27 - Moving


- Ben? – Falei ainda de costas para ele, querendo ter me confundido. Mas quando me virei, era Ben. Com barba por fazer e cabelo maior, mas Ben.
- Sentiu saudades, princesa? – Não acredito. Quando eu acho que tudo vai começar a caminhar tranquilamente, mais uma bomba me aparece. Eu devo ter feito uma cara muito feia quando ele me chamou de princesa de novo, porque ele pediu desculpas imediatamente. – Ok, você não precisa me fuzilar com os olhos, foi só uma brincadeira...
- Brincadeira desnecessária. – Josh disse enquanto vinha para o meu lado.
- Josh. Imaginei mesmo que ia te encontrar aqui...
- O que você está fazendo aqui, Benjamin? – Perguntei.
- Hey, eu vim em paz, não precisa chamar de Benjamin. – Ele colocou as mãos para o alto.
- O que você veio fazer aqui, Ben? – Não comprava aquilo de paz. Não mesmo. Da última vez que nós nos vimos ele estava entregando o meu namoro para a minha chefe. Foi por causa dele que o meu relacionamento com o Josh começou a virar de cabeça para baixo.
- Estou trabalhando, oras. Ou você não sabia que eu ia fazer a divulgação de New Beginnings?
- Você só pode estar brincando comigo.
- Eu já disse para você ficar calma, eu vim em paz.
- Então se explique. – Falei.
- Sabe, Ann, há um tempo eu estava trabalhando na produção de um filme aqui em LA. Qual era o nome mesmo? Ah, In New York’s Streets, acho que você conhece. – Fiz outra cara que não deve ter sido muito bonita. – Aí eu fui repentinamente mandado para a produção de outro filme em Washington pela empresa. Eu tinha todos os motivos do mundo para odiar a pessoa responsável por essa minha mudança. – Ele disse olhando sugestivamente para eu e Josh. – E eu odiei. Mas, durante as gravações desse filme eu conheci uma pessoa. Uma pessoa que me fez acabar com esse ódio... E melhor que isso, uma pessoa que me fez te esquecer. – Ele falou sério e direto. Um pedacinho mínimo de mim se sentiu mal pela frieza no tom de voz dele. Mas aquela conversa estava começando a ficar interessante.
- Você está namorando alguém? – Perguntei.
- Não. – Pronto, levou outro pé na bunda e agora a raiva está direcionada a outra pessoa, não a mim. – Eu casei. – Ele mostrou a aliança.
- É o que? – Julie não se conteve e perguntou o que estava entalado na minha garganta.
- Mas... Você nunca quis se casar. – Falei.
- E você nunca quis ser próxima de qualquer coisa que te deixasse na frente dos holofotes... E hoje é diretora de cinema. A gente muda de ideia, Ann. Por amor.

Ele tinha razão. Eu lembro que assim que me mudei para LA fugia dos fotógrafos nas ruas como se fosse famosa... Agora eu quase não me importo mais, porque estar com o Josh é sinônimo de ter que aturar alguns fotógrafos inconvenientes. Josh diminuiu o aperto na minha cintura quando viu que ele realmente vinha em paz.

- E cadê ela? – Perguntei.
- Arrumando a nossa casa nova. Nós viemos de Washington há três dias, não deu tempo de deixar tudo como era lá.
- Mas ela não tinha emprego lá? – Josh perguntou e eu me surpreendi com o interesse.
- Ela é maquiadora, também trabalha para a Lionsgate. Semana que vem ela começar a trabalhar em outro filme. – Ele fez uma pausa. – Eu realmente vim em paz. Não quero causar nenhum tipo de problemas, só trabalhar.
- A escolha é sua, Ben. – Falei. Ele fez que sim com a cabeça.
- Eu vou checar a wi fi do set e me preparar para as primeiras atualizações. – De uma coisa eu nunca tive dúvidas: Ele é um ótimo profissional. Ele começou a se afastar de nós, mas parou no meio do caminho. – Ah... Anne, Josh? O mínimo que eu posso fazer é pedir desculpas pelo que eu fiz com vocês. É óbvio que vocês se amam se sobreviveram à Vanessa. Às vezes eu tinha medo dos planos dela. – Ele riu e continuou andando.
- Ok, se o Renan aparecer aqui pedindo desculpas eu vou perguntar o que todos os seus ex tomaram para começar a agir como pessoas respeitáveis. – Josh disse.
- Isso é impossível para o Renan. – Eu ri. – E sinceramente, de todos eles, eu só sinto falta mesmo da companhia do Eric.
- Ele ainda não ligou, né?
- Não. E é realmente muito estranho falar disso com você. – Eu ri e ele me abraçou.
- Ele mostrou que eu não tenho motivos para sentir ciúmes dele.
- Eu amo você.
- E você mostra que eu não preciso ter ciúmes de ninguém assim. – Ele me deu um beijo.
- Vamos trabalhar? – Perguntei.
- Você é quem manda, diretora. A primeira cena é minha. – Ele disse.
- Então vai se trocar, baby.

