12 - Let's go get high


- Eu nunca mais deixo você usar aquele vestido. – Josh disse quando nós acordamos.
- Por quê?
- Porque de alguma forma, eu estou loucamente cansado e não sei o motivo. – Eu me virei para ele na cama.
- Isso é porque você bebeu demais. Não é por causa do meu vestido. – Me defendi.
- O que você me diz do fato de serem duas da tarde e nós dois ainda estarmos na cama de roupa de baixo? E você com a minha camisa...
- Isso é porque nós dois bebemos demais, meu vestido continua sendo inocente... Falando nisso, cadê ele? – Olhei em volta no quarto e não vi.
- Depois a gente acha. – Ele disse com uma voz suspeita.
- Joshua Ryan. Onde você colocou o meu vestido?
- Eu? Eu nem peguei o seu vestido! – Não acreditei nem um pouquinho. E ele também não queria que eu acreditasse. Convenhamos, ele conseguiria fingir com os pés nas costas. – Ok. Foi mais forte do que eu... Escondi enquanto você dormia. – Ele falou meio envergonhado.
- Por quê? – Perguntei séria.
- Porque tirando o Ian e o Keegan, todos os homens daquela boate passaram a noite com os olhos mergulhados no seu decote. – Eu ri.
- Você também? – Perguntei.
- É claro! Mas eu posso, eles não. – Ele pareceu realmente chateado.
- Tudo bem, eu não uso mais o vestido em público. – Eu disse. – Ele é realmente bem econômico no pano...
- Econômico? Se juntar o pano do seu vestido, dá pra fazer uma roupinha de bebê. E ainda falta pano. – Ele riu.
- Não exagera, ok? – Me deu um beijo. – Josh... Só eu não lembro muito bem da noite passada?
- Não. Eu lembro da boate, de algumas pessoas que pediram pra tirar foto com a gente, de música muito alta e de conversar com você. Só.
- Eu não lembro como nós chegamos ao hotel. Nem se nós fizemos alguma coisa durante a noite.
- A julgar pelo fato de que nós ainda estamos tecnicamente vestidos, provavelmente não fizemos nada.
- Odeio quando isso acontece. Fico com a sensação de que aconteceu alguma coisa super importante comigo e eu perdi. – Como sempre, eu falei demais.
- Isso já aconteceu com você antes?
- Na época da faculdade. – Foi a resposta mais rápida que eu consegui inventar. Eu nunca diria a ele que não lembro de nada que aconteceu durante uma noite que eu passei com o Eric.
- Não sabia que você era dessas na época da faculdade...
- Eu não era, foram só duas vezes. – Três com a vez mais recente.
- Um dia, eu quero ouvir as suas histórias de faculdade. Você não fala muito disso, por quê? – Como eu ia responder isso?
- Hum... Porque eu acho que você não vai gostar de ouvir muito sobre a minha época de faculdade...
- Eu pensei que já tivesse deixado claro que eu me interesso por você, mas ok...
- Não é isso! Eu nunca pensaria que você não se interessa por mim, de verdade. Mas... É  que 80% das minhas lembranças da faculdade tem o Eric, como amigo ou como namorado. Eu achei que você não ia curtir muito me ouvir falando dele.
- Ah sim... Anne, infelizmente, eu não tenho como arrancar o Eric do seu passado. Eu tenho que aceitar, você não precisa se privar de me falar as coisas por causa disso. - Será mesmo?
- Sério?
- Claro que sim, meu amor. Até porque você não tem como ignorar as minhas ex-namoradas, a mídia sempre vai te lembrar. – Ele brincou com os meus cabelos enquanto falava.
- Eu te amo tanto. – Dei um beijo nele e o movimento fez a minha cabeça latejar. – Ai! – Falei. – Segundos depois, meu celular tocou na mesa de cabeceira. Parecia que tinha um sino tocando dentro da minha cabeça.
- Ann, pelo amor de Deus, atende isso, minha cabeça vai explodir! – Josh disse.

- Alô. – Atendi sem ver quem era.
- Boa tarde, Anne. Liguei para te acordar. – Era Julie.
- Não sei se devo te agradecer por isso. Estou morrendo de dor de cabeça.
- Nós vamos jantar com os seus pais hoje. E eu preciso saber se nós ainda vamos para Minas.
- É claro que vamos! A Isabella morre se nós não formos.
- Você e o Josh já fizeram as malas?
- Não, mas a gente arruma antes de ir para a casa dos meus pais.
- Ok então. Hum, Ann, está tudo bem?
- Tudo sim, baby.
- Mesmo? – Por que tanta insistência?
- Sim.
- Tudo bem então. Não se esqueçam de pedir o almoço no quarto, vocês não podem ficar de estômago vazio.
- Até mais tarde, Ju.

