06 - Threat



- Onde você estava com a cabeça que esqueceu de escolher esse vestido, menina?  - Isabella perguntou. Nós estávamos na frente do notebook, no meu quarto, procurando modelos de vestidos.
- Não sei, eu simplesmente esqueci...
- Se não fosse por mim, você ia acabar indo com um vestido qualquer da vida.
- Nunca. O Josh com certeza não ia esquecer e ia me dar um vestido de presente. – Eu ri.
- Mas eu te garanto que você ia querer escolher esse vestido.
- Isso é um fato. Você já escolheu o seu, né? – Ela assentiu. – Quem fez?
- É um Monique Lhuillier.
- Qual é a cor?
- Roxo.
- Tudo bem, passarei longe de Monique Lhuillier e vestidos roxos... A Julie vai usar o que? – Perguntei.
- A Julie não vai. Ela ainda vai estar de resguardo e não vai querer deixar a Alice por nada.
- Ela deve estar péssima por não ir ao Oscar.
- Que nada. Ela e Ian estão no País das Maravilhas... Ele que já está sofrendo por ter que ir para a cerimônia e deixar Julie e Alice em casa. Falando nisso, vocês ainda pensam em ter um filho esse ano? – Ela perguntou, do nada, olhando em volta para saber se Josh tinha voltado da reunião em que tinha ido.
- Eu e Josh?
- Não Anne, você e o Divino Espírito Santo. Claro que eu estou falando de você e do Josh. – Ela riu.
- Ah, a gente não está evitando. Mas também não estamos tentando oficialmente. Se eu engravidar, vai ser lucro.
- Eu estou precisando de uma criança para ser madrinha, você sabe, né...
- Tudo bem, Isabella, eu entendi a sua indireta. - - Ela riu e aponto para o notebook.
- Esse vestido aqui é a sua cara. – Ela apontou para um vestido que tinha um detalhe de pedras da cintura para cima, um trançado nas costas, decote e uma saia fluida num tecido leve e branco.
- Ele realmente só falta gritar o meu nome. De quem é?
- Tarik Ediz. Nunca tinha ouvido falar nela, mas tem uns vestidos muito bonitos por aqui.
- Gostei muito desse, mas...
- Mas?
- Mas eu tenho um cordão que preciso usar no Oscar... E para ele, o vestido tem que ser um pouco mais discreto.
- Que cordão é esse que domina a sua escolha de um vestido?
- Eu ganhei de presente de aniversário... – Eu disse enquanto me levantava da cama e ia até o armário buscar a caixa com o cordão.
- Do Josh, é claro.
- De quem mais seria? – Eu ri.
- Vocês são tão lindos, dá vontade de apertar.
- Obrigada. Eu acho. – Entreguei a caixa a ela. – Abre.
- Uau. Desse jeito a gente vai conseguir te enxergar a dez metros de distância. Esse cordão com o anel de noivado você ainda usa e não vai ter ninguém brilhando menos que você no Academy Awards.
- Eu acho que isso é bom. – Falei.
- Isso é muito bom. A gente só vai ter que procurar outros vestidos...
- Isso é o de menos. – Eu ri.

Continuamos procurando e acabamos no site de um estilista chamado Mac Duggal. Ele não era muito conhecido, mas tinha uns vestidos lindos... E outros nem tanto.

- Olha esse, gostei. – Falei apontando para um vestido preto com calda sereia revestido com renda, também preta. Isabella olhou para mim.
- Parece a Morticia de A Família Addams.
- Ai que horror!
- Vamos procurar outro.

Algumas fotos depois, encontramos o vestido perfeito. Liguei para o ateliê dele em Los Angeles e marquei uma visita para o dia seguinte. Quando dei o meu sobrenome para a reserva, a menina que me atendeu disse que o próprio Mac iria falar comigo no dia seguinte. Sobrenomes têm poder. 