Não tenho outra palavra para descrever o primeiro dia de gravações além de: louco. Josh estava presente em 75% das cenas então eu tive que dirigir uma boa parte delas sozinha. Era engraçado quando ele se encarregava de uma cena dele e ele mesmo dizia o “corta” quando achava necessário. Eu estava certa quando disse que Josh e a Roberts – Sim, nós já estávamos chamando as Emmas pelos sobrenomes para evitar confusões – combinavam na frente das câmeras. A primeira cena que nós gravamos foi a do casamento deles. E a minha primeira provação. Assistir uma cena dele com outra mulher era bem diferente de mandar ele fazer a tal cena e pior, explicar como eu quero que eles façam. Até o final do filme eu me acostumaria. Ou não.

- Tem certeza que você não pensou em fazer cinema na faculdade? – Josh perguntou quando nós estávamos no carro, indo para a minha casa.
- Para falar a verdade, eu pensei. Mas sempre me identifiquei mais com o jornalismo.
- Você se saiu muito bem hoje, Annie.
- Sério? Eu estava apavorada. – Eu ri.
- Não parecia.
- Acho que pela primeira vez o fato de que eu gosto de mandar teve uma utilidade prática.
- Com certeza. Hum, Anne? Você sabe que eu vou ter que fazer umas cenas mais quentes com a Watson, não sabe?
- Fui eu quem escreveu o roteiro, claro que eu sei. – Nós rimos.
- Você vai ficar bem dirigindo essas cenas? – Ele perguntou sem tirar os olhos da direção.
- Acho que sim. – Falei com dúvida. – Mas é bom a gente deixar essas cenas para o final, quando eu já estiver mais acostumada a dirigir.
- Eu posso me encarregar dessas.
- De jeito nenhum. – Respondi rápido. – Eu vou pirar mais se não estiver vendo e controlando exatamente os que vocês dois vão fazer em cena. – Ele riu.
- A culpa é sua. Foi você quem escreveu. – Ele brincou.
- Mas foi você quem divulgou. – Respondi.

Passamos as duas primeiras semanas de gravação repetindo o ciclo casa – set – set – casa. No primeiro final de semana, eu simplesmente não fiz nada de útil da vida, passei o sábado e o domingo deitada vendo TV ou fazendo alguma outra coisa que me permitisse ficar descansando. Mas o segundo fim de semana chegou e com ele, a minha mudança para a casa do Josh e a mudança da Isabella e do Keegan para a casa nova.

Nós suspendemos as gravações de sexta feira – era bom ser a diretora – e passamos o dia encaixotando tudo. Quer dizer, eu, Keegan e Josh encaixotamos e Isabella ficou sentada porque não podia pegar peso. Ian e Julie chegaram cedo no sábado para ajudar na mudança.

- Pois é. – Falei enquanto me sentava ao lado de Julie e Isabella no sofá e aquela era a única mobília da sala. Os meninos estavam ocupados com caixas no primeiro andar.
- Estou me sentindo no último episódio de Friends. – Julie disse.
- Olha só, eu estou grávida, se vocês me fizerem chorar, apanham. – Isabella falou e nós rimos. Mas a verdade é que agora ela chorava até pelo milho que estourava para virar pipoca...
- Estranho. Agora definitivamente, nós vamos cada uma para um lado.
- E eu vou morar longe de vocês! – Falei.
- É só você se mudar lá para o condomínio quando casar, Anne. – Julie disse.
- Eu acho que ainda não acostumei com a mudança de estado civil. – Confessei.
- Está arrependida? – Isabella perguntou.
- Não, de forma alguma. Eu só não estou acostumada.
- Você e esses intervalos de tempo gigantescos para se acostumar com as coisas... Anne, acorda, você está indo morar na casa dele. Já era para estar acostumada. – Julie disse.
- Eu tenho medo de estragar as coisas. Sei lá, eu não brinco quando digo que não vou saber o que fazer sem ele. Eu sempre tive medo do novo, por mais que não pareça. E agora a gente vai conviver 24 horas por dia.
- Você tem medo dele enjoar de você. – Julie falou.
- Exatamente.
- Eu fiquei assim antes de casar. Em três meses, Ian ainda não enjoou. – Ela disse rindo. – De verdade. Não é fácil, a gente já teve mais briguinhas bobas nesses três meses do que no namoro inteiro, mas a gente sempre se resolve no final porque a gente se ama. Com você e com o Josh não vai ser diferente, eu tenho certeza.
- Mas e se ele perceber que não é isso o que ele quer? Eu estou em surtos. De verdade.
- Você diz que tem medo no novo e se mudou com duas amigas loucas para um país desconhecido. Nós também ficamos em surtos antes de vir para cá e isso só passou depois que nós nos mudamos. Relaxa e vai para a casa dele. Vai dar tudo certo. – Isabella disse.
- Ok, eu acho que elas precisam de um tempo a sós para terminar de se despedir do apartamento. – Ouvimos Keegan falar.
- Se vocês quiserem, a gente sai. – Ian disse.
- Não precisa, a gente já estava indo. – Julie disse. Ian se sentou no braço do sofá ao lado de Julie e Keegan se debruçou nas costas e deu um beijo na testa da Isabella. Josh parou do meu lado e me abraçou pelos ombros, mas ele estava estranho.
- Eu acho que a gente devia tirar uma última foto de nós seis aqui. – Julie disse.
- Minha câmera está na minha bolsa que já está no carro. – Falei.
- Mas a minha está aqui. – Ela respondeu, pegou a câmera na bolsa, programou e colocou na estante. Nós tiramos a foto e deu uma dorzinha no coração quando vi a sala vazia, só com o sofá e nós seis.
- Chegou a hora, meninas, vamos descer para tirarem o sofá da sala. – Keegan disse.
- Vamos. – Nós nos levantamos.
- Vão na frente, eu e a Anne ficamos aqui para trancar o apartamento depois que tirarem o sofá. – Josh disse.
- Ok, nos encontramos lá em baixo. – Julie disse.