- O que foi? – Josh perguntou.
- Julie ligou para nos acordar. E para dizer que nós temos que arrumar as malas, almoçar e que vamos para a casa dos meus pais mais tarde.
- Espero que essa ressaca gigante já tenha passado até lá.
- Eu também. Se não o meu pai vai achar que você me embebedou para abusar da minha inocência. – Brinquei.
- RÁ, RÁ, você, inocente, Anne? Conta outra, vai.
- Deixa eu me iludir! – Respondi.
- Ainda bem que você sabe que é ilusão... – Não respondi.
- Vou tomar um banho para ver se o peso do mundo sai das minhas costas e se a minha cabeça para de latejar. Pede a comida no quarto pra gente?
- Se eu tivesse mais forças, iria pro banho com você, mas não. Pela primeira vez na vida, eu vou te trocar pela cama.
- Tudo tranquilo se você só me trocar pela cama vazia. – Disse antes de me levantar.

Acho que fiquei uns vinte minutos em baixo do chuveiro fazendo a ressaca passar. E mesmo assim, ela não passou. Quando me olhei no espelho, vi que meus olhos estavam inchados, provavelmente por ter dormido demais. Mas o que me chamou a atenção foi uma marca arroxeada no meu braço direito que eu não tinha percebido porque a blusa do Josh que eu estava vestindo era de manga comprida. Passei a mão e senti o músculo dolorido. Era como se alguém tivesse apertado o meu braço com muita força. E eu não lembrava como ou quando isso tinha acontecido, nem se foi uma brincadeira ou se foi sério. Devo ter ficado bastante tempo analisando a marca no meu braço, porque voltei à realidade com Josh me chamando.

- Ann, a comida chegou. – Me enrolei na toalha e saí do banheiro. – O que é isso no seu braço? – Ele perguntou se aproximando enquanto eu me vestia. Puxei o braço no instante em que ele colocou a mão.
- Ai. Não sei, só vi essa marca agora, depois que tirei a sua camisa.
- Será que você bateu em algum lugar? – Ele perguntou preocupado.
- Isso definitivamente não é roxo de topada.
- Que estranho. Parece que alguém segurou o seu braço com força... Tem só esse roxo ou você achou algum outro? – Ele passou os olhos pelas minhas pernas procurando alguma coisa diferente.
- Não, acho que só tem esse... – Me examinei automaticamente.
- Parece que a nossa noite foi mais animada do que a gente imaginava.
- Pois é. – Ele estendeu a mão esquerda para segurar o meu braço e ver a marca mais de perto e eu vi que a mão dele também estava machucada. – O que foi isso? – O machucado dele era diferente, tinha sangrado e o sangue tinha coagulado. Eram quatro cortes curtos no peito da mão. Eles provavelmente foram feitos ao mesmo tempo, eram muito certinhos e simétricos, como... Unhas.
- Não sei, acho que foi ontem na casa dos seus pais, brincando com o seu irmão, de repente... Não lembro de ter feito isso na minha mão.
- Eu acho que nunca mais bebo na vida. Agora a gente aparece machucado e nem lembra como... – Eu estava começando a ficar histérica.
- Calma, Annie. – Ele me abraçou. – Não deve ter sido nada demais...
- Tomara mesmo...

Eu quase não consegui comer direito depois disso tudo, mas como nós não comíamos há quase vinte horas, a fome falou mais alto. Depois nós nos distraímos arrumando as malas, mas até a hora em que nós saímos para jantar com os meus pais, nós sabíamos que alguma coisa de muito errada tinha acontecido na noite anterior. Por via das dúvidas, eu estava com um vestido de mangas compridas e Josh tinha feito um curativo na mão machucada. A desculpa oficial era que ele tinha se cortado com um copo que quebrou enquanto nós almoçávamos. Não tinha como falar para os meus pais que nós tínhamos ficado bêbados a ponto de não lembrar o que tinha acontecido.

Isabella, Keegan, Ian e Julie nos esperavam no lobby e juro que vi um olhar estranho nos olhos de todos eles enquanto eu e Josh nos aproximávamos de mãos dadas. E rindo, porque eu fiz o favor de tropeçar no chão liso, como sempre.