- Hey baby. – Josh disse quando chegou em casa.
- Oi amor. Tudo bem?
- Tudo. Como foi seu dia? – Ele perguntou enquanto puxava uma cadeira e se sentava ao meu lado. Eu estava escrevendo e fechei o notebook para dar atenção a ele.
- Foi tranquilo. Amanhã eu vou a um ateliê mandar fazer o meu vestido para o Oscar.
- Isabella ainda está aqui? – Ele parecia apreensivo.
- Não, ela já foi embora há algumas horas. O que houve? Você está estranho...
- E eu achando que com uma indicação ao Oscar eu conseguir finalmente esconder alguma coisa de você.
- Aconteceu alguma coisa na reunião?
- Tenho notícias boas e ruins, darling.
- As boas primeiro, por favor.
- Hoje, na reunião eu descobri que tem quatro roteiros parados na Lionsgate por que todos eles me querem e eu estava parado por causa da minha recuperação e do nosso casamento.
- Quatro roteiros? Isso é ótimo! Já começou a analisar os papeis com o Joe?
- E aí você chegou à notícia ruim. Joe quer se aposentar da vida de agente e me deu um mês para encontrar outra pessoa. Só que eu não confio em mais ninguém para cuidar da minha carreira assim e já passei da idade de ser agenciado pela minha mãe.
- A faixa etária ainda está boa para ser agenciado pela sua esposa?- Perguntei, tendo a ideia do nada.
- Como assim?
- Ué... Você disse que não confia em mais ninguém e não quer ser agenciado pela sua mãe. Um mês é pouco tempo para você encontrar alguém assim... Eu posso ficar no lugar do Joe por enquanto, até você encontrar outra pessoa. Já trabalhei com assessoria de imprensa. Tudo bem, foi quando eu ainda morava no Brasil e fazia faculdade, mas essas coisas não mudam muito e eu tenho um pouco de prática com esse meio por causa do trabalho da Lionsgate... Para falar a verdade, eu até sinto falta desse trabalho mais jornalístico. – Eu admiti.
- Você faria isso?
- Claro que faria, meu amor. E você não ia precisar nem me pagar porque nós somos meio que casados e o nosso dinheiro, no fim das contas é o mesmo.
- Se você vai trabalhar para mim, é claro que eu preciso te pagar.
- Tudo bem, mas depois a gente combina isso. – Eu dei um beijo nele. – Era esse o problema que estava te deixando preocupado?
- Era sim. – Ele riu.
- Onde estão os quatro roteiros que a gente tem que analisar? – Perguntei.
- Estão no iPad, depois eu te encaminho. Não vamos trabalhar agora, por favor.
- Tudo bem, chefe. – Brinquei com ele.
- Mudando de assunto... Você acha mesmo que eu não percebi que você fechou o notebook quando eu cheguei porque não queria que eu visse o que você estava escrevendo? – Pega no flagra, Anne.
- Não. Eu fechei o notebook para te dar atenção.
- Anne, você sabe que também não consegue esconder as coisas de mim, não sabe? – Ele falou com um sorriso de “eu venci” no rosto.
- Tudo bem. Eu tive umas idéias, comecei a escrever umas coisas, mas você só vai ler quando estiver terminado.
- Por que você faz isso comigo? Isso é tortura, você sabe que eu sou curioso...
- Mas eu não acho que esteja bom o suficiente para alguém ler.
- Você falou isso da última vez... E nós estamos concorrendo a Oscars por conta do seu texto.
- Tudo bem, você me deixou sem argumentos. – Abri o notebook. – Tenta se achar nos meus rascunhos, seja feliz. – Ele me deu um beijo. – Eu acho que vou sair para comprar a janta... Não tem nada pronto e eu estou com preguiça.
- Você quer que eu vá junto?
- Não, não. Eu quero sair de perto enquanto você lê e distrair a mente, senão vou ficar nervosa e ansiosa para saber a sua reação que nem sempre fico quando...
- “quando alguém lê o que eu escrevo”. – Ele falou, numa imitação horrenda da minha voz. – Eu sei, eu sei. Se você quiser, eu espero para ler depois.
- Não, agora eu quero que você leia e dê a primeira opinião... Eu não sei nem se isso é um roteiro, um conto ou um livro.
- Tudo bem. Eu juro que vou ler com atenção.
- O que você quer comer?
- Você escolhe, escritora.
- Tudo bem. – Eu sorri. – Não vou demorar. – Dei um beijo nele.
- Eu te amo.
- Também te amo. – Me levantei e ele se ajeitou na cadeira para ler.
- Ah, Annie?
- Oi.
- Se quiser ir no meu carro, eu estacionei aí na frente, não vai precisar tirar o seu da garagem. – Como ele era lindo. Eu odiava tirar o carro da garagem, não sei o porquê.
- Chaves? – Ele pegou no bolso e jogou para mim.
- Obrigada. Eu acho que tinha que abastecer o meu carro, isso vai me poupar tempo.
- E você não gosta de tirar ele da garagem, eu sei.
- Exatamente.
- Mas a sua mania de não abastecer o carro não acaba, né?
- Tchau, Josh.

Fui em direção ao armário de casacos enquanto ele ria do modo como eu fugi do assunto. Me agasalhei e saí, já pensando no que ia comprar. Só parei para me concentrar na ação de subir no Jipe do Josh, o que sempre era um problema para uma pessoa sem coordenação como eu. No caminho, fui me preparando psicologicamente para a atenção que aquele carro chamava. Não que um Volvo vermelho fosse muito discreto, mas pelo menos era menor que o Jipe.

Estacionei o carro numa rua que tinha vários restaurantes e fui caminhando, tentando escolher o que ia comprar. Depois de ficar na dúvida entre o restaurante italiano, o japonês e a lanchonete, o queijo falou mais alto e eu comprei no italiano. Mas levei uma porção gigante de batatas fritas da lanchonete, era mais forte do que eu.