- Eu não vou enjoar de você, Annie. – Ele disse quando nós ficamos sozinhos na sala.
- Você ouviu?
- Nós estávamos entrando na sala e eu ouvi. Você não precisa se mudar se não quiser. – Eu sabia que ele estava estranho.
- Esse pedaço você não ouviu, né? – Falei. – Eu não tenho dúvidas. Eu quero morar com você, só tenho medo de estragar as coisas. Mas eu sei que isso vai passar é só viagem da minha cabeça. – Ele sorriu. – Não se preocupa com isso, ok?
- Ok.
- Eu te amo, baby. – Dei um beijo nele e nós ainda estávamos abraçados quando ouvimos os rapazes da transportadora chegarem para buscar o sofá e colocar no caminhão.
- Acho que agora é a hora em que a gente vai embora. – Josh disse.
- Vamos. – Nós saímos e eu tranquei a porta com um nó na garganta.

Quando descemos, nos despedimos de Dane pela última vez. Nos dividimos em três carros e fomos cada casal para um canto. Quando chegamos na casa de Josh – minha casa – as caixas com as minhas coisas estavam pela sala e eu comecei a ficar desanimada quando percebi que ainda teria que arrumar  aquilo tudo.

- Vem cá. – Josh em puxou para a cozinha antes que eu começasse a mexer nas caixas.
- O que foi? – Eu perguntei quando me sentei na cadeira.
- Eu comprei uma torta de morango para te dar as boas vindas. – Ele disse pegando a torta na geladeira.
- Você não existe, cara. – Falei quando ele colocou a torta na mesa.
- Seja bem vinda, baby. – Ele se debruçou na mesa e me deu um beijo. Ele se sentou ao meu lado e nós comemos quase metade da torta juntos.
- Josh, você já parou para pensar em algum tema para o nosso casamento? – Perguntei.
- Não, mas a gente vê isso rapidinho. – Ele foi na sala e buscou o iPad. Quando voltou para o meu lado, digitou alguma cosia no Google e quando eu olhei, era “wedding themes”.

Começamos a ver as sugestões. Casamento na praia. Ia ser difícil de segurar o Joey. Casamento medieval. O vestido de noiva era bizarro. Contos de fadas lembram princesas, princesas lembrar Ariel e Ariel lembra Eric. Por mais de bem com a vida que o Josh estivesse, não dava para casar com um tema que lembrasse o meu ex. Casamento tradicional é muito... tradicional.

- Daqui a pouco eu desisto e a gente casa no cartório. – Brinquei.
- Me recuso, Anne Christine. – Ele disse.
- Vamos dar mais uma olhada.

Nós vimos mais umas três páginas de temas diferenciados até que ele abriu um link aleatório.

- Não fecha! – Falei quando ele quase fechou aba por acidente. – Olha esse.
- Eu gostei. – Ele disse. – Gostei muito.
- Eu também.
- Acho que a gente decidiu.
- Sim! – Falei.
- Vai todo mundo sair bêbado do nosso casamento.
- É por isso que as pessoas dormem onde o casamento vai acontecer...
- Vou ficar menos preocupado.
- E, ah, quando isso vai ser? Eu pretendia casar antes dos 27 anos... Dezembro?
- Dezembro é a premiere do filme, natal, ano novo... Tem alguma coisa para novembro? – Ele perguntou.
- Tem.
- O que?
- O nosso casamento. – Ele sorriu e me deu um beijo. E eu comecei com a mania de planejar tudo mentalmente naquele momento. 

Hey pessoas! Hoje o capítulo ficou curtinho, mas    a partir do próximo as coisas vão ficar agitadas, hehe
Beijo ;)

3 comentários:

  1. O Freaking tema é... BACANAL! Viva Dionísio! Ode à Matheus, personificação da cachaça na Terra.
    Salve cantareira! Salve sujinho!
    Se beber... CASE!

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  2. Por que não dá pra curtir os comments daqui, hein? Genial, Natascha, HAHAHAHAHAHA

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