- Oi. – Eu disse ainda rindo.
- Oi... – Julie ainda estava olhando estranho para nós dois. Quer dizer, todos eles estavam. Mas era minha última noite no Rio, depois eu conversava com as meninas.
- Vamos? Não quero demorar a chegar na casa dos meus pais.
- O que foi isso na sua mão, Josh? – Ian perguntou.
- Me cortei com um copo no almoço. – E Josh respondeu com a maior naturalidade do mundo. Era bom ter um namorado ator nessas horas...

Fomos conversando normalmente no carro até a casa dos meus pais e quando chegamos, todo o clima estranho foi deixado de lado assim que pisamos na sala. Depois que jantamos, Matheus apareceu com dois papeis dobrados e entregou um para mim e um para o Josh – que sustentou a versão do copo quebrado sem nem pestanejar a noite toda.

- O que é isso, Matheus? – Perguntei.
- Abre, oras.
- Open it. – Falei para Josh quando lembrei que ele provavelmente não tinha entendido o que o meu irmão tinha dito. Nós abrimos os papeis ao mesmo tempo e vimos duas versões de um mesmo desenho. Éramos nós três, eu, Josh e Matheus, no Cristo. A versão desenhada por uma criança da foto que nós tiramos lá e que eu já tinha revelado e dado para ele.
- Ah, Matheus, é lindo! – Ele me abraçou.
– Eu vou sentir saudades de você, Ann. – E a Anne já estava chorando. – Por que você está chorando?
- Porque eu também vou sentir saudades de você, pequeno. – Ele me abraçou de novo e depois se virou para o Josh.
- Eu gostei de você. – Fui traduzindo. – Mas se você fizer a minha irmã chorar, você vai se ver comigo! – Tentei não rir para dar credibilidade à ameaça do meu irmão de sete anos.
- Ele viu isso na televisão ontem e disse que ia dizer para o Josh... – Minha mãe disse. Matheus deu um abraço no Josh e depois foi dormir, já estava na hora dele.

Eu passei o resto da noite agarrada nos meus pais, já estava sentindo o clima da despedida. Antes de irmos embora, minha mãe me chamou no quarto.

- Eu quero te dar uma coisa. – Ela disse quando nós entramos.
- Mãe, não precisava ter se preocupado em comprar nada...
- Eu não comprei. – Ela pegou uma caixinha no armário.
- Mãe, você vai me dar o que eu estou achando que você vai me dar?
- Sim. – Eu já estava chorando. Ela abriu a caixinha que guardava o colar de ouro branco com um coração de diamante que foi o presente de casamento do meu avô para a minha avó.
- Mãe... Eu não sei o que dizer. Obrigada. – Ela me deu um abraço e depois colocou o colar em mim.
- Eu sempre disse que ia te dar esse colar quando você se casasse. Mas você está muito longe e eu acho que você devia ter alguma coisa nossa na sua nova vida. Até porque algo me diz que você não via demorar a se casar com esse menino. – Ela derramou uma lágrima. Eu posso contar nos dedos das mãos todas as vezes em que vi minha mãe chorando em toda a minha vida. – E nunca mais vai voltar para casa. – Aí quem chorou mais fui eu. – Mas você sabe o que dizem, casa é onde o coração está. E o seu é do Josh.
- Eu não me vejo mais sem ele.
- Então luta para vocês dois nunca se separarem. – Eu abracei a minha mãe como nunca tinha feito antes. Nós nunca fomos daquele tipo de mãe e filha super confidentes que aparecem na TV. Mas pela primeira vez na vida eu senti que aquele muro entre nós duas tinha acabado de cair. Pena que foi justo quando eu estava indo embora. De novo.

Quando nós descemos, eu ainda estava meio chorosa. Foi inevitável chorar mais quando eu me despedi do meu pai e da minha mãe, outra vez, mas eu ia ficar bem. Isabella voltou dirigindo para o hotel, eu não tinha condições. Fui em silêncio e abraçada com o Josh até Ipanema.

