian... E eu quero que você e o Lucas sejam o meu terceiro casal de padrinhos. – Nem eu sabia dessa. Paula deu um grito e abraçou Julie e Ian ao mesmo tempo.
- É claro que eu aceito! Eu ia ficar muito chateada se não fosse sua madrinha. – Lucas teve uma reação mais contida, mas também ficou super feliz.

Voltamos para o hotel depois do jantar e só tivemos tempo de dormir. No dia seguinte, era vez de Julie nos mostrar a cidade dela. Começamos pelo Jardim Botânico de São Paulo, que era maravilhoso. Era bem diferente do Parque das Águas de Caxambu, mas tão bonito quanto.

- Keegan, você quer água? – Perguntei enquanto caminhávamos no parque com os meninos meio disfarçados, diga-se de passagem.
- Não, Anne, ele só bebe quando tem doze tipos diferentes e aí só tem dois. – Ian disse e todos nós rimos. Quer dizer, todos nós, menos o Keegan.
- Não teve graça. – Ele disse.
- Teve sim! – Falei.
- Só não teve mais graça do que te ver sem conseguir sair de dentro da casa do sítio da família da Isa. – Julie completou.
- Você pediu por isso, baby.

Depois do Jardim Botânico, fomos no Museu de Arte Moderna. Ok, eu não entendo muito de arte. Mas é sempre engraçado tentar entender. Tipo uma obra que chamava “Ovos Fritos” e era uma tela completamente pintada de preto. Acho que os ovos queimaram... Ou a frigideira era antiaderente.

À noite, nós fomos a um pub e aquilo me fez sentir muita falta do intercâmbio na Inglaterra, de verdade. Nos dias seguintes, repetimos as caminhadas pelos parques de São Paulo e à noite, a balada era certa. Menos no dia 10...

Ian disse que Julie acordou toda serelepe. Ela adorava o aniversário dela, fato. Eu não sei o que ele fez quando ela acordou, só que ela desceu para o café da manhã do hotel super sorridente. E sorriu ainda mais quando viu que nós tínhamos presentes para ela, logo de manhã. Eu dei um livro que eu sabia que ela estava namorando há um tempinho, mas não achava. Isabella deu um cd. Mas o presente aguardado mesmo era o de Josh e Keegan. Que eu e Isabella escolhemos, diga-se de passagem. Eles disseram que ela estava noiva, então merecia um presente de adulto, então deram uma pulseira de diamantes para ela. Sim, diamantes! Ela só pirou. Só isso.

Não demoramos em ir para a casa dela, tinha uma festa montada. A família dela toda estava lá, todos os tios, primos e, meu Deus, eu não sabia que tinha tanta criança naquela família. De verdade, alugaram até uma cama elástica para distrair os pequenos.

Depois do parabéns, todo mundo foi embora, mas nós ficamos para ajudar a mãe da Julia com a faxina. Resumindo a ópera: No fim da noite, nós éramos cacos humanos. Só isso, e mais nada.

- Eu adorei hoje, adorei tudo, muito, muito obrigada. – Julie disse, quase chorando enquanto nós conversávamos no quintal.
- Não precisa agradecer, baby. – Ian respondeu e deu um abraço nela.
- Hum, quando vão vir buscar essa cama elástica, hein? – Perguntei.
- Eu SABIA que ela ia falar da cama elástica. Sabia! – Isabella disse.
- Só amanhã de manhã, Anne. – A mãe da Julie respondeu. Meus olhos brilharam.
- E quanto peso ela aguenta?
- Duzentos quilos. – Sorri. Olhei para Josh. Ele me entendeu. Nós deixamos os sapatos e celulares na mesa e fomos.
- Isso, vão aproveitar o tamanho de vocês, coisas pequenas! – Keegan disse.
- Tem que ter uma vantagem em ser desse tamanho! – Falei.

Eu e Josh ficamos pulando feito crianças, mas devo admitir, eu não tinha mas cinco anos.

- Eu acho que estou velha demais para isso. – Falei.
- Eu também não tenho mais 10 anos, são quase trinta! – Ele brincou.
- Acho bom a gente parar um pouco e ficar sentado aqui dentro... Se o Keegan nos vê acabados desse jeito, ele vai falar pelo resto das nossas vidas. – Nós sentamos.
- Tem que ficar só sentado mesmo? – Ele perguntou enquanto se aproximava e me deu um beijo. Primeiro eu tive que lembrar de respirar. Depois eu tive que lembrar que nós não estávamos sozinhos.
- Josh, tem gente vendo! – Eu falei enquanto me afastava dele e pegava ar.
- Ok, eu acho que me empolguei. Desculpa.
- Não precisa pedir desculpas por isso, menino. – Falei.
- É? – Eu não gostava desse olhar... – E por isso? – Ele acabou de falar e começou a me fazer cócegas. Eu caí deitada na cama elástica me contorcendo, mas consegui criar forças para fazer cócegas nele também e um segundo depois, nós éramos duas crianças felizes outra vez.

- Hey, crianças, parem de se amar um pouco. – Isabella disse séria. Quando olhamos para o lado, ela estava encostada na cama elástica, estendendo o celular do Josh para ele. – Está tocando. – Ela disse. – E é de Nova York.


QUEM SERÁ AO TELEFONE?  HAHAHAHA

Um comentário:

  1. Diamonds??? Chiqueréeeesima, essa Ju!!

    Adorei! Adorei!
    Tô sem criatividade pra elogios.Tô um caco, e de obra de arte super moderna até o cérebro (Oi futuro, filme forno e maconha é obra de arte agora.. srsrs!)

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