- Anne? – Me virei quando ouvi o meu nome. Estava voltando para o carro.
- É meu nome. – Eram duas meninas que deviam ter uns 18 anos. 
- Você pode tirar uma foto com a gente? – A mais baixinha pediu.
- Claro que posso!
- O Josh não está com você, né? – A outra menina perguntou rindo.
- Não, ele ficou em casa descansando. De repente na próxima vez vocês dão mais sorte e me encontram com ele. – Eu falei.
- Está tudo bem, nós também somos suas fãs. – Fiquei surpresa porque na minha cabeça eu era só uma jornalista, mas sorri em resposta.
- Obrigada. – Tirei as fotos com elas e antes de se despedirem, elas me entregaram um bilhete.
- É de um rapaz que estava no mesmo restaurante que a gente e te viu passar. Quando a gente levantou para vir aqui, ele pediu para trazer. – Coloquei o bilhete na sacola da comida e começou a chuviscar.
- Tudo bem, obrigada meninas. Eu vou ler no carro por causa da chuva, vão para algum lugar coberto, ok? – Eu não me aguentava e me preocupava com todo mundo.

Entrei no carro e comecei a dirigir logo em seguida, a comida estava esfriando. Quando cheguei em casa, Josh estava exatamente no lugar onde estava quando eu saí. 

- Conseguiu entender algo? – Perguntei depois que deixei o casaco nas costas do sofá.
- Uma boa parte. E, meu Deus do céu, eu sou seu fã. – Eu ri e dei um beijo nele.
- Você é suspeito para falar, meu amor. – Coloquei a sacola em cima da mesa. – Vai abrindo aí, vou pegar pratos e talheres.
- Você comprou italiano, né? – Ele perguntou depois que eu saí.
- Você esperava outra coisa? – eu respondi no meio do caminho para a cozinha.
- Não. Traz o vinho que eu abri ontem também! – Ele falou um pouco mais alto, porque eu já tinha chegado na cozinha.
- Tudo bem. – Gritei em resposta.

Peguei as coisas na cozinha e quando estava voltando para a sala, vi Josh com o tal bilhete que eu tinha esquecido na mão.

- O que é isso, Anne? – Ele perguntou sério.
- Não sei. Umas meninas me deram quando eu estava saindo do restaurante, só que começou a chover e eu não abri.
- O bilhete é delas?
- Não... Elas disseram que um rapaz que estava no mesmo restaurante que elas pediu para elas me entregarem. Por quê?
- Lê. – Ele me estendeu o bilhete. “Estamos na sua cola, Anne Borges. Preste bastante atenção nas pessoas à sua volta”.
- Isso é uma ameaça?
- De certa forma, sim. Você tem certeza que não sabe quem foi o cara que mandou te entregarem isso?
- Tenho. Eu não tinha visto nem elas duas até elas virem falar comigo.
- Pode ser só uma brincadeira, mas pode ser sério. Toma cuidado daqui para a frente, Anne.
- Tudo bem.
- Se você receber qualquer outra coisa parecida com essa, me avisa e nós vamos à polícia. – Assenti.
- Eu já recebi coisas piores de fãs suas pela internet quando começamos a namorar, Josh. Deve ser só uma brincadeira. – Eu falei, mais para tentar me convencer do que por acreditar mesmo. Respirei fundo e troquei de assunto. – Vamos comer? Estou faminta.
- Vamos sim. Hum, como é o vestido que você escolheu para o Oscar? – nós começamos a conversar e tentamos não tocar mais no assunto do bilhete.

No dia seguinte, saí de casa apreensiva. Ainda mais porque eu ia passar na casa da Isabella para buscar ela e Seth, já que eles iriam junto comigo ao ateliê. Mas nada aconteceu, nós fomos e voltamos em paz e eu nem comentei sobre o assunto com ela.

Nós duas nos apaixonamos por um milhão de vestidos naquele ateliê e o primeiro que nós tínhamos visto, no site, se tornou uma mera lembrança quando o Mac Duggal em pessoa – como a atendente dele disse – disse que queria fazer o meu vestido sob medida. Era uma jogada de marketing, eu sei, já que todos iam perguntar de quem era o vestido que eu ia usar no Oscar, mas eu topei na hora. Tiramos medidas, escolhemos tecidos e eu falei exatamente como o vestido tinha que ser. Ele ficou de me mandar o croqui por e-mail até o fim da tarde, e quando eu abri, tudo o que eu mais queria era ver aquele vestido pronto. Autorizei e ele disse que me entregaria o vestido pronto em duas semanas, três dias antes da cerimônia. Ainda era um tempo bom.

Aproveitei que tinha aberto o e-mail e baixei os roteiros que o Josh tinha me mandado. Comecei a ler o primeiro e na primeira linha, eu já tinha chegado à conclusão de que ele precisava fazer aquele filme. Quando terminei, a certeza era ainda maior. Era questão de combinar as agendas. Liguei para ele.

- Josh? Tenho o roteiro do seu novo filme nas minhas mãos. 

Hey pessoinhas ;)
Tem MUITO spoiler perdido nesse capítulo, olhem com carinho, hehe
Bem, eu vou viajar amanhã e só volto no domingo, vou ficar sem internet,
então o próximo capítulo Oscar sai na segunda ou na terça.
E o nome do próximo capítulo é: "You make my dreams come true"
Até o próximo, chuchus ;)

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