- É um cordão muito bonito. – Josh disse quando percebeu que eu não tirei o cordão nem para dormir.
- Era da minha avó. É meio que herança de família.
- Então eu acho que a Sophia já tem uma jóia mesmo antes de nascer, é isso? – Eu sorri.
- Exatamente. Vai ser da Sophia... Mas o mais engraçado você não sabe.
- O que?
- Esse foi o presente de casamento do meu avô para a minha avó. E a minha mãe ganhou quando casou.
- Isso quer dizer que você devia ganhar quando casasse também? – Assenti.
- Mas a minha mãe me deu porque “você não vai demorar a casar com esse menino mesmo” – Imitei o tom de voz dela.
- Por mim a gente fugia pra Vegas e casava lá.
- Mas eu não quero um casamento de Vegas! – Respondi. – Sonhei demais com isso pra ter a cerimônia celebrada pelo Elvis.
- É verdade... Você merece mais que isso.
- Nós merecemos. – Ele me deu um beijo.
- Vamos dormir, amanhã o vôo é cedo.

Para variar, nós acordamos atrasados. Nos arrumamos o mais rápido o possível, porque ainda tínhamos que fazer o check in no hotel, o check in no aeroporto e os meninos ainda iam se despedir dos fãs que ainda estavam na porta do hotel.

Fizemos tudo tão rápido que acho que só consegui respirar normalmente quando entrei no avião e sentei na poltrona. Tirei um cochilinho, o vôo do Rio para Minas durava só quarenta minutos. Quando chegamos ao aeroporto em Belo Horizonte, tinham mais fãs esperando do que quando chegamos ao Rio.

- E o número só aumenta... – Keegan disse.
- Vão falar com eles, nós pegamos as malas. – Julie falou e eles foram.
- Então... Vocês estão bem? – Isabella me perguntou enquanto nós estávamos pegando as malas.
- Sim... Por que não estaríamos? – Resolvi ocultar o pedaço dos machucados com origens desconhecidas.
- Vocês não lembram do que houve anteontem na boate? – Isabella perguntou. Eu sabia que tinha alguma coisa...
- Não. Mas vocês podem me contar.
- Já era tarde e você foi ao banheiro com a Clara e deixou o celular na mesa onde nós estávamos, com o Josh. – Isabella começou.
- Nós já estávamos meio bêbados, aí o seu celular tocou e ele ia ver só para te dizer quem era quando você voltasse... Mas ele se transformou quando leu o nome na tela.
- Era o Eric. – Adivinhei.
- Exatamente. O Josh atendeu, e o Eric falou alguma coisa que deixou o Josh com muita raiva. Tanto que ele começou a beber muito mais depois que desligou o telefone e não dizia pra ninguém o que o Eric tinha falado até que você voltou. – Julie explicou.
- Você também já estava meio alta por causa da bebida, mas acompanhou o Josh em todas as bebidas que ele tomou depois, e como você não é das mais resistentes, voltou para o hotel completamente bêbada. Quer dizer, voes dois estavam completamente bêbados. – Eu ia ouvindo e as coisas iam começando a se encaixar...
- Quando nós entramos no elevador, ele te segurou pelo braço e você disse que estava machucando, mas ele não soltou. – Por isso o meu braço tinha ficado roxo.
- E eu tentei tirar a mão dele do meu braço, não tentei? – As marcas de unha...
- Sim.
- Vocês brigaram feio, Anne. A gente ouvia os gritos dos nossos quartos. – Julie disse.
- Estávamos prestes a bater na porta do quarto de vocês quando os gritos pararam do nada. Vocês devem ter dormido. E quando acordaram de ressaca, não lembraram de nada. – Eu devia estar branca feito papel.
- O que nós gritávamos?
- O Josh repetia algo do tipo “por que você não me contou antes?” e você chorava mais que o normal, dizendo que “ele estava mentindo”.
- Resta descobrir o que o Eric contou a ele. – Isabella disse.
- Eu não faço ideia. 

YEY, pessoas. Estava cansada dos capítulos sem dramas e histórias ocultas...
Anne e Josh  deixaram marcas um no outro - e não foi por um bom motivo.
Agora resta saber o que o Eric contou para o Josh... E eu garanto que não é o que vocês estão pensando.
Obrigada por todos os comments fofos, vocês são uns amores! 
Beijinhos ;)

2 comentários:

  1. AAAAAAH ERIC ESTRAGANDO TUDO DESDE 1979 U_u AODPAOSKDPA amei esse capitulo como todos os outros s2 mas amo o Eric do msm jeito... enfim Josh e Anne é vida s2

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  2. CA-RAM-BA!
    CHOQUEI :O
    Tô sentindo cheiro de 'SURPRESAS' vindo por aí...
    Adorei o capítulo, adorei o mistério, haha!

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